segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Tabela Periódica [Expresso, Fev.2011-Dez.2019]

Última TP - 228:

Devo-lhe, senhor engenheiro Jorge Calado, enorme gratidão.

«um dos blogadores que melhor gramática praticam no burgo»

Mantenho, sem favor. Basta amar a língua.
Quod erat demonstrandum.

Quem me dera escrever tão bem.

Mão esquerda de Cristiano,

festim de pornografia.
CM, 30.Dez.2019

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Conto de Natal

Faz um mês — "Sara atirou o filho ao lixo" —, trouxe aqui o caso.

Hoje, nos 50 dias de vida do puto, José Miguel Gaspar publica no Jornal de Notícias uma peça impressiva que vai bem com sensibilidades natalícias e, espera-se, com a verdade:
«[...] Ababelados, meio zonzos, sem saber outra vez o que fazer, João repara que o Rui tinha a cara subitamente fechada e olhava-o de olhos selados, muito sério. Ele aproxima-se, diz-lhe algo que vai ter que repetir - "temos que agradecer, João" - porque a voz se lhe engasgou e seguem os dois em direcção à Igreja de Santa Apolónia. [...]
não ia ficar ali a ouvi-lo a mentir *
[...]»

Obrigado, José Miguel Gaspar. Gostei de «ababelados».
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* Sem novidade, um dos que foram logo lá para abraçar e ouvir o intrujão foi o presidente-arlequim, que parece funcionar num desopilante regime de ejaculação precoce perpétua. No repertório fértil e vistoso de virtudes, há pelo menos duas, presuntivamente canónicas no cargo, em que Marcelo não abunda: gravitas e prudência.

Outros a quem o Xavier intrujou e comoveu — foi na CMTV, quase apetece dizer Muito bem feito!foram estes e, através destes, o país.
Etc.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Da transparência e outros atributos

«Os políticos devem ter de dizer se pertencem a organizações secretas?»

Para responder NÃO, José Adelino Maltez escreveu um texto de alto lá com o charuto, mau grado a ortografia atroz do AO1990, em louvor da maçonaria:
«[...] O tal transcendente situado está, esteve e estará fora e além do que pode ser direito decretino. E esta metapolítica, em livre pensamento de convívio, até é a base da esfera pública da sociedade aberta pluralista, conforme a lição de Jürgen Habermas. Um sinédrio da razão cosmopolita do iluminismo, onde se regeneraram os mistérios antigos, num nascer de novo dos que não se confessaram ao príncipe, ao bispo ou ao próprio grão-mestre. Continua como uma das fundamentais resistências contra a exagerada privatização da presente multidão solitária e do consequente cesarismo. Constitui um infinito silêncio, que tanto é um dos direitos da personalidade, na defesa das convicções, como um dos fundamentos comunitários da cidadania constitucional, pela liberdade de consciência*.
Os parvos entram onde os anjos temem entrar.**»

Não obstante a grandiloquência de Maltez, que admiro, tendo para o SIM de Teresa Leal Coelho, criatura com quem, de resto, antipatizo.
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* Artigo 41.º da Constituição da República Portuguesa - "Liberdade de consciência, de religião e de culto"

** Alexander Pope [1688-1744], «católico-romano e maçon», citado por Fernando Pessoa em "Pela primeira vez na minha vida fabriquei uma bomba".

Natal seguro*

Diz que Portugal começa a ficar dos países mais seguros do mundo.
Estou em crer que seja verdade. Por exemplo, aqui na Bobadela em que na época natalícia era recorrente a onda de gatunagem por escalada, não é que neste Natal ainda não divisei senão um mísero assaltante? Foi ontem, mais concretamente no n.º 38 da Rua Mártires do Tarrafal. Caça neles!   
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Conforme em tempos notei, morre-se muito na operação. **
Todo o cuidado é pouco.

** Em tempo:
25.Dez.2019: Seis mortos.
30.Dez.2019: Nove mortos.
02.Jan.2020 (operação terminada): Dez mortos.
Eu não digo? Quem pára a GNR? ***

*** Mas não é só a GNR que gosta de operar.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O padre Anselmo Borges

Entre 2017 e 2019 houve em Portugal três eleições gerais: autárquicas, europeias, legislativas.
Joaquim, cidadão simples de Resende, não falha um acto eleitoral.
Se um jornalista lhe perguntar qualquer coisa como
- Saímos há pouco tempo de uma sucessão de eleições em Portugal. O senhor votou?,
não espantará que responda qualquer coisa como
- Isso nem se pergunta! Eu voto sempre, e gostava de perceber porque há tanta gente que não vota.
18 palavras.

