sexta-feira, 31 de março de 2017

Artes de palco - Literatura comparada

D' As mãos de Abraão Zacut não há quem não saiba. Sttau Monteiro, pois
E d' As pernas de Tomás Wallenstein, alguém sabe?
Sei eu, pois.
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Lisboa, CCB, 15.Mar.2017
Gala SPA RTP
Prémios Autores 2017
Prémio da categoria Melhor Tema de Música Popular: Capitão Fausto, com "Amanhã tou Melhor".

quarta-feira, 29 de março de 2017

Nojo semântico, repulsa sinestésica

«emprega 1200 colaboradores.», os tomates!
Se «trabalhadores» lhes importuna a vesícula, eh pá, usem, por exemplo, «pessoas».

Sei bem da etimologia de «colaborador», mas não nos fodam, perdão, ofendam.
De resto, até conheço um cognato nem por isso muito estimável.

Não tarda, teremos "ministério da Colaboração", "Código da Colaboração", "Comissão de Colaboradores", "colaborador por conta de outrem", "1 de Maio - Dia do Colaborador", «colaboradores da CGI em luta», «Colaboradores de todo o mundo, uni-vos!», etc. e o diabo a sete.

Colaboradores sabe-me a bolacha húmida e podre.

terça-feira, 28 de março de 2017

Rui Chafes, muito acima

«[...]
Como é que se há-de avançar num mundo de máscaras se não se usar uma máscara?
[...]
O erro é uma sombra. Quando o maravilhoso erro se apresentar à minha frente não vai ter rosto. Não vai ter forma. Vai ser uma sombra e vai-me dizer: É disto que andaste à procura a vida toda.
[...]»

domingo, 26 de março de 2017

Então

«Chega de entões!»
Ricardo Araújo Pereira, "Governo Sombra" | TVI 24, 26.Mar.2017
[Minuto 19:10]

Com excepções louváveis, todos os repórteres com menos de 40 anos improvisam e falam assim.
Já aqui deixara uma amostra da praga.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Da banalidade rara e da identidade

Sexta-feira rara, esta, em que o padre Anselmo Borges e o desbatinado António Guerreiro, operários incansáveis do pensamento, citam Peter Sloterdijk em jornais diferentes. 
«[…]
Os problemas - filosóficos, éticos, políticos - estão aí, imensos, desafiadores, urgentes. E não se pode ficar indiferente, pois é a nossa própria humanidade enquanto tal que está em jogo. Béatrice Jousset-Couturier, em "Le transhumanisme. Faut-il avoir peur de l'avenir", com prefácio de Luc Ferry, lembra o debate entre Jürgen Habermas e Peter Sloterdijk, declarando este: "A domesticação do ser humano constitui o grande impensado em relação ao qual o humanismo desviou os olhos desde a Antiguidade até aos nossos dias." E, contra a tese da descontinuidade metafísica entre "o que é" e "o que é fabricado", afirma uma continuidade, sendo neste contexto, pensando no pós--humanismo, que os coreanos do Sul elaboram uma carta ética dos robôs. Caminhamos, sem problemas, para hibridações de várias espécies? Com o acesso das novas técnicas a uma elite ou minoria, não surge o risco "totalitário" do controlo dos indivíduos?
[…]»

«[…]
Ao defender que o homem é, desde sempre, o resultado de uma antropotécnica que procede por selecção e domesticação do homem pelo homem, Sloterdijk punha fim ao discurso do humanismo e interrogava a condição que nele desempenha o saber filosófico, a literatura e as artes. Mais tarde, numa entrevista, ao falar do “cibernético-biotécnico”, isto é, da convergência do organismo — “o que nasceu” — e da máquina — “o que é fabricado” -, Sloterdijk acrescentou uma outra humilhação sofrida pela humanidade, ao longo da sua história, às três que Freud tinha enumerado: a humilhação infligida por Copérnico, ao revelar que a Terra não é o centro do universo; a humilhação provocada por Darwin, ao revelar a ascendência animal do homem; e a humilhação, da qual Freud se reclamava o autor, infligida pela psicanálise, ao descobrir que o homem é determinado por forças inconscientes que não controla. Essa quarta humilhação acrescentada por Sloterdijk consiste em mais uma etapa na “substituição das descontinuidades metafísicas por continuidades pós-metafísicas.
[…]»

