sábado, 10 de dezembro de 2022

Bola

«O futebol é a melhor indústria portuguesa, de muito longe. A indústria do futebol é a melhor, a mais bem gerida, a mais competente, a mais séria, a que mais bens exporta, de Portugal inteiro. É verdade. É um facto. [...] Não há nenhuma actividade que tenha tanto sucesso em Portugal como o futebol. Nenhuma indústria, nada.»

É?

Hinódia no mundial do Catar

A introdução instrumental do hino do Uruguai é a mais longa dos 32 hinos nacionais na competição futebolística: 43 segundos exasperantes, quase tanto como a parte coral que dura 47.

Igualmente desmesurada mas não tanto é a introdução do hino do Brasil que dura 28 segundos antes dos 78 segundos em que se proferem sintagmas como margens plácidas | brado retumbanteraios fúlgidos | penhor dessa igualdade | raio vívido | impávido colosso | fulguras, ó Brasil, florão da América | o lábaro que ostentas estrelado | da justiça a clava forte.
Quero imaginar, por exemplo Raphinha, ou qualquer outro jogador, a explicar palavra por palavra o que acabara de cantar.
Quais egrégios avós, quais quê. Vendo melhor, a linguagem d' A Portuguesa é para pessoas simples.

Lembro-me, a propósito, de como a minha tia Emília, devota de missa diária que recitava o Credo de cor, ficava encalacrada quando lhe pedia que me explicasse o significado de «filho unigénito de Deus» ou o de «consubstancial ao Pai»...

Tudo isto para não falar, mas falo, do hino de Espanha, contido e austero, que vai por ali fora e se finda aos 49 segundos sem que os jogadores tenham oportunidade de abrir o bico. a)  Pois que não tem letra, o que o torna porventura no hino mais asseado do mundo.
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a) Terça-feira, 06.Jul.2021, 20h55. No estádio de Wembley vai começar a primeira meia-final do Euro 2020, procrastinado para o ano seguinte por causa da pandemia, entre a Itália e a Espanha.
Na altura dos hinos, começando pelo de Espanha, o jornalista Óscar Cordeiro, da TVI, diz que os hinos «arrepiam sempre» e passa a palavra a Nuno Gomes, antigo craque da bola, hinologista nas horas vagas:
«Sem dúvida que é um momento arrepiante e para os jogadores com certeza com muito orgulho a cantar os seus hinos. É um momento de grande concentração.»

Pude confirmar o orgulho e a concentração dos jogadores espanhóis. Não sei o que Nuno Gomes achou do momento; por mim, não me lembro de ter ouvido um hino nacional cantado com tanta afinação e dicção tão irrepreensível... 
Viva España!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Dicionário e catecismo

Idiossincrasia linguística menos preocupada com o dicionário do que com o catecismo?
Nada de novo.

«Por último, deixar a) ficar uma mensagem de pedido de responsabilidade a todas e a todos b). Nas próximas horas são expectáveis condições climatéricas c) equivalentes e é por isso muito importante que todas as cidadãs e que todos os cidadãos b) cumpram as recomendações das autoridades procurando também constituírem elementos activos da protecção civil que somos todos nós.»
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c) Helder Guégués não é tão fundamentalista como o Plúvio, que dirá sempre «climáticas», parece ser.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Foi então que o camião perdeu os sentidos


José Carlos Castro- «Francisca, consegues explicar o que é que realmente aconteceu?»

Francisca Laranjo, verbatim- «Boa tarde. É aqui, junto à EB 2-3 Paulo da Gama que tudo aconteceu. Falamos ENTÃO de um camião que acabou por perder os sentidos. Foi exactamente nêsta passadeira que este camião perde os sentidos e acaba por se despistar primeiramente contra um veículo ligeiro. Acaba depois ENTÃO por a-a-a-balroar cerca de sete veículos. São pelo menos sete a) veículos ligeiros e também carrinhas que ficaram ENTÃO afectados. Os moradores contam um cenário de muito barulho. Foi por volta das duas da manhã deste sábado que se deu este estrondo e o barulho nêsta rua nesta zona foi realmente muito. São muitos os vidros ainda no chão. Há pouco tempo foi ENTÃO retirado um dos carros mas conseguimos ver ainda pelo menos quatro destes carros, conseguimos ver pelo menos destes quatro carros ainda estão no local. A verdade é que as autoridades já estiveram aqui, a PSP e também os bombeiros, e foram transportados dois feridos ligeiros.»

José Carlos Castro- «A reportagem em directo neste local onde houve um acidente esta manhã. Sete carros foram abalroados. Eles estavam estacionados. Um motorista desmaiou e perdeu o controlo do seu veículo.»


Saudades de Ana Barros.
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a) Se são pelo menos sete, eu diria «cerca de oito, oito e meio.»
Oh rigor!

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

«A questão dos meios aéreos»

Rita Rodrigues- Miguel Cabral, boa tarde. O fogo está activo...
Miguel Cabral- Boa tarde. O fogo permanece activo há mais de 24 horas.

«Neste momento são perto de 450 operacionais no terreno auxiliados por diversas viaturas e há também a questão dos meios aéreos; são sete meios aéreos no terreno, aliás, andam pelo ar — ahahahah — e está agora a sentir-se a presença, a chegada de um meio aéreo precisamente aqui ao teatro de operações. A vinda para o terreno demora algum tempo.»

