quinta-feira, 21 de maio de 2020

Arquivos, preservação da memória e fervor em manobras

Isabel Salema, no Público em papel, 18.Mai.2020:
«Grupo de cidadãos pede urgente classificação do arquivo do DN
Um grupo de personalidades portuguesas, entre as quais ex-Presidentes da República, historiadores e jornalistas, vai pedir esta semana ao Ministério da Cultura a “urgente classificação” do arquivo do Diário de Notícias, jornal de referência português fundado em 1864.
O requerimento, subscrito por Jorge Sampaio, António Ramalho Eanes, Fernando Rosas ou Pacheco Pereira, quer "salvar" o acervo documental que se encontra actualmente “arrumado num armazém, inutilizável e em risco de poder vir a desaparecer no contexto da crise que atravessa a empresa proprietária, o grupo Global Media”, lê-se no documento a que o PÚBLICO teve acesso. [...]»

Pedro Tadeu, no DN em linha, 18.Mai.2020:
«O arquivo do Diário de Notícias não existe
Um grupo de personalidades está a organizar-se para pedir a "urgente classificação" do arquivo do Diário de Notícias, segundo noticiou o jornal Público.
Não querendo discutir os méritos ou deméritos da proposta gostaria, enquanto actual responsável directo pela gestão desse património, de corrigir alguns erros da informação veiculada por esse jornal e que parecem constar dos pressupostos de quem reivindica essa classificação junto do Estado português.
[...] claro desconhecimento da realidade por parte dos signatários
São números e factos que espelham confrangedoras estimativas superficiais e presunções fundamentadas num "ouvir dizer" que não correspondem de modo algum à realidade, na maioria dos casos por defeito, noutros por excesso, noutros por pura falsidade.
[...] É mentira
[...] É mentira
[...] É mentira
[...]»

Apreciei o desmentido pormenorizado e substantivo de Pedro Tadeu. Confesso até algum alívio trazido pelo seu esclarecimento.
Peças inteiras aqui reunidas para que aquilatemos da peçonha ínsita na notícia do Público contra o DN, seu agonizante concorrente no "jornalismo de referência", e fiquemos a saber da ligeireza e à-vontade com que sonantes senadores de causas da cidade, como Sampaio, Eanes, Rosas ou Pacheco Pereira, entre outros que nesta causa desconheço, podem sacar da caneta para requerer, reclamar ou exigir, estribados na ignorância ou no engano, quando não — penso mais no Rosas e no Pacheco Pereira — na desonestidade. Mas sempre, sempre com ostensivo garbo cívico, no cumprimento, diria Jorge Sampaio, de nobres interpelações de cidadania.
Cáspite!

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Coved-20

ÚLTIMA  HORA
«esta lista poderá ser aumentada caso numa segunda vestoria tenham sido cumpridas pelos clubes as exigências da DGS.»
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terça-feira, 19 de maio de 2020

