sábado, 21 de janeiro de 2017

Acordo Ortográfico [119]

"Admirável Língua Nova (Parte I)"

"Admirável Língua Nova (Parte II)"

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Salgado é um arcanjo, Sócrates um anjinho

Não negando a incomodidade com a detenção para interrogatório do compincha, José Sócrates falou:

«Há um aspecto que me deixa preocupado e que me causa incómodo e não vou deixar de o referir. … O ponto que me incomodou foi este: foi o facto de a justiça ter decidido levar Ricardo Salgado para ser interrogado sob detenção, tratando-se de crimes, como dizem, de burla, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais. O que é que me espantou nisto e que me causa incómodo? … É claro que a justiça tem este poder que lhe foi dado pela lei, mas as explicações que foram dadas até ao momento para se deter…, isto é, porque o acto de detenção significa privar alguém da sua liberdade. É um acto, digamos assim, forte. É uma possibilidade que a justiça tem que só deve usar em circunstâncias devidamente justificadas. É de facto uma situação muito humilhante para o próprio, muito infamante. Se a justiça age de uma forma ou doutra mediante alguém que detém poder ou mediante alguém que caiu em desgraça, isso seria absolutamente horrível. Realmente isso incomodou-me. Eu não vi até hoje nenhuma explicação que me convencesse de que era necessário deter o próprio para o levar a interrogatório. Essas razões que vêm nos jornais são razões um bocadinho pueris e não me convencem. Acho que a justiça ganhava em explicar-nos a todos porque é que deteve Ricardo Salgado, tendo ele, segundo vem nos jornais, tendo-se declarado disponível para responder às questões que lhe queriam colocar, porque é que o deteve e insistiu em que ele fosse responder ao interrogatório sob prisão. O acto de deter alguém para o levar a interrogatório…, porque eu percebo que mediante um crime grave, umas evidências muito fortes …, mas deveria haver mais explicações em relação ao acto de detenção.»
RTP, domingo, 27.Jul.2014 [Versão integral não disponível.]

Exemplo de três abstracções simples, razoáveis ou não, que o amável leitor do Chove nunca lerá nas capelas blogosféricas da socratolatria:
1. Deixemos que a justiça faça o que tem a fazer sem pressa nem precipitação, sem constrangimento nem pressões. Demos tempo ao tempo. Que se investigue e apure tudo, demore o que demorar.
2. Ninguém deve ser responsabilizado pelos amigos que escolhe e mantém.
3. Armando Vara é um cidadão impoluto, sujeito impecável, acima de qualquer suspeita. Gestor e político a quem Portugal deve muito.

Os devotos inoxidáveis de José Sócrates agastam-se com as delongas da justiça, entre outros pecados capitais de que a acusam. Não perdendo de vista a pressa da malandragem em que se investigue pouco e se arquive tudo, manda a honestidade saber que a rapidez judicial não é o requisito mais exigível, nem aconselhável, em todos os contextos de ilicitude como, aliás e por motivação pérfida, ninguém o sabe e pratica mais proveitosamente do que os craques forenses do recurso e da estratégia dilatória.
Por mim, que moro na Bobadela e viajo de passe social, nestes tentaculares e complexos casos de colarinho branco com bandidos espertos e endinheirados, não posso senão apreciar uma justiça competentemente serena e paciente. Vagarosa, se necessário, como os melhores tintos e as boas fodas, sem desdoiro das rapidinhas.*