Nenhum jornalista terá alguma vez condensado tão certeira e completamente a retórica dos incêndios em tão poucas palavras. Felicite-se, pois, Miguel Cabral, carteira profissional n.º 3893A.  
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domingo, 21 de agosto de 2022

Patrícia Gaspar, uma espécie de dispositivo

Bát€gas de milhõ€s no combate. Negócios multimilionários em meios, os mitificados aéreos e os, menos conspícuos, terrestres. Legiões de operacionais, espectáculo, pornografia no terreno, emoção ao rubro [literalmente], auditórios salivantes do teatro de operações — não saia do seu lugar, anunciam-se novas e fulgurantes projecções. Tudo isto enquanto o bicho lavra.
Na prevenção e na detecção precoce quanto gasta ou investe o doutor Costa?
Pois, não é grande negócio, visibilidade nula, espectáculo nenhum. 

Ao serão de anteontem, 19, com Portugal a arder mais do que nunca, a secretária de Estado Patrícia Gaspar respondeu durante 18 minutos a Rodrigo Pratas, mui codicioso jornalista que aprecio.
Falou muito, sem explicar grande coisa - «esse momento vai chegar». 
Ontem, Augusto Madureira apresentou um resumo da conversa. Respigo:
«[...] Se considerarmos aquilo que é a severidade meteorológica, os dados, os algoritmos e as contas feitas dizem que a área ardida que deveríamos ter devia ser 30% superior, ou seja, ardeu 70% daquilo que era suposto arder face às condições de severidade meteorológica que temos. Isto significa que, apesar da complexidade, o dispositivo tem estado a responder bem e tem estado a conseguir debelar grande parte das ocorrências, mais de 90% das ocorrências nos primeiros 90 minutos. Este reforço o que vai permitir é garantir que temos mais pessoas no dispositivo [...] Estas novas 100 equipas aquilo que nos garantem é uma primeira linha de confiança porque estas vão garantidamente estar 24 horas disponíveis.» 

Oiça-se — e aprendamos — como Patrícia Gaspar informa a população de que a vegetação está muito seca e que não se deve fazer lume perto de arbustos ou de árvores:  
«temos ainda níveis de secura dos combustíveis que poderão em caso de ignição dar origem a ocorrências mais complexas de incêndios florestais e portanto convém e importa manter a adequação dos comportamentos junto aos espaços florestais»

E se um Verão mais frio e húmido do que o costume está menos propício a ignições?
Patrícia Gaspar responde na esteira de Jorge Coelho; a escola é a mesma. Caprichos de São Pedro? Mérito da governação: 
PG- «há aqui uma dimensão de tempo [...] felizmente nós estamos com resultados este ano, eu diria, simpáticos...
Rosa Pinto, jornalista- O tempo também tem ajudado.
PG- O tempo tem ajudado mas o dispositivo também, e não é este ano, estamos a falar ao longo dos últimos 10 anos.»

Pergunto-me amiúde se esta prolixa criatura consegue agir com outro propósito que não o de propaganda.  

- Confessa aqui, Plúvio, um fraquinho pela Patrícia...
- Bom, não diria tanto, até porque a resposta aqui é bicéfala. - 29.Ago.2019

sábado, 20 de agosto de 2022

Pedir desculpa

«Na edição da semana passada [...] o Expresso publicou um artigo de opinião de Rita Carvalho como se defendendo a resposta "não" à pergunta se a hierarquia da Igreja estava a reagir bem às denúncias de abusos entre o clero. Como se lia no texto, Rita Carvalho respondia positivamente à pergunta. Pelo erro, O Expresso penitencia-se... e deixa as devidas desculpas à autora e aos leitores.»

Vamos cá ver, deixa desculpas ou pede desculpas? 
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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Aquilo que é

Ao início da tarde de ontem, naquele que é o dia anterior ao dia de hoje, André Filipe Gomes Ramos Macedo Fernandes, formado em Geografia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,  comandante nacional daquilo que é a Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, leu o seguinte aranzel que por estar escrito agravou a gravidade daquilo que são as coisas enquanto a serra arde:

«O que está a ser feito e planeado para os próximos dias, a começar também já neste dia de hoje, é priorizar a zona de Seixo Amarelo até Gonçalo, garantindo aquilo que é uma consolidação eficaz e um rescaldo eficaz nesta frente que está virada àquilo que é o concelho da Guarda. Em simultâneo também, já no município da Covilhã, e portanto consolidado tudo aquilo que é a zona desde a Atalaia à Quinta da Mourata, portanto estamos a falar da estrada nacional n.º 18, e aquilo que é a colocação e o garante da manutenção dos meios de vigilância activa na estrada municipal 501 que liga Teixoso a Verdelhos, de forma a impedir que aquilo que é um ponto quente, que é o que está identificado e que causa também mais preocupação, caso durante a tarde o vento vá rodar agora para o quadrante Nordeste, portanto Este, e é possível, há aqui um potencial de poder haver aquilo que é um reavivar, uma reactivação do incêndio e portanto garantir aquilo que é a vigilância activa neste sector e sobretudo garantir que qualquer reactivação que haja seja prontamente combatida pelos meios que estão neste sector.»


Doutor André, aquilo que é.
 
