uma espécie de Meisje met de parel ibérica ... na orelha direita.
Pergunto-me se é possível não embirrar com CFA.
Respondo: sou incapaz de não embirrar, não obstante a importância que lhe confiro lendo-a e escutando-a com perseverança e atenção.
Altiva, ególatra, amiúde pindérica, o que mais me decepciona na e portanto devo dizer jornalista, escritora, analista e opinante é a fiabilidade discutível do que informa e a reiterada deficiência com que pratica a língua. Mas sim, também a persona pública de referência que ela é.
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Recuperando o que escrevi em 2012, a jornalista CFA deve pouco ao rigor e nem sempre sabe o que diz.
«[...] Está na altura de introduzir na conversa os feitos do Vasco, não apenas como autor e editor mas como tradutor, divulgador, comissário da Expo-98*, uma ideia de António Mega Ferreira que ele acompanhou em cumplicidade e amizade. Foi, todos o sabemos, autor da melhor ensaística sobre Camões. "Camões e a Divina Proporção", de 1984**, é uma abordagem que mistura a intuição forense do advogado [...] sei o que digo.»
* Vasco Graça Moura não foi comissário da Expo-98 que, aliás, só teve dois comissários: Cardoso e Cunha e Torres Campos.
** Obra publicada em Abril de 1985.
«[...] Em bom português, quanto mais me bates mais gosto de ti. Uma doutrina que, levada à letra, provoca mais ou menos uma centena de mulheres assassinadas por ano no nosso querido e cordato país [...]»
«CFA- A violência doméstica passa absolutamente sem um sopro de indignação em Portugal. A quantidade de mulheres assassinadas ...
Pedro Marques Lopes- 30 por ano.
CFA- ... 30, às vezes com tendência a subir. Uma vez eram 27 logo na primeira metade do ano. Acho que foi o ano passado, já eram 27. A quantidade de mulheres assassinadas neste país...»
Mulheres assassinadas em Portugal, por ano:
2004/40 - 2005/34 - 2006/36 - 2007/22 - 2008/46 - 2009/29 - 2010/44 - 2011/27 - 2012/41 - 2013/38 - 2014/45 - 2015/30 - 2016/22 - 2017/20 - 2018/28 - 2019/28.
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Subestima a atenção e a memória dos leitores e torna-se alarvemente ridícula.
Peço licença para repristinar o Plúvio [11.Mar.2014]:
«Escrevi em tempos que Clara Ferreira Alves nem sempre é de fiar — calúnias dos blogues de direita, explicará ela.
Nova ilustração:
Estava sentada numa cadeira ao sol, à beira de uma piscina pública de Coimbra. Sol de Junho. Nos altifalantes, a voz do Sérgio Godinho: 'Este é o primeiro dia do resto da tua vida'. […] Um dia quente de um Verão quente, estávamos em 75.
No fim da primavera de 1978, Sérgio Godinho lançou o seu 5.º LP, "pano-cru", de que constava – lado A, faixa 2 – "O primeiro dia", inédito.
Três anos antes, em 1975, e a fiarmo-nos no jornalismo sério escoado pelo Expresso, a promissora e jovem caloira de Direito, Clara Ferreira Alves, sentada numa cadeira ao sol, à beira de uma piscina pública de Coimbra, escutava Sérgio Godinho a cantar "Este é o primeiro dia do resto da tua vida", decerto acometida por prodigioso transe proléptico e quem sabe se trauteando a letra ela própria também.
Investigação mais cuidadosa do episódio permitiu-me detectar uma pequeníssima e irrelevante inconformidade tudo indicando que devida a deficiência técnica dos altifalantes da piscina: de facto, Sérgio Godinho sempre cantou e tem cantado "Hoje é o primeiro dia" e não "Este é o primeiro dia".»
Bom, aquilo foi num Expresso de 2012. Acontece que José Mário Branco morreu em 19.Nov.2019 e vinha lá o Expresso de sábado, 23 de Novembro. Aí, apertada no prazo de entrega da "Pluma", CFA decidiu: tenho de voltar à piscina:
«Era Junho e a piscina estava vazia. Nas cadeiras, meia dúzia de corpos olhavam o sol. Olhar o sol tinha-se tornado um hábito a seguir à revolução que em Abril fizera um ano, e o Verão anunciava-se quente. Era em 1975.
