domingo, 20 de julho de 2014

Googlar

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pela primeira vez, o mar completamente liso, contínuo e horizontal, que era o modo como se apresentava a Internet, foi reconfigurado pelo Google numa hierarquia dinâmica, baseada na visibilidade e na importância de cada site. Cada página web é classificada e o seu valor é determinado pelo número e pela qualidade das ligações (links) que ela obtém. Mais precisamente, uma ligação vinda de um site com uma classificação elevada tem mais valor do que uma outra ligação vinda de um site com uma classificação mais baixa. O Google explora assim o saber humano; de cada vez que clicamos, estamos a alimentá-lo com a nossa inteligência (e, pormenor a não esquecer, estamos a deixar Brin, Page e todos os investidores um pouco mais ricos). O algoritmo PageRank, na medida em que calcula automaticamente o “valor” de cada ligação na web e decide sobre a importância e a visibilidade de um determinado documento em função do número e da qualidade das ligações que remetem para ele, pode pois ser descrito e analisado como a representação empírica da produção e da acumulação de valor — esse conceito fundamental da economia política, aqui transposto para o centro do “capitalismo cognitivo”. O Google transforma portanto a inteligência em riqueza. Analisando-o, mostrando como ele gera valor sem produzir um único conteúdo, mas capturando os milhões e milhões de sites da web, comportando-se como o mais poderoso parasita que alguma vez existiu, somos levados a entrar na questão mais geral do modo como o capitalismo cognitivo extrai mais-valia. Lendo e ouvindo as reacções à avaliação dos centros de investigação, podemos concluir que ela exige em primeiro lugar produção de valor do capitalismo cognitivo. É a vingança do algoritmo.»