Já o Correio da Manhã era há muito — desde o ovo, por assim dizer, em 1979 — esgoto a céu aberto, e lá escreviam, por exemplo, Medeiros Ferreira e Emídio Rangel, ambos falecidos em 2014.
Quem foi porventura o maior e mais tenaz amigo que José Sócrates algum dia teve a escrever na imprensa portuguesa?
Emídio Rangel, no Correio da Manhã. Lembro-me de como, ano após ano, sábado atrás de sábado, na coluna "Coisas do circo" o defendia, e aos seus governos, com arreganho e perseverança granítica, contra tudo e contra todos. Também eu, nessa altura, ia por Sócrates, votei nele. Mas entretanto li merdas, ouvi merdas, vi muitas merdas. Não me confino nem me esgoto no JL, na LER, na Colóquio Letras ou no Aspirina B, ai de mim! Tanto que se aprende na merda, senhores! E garanto que há maneira de não nos sujarmos. Seja dito que não insinuo que o CM é pura porcaria; mas lá que a faz, faz, e não pouca. 
Pessoas como Fernando Medina, Rui Moreira, Rui Pereira, Magalhães e Silva, Ana Gomes, Joana Amaral Dias, Baptista-Bastos, Marinho e Pinto, Mário Nogueiraescrevem, algumas falando na televisão do esgoto a céu aberto, avençadas no Correio da Manhã. Devo crer, camarada Valupi**, que só por forte inclinação e comprovado jeito para trabalhos em fossas e sarjetas se dispõem a receber uns trocos da Cofina?

Nisto, dá-se anteontem o caso do 20.º arguido. Novo rebuçadão, como era de esperar, para o esgoto a céu aberto do dia seguinte.
Sorte nossa podermos dispor de alternativas asseadas, sérias, ditas "de referência". Observei duas.
JN: «Banqueiro indiciado por cinco crimes é suspeito de ter corrompido Sócrates». Em jornal dirigido por Afonso Camões, amigo de José Sócrates, confesso que não esperava tantos pormenores na capa.
DN, perdão!, «novo Diário de Notícias». No das bancas, o do anúncio, em papel, chamada no canto inferior direito da capa sem a palavra «crimes», muito menos «cinco», «corrompido» e «Sócrates» nem pensar; na página 9, vá lá, a coisa aparece aceitavelmente desenvolvida por Carlos Rodrigues Lima, mas a doçura da capa é todo um tratado.
Quem sabe no DN online, perdão!, no «novo DN» online tivéssemos mais sumo, melhor e mais pormenorizada compreensão do que levara Ricardo Salgado ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal e ao Tribunal Central de Instrução Criminal. Fui ver. Tá quieto ó pret, ups!, ó Plúvio. Uma única chamada na página principal [em português vernáculo, home page]: «Advogados de Sócrates dizem que nova suspeita é "falsa e absurda"», estampando a parelha causídica mais charmosa da galáxia. Só a escarafunchar na secção "Portugal" se chegava a uma informação minimamente jornalística do que, aos olhos da justiça, parece conluiar Sócrates e Salgado.
Daniel Proença de Carvalho, amigo e advogado de José Sócrates, presidente do conselho de administração do grupo a que pertence o DN, e agora colunista; Francisco Proença de Carvalho, seu filho, advogado de Ricardo Salgado. Há lá maior garantia de noticiário sobre Sócrates e Salgado animado por um «jornalismo guardião da verdade, da busca dos factos e liberto das amarras do poder político ou económico»? É este, relembre-se para conforto e confiança dos leitores mais exigentes, o Diário de Notícias do Pedro Marques Lopes.

Mas afinal, Sócrates mente ou não mente?
- Eu sobre Sócrates o que sei é que ele mentiu. Na entrevista que eu lhe fiz [Expresso, 19.Out.2013] ele mentiu, mentiu. E mentiu mesmo! Mentiu bem e mentiu mesmo!
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* «aprendi como é devagar —
comer devagar, sorrir, dormir devagar, cagar e foder —
aprendi devagar.»
Herberto Helder

** Valupi, curioso mas impossível anagrama feminino de Plúvio, e este, anagrama masculino daquele, honni soit qui mal y pense.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Atrabiliário | Advocacia e política

«A minha vida correu sempre de maneira um pouco atrabiliária.» 
"O caminho faz-se caminhando", RTP, 2008 - Minuto 44:45
Vez por outra lê-se e ouve-se 'atrabiliário' no sentido erróneo em que Mário Soares ali o emprega, na conversa com Clara Ferreira Alves.
Mário Soares, de quem não se esperaria tal confusão, terá querido falar de uma vida agitada, turbulenta, conturbada, atribulada, sei lá.
Atrabiliária vem da bílis: colérica, furiosa, irascível; melancólica ou hipocondríaca, também. Não que Soares fosse propriamente uma doce pessoa...

