quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Vitor Silva Tavares, ainda

Em 14 de Julho último, Rebeca Hernández Alonso, professora na Faculdade de Filologia da Universidade de Salamanca, conversou durante quase duas horas com Vitor Silva Tavares, em Lisboa, para um trabalho que está a escrever sobre Os Condenados da Terra, de Frantz Fanon, Ulisseia, 1961. A Ulisseia era, na altura, dirigida por VST.
- x -
«[…]
Fui pintor de bandeiras da libertação dos contratados.
[…]
Eu vinha da África com a convicção de que nunca mais na vida teria patrão, nunca mais iria fazer o que não partisse de mim, o que não quisesse, ainda que fosse preciso pagar a pior das moedas, não me importava nada de morrer, eu vi a morte, estive lá, na guerra…
[…]
enviámos a edição ao sr. Chaplin que nos mandou uma carta a dizer que era a mais bela edição de todas que conhecia.*
[…]
Venho de família muito pobre, de gente muito pobre, e portanto nunca tive acesso às grandes culturas, ir ali a Paris ou a Londres embebedar-me de cultura, não. A minha opção foi o trópico. Fui às Europas porque vivia numa ditadura e era lá que podia ter acesso a filmes, a teatros, a edições, a jornais, e coisas assim que aqui não tinha. Mas aquele tipo de vida nunca me fascinou.
[…]
A ênfase dada a cada livro tanto assenta na literatura como no seu enquadramento visual. Não há hierarquia entre o gráfico e o escritor.**
[…]»
Extractos de parte do depoimento de Vitor Silva Tavares a Rebeca Hernández
JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, 30.Set.2015
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* "Charles Chaplin, Autobiografia" - 1.ª edição, Ulisseia, 1965.

** & etc

terça-feira, 29 de setembro de 2015

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

domingo, 27 de setembro de 2015

O «retrógado» Rui Rangel e o sublime António Vieira

No acórdão de que se fala, o senhor desembargador relator cita uma passagem do início do capítulo VI do grande e magnífico "Sermão da Sexagésima", pregado em Lisboa na Capela Real [ficava onde é hoje a Praça do Comércio] em Março de 1655 pelo padre António Vieira:
«Quem levanta muita caça e não segue nenhuma, não é muito que se recolha com as mãos vazias».

Sempre me impressionou como um falante tão desgraçado como este conspícuo juiz pôde ter saído com formatura de uma universidade que se preze. Que apreço merece quem assim trata a língua montado com a maior vaidade do mundo nos púlpitos da autoridade sapiente? Pouco ou nenhum.
Pergunto-me até se consegue pensar ou ajuizar bem quem tão mal diz.

Enfim, reler, ainda que num ínfimo fragmento, um dos melhores se não o melhor praticante de sempre da língua portuguesa, pela pena de um fulano que tão rude e alarvemente a pratica, confesso que me destempera não pouco. Quase faz doer.

sábado, 26 de setembro de 2015

Às 15 e 53, sob porvável efeito de furtos liquefeitos de Regangos de Monsarez

Piada literária sobre a tabuada do um e a tabuada do nove:
Sempre apressada e com falta de tempo, Germana, leitora compulsiva — leitor que se preze será fatalmente, nas entrevistas que calhe fazerem-lhe para encher chouriços, "leitor compulsivo" —, só lia unelas. As novelas levavam demasiado tempo.

Já agora e se não se importam, outra, sem verbos:
Notícia mais adiada de sempre, a do funeral de Stephen Hawking.

A terminar, se permitem, um mistério: 
Provinda de antepassado comum — tese bíblica, hipótese científica —, não é espantoso que a Humanidade  se exprima em tantas, tão diferentes e tão complexas línguas?

Finalmente, que é um pouco mais tarde do que a terminar, perguntam-me inúmeros leitores*: «e que achais, Plúvio sábio, do Islão?»
- Uma demência colectiva que atira pedras ao Diabo, nisso se entrematando como mosquitos ébrios.

Confessa, Plúvio: bebeste.
Sim.
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* Deus me livre de ser leitor inúmero.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

António Costa vai eliminar o conjundajue

Votei no PS em quase todos os actos eleitorais desde 1975. Só não votei no partido de Mário Soares, criatura que não estimo, nas três eleições autárquicas em que pus a cruzinha na CDU. Os comunistas são imbatíveis e fascinantes na arrumação dos tarecos...
Confesso que desta vez andava indeciso. Padeço de incompatibilidade genética com a piniculagem e, caramba!, votar de novo em Ferro Rodrigues raiaria o pesadelo. Até que na manhã de quinta-feira passada, 17 de Setembro, pelo minuto 49:00 do debate na telefonia,  se me deu o eureka!:

