«
Agradeço, do coração, a militantes do Volt e a tantos e tantos cidadãos e cidadãs independentes que trabalharam para eu estar hoje aqui. A minha candidatura fez-se, desde a primeira hora, do empenhamento de milhares de socialistas, homens e mulheres, mais velhos e jovens, que de norte a sul, da beira às regiões autónomas dos Açores e da Madeira me apoiaram e ajudaram decisivamente a aqui chegar hoje. A todas e todos, eles e elas, o meu fraternal reconhecimento, com especial destaque para os membros do governo, os deputados e deputadas, os autarcas que deram a cara e estiveram ao meu lado.»
Mandariam a congruência linguística e as melhores práticas que tivesse dito «tantas e tantos», «socialistas e socialistos», «membras e membros», «as autarcas e os autarcos», «a cara e o focinho».
A glória inoxidável da derrota
«Estou convencido de que Ana Gomes fica 2% à frente de André Ventura quando encerrarmos as votações.»
«
O resultado não é o que eu desejava. Não é o que mereciam as pessoas que me acompanharam, que me deram força e que estiveram comigo. Este resultado não é também uma falta de comparência. Hoje como ontem, amanhã como hoje cá estarei para todas as lutas, para ganhar e para perder como fiz sempre e como faz toda a minha gente.»
«A Marisa Matias foi a candidata que fez o discurso claro contra o racismo e a xenofobia. Foi a candidata que fez o discurso claro em nome da igualdade e contra a violência contra as mulheres num país onde tristemente as mulheres são assassinadas quase uma por semana em tantos dos anos*. Essa coragem da Marisa Matias inspira muita gente, inspira-me a mim seguramente e estou-lhe muito grata. As noites eleitorais, umas são melhores, outras são piores, mas há uma coisa que nós sabemos: é a firmeza daquilo em que acreditamos e a justeza daquilo em que acreditamos que abre caminhos para o dia seguinte. E é isso que faz a Marisa, abrir caminhos, fazer pontes** muito para lá de qualquer resultado. A Marisa estava cá antes do dia antes das eleições a fazer a luta dos cuidadores informais, a fazer a luta do Serviço Nacional de Saúde, a fazer a luta pelos direitos de quem trabalha, a fazer a luta pelo bem-estar animal***, a fazer a luta pela igualdade por inteiro sem pôr nenhuma luta em lista de espera. A Marisa é essa força grande pela dignidade e por um país melhor e eu tenho o enorme privilégio de saber que vamos continuar a lutar as duas juntas já amanhã.»
[
Olh'o Luís Oriola! Pensava que só trabalhasse para o Estado. Afinal, é geringôncico.]
Aqui chegado, convido o paciente freguês do Chove a deter-se por segundos nestes
dois instantâneos da ágape coimbrã do Bloco de Esquerda festejando e agradecendo à
pastorinha do bonzo de Coimbra a vantagem heróica de
1,01% sobre os 2,94% obtidos pelo probo calceteiro de Rans em quem repeti
o meu voto de 2016. É da minha vista, perdão, é do meu ouvido ou vai por ali uma desavença insanável entre os intérpretes de língua gestual? Quando uma aponta para cima a outra aponta para baixo, quando o Oriola ergue a mão ela baixa-a... Em que ficamos? Que dizem, afinal, Marisa e Catarina? Não nos baralhem a surdez, porra, entendam-se!
* Catarina a esticar-se, fervor em manobras. A própria Marisa não vai tão longe:
«[...] A eurodeputada lembrou os números: a cada semana uma mulher é assassinada ou vítima de tentativa de homicídio [...] Um a um, Marisa Matias leu o nome das mulheres assassinadas em Portugal em 2020. Leu 27 nomes [...]»
Esta gente não poupa esforços, raiando a manipulação e a mentira, para ajustar os factos ao seu evangelho.
Não precisaria de o dizer: um assassínio que fosse seria demais.
** E consertar autoclismos? Estou a precisar.
*** Estava a ver que não, béu-béu, miau.
Minhas adoradas filhas, que tencionavam votar em Marisa Matias — quem sai aos seus... — e à última hora se inclinaram para Ana Gomes, não fosse o «fascista-racista-xenófobo» ficar em 2.º:
- Pai, porque dizes tão mal do Bloco de Esquerda?
- Porque o Bloco de Esquerda não presta, filhas. E ai de nós quando prestar ou precisarmos de que preste antes de, como determina a ordem natural das coisas, se extinguir. O BE dá-me ares de confraria religiosa de meninos-bem, arrogante, perigosa e meio tonta.