Naquele dia de Junho sem nuvens, na piscina municipal de Coimbra, meia dúzia de estudantes espraiados ouviam música nos altifalantes. Música revolucionária. Paz, pão, habitação. Baladas. O poema do António Gedeão, eles não sabem que o sonho comanda a vida, e a ‘Grândola’ do Zeca Afonso, o Adriano, o Fausto, o Sérgio Godinho. E a voz do Zé Mário Branco. As pessoas diziam Zé Mário como se o conhecessem, como se fosse um amigo que tivesse desembarcado em Santa Apolónia depois do exílio parisiense. A voz dele foi sempre diferente, um travo intelectual e uma secura poética que não diminuíam a toada revolucionária trespassada por versos difíceis de poetas difíceis. O O’Neill era um deles, e Camões, o mais complexo, o menos dúctil, o mais verboso. No altifalante, José Mário Branco dizia, como tinha profetizado, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Tinham mudado, se tinham. Logo a seguir, o Sérgio arrancou com este é o primeiro dia do resto da tua vida, * completando as estrofes camonianas. [...]»
Expresso/E, 23.Nov.2019
Expresso/E, 23.Nov.2019
* E ela a dar-lhe com um disco de 1978 a tocar em 1975, não falando de este é...
O Plúvio não há-de morrer sem que morra alguém antes que faça a teenager CFA, nascida em 02.Ago.1956, tornar à piscina de Coimbra e ao Verão de 75, enviada pelo Expresso, dessa vez a embevecer-se com Demis Roussos nos altifalantes... Caramba, sempre e apenas o Zeca, o Zé Mário e o Sérgio apócrifo, até os altifalantes se enfadam.
Continuemos no ridículo, agora no ridículo pomposo, dando a palavra a quem observa melhor do que ninguém:
«Acabo de chegar à Índia
Nenhum documento conhecido atesta que Vasco da Gama, ao chegar à Índia num dia de Maio de 1498, tenha escrito: Acabo de chegar à Índia. Uma crónica da chegada à Índia feita por um português, respeitando as convenções retóricas da narrativa do chegamento só iria ser escrita quinhentos e vinte anos depois e publicada numa revista do jornal Expresso no dia vinte e nove de Dezembro do Ano da Graça de 2018. O documento atravessará a posteridade, cada leitor actualizará nesta frase um presente épico, glorioso: Acabo de chegar à Índia. Quando uma crónica de jornal, cinco séculos depois, redime uma falha da crónica do chegamento, por negligência do herói que o cometeu, podemos garantir que a estirpe dos descobridores lusitanos é perene e a nova do chegamento, embora longamente diferida e só agora lavrada por destemida argonauta, chegou até nós em documento de notável eloquência e sem filtros de escusada modéstia. A chegada à Índia pode ser um pequeno passo para a cronista, mas é um salto gigantesco para a humanidade.»
António Guerreiro, "Livro de recitações" | Público/Ípsilon, 04.Jan.2019
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Aos 40 anos de traquejo, CFA será porventura a jornalista mais pretensiosa e snobe da praça. Não raro, cosmopolita pindérica.
"A arte subtil de dizer que se f*da", de Mark Manson [2016], no mercado livreiro português desde 12.Jan.2018 através da chancela Desassossego/grupo Saída de Emergência, figura desde Fevereiro de 2018 no "Top" publicado no Expresso, mantendo-se desde Agosto daquele ano, há 75 semanas consecutivas, como o livro mais vendido entre os de não-ficção.