Ontem, quinta, tivéramos Paulo Tunhas que sabe da poda filosófica e escreve bem. Só por isso já mereceria atenção, se não a merecesse, que merece, pela concordância ardorosa e alvoroçada discordância que concita e suscita, recíproca e reversamente, antes pelo contrário, embora nesta vertente da perspectiva Miguel Tamen continue insuperável. *
Dizia eu que Paulo Tunhas escreveu ontem uma boa peça que na parte do Maomé coincide com a do Ferreira Fernandes de hoje, "E andamos nisto: tapar com uma peneira" | DN, 24.Mar.2017.

Apreciei a coça que, nos comentários, o sobranceiro esquerdista progressista jurista José Pedro Faria, por isto mas sobretudo por isto levou do valente Alberto Freitas, aqui e aqui. Caso para dizer que desta vez o doutor Faria veio por lã e foi-se tosquiado.

A humanidade não é caso simples. Por exemplo, continua-se-me por destecer o dilema acerca de como foi dada a notícia do episódio teratológico acontecido no México no início deste ano.
Não consigo embarcar no consenso de comunicação, replicado em todas as línguas e canais, com que se falou do nascimento e, três dias depois, morte de um bebé com duas cabeças.
Não eram, afinal, «dois bebés»?
Se se tratasse de quatro pernas e uma cabeça, diriam «dois bebés com uma cabeça»?
Depois, estou sempre a lembrar-me do Marcello Mastroiani [ou não é ele?] a interrogar-se no "What?" de Roman Polanski [1972]: «Com que direito a minha cabeça se intitula dona de mim?»

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* «[...] Não ocorre proibir quem quer que seja de fazer o que quer que queira aos ligamentos dos joelhos; como não ocorre proibir quem quer que seja de se pregar de moto próprio a uma cruz nas Filipinas; e só ocorrerá proibir a escravatura, porque não acontece de moto próprio; e considerar autorizar os toiros de morte, porque não tenham moto. [...]»

terça-feira, 21 de março de 2017

Astranomalias de Miguel Esteves Cardoso

«Até os automóveis estão cheios de pólen. As plantas estão com o cio. Ao canto do olho um louva-deus* está a comer outro como um guindaste canibal especado diante do televisor da primavera.
A primavera propriamente dita só chega hoje** mas os insectos e os passarinhos e as nespereiras já há semanas que estão em festa. Que é que se passou? Não receberam o lembrete para dia 21 de Março** pedindo que guardassem a data nas agendas? Pelos vistos, não.
O termo técnico para o estado do tempo é "reles". Está frio e está vento. A diferença é que já nos podemos queixar: "já não estamos no inverno!" Estas temperaturas já não se "justificam". Onde se viu, num país dito temperado, uma primavera tão casaqueira e de golas tão levantadas?
No domingo obrigar-nos-ão a adiantar os relógios e a oferecer uma hora inteira da nossa existência, que só Deus sabe a falta que nos faz. Nesse dia o sol deitar-se-á, por pura batota, uma hora mais tarde do que na véspera. Mas todos nós sabemos que o sol não recebe ordens de ninguém.***
Há novas libelinhas no ar. O tráfego aéreo começa a complicar-se, sendo cada vez mais difícil distinguir as naves inimigas das amigas. Os besouros andam aluados, batendo contra as nossas orelhas, fazendo directas. Há melgas do tamanho de girafas que não picam mas assustam.
Como será a primavera de 2017? Como impedi-la de tornar-se, mais uma vez, na mera ante-estação do verão de 2017? Dando-lhe valor, mantendo as narinas, os olhos, os dedos, os lábios e os ouvidos bem abertos.»