Comunitário e justo

O comunitário Pedro Marques Lopes, ateu licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa, viciado em golfe, maluquinho do Futebol Clube do Porto, devoto incondicional do meu presidente, o impoluto Jorge Nuno Pinto da Costa, e adepto gaiteiro de Marcelo, o nosso presidente-arlequim, cidadão abastado que pôde por exemplo despender em 1999 436.450,00 € numa moradia unifamiliar na Quinta do Peru, com púlpito permanente na TSF, no Diário de Notícias, no Jornal de Notícias e nas Produções Fictícias/SIC, psitacídeo contumaz do «Estado de direito democrático liberal», antigo apaniguado de José Sócrates, aparenta nos últimos 10 anos viver atormentado com a questão da justiça em Portugal. Recorrentemente enfurecido com procuradores da República indistintos e dois ou três juízes, mancomunados com o Correio da Manhã, e com o atropelo dos, quanto a ele, quatro inamovíveis e sacrossantos pilares dos tribunais — preservação absoluta do segredo de justiçaabsoluta presunção de inocência, inversão do ónus da prova no enriquecimento sem causa e delação premiada absolutamente repudiáveis —, PML mostra-se na sua peleja solidariamente ao lado de Rui Rio, que disfarça mal o rancor antigo que devota ao Ministério Público, alinhado com Daniel Proença de Carvalho [presidente do Conselho de Administração da Global Media Group a quem PML vende opinião no DN (rigorosamente a mesma, com o exacto mesmo guião, que dois dias antes vendeu à SIC de Pinto Balsemão — estúpido é que ele não é, há que saber facturar), no JN e na TSF, advogado pretérito de José Sócrates, pai de Francisco Proença de Carvalho, advogado de Ricardo Salgado e de quem o próprio PML é constituinte] e de menstruação opinativa invariavelmente sincronizada, do que guardo registos profusos, com os seus amigos do peito no DN, Ferreira Fernandes, ex-recente director e Fernanda Câncio, grande repórter.*
Eis como no Eixo do Mal de quinta-feira, 14.Mai.2020, quando se conversava sobre a morte da menina Valentina às mãos do pai-ogre Sandro Bernardo, conforme copiosamente noticiado desde três dias antes, para sua decepção não apenas pelos pregoeiros da Cofina, o trauliteiro comunitário opinou, com solenidade e seriedade inusitadas, secundando Daniel de Oliveira:
«Faço minhas, se ele [Daniel Oliveira] me permite, as palavras dele, e acrescento uma coisa que é importante. Até nestes casos, até nestes casos, é fundamental a presunção de inocência. É particularmente nestes casos que é preciso a presunção de inocência.
DO- Quanto piores os casos...
PML- ... Quanto piores os crimes mais necessários são (?!). Porque só quando nós tivermos, a comunidade tiver — eu acho que tem e perdeu-a (?), não sei agora, é análise para outra altura — , quando nós perdermos esse valor essencial, é aí que abrimos as portas a juízas que não sabem ser juízas  [...] Já sei que vou ter uns tipos no Facebook, mas é nestes que é fundamental a presunção de inocência.»
Pedro Marques Lopes, arcanjo da decência penal, para sossego cívico da comunidade.

Pedro Marques Lopes insiste com frequência em advertir a comunidade com um argumento que tem tanto de aparente mérito como de descarado sofisma: Sim, porque hoje são os outros mas amanhã podemos ser nós as vítimas destas iniquidades da justiça.
Cada qual sabe da suspeita ou sarilhos em que pode incorrer, cada qual sabe das linhas com que se cose, cada qual sabe de quem é compincha ou com quem se deita.**
Sem prejuízo da razão que pontualmente assista à sua incontinente diatribe judiciária, que teme Pedro Marques Lopes? Que concreta vileza da justiça o amedronta tanto e tão pessoalmente

Considerações gerais de PML sobre a justiça e sobre o caso de Sócrates em particular, 05.Mar.2017

PML e o colapso da justiça, 09.Jul.2017

PML: «Não tenho medo nenhum de exagerar. O maior problema da nossa democracia chama-se sistema de justiça.», 28.Out.2017 [Eixo do mal]

PML: «Se, há décadas, toda a gente olha para o lado enquanto a nossa Justiça se vai degradando, porque diabo o conselheiro Gaspar faria diferente? […] O estado da Justiça é o maior problema estrutural do nosso regime. Aliás, a única instituição que regrediu em Portugal desde o 25 de Abril foi a Justiça. [...] É que convém não esquecer: não há assunto mais político do que a Justiça.», 29.Out.2017 [Diário de Notícias]

PML, Rui Rio e o nosso sistema de justiça, 14.Jan.2018

PML e o segredo de justiça, 13.Out.2018

Já agora, ó doutor Pedro Marques Lopes, leu-a toda? Morro de curiosidade por saber que «erros gravíssimos» encontrou. 

PML e os megaprocessos: «Os megaprocessos são na esmagadoríssima maioria das vezes processos que acabam por ter um cariz político, na perspectiva em que o poder judicial pretende aparecer como combatente contra enormes conspirações com origem no poder político. A justiça, no fundo, coloca a aplicação do direito em segundo lugar e quer surgir como uma espécie de salvadora do sistema. Ou seja, não cumpre o seu papel.» - 02.Fev.2019

PML e a inocência de José Sócrates, 25.Abr.2019
[Ali, de cravo na lapela. Em Janeiro de 1986, ia PML fazer 20 anos,
era mais de chapelinho
Prá Frente Portugal!
contra Mário Soares
A propósito da comemoração do 25 de Abril, o impenitente e progressista democrata de sempre informa-nos, ufano, de que desce a Avenida da Liberdade desde 1976. Aí, tinha PML, filho de família reaccionária do Minho, nove anos. Sobre isso há uma história interessante que hei-de contar.] 

