«O Banco Privado Português só trata de dinheiro.»
Deixem-me imaginar.
Cumpridas as formalidades legais e consulares, incluindo a autópsia, traz-se o corpo para inumação na terra que o viu nascer, faz dentro de dias 70 anos.
A viagem de trasladação terá um pequeno desvio por Bilbau para celebração da missa de corpo presente, presidida por Vítor Melícias, na sala do museu do Solomon entretanto reservada.
Da liturgia fúnebre constará a leitura solene de algumas peças literárias de exaltação do dinheiro, seleccionadas entre várias dezenas que o enforcado encomendou a agência especializada e que renderam aos autores, no primeiro decénio do século XXI, 1500 euros por texto, pela seguinte ordem de autoria:
Incumbir-se-ão da leitura, alternadamente, Leonor Silveira e Pedro Abrunhosa, designados por conta da dicção esmerada que lhes é unanimemente reconhecida e por integrarem a lista de autores escolhidos. Assim, a encerrar o referido momento litúrgico, Leonor Silveira lerá o texto de Pedro Abrunhosa e este lerá o de Leonor Silveira.
Não sei se aguento sem chorar.
Na altura em que rabisco esta fantasia não é possível confirmar se o presidente-arlequim, que é muito devoto e homenageador, comparecerá.
Convenhamos por fim que será difícil congeminar ironia mais cáustica do que a de eu ter sabido do banqueiro morto pelas 9h00 de ontem através de uma notícia no ... Dinheiro Vivo.