Sabemos que o Público não segue o Acordo Ortográfico de 1990, sabemos que Miguel Esteves Cardoso o repudia. Veja-se Março, vejam-se os insectos e as directas. Assim, pergunto-me: com que atarantado desleixo, se não parvoíce encartada, a malta do "online" correu a minúsculas a Primavera e o Verão de Miguel Esteves Cardoso? Falo do "online" pois verifico que na edição em papel as estações vêm tratadas com decência.
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** A Primavera chegou a Portugal continental às 10h29 de ontem, 20 de Março.
*** Ao astro que não acata ordens não sei se o não trataria, sobretudo na 2.ª ocorrência, por Sol; não sei, não... 

Sobre a Poesia*

«[...]
o pó que o tempo traz, que o desastre traz, que os vários fracassos ou mesmo o sucesso trazem, que os vários actos mais ou menos reles de uma vida, conscientes ou não, trazem, tudo isso vai cobrindo de pó espesso as pessoas, as pessoas mais brilhantes ficam apenas pó e por vezes um pedido de socorro. E é isso que o artista faz: atende ao pedido de socorro debaixo do pó: não inventa, limpa. 
Não vai buscar a outro mundo o que é incrível e cria estupefacção. É neste mundo que o artista e o poeta trabalham e pesquisam. Tiram o pó das coisas, dos homens e das mulheres; tiram o pó de cima dos animais e da montanha. E lá de baixo, por vezes, sim, de novo, surge uma certa luz original, um brilho antigo que parece afinal uma invenção, uma descoberta. Mas não. É limpar, limpar.
[...]
Ler poesia, como toda a boa leitura, é uma forma de deslocação. Nos olhos, desde há muito se sabe, é que estão localizados as maiores das viagens. Com os pés avança-se de forma quantitativa, metro e mais metro, quilómetro e mais quilómetro. De cavalo, de carro, de comboio, de avião – eis outras formas quantitativas de viajar. Mas a qualidade essencial da viagem ali está, noutro lado, muitas vezes parada. Toda a viagem é um processo óptico; nada mais. Daí que ler poesia e ler grande literatura seja o verdadeiro processo de deslocação, não no espaço exterior medido com régua, mas no espaço do imaginário – espaço medido pela quantidade de imagens estimulantes que se produzem por minuto (unidade rigorosa: estímulo por minuto). Há versos, bem o sabemos, que multiplicam o número de imagens que um homem ou uma mulher têm na cabeça. E tal efeito de explosão; tal efeito de fazer de um verso muitas imagens, é um efeito muito químico, muito impossível e muito humano. Somos humanos também por isto. Somos humanos também para isto.
[...]»
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Soa-me a que onde está «Ficar agora, então, nas frases que pelo início jamais adivinharemos itinerário e meta.» — 4.º parágrafo do ponto 1. — devesse estar «Ficar agora, então, nas frases de que pelo início jamais adivinharemos itinerário e meta.»

segunda-feira, 20 de março de 2017

Equinócio soalheiro

Às 11h00 de hoje, Daniel Belo, formado em Jornalismo pela Universidade de Coimbra, veio ao microfone da emissora nacional noticiar o equinócio de minutos antes, às 10h29, aproveitando para saudar a «manhã solarenga» com que a Primavera estava a brindar os indígenas.

Ainda há tempos o meu fascista de estimação, dos mais cuidadosos na gramática, incorria no disparate: «[...] havia para aí uns patifes que adquiriam casa em área solarenga e julgavam que podiam escapar impunes, a bronzear-se no terraço e a gozar com os pobres. [...]»
"Pelos caminhos de Portugal" | DN, 07.Ago.2016

Erro recorrente, o emprego de solarengo por soalheiro ou ensolarado, agravadamente inadmissível na fala ou na escrita dos que têm dever de ofício.*
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* Não o meu caso, que pago para os escutar, lê-los e aprender com eles.