Assim, quando a trota-aeroportos CFA na "Pluma" pesporrente de 11.Mai.2019, "Giving a f*ck" | Expresso, vem dizer, ignorando as livrarias de Portugal e a informação do jornal em que escreve, como se desconhecêssemos o livro por cá,
«Comprei um livro estúpido num aeroporto. O gesto não é tão estúpido como parece. O livro perseguia-me de aeroporto em aeroporto há meses, e de livraria em livraria, da Barnes & Noble para a Waterstones, da Strand para a WHSmith. Estava na fase Pague um e leve dois, o que constitui uma vantagem quando não se tem confiança nem no livro nem no autor. Um dos colantes da capa assegurava que tinha sido o best-seller #1, de quê e quando não dizia. Outros asseguravam que da lista de best-sellers de “The New York Times”, o que não nos leva muito longe. A razão pela qual o livro vendia era óbvia, tinha f*ck no título, exactamente assim, com um asterisco no lugar do u. “The Subtle Art of Not Giving a F*ck”, A arte subtil de não ligar peva, com o subtítulo ‘Uma Abordagem Contraintuitiva para Viver uma Boa Vida’. [...]»,
«Comprei um livro estúpido num aeroporto. O gesto não é tão estúpido como parece. O livro perseguia-me de aeroporto em aeroporto há meses, e de livraria em livraria, da Barnes & Noble para a Waterstones, da Strand para a WHSmith. Estava na fase Pague um e leve dois, o que constitui uma vantagem quando não se tem confiança nem no livro nem no autor. Um dos colantes da capa assegurava que tinha sido o best-seller #1, de quê e quando não dizia. Outros asseguravam que da lista de best-sellers de “The New York Times”, o que não nos leva muito longe. A razão pela qual o livro vendia era óbvia, tinha f*ck no título, exactamente assim, com um asterisco no lugar do u. “The Subtle Art of Not Giving a F*ck”, A arte subtil de não ligar peva, com o subtítulo ‘Uma Abordagem Contraintuitiva para Viver uma Boa Vida’. [...]»,
estávamos fartos de nos 16 meses anteriores esbarrar em todos os escaparates e vitrinas com "A arte subtil de dizer que se f*da - Uma abordagem contraintuitiva para viver uma vida melhor", tradução de Fernanda Semedo.
Pulsão indomável - semana não, semana sim, importa reavivar aos leitores do Expresso o retrato de uma dama sofisticadérrima que frequenta livrarias finas estrangeiras e só nos quiosques letrados em inglês é que olha para as capas...
Pulsão indomável - semana não, semana sim, importa reavivar aos leitores do Expresso o retrato de uma dama sofisticadérrima que frequenta livrarias finas estrangeiras e só nos quiosques letrados em inglês é que olha para as capas...
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E a petulante gabarolice oceânica, senhores?
Mário Soares, John le Carré, Hotel Ritz...
«O John le Carré abriu a porta.
- ... O que é que está a ler?
- Estou a ler a Madamme Bovary ...
- Ah, a Madamme Bovary!, disse eu ... Eu já li esse livro nove vezes.
- ... pela nona vez.
Dissemos os dois ao mesmo tempo. A porta abre-se de par em par e ele olhou para mim e disse:
Dissemos os dois ao mesmo tempo. A porta abre-se de par em par e ele olhou para mim e disse:
- Oh! Do you want a drink?
Quer whiskie velho ou the bay whiskey? E sentou-se e esteve horas a falar comigo. Portanto, o Flaubert e a Madame Bovary ... eu acho que lhe fiz uma óptima entrevista.»
Quer whiskie velho ou the bay whiskey? E sentou-se e esteve horas a falar comigo. Portanto, o Flaubert e a Madame Bovary ... eu acho que lhe fiz uma óptima entrevista.»
Filme/documentário de Nuno Artur Silva. De quem houvera de ser?
Resta acrescentar a adivinhável e inconsolada desolação em que CFA deixou o escritor britânico por não poder ficar ali a ouvi-la mais um punhado de horas. E ser justo: "O fascínio das histórias" está bem feito. Vale os 73 minutos.
Reentro na "Pluma caprichosa" de 23.Nov.2019 para apreciar como, a reboque do epicédio de José Mário Branco, CFA se gaba, num diluviano e onanístico despudor, de certo professor de Direito, não o nomeando [Marcelo Rebelo de Sousa?...], lhe ter dado um 15:
«[...] Outro professor, hoje democrata e justo, entregou provas com a frase, há aqui um 15. Pausa dramática. Um 15 era uma nota tão superior, tão acima dos padrões normais onde imperava o 12. Um valor superior estava reservado para os rebentos machos de uma dinastia académica ou política, porque a vocação classista e machista do regime era insuperável desde que os rebentos não fossem muito imbecis. Dar um 15, em 1973, era considerado um acto subversivo. Um professor que desse um 15 tinha perdido a cabeça. E o dito professor, acentuou. Há aqui um 15 e, pausa dramática, pertence a uma senhora! Uma mulher tinha conseguido um 15. O 15 era meu e soube-me à fúria que a introdução me causou no meu 1.º ano. Uma senhora. Nunca esqueci. [...]»
Ridiculamente patético.
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Empertigada, megalómana, CFA não se compara a personagens que não pertençam, pelo menos, ao universo literário dum imortal. Gervásio Lobato, por exemplo? Jamais, credo, que desprestígio!
«[...]
