domingo, 23 de junho de 2019

Sol na eira, Príamo na feira

Em 16.Abr.2014, o Blogtailors de Paulo Ferreira publicou uma reportagem com José Pinho, fundador e dono da livraria Ler Devagar que comemorava 15 anos, em que se escrevia, negrito e itálico meus:
«[...] Como disse Príamo, tudo o que é bom é feito devagar ou com vagar. Apesar das dificuldades iniciais, por onde a livraria tem passado é isto que tem acontecido: devagar, vai criando um público fiel. Hoje, a Ler Devagar recebe "incomparavelmente mais gente. [...] O nome da livraria vai precisamente beber àquela frase e à revista literária e de crítica social Devagar, que José Pinho editou nos anos 90, juntamente com um amigo, António Ferreira. [...]»

Dadas a aritmética do tempo e a prosperidade no negócio, a Ler Devagar faz agora 20 anos. Nada como voltar a ouvir o industrial dos livros, desta feita para o bloco de notas de Hugo Geada, negrito e itálico de novo meus:
«[...] “O nome foi-me introduzido pelo autor da revista, o António Ferreira, e vinha de uma frase do Príamo: ‘Tudo o que é bom é feito devagar ou com vagar. Quando abrimos a loja decidi seguir a mesma linha de pensamento.” [...]»

Com o Blogtailors fechado desde 20.Set.2015 e passados mais de cinco anos sobre a primeira ocorrência de Príamo, sumida nos arcanos do ciberespaço, mais certo é que Feliciano Barreiras Duarte, trafulha notório do PSD, tenha bebido num título do Público de há uma semana a citação com que encima o artigo "O poder da diabolização dos privados", no Sol de 22.Jun.2019:
«Tudo o que é bom é feito devagar ou com vagar   Príamo»

Afinal, quem é Príamo? Que gaseiforme ou criatura incorpórea, pensador ou poeta é ele?

«[...]
Aprendi como é devagar — comer devagar, sorrir, dormir devagar, cagar e foder — aprendi devagar.
[...]»
Incluído em "Poesia toda - II", Plátano, 1973, o extracto a que pertence aquela passagem pode ler-se aqui  ... ou escutar-se aqui na voz de Diogo Costa Leal.

A propósito,
«[...] desde cedo aprendi que tudo o que é bom deve ser feito devagar, sentido devagar, gozado devagar. [...]»

Volto ao Sol de ontem. Intempestivo, sem pressas, cinco dias depois de encerrar a 89.ª Feira do Livro de Lisboa:
«[...] E porque para mim não há nada mais influenciador que um livro, convido todos e todas [ó doutora Ana, não invente, porra!] a um passeio atento pela Feira do Livro*, em busca da imaginação que tantas vezes escasseia e do que nos pode ajudar a fazer diferente, melhor e de forma mais eficaz. [...]»
__________________________________________
* Por mim, convite aceite. Lá comparecerei na 90.ª, na Primavera de 2020**. Quem sabe ali surja o Príamo vagaroso, para sessão de autógrafos na barraca do José Pinho. Assim como assim, deuses e reis são capazes de tudo. À cautela, levarei o meu exemplar do "Livro de Citações Autênticas de Príamo". Com rabisco mítico na primeira página há-de render-me uma pipa de massa no OLX.

** Nascido em 1953, meço a vida em Papas [vou no 7.º], Olimpíadas de Verão [tenho 16], Eurofestivais da Canção [já cá cantam 64] e em Feiras do Livro de Lisboa [não falho uma desde 1971; vou para 50 e estou a ficar antigo c'mó caralho].

Quanto à doutora Helena Sacadura Cabral, ela que se precate, não vá ser acusada de plágio. Pelos herdeiros de Herberto Helder, se não for pelo próprio façanhudo e belicoso Príamo.