sábado, 18 de março de 2017

quinta-feira, 16 de março de 2017

António Lobo Antunes

Não sei se é o melhor. Ele tem-se como tal.
Aprecio o escritor António Lobo Antunes. É o mestre da metáfora e um artista sinfónico.
Guardo desde 1979 as entrevistas mais significativas na imprensa portuguesa. Julgo ter assistido a todas as que concedeu às rádios e televisões de cá, incluindo as conversas fraternas com Mário Crespo ou aquelas em que vem repetidamente professando funda admiração por Tony Carreira
Acompanho-o nos romances e na Visão
A entrevista longa mais recente deu-a a Cristina Margato no Expresso de 11.Fev.2017.
Diz sempre o mesmo, conta sempre as mesmas anedotas. Todavia, desta vez disse um pouco mais. Perpassa por ali um Lobo Antunes estagiado e amadurecido em pelo menos 35 anos de vigorosas barricas de caralho português e aviso já que não me responsabilizo por letras despencadas da árvore.

Vaidade de vaidades...
«eu era bonito que me fartava, bolas!
[...]
Comecei por perceber que estas folhinhas [onde escreve] valiam muita massa quando estava na Transilvânia. Havia uma feira do livro, e apareceu-me uma senhora com uma destas folhas. Perguntei-lhe: “Mas onde é que a senhora arranjou isto?” “Num leilão.” Como é que aquilo foi parar à Roménia? Eu dava capítulos inteiros a amigos. É como dar um quadro a amigo e ele ir vendê-lo.
[...]
Eu fui muito precoce e, segundo a minha mãe conta, aos dois anos falava espanhol.
[...]
- O que pensa sobre o Nobel da Literatura deste ano?
«Nem penso nisso. Pensava que o prémio fosse muito mais dinheiro.*
[...]
Acho a lista do Prémio Jerusalém muito melhor.**
[...]
O Prémio Jerusalém, que tem uma lista excelente**, começa com o Bertrand Russell. Tem Borges, de que não sou grande fã, mas ele é bom.
[...]
Havia uma cadeira de psicologia na faculdade e o professor fez-me os testes. Eu tinha 187 [QI]. Mas isto não quer dizer nada.
[...]
sou muito cagão.»***

Será que não sabe que se repete desde sempre?
«E depois se me começo a repetir? Se calhar já me repito agora e não me dou conta.
[...]
Tenho muito medo de começar a repetir-me.»

Todos? Que falácia! Se quiser faculto-lhe um rol de grandes físicos e matemáticos do século XX todos profundamente descrentes.
«Grandes físicos e matemáticos do século XX são todos profundamente crentes e falam sobre Deus.»

Sobre José Saramago. Desprezo, inveja, dor de cotovelo?
«O Saramago achava-se mesmo um grande escritor. Eu sempre achei aquilo uma merda, ainda não o conhecia. Sempre teve mulheres de direita enquanto se afirmava comunista. Nunca correu riscos. Nunca foi preso. Nunca tive uma conversa com ele sobre livros.
- Nunca houve uma conversa?
«Como havia de ter? Não há tertúlias. Não nos encontrávamos muito. Nunca tive uma conversa com ele mas também não me interessava muito.»

António Lobo Antunes, por favor, não finja, não se menoscabe. As suas crónicas são pequenas pérolas, você sabe-o bem, investe nelas quanto pode e retira delas rico provento. Por favor!
«Espanta-me que as pessoas gostem das crónicas.»

Tendo para concordar.
«Os políticos são repugnantes, de uma maneira geral.»****

Que sobranceria, céus!
- Usa dicionários?
«Não, não tenho. Para quê?»*****
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* Quem pensa António Lobo Antunes que endromina?
«Mas porque é que se há-de estar a dar importância a uma coisa que é só um prémio? […] Descanse que ele vai vir! […] É inevitável. Neste momento, com tudo isto que se passa à minha volta, acerca de mim, é inevitável. Nos próximos três anos, um destes anos vem. Não me dá uma alegria especial.
De qualquer maneira, se der alegria aos portugueses já fico contente.
»
Conversa com Fátima Campos Ferreira, "O meu tempo é hoje", gravada em sua casa na penúltima semana de Novembro de 2014; transmitida na RTP Informação em 23.Jan.2015.