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domingo, 5 de junho de 2022

uma fome ... quatro estádios

Jubileu de platina da Rainha Isabel II
 
«Faz falta este tipo de eventos que são uma forma de cultura, são uma fome, uma forma de aproximação dos povos, porque também se poderia ter dito Bem, a Expo '98..., poder-se-iam ter construído quatro estádios, quatro hospitais, dezasseis escolas

Prometo desenvolver, quando tiver tempo, uma tese acerca dos dois "lapsus linguae" de Reinaldo Serrano.
Não prometo ter tempo.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Femacosa... cos'è? *

«Fisco exige €4,5 milhões a Fernando Santos por esconder salários.
Federação paga ao seleccionador através de uma empresa.
Autoridade Tributária considera que esquema apenas serve para escapar ao IRS.

«Seleccionador recebe dinheiro da FPF através de uma empresa que, para as Finanças, é fictícia
Salário e prémios da equipa técnica são pagos via empresa do treinador. FPF transferiu quase €10 milhões em 2016 e 2017. Fisco acha que empresa é para reduzir IRS. Tribunal arbitral vai desempatar.
[...]
Ao longo dos anos a empresa foi retendo e acumulando os lucros, sem distribuir dividendos, chegando ao final de 2020 (últimos dados disponíveis) com um capital próprio de €17,6 milhões.
Em 2018 a Femacosa passa a ter como sócios minoritários os filhos de Fernando Santos (bem como o genro e a nora), mantendo-se o seleccionador com a maior parte das quotas. E em 2019 absorve uma outra empresa detida por Fernando Santos, mulher e filhos, a Sociedade Imobiliária Charneca do Guincho, que era então detentora de um conjunto de imóveis em Cascais, incluindo uma moradia e vários lotes de terreno. Além destes activos imobiliários, a Femacosa também alberga uma participação de 3,75% na seguradora Caravela, posição que é detida pelo menos desde 2017.
[...]»

Se não é enredo de chico-espertismo manhoso, o que é? Descarada vigarice?

Nunca promovi, executei ou aderi a qualquer esquema de evasão fiscal. Sou um homem de família honrado, que cumpre as suas obrigações fiscais e sociais. Sempre me pautei por princípios sólidos de honestidade e seriedade e nunca procurei obter vantagens económicas a que não tivesse direito.
Está bem, abelhinha.

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* Faz tudo, trata de tudo: taxidermia de gambozinos, ressuscitação de mamutes, esterilização de grifos, treino de unicórnios... «[...] aquisição, venda, administração e qualquer outra forma de exploração de bens imóveis; aquisição, venda e qualquer outra forma de exploração de marcas registadas, patentes e direitos de autor; podendo ainda dedicar-se a qualquer outra actividade, ramo do comércio, indústria ou prestação de serviços [...]»

sábado, 14 de maio de 2022

Exaltação do dinheiro na missa do enforcado

«O Banco Privado Português só trata de dinheiro.» 

Deixem-me imaginar.
Cumpridas as formalidades legais e consulares, incluindo a autópsia, traz-se o corpo para inumação na terra que o viu nascer, faz dentro de dias 70 anos
A viagem de trasladação terá um pequeno desvio por Bilbau para celebração da missa de corpo presente, presidida por Vítor Melícias, na sala do museu do Solomon entretanto reservada.    
Da liturgia fúnebre constará a leitura solene de algumas peças literárias de exaltação do dinheiro, seleccionadas entre várias dezenas que o enforcado encomendou a agência especializada e que renderam aos autores, no primeiro decénio do século XXI, 1500 euros por texto, pela seguinte ordem de autoria:
Incumbir-se-ão da leitura, alternadamente, Leonor Silveira e Pedro Abrunhosa, designados por conta da dicção esmerada que lhes é unanimemente reconhecida e por integrarem a lista de autores escolhidos. Assim, a encerrar o referido momento litúrgico, Leonor Silveira lerá o texto de Pedro Abrunhosa e este lerá o de Leonor Silveira.
Não sei se aguento sem chorar.     

Na altura em que rabisco esta fantasia não é possível confirmar se o presidente-arlequim, que é muito devoto e homenageador, comparecerá.


Convenhamos por fim que será difícil congeminar ironia mais cáustica do que a de eu ter sabido do banqueiro morto pelas 9h00 de ontem através de uma notícia no ... Dinheiro Vivo.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

25 de Abril, sempre!

ÚLTIMA HORA
«Neste momento temos aqui Jerónimo Martins ... Não sabemos se irá prestar declarações um pouco mais à frente ... mas irá falar certamente.»

Menina Rita, não negue.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Existenciais breves ou quase

Esta manhã lavei-me no mar

Não é fácil escapar de si; se calhar é impossível.

Isto de uma pessoa se levar a sério acaba por se tornar numa chatice.

Dois os motores do meu valer a pena viver: memória e curiosidade.

Nada ressuscita mais do que a fome, a saudade, a sede, a curiosidade…
Passo a vida a matá-las.

Que sucederia se não cagássemos, perdão, obrássemos, isto é, fizéssemos cocó?
Pois, isso.

Perdi a fé não porque tenha chegado à conclusão de que mas justamente porque não cheguei a nenhuma conclusão.

Atire a primeira pedra quem nunca removeu cerúmen com a chave da caixa do correio.

Nada há de mais repetitivo do que o coração. Talvez por isso ninguém consegue mobilizar-me contra a rotina. 

Que faz o homem que Deus não faça melhor?

Poesia na piscina?
Inspiração debaixo de água pode não ser grande coisa.

Nenhum pássaro se suicida por defenestração.