Aí eu disse ao Luís Delgado e ao Mário Bettencourt Resendes: “Isto não faz sentido nenhum. Para mim não pode ser assim. E, portanto, eu vou aproveitar…” — é como na peça do Shakespeare, quando já está a chover e alguém diz “aproveito esta aberta e vou-me embora”. [...]»
Momento de reconhecer que CFA tem-me dado a saber coisas que por outros dificilmente saberia. Por exemplo, na parte final da conversa com João Miguel Tavares, o nome de um político do especial agrado de José Sócrates:
«[...] ele (José Sócrates) disse-me que o político europeu que admirava — não sei se isso terá sido em off, agora não me lembro, mas olha, se era off agora vai — era o Berlusconi. Ele achava o Berlusconi uma personagem interessante. O Berlusconi é um multimilionário, Sócrates não era. E eu acho que, nalgum ponto da sua carreira, este homem desejou ser um multimilionário. E apaixonou-se por essa vida, que não era a dele. E, sobretudo, não era a vida de um primeiro-ministro. [...]»
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Disparates avulsos de português a acrescentar aos que entre verbetes vários arrolei neste.
«Nada que não se prevesse»
«os emigrantes evidentemente que rejuvejenescem»
Eixo do Mal, 18.Abr.2019
rejuvenescem
rejuvenescem
«caso não haja maiorias na próxima eleição, que não vão haver quase de certeza.»
«tragédia humanitária absolutamente confrangedora»
«Aqui em Portugal ninguém é verdadeiramente punido quando se tratam de crimes de alto nível.»
«A culpa do Pinochet foi não ter morto toda a gente que devia», glosando Bolsonaro
«Não se tenham morto uns aos outros»
«Tenho muita pena de que o Partido Socialista, por uma vez, tenha sido um partido retrógado neste sentido.»
Eixo do Mal, 12.Mar.2017
retrógrado
retrógrado
… e a mim faz muita pena, e espécie, que uma jornalista, escritora, licenciada em Direito, diga retrógado ... e descriminações como a seguir se lerá.
«mamain» / «descriminações»
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Reformado sem nada de socialmente proveitoso para fazer, acompanhei no Inverno/Primavera de 2015/2016 a promoção [TV, rádio, imprensa, redes, feiras e festas] de "Pai Nosso", romancezeco medíocre+ de CFA. Cagarim orgíaco de vaidade e bajulação raramente visto por cá.
A apresentação solene, na Fundação José Saramago, em 03.Dez.2015 — estava a tribo toda, com excepção de um enfermo real e de alguns mortos, incluindo da Vinci, Kant e Einstein. Notei igualmente a ausência do Papa Francisco —, durou hora e meia. A autora falou, perdão, pregou, vez por outra ralhando, nos 23 minutos finais, a partir deste momento:
Boa noite a todos.
... Quero agradecer em primeiro lugar ao meu querido amigo José António Pinto Ribeiro, aqui presente, que me ofereceu o chá ... escrevi num sítio fechado, na companhia do meu cão, o "Johnny" ... um dia o José António apareceu-me num tugúrio onde eu escrevia na altura … a mansarda onde ia escrever o grande romance … um janeleco … cheirava a mofo, que me foi emprestado por outro amigo, que é o Nuno Artur Silva [João Quadros explica], que também está aqui presente. … E o Nuno perguntava "Então, estás a escrever?" ... e um dia apareceu o José António Pinto Ribeiro com uma chaleira, um bule de chá … o meu combustível … Vários anos depois, aqui está o livro.
Quero também agradecer ao António e à Anna Damásio… foram sempre ao longo destes anos uma enorme presença na minha vida … quente, inteligente e exigente ...
... Quero agradecer à Anabela [Anabela Mota Ribeiro, mulher de JAPR] que me acolheu sempre em sua casa como se fosse a minha casa. Eu tive um desastre de automóvel ... muito duro, e foram novamente o José António e a Anabela que me acolheram e protegeram ...
... Eu achei que sabia escrever, porque escrevi toda a minha vida … nunca escrevi ficção científica porque detesto o futuro, sou uma pessoa que vive no passado, sempre ordenei o meu mundo em função da escrita e nesse sentido tudo o que acontece à minha volta é sempre matéria de qualquer coisa que ou escrevi ou escreverei ou escrevo ou nunca chegarei a escrever. Mas se não chegar a escrever, para mim não é muito importante. Isso não é determinante para mim.