** António Lobo Antunes ganhou o Prémio Jerusalém em 2005. Quando receber o Nobel veremos como se lhe referirá na cerimónia de entrega e entrevistas seguintes.

*** Nota-se.

**** Vendo melhor, talvez uns menos do que outros.

***** Para quê?, senhor doutor e escritor António Lobo Antunes? Olhe, para por exemplo não passar pela vergonha de, aos 74 anos e com obra do tamanho da sua, aviar em público «cinco quilos e quatrocentas gramas» de costeletas e miudezas. Ainda ontem...
Os dicionários costumam ser bom antídoto da ignorância.

«Outro dia era um senhor, que já não é ministro, a dizer na televisão 'nunca tinha visto nem ouvisto'. Isto é um ministro? Falam assim, 'nunca tinha visto nem ouvisto'.

quinta-feira, 9 de março de 2017

A imagem do presidente-arlequim, todos + as mulheres, Deus-pátria-família

«Não me preocupa minimamente como é que os portugueses vão pensar em mim nem estou preocupado em querer à força trabalhar para uma imagem minha a seguir ao fim do mandato.»

Só distraídos ou estultos podem levar à letra este sujeito inteligente, talentoso, esperto, azougado e pantomineiro que aos portugueses, portuguesas incluídas, adregou terem por presidente a seguir a um bronco algarvio.
Quem disse aquilo em Braga ainda não tinha um ano de presidente, que se completa hoje, e já estava a celebrar-se no que porventura mais o move: a própria imagem
Álbum catita, "Um ano depois", 149 fotografias de estalo. Quantos álbuns até ao fim do mandato?... 
Marcelo tem dois fotógrafos ao serviço, pagos pela nação, a fixar-lhe a imagem a cada minuto em que respira, a cada minuto em que se mexe. E como ele se mexe!
Tenho acompanhado e chega a fazer-me rir, mais bem dito e com respeito-cidadão, comover o corrupio em que o amigo Rui Ochôa  se esfalfa a registar a andança frenética do presidente. Corre, Ochôa, corre!
Marcelo vai a tudo, está em todas; este, não tarda, perderá o estatuto. Um presidente, por assim dizer, mimético e total. Presidente tão totalmente voraz que não lhe bastando sê-lo dos 10 milhões de portugueses adoptou a escola oratória do Bloco de Esquerda para sê-lo em acréscimo dos 5 milhões de portuguesas:
«O Presidente da República aqui está para vos dizer em nome de todas e todos os portugueses da nossa homenagem, do nosso respeito, da nossa gratidão.» - Em Castelo de Paiva, 04.Mar.2017
Um módico de gramática e uma aritmética de ouvido sobram para perceber que «todos e todas» é um disparate ridículo
Sim, eu sei — não é essa, Plúvio! — que o despotismo do género excitado é mais custoso de contrariar do que a órbita de Plutão.

Também me propunha falar de Deus-pátria-família na terra do presidente-arlequim, mas tenho de ir à famácia antes de que feche. Ademais, seria muito feio rir-me na comemoração da desgraça.

Viver em Portugal continua um privilégio manso. Sorte a minha.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Ter por Estar

«Carlos Costa teve bem ao longo destes tempos? Bem, tendo em conta o que aconteceu, é evidente que não teve bem, é evidente que não teve bem!»

Insisto: o perigo é que podem estar por perto crianças a ouvir.

terça-feira, 7 de março de 2017

Quinta-feira, 7 de Março de 1957. Parabéns, RTP.