No extenso bate-papo no Diário de Notícias de 21.Dez.2019 a propósito de "Conversas com Anselmo Borges - A Vida, as Religiões, Deus" [33 entrevistas feitas por 33 plumitivos da praça. Gradiva, Setembro de 2019], o jornalista João Céu e Silva pergunta
- Saímos há pouco tempo de uma sucessão de eleições em Portugal. Votou?
Resposta: 
- Exerço sempre o meu direito e dever cívico de votar. Penso aliás que é necessário debruçar-se atentamente sobre as razões da percentagem tão elevada de abstenção nas eleições, não comparecendo sequer nas mesas de voto.
35 palavras.
Também não espanta, ainda que para dizer «voto sempre» precise de 10 palavras. Afinal, Anselmo, que mantenho por aqui etiquetado, é cidadão complexo de Resende, padre, professor, ensaísta, filósofo, teólogo. No fundo, um profissional do pensamento mágico.

Quem não perde de vista o padre Anselmo é o — três virtudes de rajada — sapiente, intratável e ferrabrás Orlando Braga, «português, portuense, portista, nacionalista, monárquico, conservador, cristão»; nada menos do que sete defeitos...
Veja-se esta amostra:
«[...]
O Anselmo Borges é objectivamente um inimigo da Igreja Católica. Ou então, é burrinho e não se dá conta das suas (dele) contradições.
[...]
A missão (satânica) do papa Chico e dos seus sequazes (entre os quais o Anselmo Borges) é a de protestantizar a Igreja Católica.
[...]
Para os actuais gnósticos e puritanos (da laia do Anselmo Borges e do papa Chicozinho), é muito melhor rezar num palheiro do que numa catedral gótica, pela simples razão de que a catedral é bela e de construção dispendiosa: para os novos gnósticos e puritanos, a beleza física é um símbolo falso e sensual que se interpõe entre o intelecto e o objecto de adoração (o deus deles).
[...]»



Eternamente incapaz de emblema na lapela, agradecerei sempre a quem me faz pensar.

AVB foi-se de violência doméstica

Abel Velasques Beltrão 
passou a vida toda 
à beira de AVC. 
Acabou por se ir embora 
envenenado pela mulher.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Uma espécie de Antero do Quintal

O Hospital Garcia de Orta, inaugurado em 1991, fica em Almada.
Inês de Medeiros é presidente da Câmara Municipal de Almada desde Outubro de 2017.

«[...] esta sexta-feira será publicado um concurso com cinco novas vagas para o Garcia da (H)Orta.»

Assenta-lhe muito mal, senhora presidente.
E esperamos que não tenha pensado com H.
Mais brio, dona Inês dos Medeiros.
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Na minha ordem, o tinto vem logo a seguir à água.
Gosto deste reclame.

Blogue de serviço público

é, por exemplo, este; serviço público é, por exemplo, isto.

- Cáspite, Plúvio, não tendes rebuço em encaminhar-nos para um coio salazarista?
- Sabeis que digo? Fodei-vos.

Continuando com brasileiros, seguem-se dois guitarristas divinais com quem não dou pelo relógio a escutá-los.
Yamandu Costa [1980] interpreta "Porro", movimento IV da suíte Colombiana n.º 2, de Gentil Montaña [1942-2011], músico colombiano. Estonteante.
Repararam no bonito tapete que diz "Moçambique"?

O mesmo singelo "Porro", por Fábio Lima [1982], menos veloz, mais límpido.

Francis Kleynjans [1951] é um músico francês de que, desinformado que cada vez mais ando, só hoje tomei conhecimento.
Em 1988 compôs "À L'aube du dernier jour", partitura para guitarra. Muito complexa e difícil.
Mas antes, um bocadinho do seu sério contexto.
E agora escutemo-la por mãos miríficas, de novo as de Fábio Lima que, conta ele, levou 12 anos a aprender a tocá-la — "À l'aube du dernier jour", 10 minutos e meio de sublimidade:
em 2017, com relâmpago e um gato de passagem;
em 2018, versão coreografada.