Ontem, por exemplo, na rua onde moro, uma pessoa lançou-se de um segundo ou terceiro andar sobre um carro que por acaso estava estacionado mesmo ao lado do meu. Podia ter-se lançado sobre o meu carro … Porque é que ele se atirou? Porque é que ele voou? Porque é que isto aconteceu? E é disto que eu me alimento ... Escrevo porque preciso de que as coisas façam sentido dentro da minha cabeça ... O rapaz que se atirou … Porquê? Ele estava sozinho? Ele era um doente mental? Ele era um perturbado? Foi empurrado? Foi um crime?...
... O que interessa é que nada acontece por acaso. Como dizia o Gabriel García Márquez, "Não há acasos, só há coincidências."*, e eu concordo. Só que essas coincidências são coincidências ontológicas. ...
* «Ahí confirmé lo que dijo Freud: "En la vida no hay azar" o como dicen los abuelos de Güémez: "No hay casualidades... simplemente una sincronía con la vida".» - Aqui.
«“No hay casualidad sino destino. No se encuentra sino lo que se busca y se busca lo que existe en lo más profundo del corazón.” - Ernesto Sabato.» - Aqui.
«Según el psiquiatra suizo Carl Jung esto no es casualidad, sino sincronicidad, uno de los aspectos más enigmáticos y sorprendentes de nuestro universo. No existe la casualidad, y lo que se nos presenta como azar surge de las fuentes más profundas. - Friedrich Schiller» - Aqui.
Do Gabriel García Márquez nem rasto.
Prosseguindo, disse, perdão, proclamou CFA:
... O jornalismo obriga-nos sempre a ser verdadeiros e factuais, e deontológicos e a não inventar. [Bem prega Frei Tomás...] ...
... A nossa melancolia pós-imperial — e já tive esta discussão com um grande escritor inglês [CFA não fala com escritores senão no mínimo grandes] — é uma melancolia até mais aguda, mais forte, mais profunda e mais ferida do que a melancolia pós-imperial inglesa. ...
... Sou contra o esquecimento, o esquecimento parece-me a pior das sortes. ...
... Nós somos mais grandiosos do que aquilo que pensamos [se CFA já é grandiosa como é, imagino o que ela não pensa de si. Muralha da China?] e somos menos grandiosos do que aquilo que dizemos num jogo de futebol. ...
... Ali [Médio Oriente], as pessoas têm memória, não têm obliteração, não se esquecem e fazem tudo por não esquecer. Tanto dum lado como doutro ... era preciso uma dose de esquecimento que fosse razoável para evitar o ódio entre eles ... o ódio entre nós e eles, entre eu e o outro. Como dizia o Rimbaud, "Je est un autre. Je est un autre et un autre c'est moi". * ...
* Eis como CFA, não fazendo a menor ideia do propósito e do contexto em que o poeta Arthur Rimbaud, ia fazer 17 anos (!), formulou tal pensamento de si enquanto criador, tentou encharcar de brilho o sistema hidráulico da Casa dos Bicos e cegar de espanto o auditório com uma citação literária erudita forjando-lhe às três pancadas sentido conveniente ao que perorava. Dois apontamentos bastam:
«Rimbaud (1854-1891), numa carta a Paul Demeny de 15 maio 1871, escreveu: je est un autre (eu é um outro), professando uma concepção original da criação artística: o poeta não pode controlar o texto que sua verve exprime... Disse ainda: J’assiste à l’éclosion de ma pensée: je la regarde, je l’écoute… (Eu testemunho a eclosão do meu pensamento, eu o observo, eu o escuto...)» - Aqui.
«Rimbaud escreve a Demeny: Pois Eu é um outro. Se o cobre acorda clarim, não é por sua culpa. Isto me é evidente: eu assisto à eclosão do meu pensamento: eu a observo, eu a escuto: eu lanço uma flecha: a sinfonia faz seu movimento nas profundezas, ou salta sobre a cena.» - Aqui.
Que tem "Je est un autre" a ver com entre nós e eles, entre eu e o outro? Nada. CFA, dondoca culta.
Continuou:
... Uma coisa é olhar, outra é ver. ... Olhar é fácil, ver é que é difícil, ver é extraordinariamente difícil ... Aquilo que eu tentei neste livro foi não apenas olhar ao passar, foi ver e depois a seguir [sic] perceber.
Ver e olhar são ao contrário, doutora CFA, tudo nos diz que são ao contrário. Aposto em que perceberia melhor se olhasse. Exemplo básico que até CFA entenderá sem explicador:
Ver - Encontrou-me e disse «Há muito que não nos víamos!» || Olhar - Olhou para mim e comentou «Que tristeza é essa?».