PML e o Ministério Público, 27.Jun.2019

PML e o Ministério Público, 29.Jun.2019

PML: «o estado da justiça é, sem dúvida rigorosamente nenhuma***, o maior problema institucional do nosso país.», 21.Set.2019

PML: «As soluções para o lodaçal e roubalheira generalizada em que supostamente vivemos já são conhecidas: inverte-se o ónus da prova, instaura-se a delação premiada, limita-se a presunção de inocência», 23.Nov.2019

PML, o problema da justiça e a democracia em risco, 05.Mar.2020

Não sei de textos ou discursos de Pedro Marques Lopes, que fala amiúde de cobardia e de coragem****, acerca da integridade e do escrúpulo.
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* Não ignorando a crise geral no ramo, tudo me sugere que, dos accionistas à administração e da administração à direcção e à redacção, a atracção tóxica por Sócrates [até eu, Plúvio, até eu fui enrolado...] nos 13 anos anteriores a 2018 não é alheia à deserção de compradores e aceleração do definhamento, agonia e adivinhável extinção em papel do meu Diário de Notícias de sempre e de que continuo assinante.

** E daí, talvez não, nem sempre sabemos. A Câncio, por exemplo, diz que foi enganada.

*** Sem dúvida rigorosamente nenhuma é como usam pronunciar-se os idiotas.

**** PML, "A tabloidização da Justiça e os cobardes", 09.Abr.2017

PML, acerca das reacções de Cavaco Silva e de Pedro Passos Coelho à não recondução de Joana Marques Vidal como PGR: 
«A estratégia é esta: Vamos fazer crer as pessoas que Marcelo é mais um membro da geringonça. […] Daí vêm o texto de Passos e estas declarações de Marcelo. O problema é que são cobardes e a cobardia nota-se logo. E qual é a cobardia disto? É que eles não têm mesmo coragem de dizer claramente que Marcelo Rebelo de Sousa é da geringonça.» -  30.Set.2018, de 01:00 a 05:00 

PML, acerca de «cobardes» e «colaboracionistas» no Correio da Manhã: 
«Clara [...], sabes do que é que tu precisas? Precisas que não haja colaboracionistas e cobardes. E eu digo quem são os colaboracionistas e os cobardes. Os cobardes são as pessoas que são atacadas e não dizem uma palavra contra o Correio da Manhã. […] Os colaboracionistas são pessoas como Santana Lopes, Assunção Cristas, que escrevem naquele jornal.» - 04.Fev.2018 
Pena a coragem e o fôlego de PML não terem dado senão para dois «colaboracionistas». Gostaria de ouvi-lo a chamar com idêntico vigor nomes feios, por exemplo, a Adolfo Luxúria Canibal, Alexandre Pais, Ana Gomes, Carlos Moedas, Eduardo Cintra Torres, Fernando Ilharco, Francisco José Viegas,  Francisco Moita Flores, José Rentes de Carvalho [fez 90 anos há três dias e está aí para as curvas], Joana Amaral Dias, João Pereira Coutinho, José Jorge Letria, Leonor Pinhão, Luís Menezes Leitão, Manuel S. Fonseca, Marcos Perestrello, Maria Filomena Mónica, Rui Pereira ou Rui Zink, colunistas regulares do CM, qualquer deles incomparavelmente melhor a analisar ou a prosar do que PML.

«Felizmente não faço as figuras — por uma questão de higiene —, não faço as figuras de certos comentadores que vivem à conta do facto de alguém lhe [sic] pôr processos.» - 20.Mai.2018 
Aposto em que PML estava a pensar no João Miguel Tavares, processado em tempos por José Sócrates. A apregoada coragem de PML não lhe permitiu nomeá-lo... Definitivamente, o comentador higienizado — que enaltece e se revê na coragem com que Rui Rio «chama os bois pelos nomes» —  desconhece a figura que faz. 