«A política e a advocacia são incompatíveis.»
O doutor Soares tinha, afinal, pensamento muito estimável.
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Zélia Gattai, viúva de Jorge Amado, morreu em 17.Mai.2008
Mário Soares refere-se-lhe — minuto 20:25 —, informando «que morreu agora».
A RTP diz que este episódio, o 6.º da série "O caminho faz-se caminhando", é de 23.Abr.2008. Não é verdade; tem de ser de data no mínimo posterior a 17.Mai.2008. Exige-se maior cuidado.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Evidentemente

«[...]
não deixa de ser verdade que os governos presididos por V. Ex.ª não evidenciaram sinais evidentes de preocupação
[...]»
Carta aberta de Silva Peneda a Passos Coelho | DN, 18.Jan.2017

Dito de outro modo e como hoje muito claramente explicava Mariana Mortágua na SIC, «o PSD não percebe nem compreende».

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Diário de Notícias do Pedro Marques Lopes, "o comunitário"

Para o que aqui me traz hoje puxo de uma autoridade particular que detenho sobre o Diário de Notícias, de Lisboa. Poucos conhecerão tão bem o DN visto de fora. Compro-o e leio-o diariamente desde 1970. Sei-lhe, de saber estudado e apontado, a evolução nos últimos 46 anos: sucessivos contextos de propriedade, directores, organogramas, estatutos e critérios editoriais, organização gráfica, jornalistas, colunistas, idiossincrasias, tendências, engajamentos, gostos, qualidade da revisão, fraquinha; acompanho-lhe, enfim, as tiragens, hoje em dia definhantes.

O sesquicentenário Diário de Notícias [29.Dez.1864], referência nacional, terminou de modo inquietante o ano de 2016. Pôs a subdirectora Joana Petiz a pagar o almoço a uma tal de Eunice, Maya por antonomásia:
«[…] Diz que não faz astrologia porque a considera "uma coisa muito mais vaga, enquanto o tarô dá respostas objectivas, pragmáticas, ou é ou não é; ou dá ou não dá". Mas sublinha que "não é uma ciência, é uma arte esotérica". E implica que haja alguma disposição para fazer "uma concessão àquilo que é material e imaterial", a reconhecer-lhe validade "ainda que não haja aqui um nexo causal". […]»


Sobre objectividade e pragmatismo estamos conversados.

O tricinquentenário Diário de Notícias começou estúpida, ofensiva e desgraçadamente o ano de 2017: enxotou Alberto Gonçalves que é, de quantos prosam no colunismo genérico dos media convencionais deste país, o melhor.
[E António Guerreiro, Plúvio?, e João Lopes?, e Ferreira Fernandes?, e António Lobo Antunes?, e Pedro Mexia?, e Paulo Tunhas?, e Pedro Santos Guerreiro?, e Viriato Soromenho Marques?, e Diogo Vaz Pinto?, e Henrique Monteiro?, e Vasco Pulido Valente?, e Ana Cristina Leonardo, Plúvio?, e Miguel Tamen?, e Ricardo Araújo Pereira?, e Miguel Sousa Tavares?, e Henrique Raposo?, e Miguel Esteves Cardoso?, e João Miguel Tavares?, e…?, e…? Pois sim, cada um deles o melhor.]
Ninguém escreve com tão esmerada gramática, ninguém escreve com tanto talento e graça, ninguém dispara ironia tão estupenda, ninguém retrata com tanto apuro e sarcasmo tão salutar a fauna sociopolítica. Aprecie-se, por exemplo, este primoroso "Ensaio sobre a mudez", na Sábado de 05.Jan.2017.  