Gosto de agrião e não gosto menos de canja, mas há palavras que dão mais com umas do que com outras e quanto a isso, nicles batatóides, jamais sacrificarei o veredicto do verbo ao veredicto do prato.
Hoje a alternativa era entre sopa de agrião e canja e eu sabia que no fim iria agradecer à menina Dulce. Não restava outro critério: Com qual das sopas vai soar mais agradável a palavra «obrigado», já que simpatizo tanto com a menina Dulce? — eu para os meus botões, botões de chuva — Com a de agrião, claro!, até Pitágoras acharia o mesmo.
De modo que…
Menina Dulce- Então, e hoje, doutor Plúvio, canjinha ou uma sopinha de agrião?
Eu- Hoje vou pelo agrião.
Menina Dulce, depositando-me nas mãos a malga fumegante- Aqui tem, agrião.
Eu- Obrigado.
E assim fomos felizes, a menina Dulce e eu, durante 15 segundos.
O que é demais enjoa. Se não enfartar.

É surpreendente como, na imensidão do Google, ainda ninguém tenha respondido «A minha biografia.» à pergunta corriqueira «Qual é o livro da sua vida?».

Porque complicamos tanto, se a vida é tão breve e o orgasmo nem se fala?

Aprendi que a nossa importância é da importância que nos dão e não da que temos.
- Quanto é a importância?
- ... €. Deseja com número de contribuinte?
- Pode ser.
  
Na lavandaria
Aos 69 sinto-me às voltas na última centrifugação.

Quem mas faz paga-mas. Deixarei de falar a todos os amigos que não forem ao meu funeral. 

Parir pedra
Sei da vossa avidez por notícias do meu corpo.
Ei-las. Tendo sobrevivido ao meu suicídio, não consegui impedir a vizinha Elisabete de me levar de charola — lugar do morto como convinha — para a urgência hospitalar. Dor intensa, vómito, transpiração, tez lívida.
A eco de emergência acusou um areal nos rins onde, obtido o necessário financiamento, tenciono montar uma barraca para venda de gelados. Só me falta mar.
- E o sangue na urina, doutora?
- Três litros de água por dia.
De resto, tudo bem.

Adeus, até à próstata.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Génio, generosidade

O concerto em Nova Iorque de Yamandu Costa, com Richard Scofan no bandoneão, foi há uma semana, 12.Abr.2022.

Sessenta e um minutos, a roçar aqui e ali a sublimidade, postos à disposição de toda a gente. De graça.

Muito obrigado, senhor Yamandu.
Juro que fiquei quietinho quando me tocaram à campainha.

Competência e rigor foram de vela?

Na edição de 14 de Abril corrente o semanário "Nascer do Sol", por que paguei 4 euros, noticiava na página de desportos a morte, aos 17 anos, num acidente náutico na Tunísia, da que fora a velejadora olímpica mais jovem nos jogos TOKYO 2020, ocorridos em 2021, «que tinha já sido campeã olímpica no Rio '2016».
«O barco onde seguia com a irmã acabou por virar devido a ventos fortes.»

Os leitores que fizessem o resto:
- investigar acerca do nome/nacionalidade da rapariga e data da tragédia;
- descobrir o disparate dentro da notícia.

Eu fiz. E confirmei que o noticiário da BBC é melhor, muito melhor do que o de cá.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Inexcedíveis

Sporting, 0 - Benfica, 2

«Correu bem. Mais uma vez dar os parabéns aos jogadores porque tiveram inexcedíveis, aqueles que jogaram e os que não jogaram.»

"Treinador de futebol" é um sujeito pago para ir vendendo batatas fritas, agências de viagens, operadores de telecomunicações, seguros, água, cerveja e refrigerantes, casas de apostas, vestuário desportivo, etc., enquanto diz não importa o quê nas conferências e entrevistas de antevisão, flachinterviús e pós-jogo, a quente; mais as de preparação do que lá vem e as de rescaldo do que passou, com frieza racional, a meio da semana.

A indústria de imbecilização dos povos vai próspera, muito obrigado.
- Vero?

- Essa embirraçãozinha pelo "mister", Plúvio...
- Embirração nenhuma; gosto é muito de pensamento especulativo. E confesso que a inexcedibilidade dos futebolistas sentados não cessa de me empolgar.

domingo, 17 de abril de 2022

Pedro Mexia

é sempre bom. Muitas vezes, o melhor.

«[...]
porque é que um trabalhador há-de ser tratado por "colaborador", promovendo-o verbalmente e fragilizando-o em termos de vínculo?
[...]»
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O galo* do Anselmo

16.Abr.2022, 22h55
Tem que ser rápido, meu!
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sábado, 16 de abril de 2022

Bem-vindos ao país cristino [13]

ÚLTIMA HORA
«Consegui receber o prémio do melhor livro do mundo em língua portuguesa, e logo com o primeiro título*
Uau!!!

Um feito desta magnitude e nem uma nota de Belém? Ou o arlequim é só para lutos?
Não consigo conter a indignação.

De qualquer modo, bem haja Portugal e abençoados sejamos por escritores de tal valia.  

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* Confesso-me envergonhado por nem dos seguintes ter dado conta.
Imperdoável pecado de lesa-cultura.