Para não dizerdes que de vez em quando não digo bem do mundo e das pessoas.
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E que tem a Nokia a ver com Francisco Tárrega?
Isto.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Liberdade de dizer

«Uma das consequências de uma doença contemporânea da política em democracia nos dias de hoje é o cada vez maior policiamento do pensamento, das imagens, das informações e da linguagem. É um efeito de uma outra tendência dos nossos dias, o incremento do tribalismo que define também as suas fronteiras pela posse ou recusa de léxico que serve de marca de identidade. São processos muito perigosos para a democracia porque não se desenvolvem na fronteira entre democracia e ditadura, mas sim no interior da democracia e dos seus processos de funcionamento. São doenças em que o agressor não vem de fora, mas de dentro, em que o corpo sadio se destrói a si próprio.
[...]
A verdade é que se somam todos os dias verdadeiras proibições de utilização de vocábulos e expressões, com a constituição de um léxico proibido, dependente de grupos de pressão, e de modismos, aplicados nas redacções dos órgãos de comunicação social e em redes sociais, que permitem insultos, insinuações, falsidades, processos de intenção, mas cortam objectivamente a liberdade de expressão, que – tem que se dizer isto mil vezes –​ é feita para proteger o direito de dizer coisas com que não concordo, que me indignam, e que me enojam, mas que têm o direito de ser ditas.
[...]»

domingo, 15 de dezembro de 2019

Jesus Cristo e Lenine

«O Natal está à porta!» é o que o comércio desata a anunciar com mais ou menos três meses de avanço.

O Partido Comunista Português, por via das distracções, não faz a coisa por menos: nove meses de antecedência
Viva a solidariedade internacionalista! [1:14:00]

Por falar nisso*, para quando Fernando Santos património da humanidade

Entretanto, se até lá** não nos virmos, boas festas aos amáveis visitantes.
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* Nisso o quê?
** Até lá o quê?
Emplastro

sábado, 14 de dezembro de 2019

4 x

ora! Última hora! Última hora! Última hora! Última hora! Última hora! Última h

A doutora Raquel Varela também quadriplica:
«Por exemplo, eu tive a ver o número de artigos do "Figaro" sobre corrupção, acho que quadriplicou nos últimos vinte anos, não é exclusivamente em Portugal. Esta ideia..., há aqui até um autor francês que eu tive a ler...»

Bem-vinda à tabuada do 4.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O doutor Eduardo Ferro Rodrigues não tem categoria

Cinco anos volvidos, insisto, Eduardo Ferro Rodrigues não presta.
Veja-se a cara de desdém nauseado e prepotente do presidente da Assembleia da República, dirigindo-se a um deputado, quando diz
«Defesa da honra?! Tão fachvor, diga lá o que tem a dizer.»
[...]
Tem a palavra a senhora deputada Joceline, Joceline Katar Moreira ... E vamos continuar o debate, tem a palavra a senhora deputada Joacir Katar Moreira.»*
O aplauso longo e vibrante da bancada do PS diz muito da miséria moral daquela gente.** 
A propósito desta bravata, concordo com José Pacheco Pereira. Como, aliás, já com ele concordara em assunto semelhante

Falta ao insolente Eduardo Ferro Rodrigues, além de cultura democrática e educação cívica, aquilo que os portugueses designam por categoria. [Tou-me cagando para o segredo de justiça  ...  Há que salientar uma pessoa, um nome: José Sócrates!]
Aproveito para reconhecer que em Junho de 2015 me enganei nas contas. A repulsa mantém-se. Aumentada.