Ver - Encontrou-me e disse «Há muito que não nos víamos!» || Olhar - Olhou para mim e comentou «Que tristeza é essa?».
E concluiu em glória:
... nada acontece por acaso; tudo são coincidências. ...
... Queria dizer, para finalizar, que há pessoas que não estão aqui esta noite, que estão ausentes, que eu tenho muita pena mas tenho que invocar, dois grandes amigos que não estão aqui: a Maria de Jesus Barroso e o meu querido amigo Mário Soares que por razões de saúde não pode estar aqui; certamente estaria como esteve sempre comigo em todos os momentos e foi sempre uma figura… "inspiradora" é uma palavra pequena. Não está o José Saramago. Não estão outros mortos e alguns dos mortos com quem me cruzei e alguns dos mortos que acabei por matar dentro do meu livro. Tenho pena de que esses mortos não estejam ... Se há uma coisa mais terrível do que a morte dos outros, é a nossa própria morte, como toda a gente sabe. ...
... Obrigada a todos.
//
{Clara, Clarinha, tu andavas a pedi-las. Desculpa ainda não teres sido servida neste humilde estabelecimento, mas, haverás de reconhecer, não é fácil lidar contigo.
Primeiro problema: há um enorme abismo entre o que és (uma jornalista «que escreve bem») e o que gostarias de ser (um grande vulto da literatura). E tu sabes isso. A impiedosa Clara-cronista será sempre demasiado severa para com a virtual Clara-escritora. É esse o motivo pelo qual a retumbante novela que guardas há anos nas gavetas da tua imaginação jamais verá a luz do dia. É pena, porque com jeitinho talvez conseguisses escrever uma coisa parecida com o «Equador», para vender bem no Verão e levar para a praia. O teu drama é que querias um «Nostromo» ou uns bons «Karamazov» (2 volumes, tradução directa do bielorusso de Nina e Filipe Guerra, Lda.). Achas que, com o que já leste na vida, tens direito a não menos que isso. O teu talento é a tua tragédia. Com a fama que já tens, tudo o que escrevesses seria sempre «vocês têm o último da Clara Ferreira Alves? Não me lembro do nome». Resumindo: estavas três meses nos tops da Fnac e o resto dos teus dias na ignóbil poeira do esquecimento. Não é isso, em absoluto, o que almejavas. O teu sonho era escrever uma obra de génio numa mansarda tuberculosa de Dublin, vivendo do ar, cafés e cigarros, saindo directamente do anonimato para as páginas do The Western Canon. O problema é que já és demasiado famosa para isso. Tens, portanto, de ir convivendo com personalidades literárias como o Dr. Pedro Miguel Santana Lopes para ganhares o que a tua pulsão consumista reclama.
Segundo problema: a tua pluma é polifónica. Saltitas entre um número variado de registos, do género «colecção Anita» («Anita na Praia», «Anita, Grávida Adolescente», «Anita no Jardim Zoológico», «Anita Vai ao Circo», «Anita no Private Banking», «Anita e o Ouricinho-Cacheiro», «Anita e a Co-Incineração», «Anita no Ballet», «Anita e as Obrigações de Curto Prazo», «Anita Fuma a Primeira Ganza», «Anita na Montanha», «Anita Já Dá Para a Veia»)
[...]
Clara, Íntima dos Grandes Escritores [...]*
Clara, Repórter de Guerra [...]*
Clara, urbano-depressiva [...]*
Clara, cidadã do mundo [...]*
Clara, na intimidade [...]*
* Excertos ilustrativos de "Pluma caprichosa"
Clara-caprichosa, és tremendamente snob. Mas essa até te desculpamos. Todos sabemos que o snobismo é a forma de disfarçares a banalidade pequeno-burguesa do teu nome, de que te envergonhas. A tua petulante altivez esconde um drama profundo: tens um apelido compósito («Ferreira Alves») que parece marca de vinho branco para temperar a carne. Tara perdida.}
//
Etc.
Vale para CFA o que vale para outros plumitivos e falantes públicos que aqui zurzo, repetindo-me: há sempre o risco de crianças por perto.
Fora isso, CFA sabe muito, lê muito, viaja muito, escreve benzinho, tem vocabulário e jeito, aprendo com ela, e será decerto criatura bondosa.
Apre!
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