Trava-línguas

Experimente dizer em voz alta «A Rússia vai redireccionar».
Parabéns.

terça-feira, 12 de abril de 2022

66 segundos de escorrência fétida

«Foram hoje apresentadasa) as memórias de Daniel Proença de Carvalho. Chamam-se "Memórias do Advogado - Justiça, Política e Comunicação Social".b) O Daniel Proença de Carvalho, há quem goste, há quem não goste dele, é um personagem marcante e como se costuma agora dizer incontornável da democracia portuguesa. Esteve em todos os momentos do nosso regime, até esteve noutros anteriores, particularmente no célebre "caso Sommeronde houve aí uma grande guerra também de regimes, contra o regime, aliás. E portanto, é uma vida, esta aqui, a vida de um homem; é também a vida de muito da nossa história recente. Ele fala sobretudo de justiça, dos problemas da justiça em Portugal. Mas fala também de política e de comunicação social. É um livro que se começa a ler e depois não se consegue parar. É um livro notável de um homem a quem o senhor Presidente da República hoje disse que o país deve muito e eu tenho que concordar inteiramente com o Presidente da República, é um homem a quem eu acho que o país deve muito.»c)
66 segundos de Pedro Marques Lopes, lambecusista-mor do reino, 07.Abr.2022d)
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a) Pressente-se nesta poderosa sala — «veja as imagens» —, ou aqui, um suave, mefítico e sofisticado cheirete a compadres...


c) Talvez PML devesse aduzir, para melhor compreensão pública do acto de propaganda, que o seu advogado, e doutros dignos constituintes como Ricardo Salgado, é o Francisco Proença de Carvalho, filho do Daniel que, já agora, entre multiplicados mesteres de que se incumbiu ao longo de uma existência vivida nos peristilos de poderes vários, foi defensor de José Sócrates e patrão do jornal onde PML publicou semanalmente de 2009 a 2020.e)
 
d) Posaconazol não pára de desconcertar.
«Gosto pelo menos de pensar que tenho um bocadinho de cuidado com as palavras». - 23h05
Nota-se. Palavras não eram ditas,
«O Partido Social Democrata continua a não conseguir ter um discurso que de encontro a este eleitorado moderado». - 23h26
Praticante penoso da língua, há-de reformar-se do comentariado sem que ninguém o elucide de que com o 'ir de encontro', que profere insistentemente, diz o contrário do que quer dizer.
de encontro    ao encontro

e) Tempo de salivante e mal disfarçado contentamento aquele — 2017-2019, num Diário de Notícias ainda animado de socratofilia palpável —, de hossanas ao na altura novel presidente do PSD com Daniel Proença de Carvalho, chefe da trupe, Fernanda Câncio e seu serviçal Pedro Marques Lopes, irmanados no desiderato comum de domesticação do Ministério Público e açaime do juiz Carlos Alexandre que a reforma da Justiça propalada e exigida por Rui Rio — um dos cavalos de batalha no seu programa político — haveria de lograr, assim lhe dessem ouvidos ou o poder necessário.

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Mas para informação substancial acerca da figura incontornável e do livro em apreço, apresentados por Miguel Sousa Tavares, dos mais antigos e persistentes gladiadores-odiadores do Ministério Público, vá lá adivinharmos porquê, nada supera a generosa, suculenta e bem documentada peça, elaborada por  quem sabe e conhece, José, que dá uma ideia do país que muito deve a Daniel Proença de Carvalho, já que nem o frenético arlequim nem o pândego Posaconazol tiveram a gentileza de explicar que gente concreta deve assim tanto a este músico medíocre e que especificada dívida está por cobrar.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Geração +

ÚLTIMA HORA
António Costa:
«O nosso desígnio, repetirei para que ninguém duvide, é muito claro: garantir que a geração mais preparada de sempre será também, aqui no nosso país, a geração mais realizada de sempre.»
[Aplauso vibrante e longo. Muito irá aquela bancada de 120 ter de aplaudir nos próximos quatro anos e seis meses... Não sei se não seria de encomendarem um avantajado stock de luvas, não vá ficarem de mãos a sangrar.]

É, desde Outubro de 2015, a ducentésima quarta vez que António Costa nos lembra de que a geração actual é a mais preparada/qualificada de sempre.
Desde que brandiu o mantra pela nonagésima oitava vez já não consigo ouvi-lo sem me apetecer sacar da pistola, parafraseando o que sucedia à personagem de Hanns Johst quando ouvia a palavra "cultura".
Mas como não tenho pistola, fico na expectativa de que na próxima vez — a quingentésima sexta —  em que o primeiro-ministro repetir a frase lhe estoire uma granada* na língua. Vai ser lindo de ver e quem sabe AC passe, por efeito colateral, a pronunciar inteiras as palavras "constitucional" e "institucional".
Quem quer, afinal, António Costa hipnotizar?
Não lhe bastou sacudir o país em Outubro de 2019 para a novidade de que «o futuro é já agora»?
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* de açúcar, vá.

Três trincos de truz*

Tolentino - Mourinho - Francisco
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* Nas coordenadas geográficas em que me calhou nascer e habitar, quem consegue compreender Humanidade sem Futebol?

Da língua e do pensamento

Na sua primeira arenga como Presidente da Assembleia da República [PAR], Augusto Santos Silva discorreu acerca da peçonha nacionalista em contraponto da virtude patriótica, alongando-se depois na glorificação da língua portuguesa e no zelo do seu uso:
«Gostaria que a liberdade de quem fica assim investido do poder da palavra fosse adornada com o cuidado pela língua em que a palavra se exprime».
Bonito e louvável. Dói é que este amor [hoje soa-me a hipocrisia] ao Português venha de um protagonista na governação — PS/Sócrates — que mais lhe maltratou a escrita através do desnecessário e nefando Acordo Ortográfico de 1990.      