António Costa- A informação que é necessária ter* para desenhar com correcção os escalões implica um grau de informação que só quem tem o domínio da máquina fiscal o pode ter. E eu não gostaria de ser atrevido agora a propor uma reposição de oito escalões, nove escalões, dez escalões, e depois ser apanhado daqui a uns anos na situação do doutor Pêd Passos Coelho que promete tudo na campanha eleitoral e depois tem que rever em baixa aquilo que faz na campanha eleitoral. 
Maria Flor Pedroso- Certo. Mas com que ideia geral? Pode comprometer-se com uma baixa de impostos para a classe média?
António Costa [minuto 49:50]- Com certeza!, é esse o objectivo. E é por isso que nós nos propomos:
- a eliminação da sobretaxa,
- a reposição do vencimento dos funcionários públicos
- e a eliminação do conjundajue. **

Decidi: desta vez, vou votar no TÊDFGO.
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* A informação que é necessário ter.
** Como é possível a comunicação social não ter falado disto?

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Devo dizer

Devo dizer que a partir do instante em que alguém me diz «Devo dizer-te…», dos mais insuportáveis tiques de empáfia que grassam por aí, assomam-se-me ganas de desligar o som do meu interlocutor que nem lhes conto.

Não precisam de agradecer.
Obrigado.

sábado, 12 de setembro de 2015

Partido Comunista Português no útero

Jerónimo de Sousa foi ao Seixal fazer refresh à máquina:
«[…]
Sim, todo o reforço do Partido que conseguimos e queremos alcançar é para tornar mais forte e mais influente este partido com os traços essenciais que o definem, com a sua natureza de Partido da classe operária e de todos os trabalhadores, o seu objectivo da construção duma sociedade nova, o socialismo e o comunismo, a sua base teórica o marxismo-leninismo, os seus princípios de funcionamento decorrentes do desenvolvimento criativo do centralismo democrático, com uma profunda democracia interna, uma única direcção central e uma única orientação geral, e a sua característica de Partido patriótico e internacionalista. 
Uma identidade, um ideal e projecto em que assenta a força das nossas convicções e a justeza do nosso combate e a que a realidade do mundo de hoje dá mais actualidade.»

O parto da sociedade nova está aí. Marxista-leninista, pois então! Com umas imperiais bem frias, uns couratos e o belo do tremocinho, e teremos a Humanidade, enfim, salva.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A rasteira de Petra Laszlo

Os deuses me perdoem, ante tamanha indignidade e no meio de tanta indignação, a risada que me fez dar o comentário de Paulo Luz às 15:17 de 09.Set.2015.

Novidade: Fernanda Câncio admoesta José Sócrates

«[...]
É, naturalmente, compreensível que queira desforrar-se do black out forçado e demonstrar no sorriso e na cabeça erguida que não está derrotado. É natural e compreensível que queira defender-se. Tudo isso é natural e compreensível e humano. Mas custa mesmo assim a perceber que não entenda o momento em que está. Que não perceba que cada minuto em que ocupa e procura a ribalta é um minuto perdido para a seriedade do debate político e — considerá-lo-á injusto mas é assim — um minuto da campanha negra da coligação.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

António Costa, português trágico

«apostando decisivamente naquilo que são os factores decisivos futuro: o conhecimento e a inovação, contra a ideia da precaridade e dos baixos salários, que é a competividade que o doutor Passos Coelho vê futuro. E esta diferença é uma diferença essencial, porque nós hoje tamos no século vinte e um e temos que ter a competividade do século vinte e um, e essa competividade é a competividade no conhecimento, na inovação; não é a competividade dos baixos salários, da precaridade laboral, porque essa só nos fará andar pa trás, como andámos pa trás nestes quatro anos. Doutor Passos Coelho, nestes quatro anos o país recuou treze e este é que é a situação dramática em que hoje nos encontramos.»
- Licenciado pela Faculdade de Direito de Lisboa, ministro por quatro vezes, antigo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, provável próximo primeiro-ministro de Portugal, ontem, 09.Set.2015, pelas 20:35, no Museu da Electricidade em Lisboa, falando país.
[minuto 10:15]

E o delicioso lapsus linguae do «padre»? Pois se quem usa perdoar são eles...
«o Estado faz uma espécie de perdão fiscal ós bancos pós bancos assumirem os custos do BES. Agora, doutor padre Pedro Passos Coelho, duma vez por todas entendamo-nos sobre o que é pagar a dívida. Pagar a dívida é pegar no dinheiro e pôr lá o dinheiro.»

Tudo sobre o debate, aqui...


«O doutor Paulo Portas desestiu de concorrer sozinho.» 


«Manter um antigo líder do PS sobre investigação criminal, com as acusações que são feitas, obviamente tem um peso grande.»
- Licenciado em Direito, antigo Ministro da Justiça.
SIC Notícias, 17.Ago.2015, segunda-feira, pelas 17:15 

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Precariedade  .  Competitividade  .  Desistiu  .  Sob investigação

António Costa é um falante troglodita, mais lado da "inovação" do que do "conhecimento".