segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Tavares, Ventura, Saraiva, Tolentino e o mais

Faz três semanas, penitenciei-me por em Maio passado ter votado no doutor Rui Tavares para Estrasburgo. Lembrar isso ainda me envergonha. 
O historiador Rui Tavares, que por também tocar trombone e a mulher flauta e saxofone me suscitava vaga simpatia, revelou-se-me na recente campanha das legislativas, com Joacine Katar Moreira no andor, um pantomineiro tão cínico, oportunista e demagogo como qualquer pantomineiro cínico, oportunista e demagogo usa ser. O topete eleiçoeiro de RT culminou no "Acabou-se a sorte", em que no Público de 09.Out.2019 se queixa, calimero sem dinheiro para outdoors, e esperneia e dispara contra o dr. Pedro Passos Coelho, presuntivo pai político do professor doutor André Claro Amaral Ventura, sem nunca lhe mencionar o nome — isso não lhe fica bem, ó Rui Tavares —, que ao ser eleito, tão democraticamente como a sua criatura Joacine, já agora com mais 10654 votos globais do que o Livre obteve, vai encharcar de peçonha o Palácio de S. Bento e trazer o apocalipse à República Portuguesa. 
Pego nestes nacos:
«[...] Mas agora apareceu um fala-barato um bocadinho mais organizado — ou, nas palavras de um dos seus antecessores mais azarados e azedos*, “um oportunista levado ao colo pela comunicação social, cheio de dinheiro, com outdoors em todo o país”, e eis que a extrema-direita entra no parlamento português. [...]
Chama-se Pedro Passos Coelho. Foi primeiro-ministro do nosso país e presidente do PSD. Foi ele quem chamou um então advogado e comentador desportivo para ser candidato do seu partido à Câmara de Loures nas últimas autárquicas. [...]»
Será da minha presbiopia mas não me lembro de nenhum outro partido como o Livre, para não falar da própria pessoa de RT, com os sucessivos resultados pífios nas eleições em que se envolveu, que no último lustro, desde a fundação, tenha tido e continue a ter tanto colo na comunicação social (RTP, SIC, TVI, Canal Q, Público, Diário de Notícias, Expresso...), não falando da matilha urbanoesquerdóide de plumitivos invariavelmente baptizados no Lux Frágil que em todas as redes o apaparicam e promovem. Pelo amor da santa, senhor doutor! Tenha decoro.
E para que conste, ilustre historiador, «então advogado» coisa nenhuma: André Ventura, jurista mas não, sequer «então» (2017), advogado. Limitou-se a um estágio em advocacia, em 2006/2007, sem seguimento profissional.**

É em tal entendimento que subscrevo, palavra por palavra, o que José António Saraiva escreve no Sol de ontem, 19.Out.2019, "A gaguês como arma política", acerca de Rui Tavares e da candidatura da doutora Joacine Katar Moreira.
De resto, quero que o doutor Rui Tavares se foda. E continuarei, como sempre, atento ao que ele, e todos os outros, fazem, escrevem, dizem.

Por falar em Joacine, dei-me ao exercício estóico de escutar os 27 minutos sem gaguejos — aleluia! — do chorrilho de banalidades com que, em 4 de Outubro corrente, no Auditório Camões, em Lisboa, ela encerrou a campanha, «unidos e unidas naquilo que nos une, todos e todas», rematado com a quinta-essência da hinologia contemporânea, "O sem precedente", pelo Fado Bicha
André e. Teodósio, paneleiro estimável de que falei "Na morte de um taberneiro bem sucedido", chamou aos tais 27 minutos, com ponto de exclamação e sem pagar multa,
Ó Teodósio, pá, que conheces tu de discursos, de história, ou de política em Portugal? Que sabes tu de Portugal?
Ora coteja aí a Joacine com, por exemplo, um ao calhas, Jorge de Sena na Guarda, no "10 de Junho" de 1977. Que tal?
Lê, pá, sai do palco e vai ler, que no «século XXII» — em que a tua Joacine, foi ela que o proclamou, vai ser deputada — ainda não há nada que se aprenda.***
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* Outro de que Rui Tavares, arrogante e mal-criado, também não diz o nome:

** Não gosto nem gasto de André Ventura, conto tê-lo dado a entender aqui. Conheço-o razoavelmente pelas publicações na imprensa; cruzámo-nos uma vez, nas autárquicas de 2017, numa tarde em que andou na Bobadela-Loures a apregoar-se. Ripostei o passou-bem que, simpático e delicado, pediu autorização para me dar — «Posso cumprimentá-lo?» —, e disse-lhe «Obrigado.» pelas duas esferográficas de caca que me ofereceu com a inscrição «primeiro Loures». Votei CDU, relembro. Pelo clarinete. Mas não vá o prestígio do Plúvio ter acabado de cair na desonra, declaro já por minha honra que não senti necessidade de lavar as mãos a seguir.
Enfim, conviria conhecer um pouco melhor, começando talvez pelas competências, currículo escolar e profissional, o agora deputado André Ventura antes de excretar, com a voz iluminada pela ignorância, os lugares-comuns e os estereótipos do susto fascista.
Quero crer em que a alguns desses não ou mal informados [ocorrem-me, além de Rui Tavares, Ricardo Araújo Pereira***, Daniel Oliveira, Isabel Moreira, Joana Gorjão Henriques, Vasco M. Barreto, Pedro Marques Lopes, Inês Pedrosa, Carmo Afonso, Ana Matos Pires...] causará surpresa, por exemplo, a ligação de André Ventura ao inefável, escorregadio e ubíquo José Tolentino Mendonça**** ou certos aspectos pouco conhecidos da sua vida e do seu pensamento.

*** Mas deixem-me, por 22 segundos, imaginar o século XXII de Rui Tavares e de Joacine Katar Moreira. Uma sociedade 100% inclusiva em que os anósmicos fabricarão perfumes, os disgeusíacos chefiarão as cozinhas e escolherão os vinhos, só a bicheza e o fufedo procriarão, todos os amblíopes serão neurocirurgiões, os amputados tocarão guitarra e praticarão pentatlo moderno...; e, claro, um parlamento 100% inclusivo: 230 deputados exclusivamente afrodescendentes, boémios, sino-ameríndios, esquimós, monhés e algarvios. Nessa altura o hino nacional será "O-SEM-PRECEDENTE". Isto, se entretanto os netos de Cristina Ferreira não tiverem revogado a Constituição e reconfigurado as fronteiras.   

**** Então não é que o Ricardo esteve com a Joacine no matrimónio da Bárbara, catequista dela***** [vê-se no que deu a catequese: activista radical, feminista radical, antifascista radical, anti-racista radical, pró-LGBTuvwxyz radical, preta radical, ruitavarista radical, gaga radical] ... celebrado por quem, por quem? O Tolentino, tinha de ser. Isto anda tudo ligado:
«[...]
- Ó mãe, como é que nunca nos disseste que a Joacine é gaga?
Joacine Katar Moreira: uma activista negra a caminho do Parlamento?
- Como é que vocês sabem?
- Esteve no Ricardo.
“No Ricardo” é o programa Gente Que não Sabe Estar, por onde passaram tantos candidatos e políticos nos últimos tempos para conversar com Ricardo Araújo Pereira, na TVI.
- Que engraçado! A Joacine e o Ricardo nem sabem que já se tinham cruzado antes na vida, foi no nosso casamento... Sabiam que o padre Tolentino vai ser ordenado cardeal? 
- Ó mãe, isso agora não interessa nada! Como é que nunca nos disseste que é gaga?
A pergunta intriga-me. O que lhes terei dito sobre a então candidata do Livre, hoje deputada eleita à Assembleia da República? Conheci-a há mais de 20 anos, era ela adolescente e dei-lhe catequese. Quando a vi nos cartazes, comentei-o com os meus filhos e disse-lhes que então Joacine tinha longas tranças e que já era alta e bonita como é agora. Mantém os mesmos olhos curiosos, mas também desafiadores.
[...]»
O Tolentino tem cá uns groupies — Assunção Cristas,  Laurinda Alves,  Maria João Avillez,  André Ventura ... —  que não sei se diga, se conte. 

***** [Cinco asteriscos, caralho!******]  Com esta é que a Fernanda Câncio, laica e ateia radical militante, se passa; logo ela que ama com efusão a Joacine. Mas como também adora o Conan, a coisa pode ser que se componha.

****** Isto é, apre!

Foi assim.