Daniel Proença de Carvalho e Paulo Baldaia depauperaram levianamente o jornal deles e cometeram uma afronta à inteligência dos leitores. Adivinho que mais cedo do que tarde perceberão na caixa registadora a estupidez e o desastre desta purga mesquinha. Eles lá sabem — também julgo saber — porque preferem o serviçal comunitário* Pedro Marques Lopes [PML] que saliva invariavelmente alinhado no eixo Ferreira Fernandes  -  Fernanda Câncio. [Em tempo: Francisco Proença de Carvalho,  o advogado de PML, é filho de Daniel Proença de Carvalho. O mundo é uma ervilha]. 
No primeiro domingo, 01.Jan.2017, em que nos faltou a ambrosia irreverente de Alberto Gonçalves [só por isso, o jornal deveria ter baixado dos 1,70 € mas não baixou], veja-se como Pedro Marques Lopes, pomposo e bacoco como é seu timbre, dava o mote mais parecendo voz do dono do que cronista avençado: 
«[...] O fim do jornalismo como guardião da verdade, da busca dos factos, liberto das amarras do poder político ou económico** será o fim da democracia. Somos nós que temos de decidir que informação e que mediação.
[...]
Hoje, é o primeiro dia do resto da vida do Diário de Notícias. Mais do que os profissionais deste jornal que falharão e acertarão, mas que são gente com um compromisso com o verdadeiro jornalismo. É você, caro leitor, que decidirá o nosso futuro. Mas não se esqueça, estamos juntos neste caminho.»
"O primeiro dia do resto da vida do DN" | 01.Jan.2017   [Previno: tem duas comunidades.]

Este apaniguado do PPD de Sá Carneiro, do Futebol Clube do Porto, do golfe e do Bica do Sapato, pândego de ideologia compósita, propagandista à outrance do «Estado de direito democrático liberal», tinha obrigação, com o perfil escolar que ostenta***, de não tratar tão mal a língua portuguesa, que redige com deficiência aflitiva e fala em constante iminência de desgraça. Além de que se lhe exigiria, a avaliar pelos múltiplos poleiros donde perora, cultura minimamente convincente.****

Deixo a seguir algumas amostras, ao acaso, da escrita e da conversa de PML, a acrescentar às aqui aduzidas em 23.Set.2012, 07.Out.2012, 11.Mar.2014, 13.Mai.2014 e 03.Nov.2015.

Como escreve Pedro Marques Lopes
Vejam-se estes grosseiros dislates no DN. Não há no jornal quem lhe zele pela literacia?
Atrapalha-se na concordância. Baralha-se na conjugação. Troca afirmativas por negativas. Escreve 'com' em vez de 'sem'. Não distingue 'porque' de 'por que'. Escapa-lhe a diferença entre 'senão' e 'se não'. Não percebe quando 'melhor' está mal no lugar de 'mais bem'.

Como fala Pedro Marques Lopes
«Eu acho que era necessário ter dado um ênfase muito maior a esse momento fundador.» — uma 
O Eixo do Mal, 26.Abr.2015

«É como se houvessem bons só de um lado» — houvesse 
O Eixo do Mal, 19.Jul.2015

«Em todos os discursos, tanto do Bloco de Esquerda como do PS, perspassa uma espécie de ameaça constante.» — perpassa

«Há seis meses não havia quem não prevesse um triste fim a esta solução» — previsse

«eu suspeito quese houvessem mais referendos em muitos países provavelmente aconteceria a mesma coisa.» — houvesse

«o que eu digo é que a niglegência, a niglegência e a incompetência — eu não posso pôr o problema doutra maneira — nós temos de chamar às pessoas que estiveram no Banco de Portugal incompetentes» — negligência
Falou e disse o ultracompetente, licenciado pela Católica e mestre pela Nova, senhor doutor Pedro Marques Lopes.