«O sinal de pontuação de que a democracia mais precisa é o ponto de interrogação. O sinal que mais dispensa é o ponto de exclamação que, ao contrário do que acontece com os fanatismos de toda a sorte, como bem mostrou Amós Oz, a democracia deve usar com grande parcimónia. Deixemos as certezas aos néscios. E cultivemos sem temor a nossa capacidade de questionar e inquirir. A interrogação sacode os preconceitos, abre caminhos, convida a ouvir várias respostas, trava o passo ao dogmatismo e à intolerância.»
Revejo-me nisto.

Lá pelo meio, Augusto Santos Silva sacou de Ludwig Wittgenstein:
«Os limites da linguagem são os limites do pensamentocomo é geralmente sabido
Ora aqui é que a porca torce o rabo!
Tenha o novo PAR paciência — ao filósofo austríaco já não adianta, desde Abril de 1951, tê-la —, mas não me conformo.
Defendo e quero veemente crer em que o pensamento não é limitável pela porra de linguagem nenhuma, muito menos por qualquer língua.
- Podes argumentar e desenvolver a ideia, Plúvio?
- Epá, não sei, não consigo. É uma intuição para que não tenho palavras.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

"Carta aberta de 20 personalidades",

encantadoras e inefáveis, como Boaventura Sousa Santos, Carmo Afonso, Isabel do Carmo*, dois oficiais da tropa, Constança Cunha e Sá ou Dino Santiago.

Não que discorde de coisas como
Não escolhemos o tempo em que vivemos, ...
tal como hoje acontece, ...
opinião que se arvora, ...
personagens para todo o serviço, ...
Pensar não é uma tarefa fácil., ...
professores e maestros, ...
desejo patológico, ...
forma acéfala, ...
pensar diferente
ou mesmo de
A solução não é
.

O pior é que separam sujeitos de predicados por vírgula, não conseguem acentuar as esdrúxulas, nem a ortografia do mostrengo AO90, de que são sequazes, praticam competentemente. E muito pior, a roçar iliteracia, é que digam 'vincular' em vez de 'veicular' [ambiente tóxico, em muitos casos vinculado e estimulado por meios de comunicação social || meios que vinculassem informações contrárias].
Face ao que me interrogo sobre quem terá sido o beócio da confraria protomoscovita que redigiu a carta ou o revisor dorminhoco do Expresso que a conferiu.

Quanto ao mais e atendendo ao Portugal em que hoje vivemos, acho que se esticaram um bocadinho

1- na «criminalização» do título "Pela paz contra a criminalização do pensamento".
E reiteram «criminalização» no corpo do texto, mas não consta que algum dos subscritores — ou qualquer outro putinista/russófilo [classificação a mor das vezes redutora, simplista e injusta] entre os vários tresmalhados que no Ocidente sentimental ousam não pintar a cara e a alma de amarelo e azul  — tenha sido demandado por órgãos criminais ou constituído arguido;

2- na acusação de que «O poder político se sente proprietário das formas de pensar».
Apesar da maioria absoluta, a verdade é que ainda não sinto que António Costa seja, sequer se sinta, dono do meu modus cogitandi.

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* O jeito que me daria a doutora Isabel ser Trindade...

sexta-feira, 1 de abril de 2022

XXIII Governo Constitucional - Biodiversidade e idiossincrasias

Aos trinta dias do mês de Março de 2022 

«Eu, abaixo assinado, afirmo solenemente* pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas.»

Dez [João Gomes Cravinho, Helena Carreiras, Fernando Medina, Duarte Cordeiro, Pedro Nuno Santos, Ana Abrunhosa, Sofia Batalha, Rita Baptista Marques, Ana Sofia Antunes, João Galamba] serviram-se da "Parker" disponibilizada pelo protocolo, só por isso merecendo um tudo-nada mais do meu apreço; os restantes 45 levaram caneta de casa, receando decerto que a da simpática Ana Cristina Baptista ficasse sem bateria ... ou sem rede.
  
Brâmanes - 1
  
Pretos - 0

Canhotos [um de "piercing"] - 4 

Irmãos - 2  

Um governante, o único, pronunciou o próprio nome no compromisso de honra — Eu, Ana Abrunhosa [a "costureira"] —, não fosse o «abaixo assinado» usurpar-lho. 

O que mais prometeu cumprir: Cumprirei, cumprirei...
A Cultura está garantida. 


À margem, realce-se o trabalho de Luísa Bastos, da RTP, jornalista com quem simpatizo, na apresentação individual de cada um dos 55 investidos, que só não classifico de magnífico por ter posto António Costa a «governar sobre o signo da incerteza.»
Ai, menina Luísa, menina Luísa! Sob o signo, se não se importa.

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* Por mais que esprema a sintaxe, não consigo entender que caralho de ónus acrescentado faz aqui o «solenemente».

** Ei-la.

Disk-lei-mâr
Sendo João Miguel Marques da Costa,  coxo canhoto, além de escuteiro***, o nome do agora empossado ministro da Educação, e chamando-se Deniz Marques da Costa o cibernauta que aqui rabisca sob**** o signo do Plúvio, não descarto nem deixo de encartar, antes pelo contrário, a eventualidade de termos sido paridos pela mesma mãe.