- Mas ó Plúvio, a figura pública de Pedro Marques Lopes é assim tão má?
- É pior. Acho que Ricardo Araújo Pereira, aqui e aqui [sonsinho..., parvinho..., patético ... Ninguém percebe a projecção pública que tem ... Porque é que o Pedro Marques Lopes é o cronista mais bem sucedido do país? ... Não escreve bem, não tem graça...***** ], foi demasiado benévolo.
Fica para próximo verbete a minha demonstração de que PML é pior.
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***** Amigos para ocasiões:
«Reagir a uma crítica com bullying e ataques ao carácter revela dificuldade em estar no espaço público sem ser tratado como uma santinha. O que ouvi do RAP sobre PML esteve ao nível das redes sociais. Pequeno, despropositado, rancoroso e dispensável. O Ricardo tem talento para mais.»

«foi uma enorme surpresa, nunca tínhamos visto nada assim vindo dali. ataques de carácter? ir buscar cenas q não têm nada a ver? optar pela facilidade da piada boateira e pla rasquice da calúnia? considerar-s intocável e acima d crítica? mandar bocas ordinárias? nem pensar.»

domingo, 17 de maio de 2020

José Cutileiro [Évora, 20.Nov.1934 - Bruxelas, 17.Mai.2020]

De luto por mais um dos bons que se desprenderam do hífen maldito, remeto para o verbete de 03.Mai.2020.

Conversas recentes de José Cutileiro:
No Sol, Nov.2017   //   No Observador, Nov.2017   //   No DN/TSF, Mar.2020

Último "In Memoriam" no Expresso, 16.Mai.2020:
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«[...] uma experiência universitária breve, cumulada ao seu sempre inteligente comentário sobre os rumos do mundo, para as nótulas sobre o quotidiano e as suas histórias com os outros que deliciam no seu “Inventário” bloguista, bem como os ricos obituários de figuras, algumas ignotas para quantos não faziam parte do mundo anglo-saxónico que era a sua nunca desmentida “praia”, escritas semanalmente no “Expresso”, num estilo que se distinguia por não usar pontos finais a sincopar o texto, o que, em jeito de homenagem, arremedo neste que aqui lhe dedico, na hora da sua morte, que hoje foi anunciada, com um beijo de pesar à Myriam.»

Uma vez sem exemplo, acho pertinência e graça a FSC — salvo quanto à prática do Acordo Ortográfico lesa-pátria que defende desde o primeiro momento, alinhado com José Sócrates que o mandou insanemente aplicar — no excelente arremedo que hoje faz do estilo de José Cutileiro que, já agora, sempre repudiou e nunca se rendeu à ominosa reforma ortográfica de 1990.
Seixas da Costa refere, com alguma imprecisão, os pontos finais sincopantes que JC não usava no texto dos seus obituários. Convém esclarecer que a abstinência apneica de ponto final se cingia ao extra-longo primeiro parágrafo e consistia em algo mais: era evidente o gozo, sei lá se sádico, com que Cutileiro plantava o predicado da oração principal quase sempre a anos-luz do sujeito, deixando não raro o leitor às aranhas. Como aqui dei conta.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

António Costa, Marcelo e «colaboradores»

Os deuses sabem do meu apreço por Marcelo Rebelo de Sousa e por António Costa.
É por isso que a fala e a novilíngua do Primeiro-Ministro, promotor e principal interessado na recandidatura do presidente-arlequim, esta manhã em Palmela, só poderiam deixar-me em êxtase: 

«Há bocado foi-nos lançado o desafio. Da próxima vez que viermos cá devíamos partilhar com o conjunto dos colaboradores da Autoeuropa uma refeição no refeitório. [...] E portanto faço-me desde já convidado para acompanhar o senhor Presidente e o senhor presidente da Autoeuropa e todos os seus colaboradores para aqui virmos prò ano partilhar então essa refeição.»
António Costa, 13.Mai.2020

Senhora de Fátima, 3.ª Lei de Newton e diastema

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terça-feira, 12 de maio de 2020

Mal segundo Maria Filomena Mónica e pornografia num país cristino*

No Correio da Manhã de domingo passado, Maria Filomena Mónica surpreendeu-me e fez-me rir. Numa correnteza de grandes males, perdão, Males [agiotagem no preço dos artigos de protecção, assaltos aos velhos, egoísmo no desprezo pelas regras de confinamento social, teorias da conspiração...], e sem mudança de plano, inseriu o mal de ver filmes pornográficos na televisão durante a quarentena:
«[...]
Estou a pensar na médica Inês que não pode ir dormir a casa porque tem de cuidar de doentes atacados pela covid-19, da aluna Constança que, com umas amigas, se ofereceu para ir para um lar em Trás-os-Montes, na jovem Joana que transporta comida, como voluntária, a quem não se pode deslocar. Todavia, estes factos não nos devem fazer esquecer que, ao lado do Bem, existe o Mal.
Há quem especule com o preço das máscaras, do álcool e das luvas. Há quem assalte as casas dos velhos. Há quem aproveite a quarentena para ver filmes pornográficos na TV. Há quem, por egoísmo, despreze as regras sobre o confinamento social. Como se isto não bastasse, as teorias da conspiração multiplicaram-se.
[...]»