Ainda na sessão de ontem, deu-se o incidente entre Telmo Correia e Joacine Katar Moreira, por causa dos tratos de polé infligidos, com a bandeira do arco-íris em fundo, à bandeira portuguesa — não morro de amores por ela, confessei-o aqui —, na manifestação de solidariedade para com a deputada do Livre, em 21.Out.2019 junto ao Palácio de S. Bento.
Fui espreitar. Teve um orador que em 15 minutos de microfone em punho vociferou «na verdade» por 255 vezes, ou perto disso.
A coisa ia ponderada e serena — na parte da bandeira consegui perceber: linda, linda, linda de morrer!, e internacionalista, é esta — até que pelo 13.º minuto o meu entendimento analítico dos sortilégios do destino aleatório da problemática claudicou: «Na verdade, o Código do Trabalho tem que ser mudado ... porque tem consequências ainda mais nefastas para nós!»
Desculpem-me, mas o que é que este alucinado quer mesmo mudar na lei laboral?
Na verdade, a jornalista Fernanda Câncio denota adorar esta malta.
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* Ó doutor Ferro Rodrigues, aprenda o hino, porra!

** A miséria moral desce-se a galope.
João Bénard da Costa, "Fechar a casa", última das crónicas publicadas em 1989-1990 no semanário O Independente, reunidas em "Muito lá de casa" | Assírio & Alvim, 1993.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Morte tira-nódoas?

Sou dos que, nos decénios de 70, 80 e 90 do século passado seguíamos com emoção as transmissões dominicais na RTP das corridas de automóveis de Fórmula 1. Pelo que eu mais aguava, como qualquer espírito bondoso que se preze, eram as ultrapassagens, os encostos, os despistes e as broncas. E, claro, também tinha os meus preferidos: Carlos Reutman, Emerson Fittipaldi, Ronnie Peterson, Jochen Rindt, Niki Lauda, Jody Schekter, Gilles Villeneuve, Keke Rosberg, Alain Prost [quase toda a gente dizia Álan Prost com Álan paroxítono em vez de Alã agudo, coisa que me encanitava substancialmente], Michael Schumacher... E não, nunca gostei de Ayrton Senna e simpatizava menos ainda com Nelson Piquet; que se há-de fazer?, é das hormonas.
Os comentadores titulares eram Adriano Cerqueira [1938-2005], que sabia pouco, Hélder de Sousa, que sabia mais e José Pinto [1947-2018], que não sabia nada, mas quem sabia tudo, tratava os pilotos e os carros por tu, morava no mundo e falava alemão era Domingos Piedade que nasceu em 1944 e morreu, faz uma semana e meia, em 30 de Novembro de 2019, pessoa que muito admirava e fui admirando até admirar menos ao saber disto e ao saber disto.
Li o que disse a imprensa na morte de Domingos Piedade. Afigurando-se pacífico que ninguém esperaria, nem se justificariam, títulos como, sei lá, "Morreu um benfiquista vígaro", de resto soez, certo é que quem não saiba do falecido senão o que Diário de Notícias, Jornal de Notícias, i, Correio da Manhã, Jornal de Negócios, A Bola, Sol, Observador, Sábado e Visão [no caso desta, pela mão do editor Manuel Barros Moura, com uma ligeira e quase envergonhada nota menos radiosa: «... acabando por se ver envolvido em vários processos judiciais.»] escreveram agora sobre ele, há-de ter pensado que Portugal perdeu um santo. Mas quem deveras se alambazou na unção de DP foi a jornalista Rita Bertrand que assinou na Sábado de 05.Dez.2019 um obituário que mais parece memorando de beatificação. Desta vez os deuses deverão ter enlouquecido já que até o Correio da Manhã, que viceja no escândalo, deixou imaculada a biografia do morto.
É em tal contexto de consenso jornalístico acocorado que não posso deixar de aplaudir a jornalista Filipa Almeida Mendes que no Público de 01.Dez.2019 "Morreu um dos rostos da F1 em Portugal" — contou o que tinha de ser contado. Ninguém mais o fez.
Muito estranhamente, ou talvez não, o Expresso ignorou a morte de Domingos Piedade