Enquanto a rapariga do canto inferior direito se recompõe de um pequeno percalço, a palavra ao presidente.
[Reduza, por favor, o volume da instalação sonora.]
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"Amar pelos dois"  [Ficha técnica]
Letra anódina* e melodia muito bonita de Luísa Sobral. 
Belo arranjo de Luís Figueiredo; piano apurado e bem posto.
Cordas sensíveis e a preceito do Quarteto Arabesco.
Voz abençoada a de Salvador Sobral.
Apreciei o fim instrumental num Fá maior perfeito não pífio.
Nota não despicienda: a única cantiga, das 16 em compita, sem palhaços nem saltimbancos nem contorcionistas** no palco.
Esta não envergonhará na Ucrânia a Lusitânia.
A pontuação que se lixe.

* E que mal tem? O festival da canção não é o Correntes d'Escritas.

** Sopra-me o Plúvio: ... salvo, quiçá, Salvador ele mesmo.

segunda-feira, 6 de março de 2017

«Parabéns, jornal Público.», s.f.f.

Irra, que são burros!

Obrigado, amor.
Bom dia, mãe.
Até sempre, Besiktas.
Olá, amigos.
Vamos, puto?
Etc.

domingo, 5 de março de 2017

Causa-me impressão

«Causa-me impressão como é que isto acontece. ... claques que são monotorizadas — lá está um buraco na rede —, que são monotorizadas»

Também me causa impressão que um jornalista, para mais com sintagmas no currículo como «antigo chefe de redacção» ou «ex-director de comunicação», monitorize tão calamitosamente o seu palavreado.
Quem guarda as nossas crianças destes falantes encartados?

sexta-feira, 3 de março de 2017

Números assombrosos

«em grande medida, este valor é um valor muito significativo porque praticamente duplicou por dois o valor que estava registado ... a verdade é que por exemplo no ano de 2012, apesar de as declarações serem poucas, o valor de transferências quase quadriplica»
[duplicar]   -   [quadruplicar]
Este deputado do PS é licenciado em Gestão de Empresas, mestrado e doutorado em Ciências Empresariais, professor universitário, sendo de presumir-lhe autoridade acrescida na linguagem aritmética.
Pus-me a pensar no assombro de tais valores até que me lembrei de uma conversa na TVI, em 15.Nov.2016, com a doutora Susana Garcia, advogada e "comentadora residente" daquela estação:
É muito provável que a explicação para o descalabro denunciado pelo doutor Eurico resida no aditamento ao númaro 3 do artigo 44.º-A.

Moral da história: consulta um jurista quando não entenderes os números do gestor. *

Mas o doutor Eurico está longe de ser o único diplomado que quadriplica. Ouçam-se, ao acaso, três palrantes de alto coturno:
- «obrigar aquela pessoa a explicar porque é que triplica, quadriplica ou multipica por dez os seus rendimentos depois de passar pelo Governo.»

- «Senhor Primeiro-Ministro, eu convidava-o a quadriplicar a despesa pública para acabar de uma vez por todas com o peso dos juros no orçamento português.»

- «lucros da TAP mais do que quadriplicam»
Rodrigo Moita de Deus, RTP3, 15.Abr.2016 ["O último apaga a luz", minuto 33:20] **

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* Faça-me, compreensivo e amável leitor, a justiça de reconhecer que não brinquei com o Eurico ser brilhante nem me aproveitei de loura ser a Susana. Mas apetece-me gritar: quem nos protege destes doutores falantes? Que raio de professores tiveram?

** Azar o de Rodrigo Moita de Deus que não conseguiu citar correctamente um título do Jornal de Negócios de 03.Abr.2008 que quadruplicara com preceito «Lucros da TAP mais que quadruplicam para os 32,8 milhões».