Senão, vejam:
Quinta-feira, 29.Out.2015
No quadro,
citando Eduardo Cabrita, da derrota de António Costa nas legislativas de 04.Out.2015 e da urdidura, por esses dias em curso, do entendimento PS-PCP-BE que Paulo Portas, adaptando
metáfora de Vasco Pulido Valente no Público de 31.Ago.2014, crismaria de «geringonça»,
Mariana Mortágua, a deputada-estrela que deve a BEatificação a Ricardo Salgado, veio à Bobadela para «falar das nossas vidas» pós-PàF e do paraíso celeste [não é redundante, Plúvio?] que se adivinhava.
Fui assistir para tomar o pulso à coisa.
MM chegou num carro velho conduzido por uma rapariga que se pôs tão perto de mim que me foi impossível não reparar no "wallpaper" da ardósia que ia consultando e manteve aberta durante toda a sessão:
o carão intimidante deste teólogo prussiano. Mulher de muita fé, a chofer de Mariana.
MM entrou e disse «
Boa noite a todas e a todos» num momento em que ainda
só havia uma mulher na audiência.
Se o ridículo matasse...
No meio da conversa, um camarada, decerto dos ingénuos e puros que há sempre nestes núcleos locais, sensível ao inchaço populoso do parlamento, interpelou:
Mariana Mortágua ia fuzilando o rapaz com o olhar:
- De todo, não! Há estudos acerca da eficiência dos parlamentos europeus que mostram que...
Como a entendo, parva é que esta Mortágua não é. À saída troquei com ela um aceno. Tem um sorriso bonito.
BEm-vinda, BEm-vindo, BEm-vindas, BEm-vindos
Lembro-me sempre da solução picaresca e ridícula que o PS engendrou —
et voilà, «género» — para sossego canónico das Isabéis Moreiras, Catarinas Marcelinos, Tiagos Barbosas Ribeiros, Elzas Pais, Joões Galambas, Edites Estrelas, Pedros Nunos Santos, Sónias Fertuzinhos, Pedros Delgados Alves, Marias Antónias de Almeidas Santos, Marias Begonhas e Duartes Cordeiros desta vida, no XXI Congresso, em Junho de 2016:
Bem-Vindo por uma porta, Bem-Vinda por outra.
Não desgostei do discurso do presidente
No da eleição, em 24.Jan.2016,
Marcelo falou durante 16 minutos. Começou por «
Portuguesas e portugueses ...» e foi por aí fora, cedendo sempre ao código ridículo do politicamente correcto. Terminou com palmas e hino nacional.
No da reeleição, em 24.Jan.2021,
falou durante 17 minutos. Começou por escorreito «
Portugueses ...», cedendo aqui e ali, mas pouco, à novilíngua dos devotos. Esteve sério. Terminou sem aplauso nem hino. Muito bem.
foi onde borrou a escrita. Mas alguém tem exacta consciência? Como pode ser exacta a coisa menos exacta do mundo? Forte, firme, convicta, enraizada, vá que não vá. Mas exacta? Livrem-nos os deuses de consciências que tais, sem esquecer nunca
as consciências tranquilas.
Já o «piquena», nada de muito grave, é da filogénese de Cascais, cercado das tias e dondocas de que nunca se livrará.
A propósito de Cascais, onde
Marcelo Rebelo de Sousa mora há séculos, sempre me pareceu palhaçada e afronta grosseira da morigeração cívica que continue
recenseado numa vilória minhota aonde se desloca para votar, sob pretexto de ali ter sido autarca [autarca volante e volátil...] e dali serem naturais familiares antigos que muito prezava e quer homenagear. Olha se o exemplo pega... Até eu tenho
ancestrais na Etiópia a quem devo muitíssimo.
Li
isto no Nascer do Sol, li
isto e depois
isto no blogue do professor Vital Moreira, mas continuo a achar que faz falta um jornalista de voz grossa, testículos negros ou ovários valentes, que frente às câmaras em horário nobre convoque nos olhos
o nosso arlequim:
- Senhor presidente, não lhe parece insolência ou insulto aos cidadãos, que fazemos por cumprir as regras, essa farsa de, residindo em Cascais, votar em Celorico de Basto?
A despropósito, mas apetece-me,
«A resposta certa é Marcelo Rebelo de Sousa. [...] O Marcelo é em geral uma boa fonte [...] Eu não estava à espera, no caso de Marcelo Rebelo de Sousa, de uma espécie qualquer de lealdade porque não é o forte dele. Eu costumo dizer que ele é filho de Deus e do Diabo. Deus deu-lhe a inteligência, o Diabo deu-lhe a maldade. [...]»
Coda
De eleição para eleição recorre o mito de que, por falta de limpeza nos cadernos de recenseamento,
há mortos que votam. Se calhar há.