Não venho, ai de mim, resgatar e promover a grande bem, perdão, grande Bem social as fitas pornográficas no sentido em que MFM parece considerá-las. Não vou tão longe, mas terei sempre por socialmente mais tóxica do que a pornografia "convencional" a exibição [três exemplos ao acaso]
ou da garagem de Cristina Ferreira, para não falar da vassalagem obscena que Portugal, de Marcelo a Costa, lhe presta - «isto é um negócio.»,
tudo à vista das crianças e sem bolinha vermelha no canto superior direito.

No mais, respeito a pudicícia de Maria Filomena Mónica. Mas lá que me fez rir, fez.
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ÚLTIMA  HORA
Terça-feira, 12.Mai.2020, 23h15 - 5.ª descontaminação das ruas de Bobadela, pela Senhora.**


segunda-feira, 11 de maio de 2020

A respeito do respeito de Daniel Oliveira pela Igreja Católica

Daniel Oliveira aos berros:
«[...] A Igreja não teve nenhum papel na construção da democracia portuguesa e teve um fortíssimo papel em 48 anos de ditadura! Não, não teve nenhum papel! A Igreja foi totalmente ausente na construção da democracia portuguesa! Zero! Não teve nenhum papel!
Eu respeito a Igreja Católica*, já várias vezes aqui o deixei claro, não respeito a reescrita da História. [...]»

Sou a última pessoa da galáxia a quem algum ministro da Igreja Católica viria encomendar desagravo das declarações deste façanhudo e autoritário preopinante avençado por Nuno Artur Silva**,  por Francisco Pinto Balsemão e por Daniel Proença de Carvalho. Ainda assim e, não vá acusarem-me de batota dialéctica, admitindo que o jornalista quisesse referir-se ao papel institucional da Igreja, não a individualizados membros dela, não resisto a contrapor estes apontamentos de Nuno Teotónio Pereira e de Joana Lopes que encontrei "Entre as brumas da memória", blogue onde, de resto, o filocomunista Daniel Oliveira, que diz pérda no lugar de pêrda, é estimado.
Para que conste.
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* Ahahahah.

Está bem, abelhinhas...

domingo, 10 de maio de 2020

Precedência da sucessão [2]

ÚLTIMA  HORA
O novo CEO do BPI «promete manter o legado deixado pelos seus sucessores

Ufa!, estava a ver que não. Podemos ficar tranquilos.

De uma assentada, vem-me à lembrança o doutor Daniel Cotrim, anjo da guarda dos desvalidos maltratados, e reaviva-se-me a proclamação de que
que, para uso e persuasão dos simples, é brandida como antigo provérbio índio mas não passa de variação de um escrito de Wendell Berry [1971].

