Língua e fala, voz e ouvido
«[…]
Há sons que acalmam e sons que excitam, e uma
língua é o infinito espaço que existe entre esses dois pontos. Cada palavra,
cada som, provoca uma mudança no mundo. Nenhum som é neutro. A língua falada é,
então, uma forma física de tocar no outro.
[…]
Uma canção toca no corpo que a ouve. Uma
canção não fica num ponto e o ouvido noutro ponto, afastados entre si, com um
intervalo no meio. Não há intervalo, não há espaço vazio entre uma canção e o
corpo que a ouve, não há espaço vazio entre a voz na nossa língua e o nosso
corpo. Somos tocados pela língua materna, e isto é uma evidência corporal – não
intelectual, insistimos. É uma questão de pele.
[…]»
______________________________
* Versos
de “Elegia”, poema de Sophia de Mello Breyner Andresen.