Mas não é só o escritor Miguel Sousa Tavares que tem problemas com o infinitivo flexionado*

Por exemplo, o bom Miguel Esteves Cardoso:
«Foi como se almoçássemos lautamente para tirar a imensa fome, para podermos dedicarmo-nos, com objectividade, ao trabalho de lembrar refeições ainda melhores.» [podermos dedicar-nos

«O mínimo que podemos fazer é envergonharmo-nos de sermos cúmplices de tanta crueldade [envergonhar-nos de ser cúmplices

«Pensamos que estamos a actualizarmo-nos ou a mantermo-nos informados mas o que estamos a fazer é a participar em passatempos.» [estamos a actualizar-nos ou a manter-nos

«Porque estamos a divertirmo-nos.» [estamos a divertir-nos

E o melhor, como se proclama, insuperável escritor, António Lobo Antunes, que tal é ele de gramática?
«Por favor, leiam-no [ao José Cardoso Pires]: é uma imensa prenda que darão a vós mesmos.» [leiam-no ... darão a vocês mesmos   /   lede-o ... dareis a vós mesmos

«Não sei porque carga de água» [por que carga de água]

«não são capazes de saírem à nossa frente» [capazes de sair]

«A casa cresce, o número de degraus da escada do jardim para o primeiro andar aumentam.» [o número ... aumenta]

«Também não entendia porque motivo o Mundo era meu inimigo.» [por que motivo]

Que porcaria de professores de Português teve esta gente?
Para piorar as coisas nem revisores há já para acudir.
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quarta-feira, 1 de março de 2017

A grandeza áscia de Aníbal António Cavaco Silva e os colhões ectópicos de João Pedro Matos Fernandes

«[...]
Mas não foi isso o que verdadeiramente me arrepiou nas notícias e imagens do lançamento do livro do Professor. Outra coisa eu não esperava dele nem do seu livro. O que me impressionou e arrepiou foi uma visão que diz tudo sobre quem foi e quem é este homem. Após mais de vinte anos na vida política e nos mais altos postos dela, tendo fatalmente conhecido não só vários grandes do mundo mas também toda uma geração de portugueses da política, da cultura, do empresariado, das universidades, etc., quem é que Cavaco Silva tinha a escutá-lo no seu lançamento? A sua corte de sempre, tirando os que estão a contas com a Justiça. Os mesmos de sempre — Leonor Beleza e o que resta da sua facção fiel no PSD. Mais ninguém. Nem um socialista, nem um comunista, nem um escritor, um actor, um arquitecto, um músico reconhecido. Nada poderia ilustrar melhor o que foi e é o pequeno mundo de Cavaco Silva. Ele que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá.
[…]
Foi assim, por exemplo, que nasceu uma cidade clandestina, com igreja e tudo, no Portinho da Arrábida. Mas, felizmente para nós todos, que somos donos do domínio público, havia então um ministro do Ambiente (Carlos Pimenta)que, ao contrário do actual, os tinha no sítio** e fez a única coisa que um Estado de direito pode fazer quando ocupam a sua propriedade e a propriedade de todos: mandou aquilo abaixo.
[…]»
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Na terceira república portuguesa, não contando com os seis governos provisórios de 1974 a 1976, o ambiente só ganhou dignidade ministerial no XI Governo Constitucional [Ago.1987-Out.1991], de Aníbal Cavaco Silva, na altura ainda com designação, e missão alargada, de Ministério do Ambiente e Recursos Naturais, de que foi primeiro titular Fernando Real que por acaso de berço nascera onde Francisco Sá Carneiro houve de, 58 anos depois, morrer por acidente de avioneta
O primeiro Ministério do Ambiente, sem mais, chefiado por Elisa Ferreira, surgiria no XIII Governo Constitucional [1995-1999], de António Guterres. 
Carlos Pimenta assumiu funções governativas no IX Governo Constitucional [Jun.1983-Nov.1985], dito «do bloco central», de Mário Soares/Mota Pinto/Rui Machete, em que foi Secretário de Estado do Ambiente, de Jun.1983 a Fev.1985, na dependência do Ministro da Qualidade de Vida, António Capucho, e Secretário de Estado das Pescas, de Fev.1985 a Nov.1985, na dependência do Ministro do Mar, José de Almeida Serra.
No X Governo Constitucional [Nov.1985-Ago.1987], de Aníbal Cavaco Silva, Carlos Pimenta foi Secretário de Estado do Ambiente e Recursos Naturais, na dependência do Ministro do Plano e Administração do Território, Luís Valente de Oliveira.
Para que não me tributem a memória, declaro que todos estes pluviosos saberes me chovem daqui.