Quem, como sempre, não ficou mudo foi o frenético professor Marcelo, ainda o cadáver estava morno. 
Surpreendente seria se não tivesse exarado qualquer coisa. Por isso é que me espanta muito, e mal compreendo, que nem um pio do presidente-arlequim tenha soado pela morte de figura tão unânime e universalmente apreciada como a de Mahfuzur Rahman Khan [19.Mai.1949-06.Dez.2019]. Incompreensível e inaceitável silêncio!
Pois bem, para vexame do inquilino de Belém, até o Correio da Manhã, tablóide proscrito pelas mentes asseadas [é por isso que também o assino], não deixou de dar, não obstante o erro duplicado na data de nascimento, devido e tempestivo destaque à morte do senhor Mahfuzur, perda irreparável para a humanidade.
Ora, como sabemos e convém não esquecer, o Bangladesh sempre que o dólar sobe.
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Já que estou com a mão na massa, pergunto se conhecem na língua portuguesa melhores obituários do que os urdidos pelo magnífico José Cutileiro. Eu não conheço.
Assim, por que esperam os prelos para parir ppppp uma colectânea das fantásticas peças literárias que JC vem publicando, "In Memoriam", no Expresso desde 2004?
Se temos crónicas em livro de José Tolentino Mendonça, se as temos de Pedro Mexia, de Clara Ferreira Alves, de José Gameiro, de Luís Pedro Nunes [com um dos títulos mais pretensiosos, pífios e desconchavados algum dia vistos, que apetece equiparar ao pernóstico "Joan Miró: Materialidade e Metamorfose" com que crismaram pomposamente por cá uma exposição de 80 e tal obras, que visitei, de qualidade e coerência muito discutíveis, do catalão de que só em Barcelona há 14 mil para ver..., e os pategos tugas vaidosíssimos de também termos mirós], todos colunistas do Expresso, por que quebranto, com tanta merda à venda nos escaparates deste país [12 mil títulos por ano], ainda não houve lugar para um livro de obituários — como este, por exemplo, sobre o mirabolante Scotty Bowers [1923-2019], no Expresso de 09.Nov.2019 — escolhidos entre os cerca de 800 que José Cutileiro redigiu até hoje? Escrita magistral, informação copiosa, ironia jorrante.
Que objecto mais guloso tal livro seria... 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Clima - oportunismo, gritaria e hipocrisia

«[...]
Há uma dissonância entre a retórica política e os factos. As cimeiras sucedem-se, os gritos são muitos, mas na prática faz-se pouco. E quando se faz algo que pode ser decisivo ninguém liga porque toda a gente está mais preocupada em gritar.
[...]
as cimeiras e declarações políticas mostram hipocrisia. É fácil gritar. Mais difícil é pensar, trabalhar as soluções, sentar os decisores à mesa e urdir compromissos sérios e consistentes.
[...]
Finalmente, a geologia pode salvar o planeta. Há dois locais no mundo, os Montes Apalaches nos EUA e Omã, onde as rochas do manto afloram à superfície da terra. O manto está por baixo da litosfera, a camada superficial da Terra. Quando as rochas do manto, como os peridotitos, afloram à superfície, elas mineralizam o carbono a uma escala e ritmo sem paralelo. É o processo mais barato de todos porque utiliza a energia química das rochas. O futuro não será a repetição do passado mas nesse futuro o papel da geologia pode, como sempre, surpreender.»

Consola escutar quem fala com conhecimento e serenidade.

Leák e os órfãos e veterodevotos de Francisco Sá Carneiro

Já que me pedem, informo que ninguém em Portugal escreve com tanta graça e tanto talento engrenados como Rogério Casanova. Deixa a anos-luz a prosa piadética de Ricardo Araújo Pereira que, por sua vez e no que à escrita com graça concerne respeita*, fica notoriamente aquém de José Diogo Quintela, seu amigo de banzé.
Em quarto lugar, talvez Joana Marques.
- Sou da patafísica, Eremita, lamento decepcionar.

«Já que perguntam: vários folclores locais do Sudeste Asiático incluem uma figura mitológica que é uma espécie de mistura entre bruxa, vampira e monstro, associada à magia negra e ao canibalismo. 
[...]
Por outras palavras, as eleições directas para escolher o próximo líder do PSD vão realizar-se daqui a um mês e a RTP1 transmitiu nesta semana um debate entre os três candidatos: o doutor Rui Rio, o doutor Luís Montenegro e o Miguel (por mim, podem tratar-me por Miguel).
[...]
preocupado com o facto de a sua namorada ocidental ser agora uma cabeça canibal, Lionel Richie consulta um tio perito em magia branca. "É possível resolver isto?", pergunta, no mesmo tom de voz com que perguntaria a um colega de trabalho se o pode ajudar a fazer uma macro no Excel. O tio acede e reúne um grupo de trabalho. A feiticeira, já que perguntam, é derrotada, num duelo de bolas de fogo, a cabeça da antropóloga regressa ao seu lugar devido e toda a gente aprende uma lição valiosa: nem sempre é boa ideia aprender aquilo que os mortos têm para ensinar.»