«haviam indícios arrasadores …» — havia

«O que vem ao casoalguém que está sobre investigação há 4 anos, teve preso quase um ano» - sobesteve

Relembro: Pedro Marques Lopes é licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa e tem o grau de "Master of Business Administration" da Universidade Nova de Lisboa. 


Enfim, o comentador Pedro Marques Lopes não presta. O colunista Pedro Marques Lopes é uma fraude trauliteira.
Mas a direcção do DN não é burra por manter PML; nisso será tão-só pimba e relaxada. A direcção do DN foi olimpicamente asinina em ter prescindido de Alberto Gonçalves. 
Há-de ter sido enorme a quantidade de tarecos e tralha que a empresa de logística teve de levar para a Tomás da Fonseca na recente reinstalação do jornal
Nada de indispensável à «guarda da verdade e à busca dos factos, liberto das amarras do poder político ou económico» ficou esquecido na Avenida da Liberdade. Consigo até imaginar a caravana: no camião da frente o fantasma intimidante de José Sócrates, na carrinha de trás a barbicha mefistofélica de Proença de Carvalho… 
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* Texto de PML sem «comunidade» é trevo de cinco folhas. Desde que em 03.Nov.2015 escrevi isto, a enxurrada comunitária não abrandou. Como se a explicação que ele dera a Anabela Mota Ribeiro em 29.Set.2014, no Jornal de Negócios, lhe redimisse a idiotia do tique.

** É preciso não saber o que PML, pregoeiro de Carlos Cruz, paladino e testemunha de José Sócrates, acha da justiça — sempre a desacreditá-la e à generalidade dos seus agentes, sempre acagaçado com ela, «Eu tenho medo, eu tenho medo, fiquei com medo. Já tinha.», … Da vergonha e do medo”, DN, 15.Fev.2015 —  para levar a sério o seu apelo de agora ao jornalismo da verdade e da busca dos factos. Por favor, Pedro Marques Lopes, não nos faça rir.
16.Nov.2014, O Eixo do Mal, acabara de eclodir a notícia da Operação Labirinto / Vistos Gold [corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influência, peculato], eis Pedro Marques Lopes impante:
«Eu não me lembro em nenhuma altura da minha vida e provavelmente na vida deste país [ena!] em que fosse tão importante desconfiar do que está a acontecer, de todos estes megaprocessos.  Eu tenho neste momento, neste tipo de processos, nas condições, na condução destes processos, eu fico completamente de pé atrás.  Eu tenho muitas dúvidas como tenho em relação a todos os processos, em relação a estes gigantescos processos, que metem guerras muitas vezes políticas internas e portanto eu vou esperar calmamente para saber se de facto estes senhores foram corruptos, se existe essa possibilidade de corrupção ou não. Pelo menos, por mim neste momento essas pessoas estão absolutamente inocentes.»
Para não falar da sanha com que arremete contra qualquer esboço legiferante do enriquecimento ilícito. A gente sabe: "inversão do ónus da prova", era o que faltava! 

*** PML deve achar que a malta acha muita graça a ele ser, como se apresenta por toda a net, ex-gasolineiro, ex-merceeiro, ex-cauteleiro. Arrisco que ele sabe e receia que se usar palavras como «patrão», «proprietário do negócio» ou «comerciante» lá se esfuma a aura paraproletária que lhe vale acolhimento fofinho junto do auditório urbano-progressista-fracturante. Começou por ser adoptado em 2008 pelas meninas façanhudas do Jugular. Uma vez mais, absolutamente [como ele gosta] ridículo. 

**** Pedro Marques Lopes, erudita sumidade das letras e das artes, 18.Set.2016: «Quem é que lhe vai lavar a roupa, como dizia o Almada…»
Como dizia quem? Dizia o quê? Quando? Onde?

domingo, 15 de janeiro de 2017

À atenção de Manuel Carvalho, do Público

«[...] Mota Pinto chega a propor que o PPD reconheça ao PS o papel de farol na luta contra Vasco Gonçalves. O PPD era ainda demasiado à direita para poder levantar a cabeça. “Há tempos para voar de coruja e tempos para voar de falcão”, dizia Mota Pinto. [...]»