** Donde, ao contrário do ministro João Pedro Matos Fernandes, Carlos Pimenta foi um governante de tomates. Como diz o povo, um verdadeiro macho ortorquíaco. [Do grego orthós + órkhis]

Ainda Miguel Sousa Tavares [MST]:
«[…] Isso permite que os ocupantes venham agora invocar o “usucapião” *** da ilegalidade e o que o notável António Pina, presidente da Câmara de Olhão e um dos felizes “proprietários” de uma casa de férias no domínio público da Ria Formosa, tenha o supremo desplante de declarar que as ocupações são “uma conquista do 25 de Abril”! Ah, pobre 25 de Abril: de facto, tu serves para tudo! […]»
*** Eu digo e defendo a usucapião não ignorando os dicionariastas mais acomodadiços que caucionam o masculino.

Com a razia de revisores na imprensa e nos media em geral, quem nos protege da asneira e da degenerescência da língua?
Já que estou com a mão na massa, apetecem-me uns quinaus ao Miguel Sousa Tavares, jurista, escritor, entre os bons analistas da política, que tem voz grossa, costas largas e especiais deveres de ofício, mas também ele um desprotegido, por poupança na revisão, no jornal do avaro doutor Pinto Balsemão.
MST usa escrever rentabilizar, um sms ou preferir antes (uma coisa a outra). Lá com ele
Inaceitáveis e enxovalhantes são dislates como os que passo a ilustrar em oito amostras da sua coluna semanal no Expresso na qual, sei, MST se aplica com redobrados cuidados de rigor nos factos e esmero na língua:

11.Abr.2015, "O que vai passando" - «basta atentar no caso que despoletou  este assunto». [espoletou este assunto]

09.Jan.2016, "Marcelo e os outros" - «A grande notícia destas presidenciais é a de que vamos finalmente vermo-nos livres do casal Aníbal/Maria Cavaco Silva.» [vamos ... ver-nos]

19.Mar.2016, "A política contada aos adultos" - «Podemos sempre consolarmo-nos com isto». [Podemos ... consolar-nos]  

04.Jun.2016, "Porque é que as 35 horas são uma provocação" - «Porém e sobre pressão dos seus parceiros de malabarismo e dos sindicatos da Função Pública». [sob pressão]

24.Set.2016, "Várias mentiras e um imposto" - «Trata-se de pura e simples ideologia, fundada na célebre frase de Engels ("toda a propriedade é um roubo"), pela qual passaram mais de cem anos, dezenas de nações arruinadas e milhões de seres humanos condenados à fome e à miséria.»
"O que é a propriedade?", Proudhon - Editorial Estampa, 2.ª edição, 1975, página 11:
A propriedade é um roubo. Original em francês, publicado em 1840, pelo que MST poderia dizer, com acrescida propriedade, «pela qual passaram 176 anos». 
Engels, doutor Sousa Tavares!? Essa é de cabo de esquadra. O Expresso não veio corrigir na semana seguinte e assim se dissemina o disparate pelos séculos fora.

05.Nov.2016, "A loucura dos povos" - «salvo-conduto para os mandatos de captura internacional pendentes sobre a sua lusa pessoa.» [mandados de captura]

07.Jan.2017, "Um novo ano. Apenas isso" - «é difícil, senão impossível, virar os números do avesso». [se não impossível]

04.Fev.2017, "Justiça à portuguesa" -  «lá se abriram dois processos: um, disciplinar, e outro, a pedido do próprio José Sócrates, criminal. O primeiro, a cargo do Conselho Superior do Ministério Público, terminou com a inevitável absolvição do seu par, com o fundamento de que as suas declarações tinham sido proferidas “num contexto de tensão verbal muito excessiva”.» [tensão verbal muito expressiva].