Genial, desconcertante. Muito obrigado, Rogério Casanova.
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* Hoje, 11.Dez.2019, concerne lido em voz alta também me causou desagrado: não tanto o argg do risco na ardósia mas mais, no céu da boca, a sensação de uma mistura de açúcar com água que se deixa cozer lentamente até formar uma calda espessa e dourada.
Já agora, amigo caramelo, por favor!, não amalgame [e esta que efeito lhe provoca?] a maestria do Quintela na escrita, que é bastante, com a do «Outro Gato» do Observador que, está na cara, não nasceu para a prosa; uma dor de alma.

José Sócrates

«[...] Quem vive à custa de outras pessoas é suposto fazer uma vida modesta, sem luxos, para não sobrecarregar quem o ajuda — não vive à grande e à francesa, não vai várias vezes de férias durante o ano, não viaja em executiva, não frequenta restaurantes caros.
Repito: moralmente, a sua conduta era menos condenável se o dinheiro fosse mesmo dele, ainda que vindo da corrupção.»

Pobre e tonto de mim, ingénuo e crédulo quando, entretido a exorcizar o pesadelo cavaquista e a piniculagem, me deixava ir no engodo do lausperene a José Sócrates no pagode do Miguel Abrantes e no «pardieiro» do Valupi  — e noutras capelas —, e nas prosas encomiásticas de Ferreira Fernandes e de Fernanda Câncio [DN e jugular] da governação do namorado desta, sem me sobrar discernimento para vislumbrar o ogre.

A propósito, mantém-se para mim mistério dos maiores, a par da partenogénese da Virgem e da genialidade de Pedro Cabrita Reis, a dedicação persistente e fervorosa de Valupi a José Sócrates, ano após ano, diariamente, sem a mínima quebra, contra a infestação, generalizada em toda a comunicação social menos no condomínio honrado de Daniel Proença de Carvalho, Afonso Camões, ... Ferreira Fernandes, Fernanda Câncio e Pedro Marques Lopes, dos pulhas e dos canalhas, da indústria da calúnia, do esgoto a céu aberto, da desonestidade intelectual, do assassinato de carácter — sim, Valupi diz assassinato mas ninguém é perfeito.
Não é de crime que falo mas de asseio puro e simples, de carácter.* Como consegue Valupi, um dos blogadores que melhor gramática praticam no burgo, estrénuo defensor da virtude e da nobreza da cidade, espadeirar com tais energia, perseverança e sanha em prol de um profuso trafulha como José Sócrates?

Por falar em crime, lidas as 3908 páginas do despacho de acusação no processo da "Operação Marquês", em que José Sócrates é o primeiro arguido, estranhei e decepcionou-me a omissão do, a meu ver, mais grave de quantos delitos ele possa ter cometido: o crime contra a Língua Portuguesa consumado na Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/2011, em co-autoria com a trupe de delinquentes que o assistiam e convalidando a delinquência impune dos estarolas que o precederam, e esse, sim — não é difamação de pulhas avençados na indústria da calúnia —, cabal e publicamente admitido por extenso, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, aos 9 de Dezembro de 2010. Crime de lesa-pátria.
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* No Aspirina B sabe-se pouco e não se aprende nada sobre lei penal. Já do Porta da Loja, um dos blogues de melhor serviço público em Portugal [arquivo, recortes de imprensa, audiofilia, música, justiça...] não digo o mesmo. Por exemplo, "A prova indirecta no processo Marquês". 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Fina flor - pressão, interferência

Ontem, 03.Dez.2019, acompanhei com atenção miudinha as audições de gente da RTP, na Comissão Parlamentar de Cultura e Comunicação, acerca do adiamento forçado, de antes para depois das eleições legislativas de 06.Out.2019, do programa "Sexta às 9", transmitido em 18.Out.2019, em que se apuravam umas merdas com governantes e compinchas de governantes em torno do negócio do lítio transmontano.