A menos que, cinco séculos depois, Mota Pinto não passasse de avatar d' O Príncipe Perfeito. Cada pessoa guarda sempre o seu mistério.
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Não devo descartar a eventualidade de João Pedro George, autor da obra — "Mota Pinto - Biografia" —, que não conheço, em que Manuel Carvalho estriba a sua peça no Público, ter escrito qualquer coisa como «Mota Pinto gostava de citar D. João II ...».

sábado, 14 de janeiro de 2017

Em resumo

- Benze-te, Plúvio, e respeitinho, OK?
- OK. Em nome do pai e dos filhos  e do do Espírito Santo

Sábado, 07.Jan.2017
De manhãzinha, na ficha técnica do DN lá continua, como sempre, o nome de Mário Soares na "Opinião", cuja peça mais recente no jornal, em 29.Set.2015, consistia de um breve "Apelo" ao voto em António Costa nas eleições legislativas daí a uma semana, e que publicara a última crónica regular em 23.Jun.2015.

15h28, o coração pifa.
15h30, o hospital da Cruz Vermelha comunica ao mundo.
Das televisões, a RTP foi a primeira a informar, eram 15h40, com Cristiano Ronaldo; a TVI, a última, 15h48, por Ana Sofia Cardoso.
15h56, sms da minha namorada: «Mário Soares morreu.»

Domingo, 08.Jan.2017
Pelas 00h10, no "Eixo do Mal", o pândego Pedro Marques Lopes:
[...]
não há político que eu mais admire nunca houve, pelo menos no último século, um português a que tantos devessem tanto É a maior figura, o maior político, provavelmente dos últimos cem anos, e a sensação que eu tenho é que daqui a uns mil anos, quando se fizer outra vez a história de Portugal ele é das poucas pessoas que ficará desta altura Morreu o melhor de nós todos [...]»
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Na ficha técnica do DN desaparece o nome de Mário Soares, o que não era bom sinal para ele, [o nome de Alberto Gonçalves fora apagado logo no dia 1, novidade triste e derrota da inteligência], mas continua Pedro Marques Lopes, mediocridade acarinhada.
«[Mário Soares] é um dos nossos grandes, um homem que marca os séculos XX e XXI portugueses e que nenhum compêndio sobre a nossa história nos próximos mil anos pode deixar de ter em lugar cimeiro.» * 

Terça-feira, 10.Jan.2017
15h19, Lisboa, Rua de São Bento.
O deputado e dirigente do PAN, André Silva, a também ter estado ali, aposto em como, mais do que o armão, aplaudia com veemente e magoada solidariedade os garbosos e sacrificados cavalos, cansadíssimos, 'inda a subida ia a meio

«Em resultado da sua actividade política contra a ditadura foi 12 vezes preso ...»
16h30, Lisboa, cemitério dos Prazeres.
Engavetado pela 13.ª e decerto penúltima vez. 
A 14.ª, e tudo indica que última, está prevista para 2037.

Pelo que um corpo passa, bolas!
Com que direito o meu cérebro se intitula dono de mim?
Palavras com que mais embirrei: "legado", "homenagem".
Miguel Tamen, DOC:
«a ninguém ocorreria mostrar menor respeito pelos descendentes de um algarvio ou de um autarca; já não é preciso explicar aos gálatas que a diferença entre um escravo e um homem livre não é clara; e só a certas antepassadas ocorre ainda perguntar de quem alguém será filho. Os nossos modos menos esclarecidos de tratar pessoas sobrevivem muitas vezes nas nossas relações com as coisas: e o que não diríamos de uma pessoa dizemos convictamente de uma égua, de um herói, ou de um presunto.»

