A jornalista Clara Ferreira Alves [CFA] não merece apenas que se lhe preste atenção. Precisa de que mantenhamos olho nela.
Quando CFA aprontou e entregou a abjecta, ignominiosa e miserável crónica, a que nem uns laivos de racismo faltam,
contra a TAP Portugal — admitamos que, avareza minha, ao fim de terça-feira,
15.Jul.2014, para ir a tempo da sua "pluma caprichosa" no Expresso/Revista de sábado, 19.Jul.2014
—, tinha mais do que obrigação de
conhecer o essencial técnico da ocorrência com o voo TP85 na manhã do sábado anterior, 12.Jul.2014, tal era já a
informação idónea e autorizada disponível.
Por maioria de razão, não se lhe desculpa o descalabro assanhado e a confissão involuntária de autodesleixo jornalístico com que
interveio em "O que fica do que passa" gravado no Canal Q na manhã de
18.Jul.2014 e emitido [1.ª de várias sucessivas emissões ao longo do
fim-de-semana] às 23:05 dessa mesma sexta-feira*:
Luís
Gouveia Monteiro- O que é que fica da semana
que passou, Clara?
CFA, depois de comentar o
"caso BES"- Para terminar e muito
brevemente, só em Portugal é que um quase acidente mortal da TAP em que
primeiro a PSP diz que explodiu um reactor, depois a TAP diz que não explodiu
um reactor, não sabemos exactamente o que é que se passou, foi aberto um
inquérito, houve um grande silêncio da administração na primeira fase – a TAP tá com grandes problemas mas
isto é encarado como um fait-divers em Portugal, sabendo nós que temos um
aeroporto no centro da cidade! Qualquer coisa que aconteça aqui, mesmo que seja
uma peça que cai!... – foram só danos em viaturas, mas podiam ter morto pessoas. Mas isto praticamente
foi ignorado nos telejornais, na imprensa, como se fosse uma coisa normal.
Curiosamente, os primeiros três minutos e vinte
segundos desta edição, a 91, de "O que fica do que passa" não constam
do vídeo disponibilizado pelo Canal Q a meio da tarde de hoje, 22 de Julho, no
YouTube e no SAPO.
Foi justamente nesse tempo, amputado no vídeo, que CFA bolçou a
supratranscrita dose de sapiência aeronáutica e aeroportuária e nos fez saber
que a jornalista, que ela é, afinal não vira nada, não ouvira nada, não lera nada da copiosa informação, esclarecimentos e comentários sobre o incidente vertidos nos seis dias precedentes nas
televisões, rádios, jornais e redes sociais. Tivesse, por exemplo, dado atenção ao pedido de desculpa e às explicações pormenorizadas que o competente e bem-educado Fernando Pinto, com proverbial bonomia e uma paciência de Job, formulara e dispensara entretanto à comunicação social, quem
sabe não asneasse tanto.
Pelo que deduzo e decorre do seu vómito no Expresso, CFA está incapaz de distinguir
a guitarra da palheta, um borborigmo de uma explosão ou — mas isso seria
demasiada areia para a camioneta da jornalista — um reactor de uma
turbina.
Esta
sua crónica é um chorrilho de asneiras, sobranceria e subtexto, incluindo uma
contradição patética.
CFA
sabe pouco de aviões. CFA baralha A330 com A340, não obstante este ter o dobro de motores daquele.
CFA
não sabe o que é desligar um motor e voar em segurança com o outro. Faz lá ela ideia do que seja ETOPS!?
CFA
não sabe nada da idade média da frota da TAP e muito menos da idade de cada
avião, nomeadamente do A330-202, matrícula CS-TOO, de seu nome próprio "Fernão de Magalhães", protagonista do incidente, que leva pouco mais de seis anos a voar na TAP desde que a
Airbus lho entregou e cuja manutenção de motores, para provável azar
de CFA, é assegurada pelo fabricante, General Electric. Temos pena, doutora CFA, de que o avião de
que se soltou uma palheta da turbina de alta, sendo um avião inequivocamente jovem,
não dê grande jeito ao reles guião de desastre que improvisou para o "grand
finale" [aquele «extraordinaire», que ainda
me faz cócegas, estava a pedi-las...] da sua biliosa e bacoca diatribe: «a TAP… deve adquirir aviões novos que voem em condições e não deixem cair peças de
reactores a arder sobre a cidade de Lisboa», mas não temos culpa.