**** Tá a ver, Luísa? 

A democracia é linda e a liberdade não lhe fica atrás.

quinta-feira, 31 de março de 2022

Sem colete


Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO: Aqui o Joe estava a dizer-me que morando a Kaja tão perto de Moscovo se não seria prudente vestir colete à prova de bala...
Kaja Kalas: Não tenho medo do Putin. Basta-me o sutiã.   
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E que merda de gracinha é essa, Plúvio?

Está bem, tentarei outra.

Fernando Santos: Eu quero é ganhar mesmo. ... Eu quero é ganhar. Ganhar, ganhar, ganhar!*

quarta-feira, 30 de março de 2022

Doutor Manuel Alegre

«A ficha curricular de Manuel Alegre, guardada no Arquivo do Departamento Académico da Universidade de Coimbra, indica que o poeta concluiu o 1.º e o 2.º ano de Direito, mas quanto ao 3.º ano apenas regista aproveitamento na disciplina semestral de Direito Fiscal. Esteve inscrito também em Economia Política, a cujo exame faltou, e nas cadeiras anuais de Administração e Direito Colonial, Finanças e Direito Civil – mas não as concluiu.»

Manuel Alegre, que nem bacharel logrou ser*, não corrige quem o trata por doutor. Já aqui falara disso a propósito de um serão eleitoral de 2016

José Gonçalez- O Manuel licenciou-se em Direito em Coimbra, não é?
Manuel Alegre- Em Coimbra, em Coimbra.

Que consideração pode merecer um senador da "ética republicana" que municia o seu pedigree escolar numa impostura perpétua?

Conto que a eventual justeza destas observações não fique diminuída pela simpatia escassa que dedico ao consagrado cagão de Águeda... 
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* «[...]
2. O grau de bacharel em Direito é inerente à aprovação em todas as disciplinas dos três primeiros anos do curso.
3. O grau de licenciado em Direito é inerente à aprovação em todas as disciplinas dos cinco anos do curso.
[...]»

A memória prodigiosa de Ângela

«É evidente que Fernando Medina aqui não é comparável, na sua formação académica e até em experiência, com o Carlos Gaspar ou com o Mário Centeno ou mesmo com o Fernando Leão. (...) Ricardo, ajuda-me. (...)»

terça-feira, 29 de março de 2022

Bem-vindos ao país cristino [12]

«Aproveite. Faça valer os seus direitos.»

grátis, GRÁTIS, GRÁTIS, os tomatis! Esta gente não dá nada a ninguém. Vende tudo, vende-se toda. Mercantilismo apurado; o doutor Google nunca é inocente — e a Deco Proteste pagará para que o não seja —  na ordem e quantidade em que devolve os resultados da pesquisa...

Fraldas  -  colchões... Como é possível permitirem-se este uso?

Com decepção profunda, a exemplo de Mário Frota, hoje em dia vejo na DECO - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, em cujos alicerces participei e a que me mantive ligado até 2008, uma organização umbilicalmente enredada nas regras e na semântica do mercado, promovendo, com beneplácito da comunicação social acrítica e serventuária, mais do que tudo o seu próprio e conspícuo sucesso. Diz que vai em 400.000 associados... 
«Há mais de 30 anos, sempre do seu lado, a Deco Proteste faz diariamente sua missão a protecção dos seus direitos e de todos os portugueses.»
Ouvir este palavreado numa telepromoção (sic) de Cristina Ferreira só pode soar-me a excrescência promíscua. Tenho de 'defesa e direitos do consumidor' uma noção antagónica da que a Deco Proteste reclama em pleno Big Brother.
'Direitos de todos os portugueses' a minha imaginação não consegue alcançar, mas aposto em que é coisa que muito preocupa e ocupa diariamente o pensamento dos marqueteiros da Deco Proteste. 

Má língua de parte e reflectindo um pouco mais, se calhar o melhor é aproveitar mesmo da generosa e desinteressada missão da Deco Proteste: envie uma sms para 4310, digite DECO e boa sorte.
Ainda assim, previno: se depois não lhe largarem a labita, o telemóvel e a caixa do correio, a culpa não é do Plúvio.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Palavras do Artur

«Comigo tenho Artur, um taxista da cidade do Porto [...]

Se formos a ver, na moeda antiga as pessoas esqueceram a moeda antiga representa quatrocentos e sessenta escudos.a) É muuuuito dinheiro!
[...]

Muito obrigada. Ficam aqui as palavras do Artur.»

a) E eu à espera de que o Artur fosse explicar a quantos morabitinos correspondem «2 € e tal».
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Não é por nada, mas duvido muito de que este Artur, ao contrário do Amílcar, seja português de cumprir o dever de todos os dias...

domingo, 13 de março de 2022

Adenda ao Abrunhosa

Minutos atrás, uma leitora indignada, fã confessa do crooner do Porto, veio ao correio do Plúvio puxar-me as orelhas pela publicação hostil a Pedro Abrunhosa. Acha ela que só por vileza e espírito mesquinho pude apoucar o nome de PA, como se não fosse possível reconhecer «na sua longa intervenção pública inúmeras provas de grande talento e qualidades humanas assinaláveis».

Deixou-me a pensar e fez-me rever toda a memória que tenho de PA.
É pois o momento de ser justo e projectar alguma luz — luz, sempre ... — menos antipática na figura do consagrado artista que há um bom punhado de anos declarara com louvável desassombro:
«Os valores humanos e os princípios não são proporcionais ao meu valor de mercado. São o seu alicerce.»

Valores humanos e princípios antes e acima de tudo. O resto ... é música.