_______________________________
* Não tendo simpatizado nunca com a pessoa de Mário Soares, confesso que votei nele ou no partido por que se candidatou [PS] 9 das 10 vezes em que, de 1975 a 2006, ele foi a votos
Mas isso sou eu, eleitor esquizofrénico, nascido em 1953.
Será de crer que PML — nascido em 1966 e que há-de ter sempre votado nos melhores a seu ver — nunca votou em Mário Soares, em 1986 [2 vezes], em 1991, em 1999 e em 2006, decerto porque aos 20 anos, aos 25, aos 33 e aos 40, para Pedro Marques Lopes os melhores políticos do século e do próximo milénio estavam no CDS ou no PPD/PSD. Mário Soares, nascido em 1924, só depois dos 82 anos terá começado a ficar melhor político do que todos os outros.
Quem não conheça este opinante oportunista, patareco ideológico, que lhe compre a lábia, a lata e o vezo.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Uníssono entediante

Domingo, 08 de Janeiro de 2017

Quarta-feira, 11 de Janeiro de 2017

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Caixão às voltas na cidade

Dois dias nisto, até um cadáver se cansa.

Lisboa, terça-feira, 10 de Janeiro de 2017:
14h26, Praça Afonso de Albuquerque. Alberta Marques Fernandes tropeça numa interrupção cleptorrágica da unanimidade laudatória. *

16h12, Praça São João Bosco. Coro de tragédia grega com o ponto fora da caixa. «Ele lutou pela ditadura e sofreu por isso.»

16h15, Praça São João Bosco. «Vim pelos cavalos. Adoro ver a Guarda Republicana!» **

Não vi no cemitério nem o doutor Eduardo Lourenço nem o padre Tolentino que costumam ir a todas. Admito que o senhor de barbas possa ter-se deslocado ali em representação de ambos.
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* Miserável de mim se não estivesse educado na dissonância. Oiça-se por exemplo este José que, já agora, se me afigura bem mais instruído e informado do que o homem da Praça Afonso de Albuquerque.

Conta-me como foi

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Há coisas que me fazem vir ...

- Clara Ferreira Alves, no "Curso de Cultura Geral"

domingo, 8 de janeiro de 2017

"Obrigado, Soares", s.f.f.

Até o Público, raispartam!

Mário Soares obrigado a quê, senhores burros da câmara?

Já ninguém sabe virgular neste país, porra?

sábado, 7 de janeiro de 2017

«Obrigado, Mário Soares.»,


Enquanto isso, num televisor Toshiba, às 15h46...
______________________________
Foda-se.  |  Caralho.

«[...]
Os próprios responsáveis pelos chamados meios de comunicação parecem desconhecer a importância de separar devidamente (quero dizer, através de vírgula) o vocativo, dos outros termos sintácticos: para dar um só exemplo, além do que figura no “Adeus checos” da imagem – a RTP todos os dias nos informa através de um “Bom dia Portugal” – um programa, também ele, sem vírgula.
Um dia destes, uma cena de documentário, num canal televisivo, mostrava um diálogo entre dois jovens que comiam pêssegos. Às tantas, um deles insistiu com o outro, que não queria comer mais; segundo a legenda, ter-lhe-ia dito: “Come mais um rapaz!”.
[...]»
Blogue O meu baú

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Retórica dos melros

Na SIC Notícias, ontem à noite:

Pedro Santana Lopes- Com toda a franqueza,


Ainda bem que previnem quando vão ser francos e verdadeiros; de preferência, totalmente.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Morrer

«Ao longo de 2016, a sucessão de mortes de grandes figuras do espectáculo foi alimentando uma pobre religião mediática.
[...]
Será que só sabemos lidar com as imagens dos mortos se as integrarmos numa narrativa que confira algum sentido ao seu desaparecimento? E se a morte for essa "coisa" estúpida que esvazia todos os sentidos, expondo a nossa primordial vulnerabilidade?
[...]
As perguntas multiplicam-se: de onde provém o impulso mediático que faz que sejamos compelidos a canonizar a existência de quem morreu? O branqueamento das tensões e dos conflitos inerentes a qualquer biografia é uma boa maneira de administrar a herança de alguém que já não está connosco?
[...]»