CFA, como eu, não gosta deste governo, de Miguel Relvas, de José Luís Arnaut [CFA, rigorosa e
perfeccionista, trata-o por "António Arnaut",
assim metendo e submetendo o inocente, desprevenido e indefeso pai do nosso precioso Serviço Nacional de Saúde ao barulho atroador de aeronaves podres a despenharem-se…], não gosta da Goldman-Sachs
nem do BES; e, evidentemente, não
simpatiza com o «abutre» Efromovich [CFA, rigorosa e perfeccionista, grafa sempre «Efromovitch»]. Lá com ela, mas é, no mínimo, leviano e desconchavado estribar nos seus desamores, na pontual escassez de aviões ou nos atrasos de horário e em dois ou três incidentes operacionais de que nada compreendeu porque não quis ou se calhar não atinge, o perigo
de viajar na companhia de bandeira portuguesa, razão da sua lauda miserável cujo garrafal título, "lead" e primeiro parágrafo me recuso a reproduzir aqui por asseio e profilaxia do
contágio público.
CFA
acha — perdão, ela não acha, ela tem sempre a certeza — que «estrategicamente
mais interessantes» do que África ou o Brasil são os «destinos asiáticos». "Eureka"!, temos a receita para a prosperidade da TAP. Os segredos e as coisas que CFA
sabe, céus! «Não se trata de um palpite.», diria, perdão, asseveraria ela.
CFA odeia a TAP. Nada, pois, obsta à sua venda,
antes pelo contrário, «privatização desejável se feita em condições de
transparência e competência». Que tal vendê-la — avanço eu imaginando-me a
perguntar por ela — ao «cavalheiro americano com quem falei num voo da TAP de
Nova Iorque para Lisboa, especialista de aeronáutica e dono de empresas
internacionais do sector»?
[Como CFA acabara de proclamar categoricamete — tudo
em CFA é categórico —, dois parágrafos antes, «Para voar de um continente para
outro, há muito que deixei de usar a TAP», presume-se que a conversa tenha
ocorrido, no mínimo, no milénio passado… A menos que Lisboa fique na América, Nova York na Europa e
vice-versa reciprocamente ao contrário…]
Vendendo-se a companhia ao tal cavalheiro empresário, para este seria apenas mais
uma em carteira e para a TAP o ensejo de integrar finalmente a companhia de «companhias
sérias como a Emirates, a Lufthansa e outras», para orgulho de Portugal. Vamos até que o tal «cavalheiro americano» ronda por aqui?… E não, não é
insinuação ou suspeição; é minha mera suposição.
Talvez importe dizer que, faz um ano e picos, comecei a desconfiar da pouca exigência, agora
abundantemente revelada, de CFA no que toca a aviação comercial.
Então não é que esta distinta plumitiva — «uma marca/estrela que muito valoriza
a constelação jornalística do Grupo Impresa», segundo Francisco
Pinto Balsemão em "O futuro do jornalismo e o jornalismo do futuro", no Expresso/Revista de 04.Jan.2014 — assinou
uma página, por sinal interessante e engraçada, mas nisso é ela competente,
na revista de bordo de uma companhia aérea do «Terceiro Mundo», mais
precisamente «uma companhia africana com aviões em segunda mão», «na penúria», em «decadência», onde voar se torna cada vez mais perigoso, conhecida por sucessivas «avarias
técnicas», «aterragens de emergência», que vem continuadamente perdendo, em
«hemorragia», «pilotos, pessoal de bordo e técnicos para companhias melhores e
mais ricas»; que enfrenta prolongados «problemas de manutenção técnica e de
escassez de aviões» — «aviões pequenos e poucos e preços ridículos» — e por
isso tenta remediar-se com aviões «obsoletos» alugados a companhias mais
manhosas ainda!?...
É certo que se tratava de um texto pago, mas isso não desculpa a cumplicidade com indigentes. E não é certo que o
doutor Balsemão tenha tido conhecimento, senão bem que se arriscaria a um valente puxão de orelhas do patrão amigo: A menina Clara não vê que ao assinar coisas assim, com fotografia e tudo, para uma
companhia merdosa e decadente como essa, está a afectar o bom-nome e a idoneidade das minhas publicações?
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Os deuses sabem da indignação, do custo e da mágoa com
que escrevo isto, não só porque conheço bem e gosto da TAP, que servi durante
33 anos, mas também porque nas três décadas há que acompanho a intervenção
jornalística de CFA não raro me tenho revisto na sua opinião e é grande o meu apreço
por tantas prosas que assinou, tantas coisas que lhe tenho ouvido, tantas
outras que lhe tenho escutado e visto fazer na sociedade e na comunicação pública.
Desculpe, senhora doutora, mas com peças como a que
agora redigiu contra a TAP Portugal, você só pode ter-se tornado
numa jornalista repulsiva e pouco recomendável.
Ficava-lhe tão bem, cara doutora Clara Ferreira Alves,
pedir desculpa à TAP e aos muitíssimos milhares de leitores que a estimam e se
habituaram a confiar no jornalismo que a senhora pratica; ficava-lhe tão bem,
Clara!
Mas então ó Plúvio, corre tudo bem na grande e magnífica companhia que a TAP é?
Não, em várias coisas — ainda, às vezes — não. É da vida.
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PS