E renegado seja quem achar ensombrada a integridade franciscana do Abrunhosa só porque este arcanjo, fundador e dono do BPP-Banco Privado Português, lhe financiou com 1500,00€ tal proclamação.

A maledicência tem limites, menino Plúvio!

Ucrânia - Abrunhosa em combate

Embirro desde sempre com o sujeito, o que facilita não dizer bem dele.

Na conversa longa publicada em 10 páginas da defunta NS' de 18.Dez.2010, fazia Pedro Abrunhosa [Porto,  20.Dez.1960] 50 anos, a jornalista extasiada, Sónia Morais Santos, apresentava-o assim:
«Pedro Abrunhosa é culto, cultíssimo. Tão depressa cita Borges ou Faulkner, como recorda Rembrandt ou Leonardo da Vinci. Tão depressa compara o panorama político actual com outros períodos da História, que conhece bem e com rigor, como indica as teorias de sociólogos, antropólogos, escritores ou músicos que estudou com minúcia e que lhe enriquecem o discurso. Fá-lo naturalmente, sem pretensiosismos bacocos.» a)
Quanto a «bacocos», concedo; já quanto a «pretensiosismos», duvido. Mas que é «cultíssimo», se calhar é:
Há um epifenómeno sociológico de consentaneidade da identidade nacional política com a identidade sociológica. - id., ibid.

Industrial pró$p€ro do entretenimento, continuo a achar PA um cabotino esperto, pretensioso, exibicionista; compositor e executante medíocre.
A criador com este arcaboiço curricular exigir-se-ia criação mais rica e variada do que a linha isoeléctrica de coração parado donde parecem brotar, com raríssimos fogachos de estro, os sucessivos sucessos dos últimos 30 anos — sucessivos sucessos, Plúvio?!    
É certo que António Carlos Jobim fez "Samba de uma nota só"  ou "Águas de Março", mas só é linear como Jobim quem pode. ACJ podia, PA não.

a) Se Abrunhosa já era tudo isto em 2010, imagine-se 12 anos depois. A cada intervenção sua o firmamento rutila.
Não? Ora vejam.
Guerra na Ucrânia. Pega-se num verso de São João da Cruz, noutro de Dylan Thomas; embrulham-se numa capa de António Lobo Antunes, e vai disto.

"Que O Amor Te Salve Nesta Noite Escura"
Que o amor te salve nesta noite escura,
E que a luz* te abrace na hora marcada,
Amor que se acende na manhã mais dura, 
Quem há-de chorar quando a voz se apaga?

Ainda há fogo dentro!
Ainda há frutos sem veneno!
Ainda há luz* na estrada!
Podes subir à porta do templo,
Que o amor nos salve.
E há uma luz* que chama,
Outra luz* que cala,
E uma luz* que é nossa.

Que a manhã levante a rosa dos ventos
E um cerco apertado à palavra guerra, 
Ninguém nesta terra é dono do tempo,
Não é deste tempo o chão que te espera.

Ainda há fogo dentro!
Ainda há frutos sem veneno!
Ainda há luz* na estrada!
Podes subir à porta do templo, 
Que o amor nos salve.
E há uma luz* que chama
E outra luz* que cala
E há uma luz* que é nossa.
 
O princípio do mundo começou agora,
A semente será fruto pela vida fora.
Esta porta aberta nunca foi selada
Para deixar entrar a última hora.

Ainda há fogo dentro! 
Ainda há frutos sem veneno! 
Ainda há luz* na estrada!
Podes subir à porta do templo,
Que o amor nos salve.
Porque há uma luz* que chama
E outra luz* que é nossa
E há uma luz* que cala.

Ainda há fogo dentro! 
Ainda há frutos sem veneno! 
Ainda há luz* na estrada!
Podes subir à porta do templo,
Que o amor nos salve.
Podes subir à porta do templo,
Que o amor nos salve.
Porque há uma luz* que chama
E outra luz* que é nossa
E há uma luz* que se acende.
PA só sabe fazer assim, clone múltiplo de si mesmo, embora aqui levemente menos genial.
«[...] a forma que encontrei para me salvar, porque me sinto incapaz para ir agir no terreno, é escrevendo canções [...] canção despida para tempos difíceis [...] foi escrita em apenas duas horas [...]»

Não sei se os amáveis leitores conseguem imaginar um sexagenário tripeiro, de óculos escuros e fisga assestada a desbastar russos na noite escura duma pradaria ucraniana...
Eu consigo. Não só consigo como garanto que sou capaz de em menos de duas horas fazer uma cagada com maior qualidade e menor pretensão.

Morte a Putin!

Meu rico Jorge Palma!
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* A propósito, quem mais senão um comerciante talentosíssimo como PA conseguiria com tão esplendoroso brilho pôr à venda de olhos vendados — venda de olhos vendados, Plúvio?! —  a própria Luz?
Até o arlequim compareceu. Isto anda tudo ligado.

Já agora, salvo nos casos de explicação fotossensível e de outra índole sanitária, ou por circunstanciais e estimáveis caprichos de imagem [imagem de marca®  é outra coisa], acho o uso de óculos escuros não só pindérico como má educação não se tirarem quando falamos com interlocutores próximos.
É por isso que me apetece concordar com a proclamação de Joel Neto, sportinguista excelente, em 23.Abr.2011: «Declaro que os óculos escuros são a maior pinderiquice dos séculos XX e XXI