As explicações desassombradas de Sandra Felgueiras, autora do programa, cimentaram a minha convicção de que
- quem ditou o adiamento sem razão expressa plausível foi a direcção de Maria Flor Pedroso, de resto no uso inquestionável do seu poder;
- o que ditou o adiamento foi a inconveniência política, com adivinháveis estragos nas ambições eleitorais do PS se o programa fosse transmitido em altura pré-eleitoral.

Depois de Sandra Felgueiras foi a vez de Maria Flor Pedroso:
«[...] Eu trabalho no jornalismo político há 26 anos. [...] O jornalismo político é um jornalismo em que nós somos pressionados constantemente por fontes várias. Interferência?! Seria coisa que eu jamais toleraria. [...] Interferência? acho que é quase insultuoso para mim ouvir essa pergunta.* [...]»

Nos últimos 25 anos, em que venho seguindo na rádio e na televisão o trabalho jornalístico de Maria Flor Pedroso, mantive apreço por ela. Até ontem, em que insultou a inteligência de quem a escutava. Vá ver se chove. Aqui é sempre.

Maria Antónia Palla, mãe de António Costa, nascido em 1961, casou em 1974, em terceiras núpcias, com o coronel do Exército Manuel Pedroso Marques, irmão do tenente da Marinha Victor Marques Pedroso — temos os nomes trocados —, falecido em 1969, pai de Maria Flor Pedroso. Não faltam motivos para que a sobrinha do padrasto de António Costa, nascida em 1964, directora de Informação da RTP desde Outubro de 2018, se dê afectuosamente com o primeiro-ministro; e não é pecado.
Já São José Almeida, redactora principal no Público, contara em 24.Nov.2014, na ramalhuda "Árvore de António Costa", que foi Maria Flor Pedroso quem chamou a atenção de António Costa para o repelente Pedro Silva Pereira que haveria de ser apresentado por AC ao grão-trafulha José Sócrates.
Nada de mal, tudo natural, o mundo é uma ervilha. Todavia, confesso que quando as audições de ontem terminaram tive de pôr as janelas em corrente de ar tais eram os eflúvios do «caldeirão de incestuosa imundície» de que aqui falei.  **

Entretanto, o Eremita lança-me repto jocoso: "Deus, Ventura e a gramática".
Caro Eremita, eu é mais gamártica. De qualquer modo, a prosa soa indigesta, com maiúsculas a mais e uma exclamação estapafúrdia. Quanto à concordância nas enumerações de géneros diferenciados — acho piada e cabimento aos 201 gatos incluindo o cão, de Edite Prada —, pedisse o doutor Ventura ajuda à doutora Joacine e ela, mulher de amor, decerto o livraria do embaraço: «o discernimento, a lucidez e a força necessári@s» e não se falava mais nisso. No mais, quero que o Chega se foda.
Abraço retribuído.
___________________________________________
* Afinal, até no papel de singelo e eterno aprendiz que o acaso me atribuiu também eu vivo sujeito a pressão permanente, desde logo a arterial, e, sendo certo que não tomo nenhuma decisão sem que o meu pensamento e o meu sangue interfiram, jamais toleraria que, por exemplo, o querido primo Franquelim interferisse de fora no presente que lhe vou dar no Natal. Nem ele precisa de interferir nem eu preciso de que ele interfira: sei do que ele gosta, sei o que o pode desgostar, o coração não se engana e o pensamento ... concorda.

**
Amigo Plúvio, como é que sabe tantas coisas da vida das pessoas?
Passo o tempo a revolver ecopontos e homo sum, humani nihil a me alienum puto. Mas não fui eu, não pense, que encontrei o filho da Sara. Não quero complicações com o Marcelo e até se me arrepiava o timo se me pusessem um microfone da CMTV à frente...
Cuscar sobre a vida das pessoas tem algum interesse?
Depende. Por exemplo, estive para contar que Maria Flor Pedroso é casada com o grandíssimo artista Henrique Cayatte — tenho falado dele —, mas isso não interessava nada.
Concordo.
Concorda com quê?
Com Henrique Cayatte ser um dos melhores designers portugueses e com pouco interessar que viva com Maria Flor Pedroso. Mas já agora, amigo Plúvio, porque se esconde tanto, porque conta tão pouco de si?
Começo a ficar careca de me contar.
Fogo, amigo Plúvio, também não era preciso tanto.
Falta o telemóvel. Para isso vá ao 1820.