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Tempo de Quaresma

O insigne jornalista Ferreira Fernandes, prosador exímio, não resistiu a molhar o bico ditirâmbico no processo de canonização sumária em curso
«[...]
Os cruzamentos de trivela de Quaresma são dos maiores momentos do futebol mundial. Um misto de ciência, pela curva traçada, um sentido dramático pelo espanto de colegas, adversários e público, e uma beleza pegada. Como o outro, Garrincha, também magnífico e demasiado povo, Quaresma teve como destino ser a alegria do povo. [...]
Olhem um cidadão, pelo texto que escreveu* [...]
Ricardo Quaresma é soberbo, costas direitas, cabeça erguida, gola levantada [...]
Ricardo Quaresma voltou ao twitter e publicou: Olhos abertos amigos, a nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros... Que frase política, de quem podia aproveitar-se para soprar no fogo, e não o fez. Sem ter andado em seminário, nem universidade inglesa**, que respeito pela comunidade, a estreita e a Pátria. Que sentido de Estado!
Que sabedoria de quem, sabendo que há problemas, quer resolver e não inquinar. Quanto mais fácil seria, para uma vedeta que tem a sua vida e a dos seus materialmente resolvida, poder juntar a isso a vã glória de cavalgar uma qualquer rebeldia. Os meus, disse Quaresma aos seus e a nós, somos nós todos. Que lição do que é ser português! [...]
Sabia-te artista mas misturado com um bruto. Mas o que tu és é isso tudo e também um homem comovedor. Chapeau. Respect. Dá cá um abraço.
E ontem, ainda no Facebook, publicas a recordação do teu tio-avô, também futebolista, Artur Quaresma, do Belenenses. Num Portugal-Espanha, 1938, ele e dois colegas da selecção e do clube (José Simões e Mariano Amaro), não fizeram a saudação fascista.***  Portugal-Espanha, resultado: um hat-trick, ganhámos nós todos a memória de uma coragem. Não era um gesto sem risco: depois daquilo, Cândido dos Reis, treinador dos três no clube e na selecção, foi parar ao campo de concentração do Tarrafal.
Ricardo Quaresma à escrita*: Ontem como hoje, a família Quaresma sempre soube estar do lado certo da história.
[...]»

* Ferreira Fernandes, entusiasmado e crédulo, acha que é Ricardo Quaresma quem escreve. Não creio. Ao sábio Quaresma jamais escapariam as três vírgulas imprescindíveis nas três jaculatórias com que encerra o manifesto "Todos diferentes, todos iguais":
«[...]
Olhos abertos amigos, o populismo diz sempre que é simples marcar golo mas na verdade marcar um golo exige muita táctica e técnica.
Olhos abertos amigos, o racismo apenas serve para criar guerras entre os homens em que apenas quem as provoca é que ganha algo com isso.
Olhos abertos amigos, a nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros... isto se queremos chegar ao céu.»

Olhos abertos, amigos, se faz o obséquio! Olhos abertos amigos eram os da minha avó Nazaré. 

** Alusão, críptica para a generalidade dos leitores do DN, a André Ventura ter frequentado um seminário e a ter-se doutorado na Universidade de Cork, depois de a Universidade Nova o licenciar em Direito com média final de 19 valores, o que pode não dizer grande coisa; pois se, por exemplo, da selecta Católica e em Direito também saiu licenciado o vira-casacas, videirinho e «tartufo» Pedro Marques Lopes, como alguém um destes dias o tratava no Aspirina Bpardieiro do Valupi — é Valupi, não Plúvio, quem assim classifica o blogue de que é senhorio —, fã de ambos, PML e FF, por sinal grande compincha de Ferreira Fernandesmeu querido Pedro»]...
Ó Ferreira Fernandes, tenha paciência mas fica-lhe péssimo baralhar a Inglaterra monárquica com a República da Irlanda.

*** Muito mais desastrado, porém, andou o jornalista tarimbadíssimo, "maluqinho da bola" que sabe todas as histórias e todos os nomes dela, ao comover-se e deixar-se enrolar em novo manifesto quaresmal — desta vez, despudorada e miseravelmente oportunista — publicado ao fim da manhã de anteontem na "conta oficial" de Ricardo Quaresma no Twitter — «Ontem como hoje, a família Quaresma sempre soube estar do lado certo da história. E nunca se vergou nem teve medo de dizer não ao racismo.» —, tomando Alfredo Quaresma, esse, sim, tio-avô do inefável Ricardo, que jogou nos anos '70 do século XX, por Artur Quaresma, o "anti-fascista", que esteve no activo quatro décadas antes e com quem Ricardo Quaresma não tem nenhum laço familiar.
Volto a supor que alguém anda a escrever em nome de Ricardo Quaresma. Alguma vez a superioridade e o escrúpulo éticos de RQ consentiriam em embarcar no «lado certo da história» à boleia de um tio-avô falsificado? Seja banido da civilização quem tal ouse admitir! Talvez por isso o verdadeiro Quaresma, príncipe caceteiro do bem e da bondade, tenha lesta e diligentemente apagado o tuíte enganoso que inebriou Ferreira Fernandes, fazendo exarar ontem na sua "página oficial" do Facebook um texto de tal elevação literária e tamanho esmero gráfico que auguram para este aríete dos relvados, que aos 36 vai gastando o resto das botas a marcar golos exigentes muito tácticos e técnicos ao serviço de uma agremiação turca de segunda ordem, não direi horizonte de esplendor no areópago das Letras mas, no mínimo, poleiro dourado na academia da Virtude.

