sexta-feira, 19 de abril de 2013

António Guerreiro de volta aos Peixotos*

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A figura de José Luís Peixoto neste cartaz publicitário deve chamar-nos a atenção para uma transformação da instituição literária, por acção destes escritores que se dirigem prioritariamente a um “público” e respondem fundamentalmente a exigências externas, o que os coloca na dependência da sanção anónima do mercado. A sua consagração faz-se na rua, na esfera pública mediática.
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esta convivência pacífica com a heteronomia (e já não com a exigência de autonomia literária), esta boa consciência no tráfico da figura pública do escritor, faz com que o Peixoto e todos os seus companheiros (ansiosos por se verem também em mupis de rua) nada tenha que ver com o que dantes se chamava “escritor”, para quem a escrita começa quando o Autor entra no seu desaparecimento, na sua própria morte. Agora, trata-se exactamente do contrário: suprimir a escrita em proveito do Autor. O monopólio da legitimidade literária, isto é, o monopólio da autoridade para dizer quem é escritor e quem não é já não está do lado daquilo a que se chamou instituição literária, com as suas diversas instâncias; está do lado de quem vende Os Lusíadas por interpostos Peixotos; está do lado dos Peixotos, a quem cabe a definição legítima de Camões como escritor.»