De outro e muito brando modo aqui se dá conta do caso.

De resto, quero que André Ventura se foda e desejo que Ferreira Fernandes não precise nunca de disputar com ciganos — RQ é cigano integrado, ciganos são coisa diferente —  a "sua vez" na fila das urgências do Beatriz Ângelo ou do Garcia de Orta, ou na fila de cidadãos socialmente distanciados à entrada de qualquer mercearia de Alfragide. Experimente. E para repor a ordem no Estado de direito democrático convoque o atleta tremebundo
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Daniel Oliveira- Eu acho que ele [Ricardo Quaresma] fez um texto de uma elegância...
Pedro Marques Lopes- ... e bem escrito!
DO- ... e bem escrito. Uma pessoa crente, portanto bastante baseado nisso; o melhor que ser cristão pode ter, o que ali está é o melhor que ser cristão pode ter.
Nada como um apedeuta para convalidar a excelência literária.
E para certificar a ortodoxia da fé, nada como uma criatura que vem desde 02.Jul.1969 caldeando o bestunto ateu nas múltiplas e sucedâneas madrassas do comunismo.
Mas reconheço: o jornalista DO, que leio com assiduidade, escreve benzinho.

domingo, 3 de maio de 2020

O animal afina a guitarra, o universo recompõe-se

Quinta-feira, 30.Abr.2020, Dia Internacional do Jazz, 33 minutos em casa de Yamandu Costa:
  • "Samba pro Rafa"
  • "Suíte colombiana n.º 2-IV [Porro]"
  • "Luciana"
  • "Choro loco"
  • "Sarará"
  • "El negro del blanco"
Se calhar Deus existe.

Gonçalo M. Tavares e outros

Reconheço-me leve e acentuadamente louco, obstinada e moderadamente compulsivo.
Da primeira, 06.Jan.1973, à mais recente, 01.Mai.2020, comprei e li todas as 2479 edições do Expresso. Por maior discordância ou desapontamento que ao longo destes 47 anos o semanário de Francisco Pinto Balsemão frequentemente me suscitou, julgo ter conseguido recolher de cada número proveito equivalente, no mínimo, ao dispêndio. Às vezes por uma única página, um determinado artigo. 
Não fosse por mais, e desta vez, como felizmente quase sempre, é por mais [basta não faltar, por exemplo, o "In memoriam", obituário semanal pela pena prodigiosa de José Cutileiro*], as duas páginas do  "Diário da peste - Dois séculos tem este século**" que Gonçalo M. Tavares vem assinando na E, revista do Expresso, desde 04.Abr.2020, resgatam com rendimento milionário, tornando quase simbólicos, os 4,00 € do jornal. Na edição de anteontem:
«[...]
Dois humanos não podem olhar para o céu ao mesmo tempo. Em alguns momentos, o céu é demasiado pequeno para dois, quanto mais para muitos...
[...]
Alguém leva uma pedra para espancar o mar porque a filha se afogou ali.
[...]
A Europa está mudada.
Em pouco tempo o medo põe o humano a aceitar a pergunta: para onde vai?
Temos todos de novo 5 anos.
A até alguém com mais de 90 anos está na rua como se perdido do pai.
Pode ser mais tarde ou mais cedo.
Mas toda a gente se perde do pai.
Pelo menos uma vez.
[...]»

E daí, Plúvio?
Nada. Compre e leia.
____________________________________
Também li. Concordo incondicionalmente com Miguel Esteves Cardoso.

** «[...]
O segundo século XXI começou em Wuhan.
O primeiro, nas Torres Gémeas, 2001.
[...]»
Crónica de 25.Abr.2020

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Plúvio em maios e abris de antanho

Lisboa, quarta-feira, primeiro de Maio de 1974.
Confinado em obediência militar, passei a jornada no Marquês de Pombal em marchas e modas para a turbamulta esfuziante. Aqui estou.

Por essa altura tocava flauta e vibrafone na banda dirigida pelo meu saudoso capitão Sílvio Lindo Pleno [1932-2015], cantava e compunha inocuidades.
... 1 de Maio com sol para todo o povo português ...

Tempos antes de 25 do 4, tinha 20 anos e fazia figuras destas.

Sobrevivi; não sei se me envergonhe.