domingo, 27 de fevereiro de 2022

Azar de Gonçalo M. Tavares?


«pediu ao motorista para parar o carro junto a um dos penhascos. De seguida, saiu e atirou-se ao mar.»

Uma semana depois, raiando o admirável como quase sempre, Gonçalo M. Tavares escreve:
«[...]
O embaixador aproxima-se do precipício, e este chama-o com a voz que a tristeza ouve; a voz que só uma certa tristeza limite consegue ouvir.
[...]
Que sabemos dos humanos?
Sabemos pouco.»

No mesmo dia da publicação de Gonçalo M. Tavares dizem-nos que
«[Oliver Antić, 1950-2022*] era um apaixonado pela fotografia e estava a fazer um vídeo ... para enviar aos netos, que vivem nos Estados Unidos, quando escorregou numa rocha e caiu ao mar. ... Estava a filmar de costas para o mar.»
Azares destes, e quero crer que Gonçalo M. Tavares foi tão induzido no engano como eu, sucedem aos melhores. Sobretudo quando não se controlam todas as fases da cadeia de produção...
Posto o que, Gonçalo M. Tavares talvez devesse tentar uma conversa com o motorista antes do próximo episódio de "Os cadernos e os dias - História fragmentada do mundo". 

Quando olhas longamente para um abismo, também o abismo olha para dentro de ti.
- Friedrich Nietzsche, no capítulo IV de "Para além do bem e do mal", 1886,  que li aos 19 anos.
Ainda hoje não olho de cima para baixo a mais de 10 metros de altura que não me lembre disso.**
Aos 68 apetece pensar que tenho resistido com castidade heróica à sedução do precipício.

Sim, Gonçalo, sabemos pouco dos humanos. Quase nada. Se calhar, nada.
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** - Mas, ó Plúvio, isso não é a VPPB? E se te deixasses de enredos literários da treta?...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Rússia vs. Ucrânia e altíssima diplomacia

«As notícias que chegam da Ucrânia são muito preocupantes. Confio na intercessão da Virgem Maria e na consciência dos responsáveis políticos.»

«Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições...»

Só respeito fontes fidedignas, literalmente, dignas de , de preferência com manuscritos à vista
Pelo que, e tudo ponderado, estou mais em apostar na intercessão da virgem do que na consciência dos responsáveis políticos, António Guterres incluído.
Assim como assim, a senhora domina o assunto desde há pelo menos 105 anos, ainda o Sr. Virgílio andava de bibe.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Reino da sabedoria

Territorialmente, a Rússia é, de longe, o maior país do mundo.
O 2.º maior, com pouco mais de metade da área da Rússia, é o Canadá.

Às 23h34 de anteontem, quinta-feira, testemunhei em directo a conversa televisiva que se segue.
Merceeiro- A Rússia não é uma economia, é uma economia pequena, só tem território, e a outra coisa importante… mas também há outros países com território muito grande. Por exemplo, o Canadá que é maior que a Rússia. Tem um bocadinho mais de gelo…
Aurélio Gomes- Maior do que a Rússia?
Cauteleiro- Sim, é maior que a Rússia. É o maior país. É maior que a Rússia.
Daniel Oliveira- Não, não é.
Gasolineiro- Ah, mas é.
Daniel Oliveira- Não, não é!
Perigo grande, como venho repetindo, é que pode haver crianças por perto.  

Merceeiro- Eu já tou aqui há uns anos, o bastante para as pessoas, enfim, terem a ideia de que eu não defendo nem deixo de defender partido nenhum, por princípio.
Camaleão vígaro.

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É o momento de actualizar e acrescentar ao rabiscado aqui em 14.Jan.2022, 21.Mai.2021, 01.Mar.2021 e 09.Jan.2021, dia de Posaconazol Metenamitoso Latanoprostático.

Não há uma alma caridosa que ensine ao posaconazol ignaro a palavra apparatchik?
«houve uma relvização do PSD; há muito apartechic»
«coisa típica de apartechic ou de terrorista de teclado»
Mete dó.

E «Hélas!», que o cauteleiro escreve invariavelmente «Helas», sem acento? Por que espera o «querido» Ferreira Fernandes, sage como poucos, para resgatá-lo da vergonha de persistir no uso da interjeição francesa que significa o contrário do que o ínscio quer dizer, isto é, «Voilà!"?

«Helas»- 16.Jun.2021, graxa em Mafalda Anjos, sua nova patroa.*
«Helas»- 03.Ago.2021, graxa em Fernanda Câncio, madrinha de todas as horas.*
«Helas»- 29.Jun.2021, revendo-se numa citação de Abraham Lincoln. 
«Helas, helas». Arrisco que terá sido assim; na pronúncia não se percebe se é com ou sem acento.
Confrange.

O merceeiro estólido não faz a mínima ideia da diferença entre sob e sobre.
«nós não vivemos sobre o império de burocratas ou de epidemiologistas»- 17.Jun.2021
«este país vive sobre o manto completo da corrupção»
17.Jun.2021
Dói.

Observe-se como o cauteleiro lerdo confunde e baralha em sucessão o "Mapa cor-de-rosa" com os "Os 12 de Inglaterra", que ao princípio eram 11, e com os "Magriços", futebolistas de 1966
«mentalidade mapa cor-de-rosa ... mandamos 11 pessoas pra lá, 11 combatentes»- 03.Jun.2021
«os 12 de que eu estava a falar há bocado eram os "Magriços"; foram resgatar a honra de 12 damas inglesas»- 03.Jun.2021
Bebedeira de asneiredo.

O posaconazol obducto não esconde a ojeriza à perseguição penal do enriquecimento não explicado e, sobretudo, à inversão do ónus da prova. É a parte, tenho isso bem presente, em que Vasco M. Barreto, que muito admiro, sugere que roço a calúnia; mas é a parte em que sou tentado a enquadrar a interrogação indignada de 10 meses atrás:
«Por que diabo eu hei-de dizer do meu património?»

Não é novidade que o gasolineiro aproveita todas as oportunidades mediáticas para se hispersusceptibilizar sempre que o lóbi LGBT+ é importunado.
Por exemplo, eu acredito que na nomeação do estimável paneleiro Penim pela declarada fufa Fonseca o factor homo- contou que fartou e porventura terá sido o argumento que mais sobrelevou na escolha. Mas isso sou eu que pouco ou nada faço por me escapulir ao rótulo "homofóbico".
O gasolineiro tem outra perspectiva:
«Pedro Penim é das maiores figuras do nosso teatro [É!? Ena!]. Fiquei muito contente que ele fosse para director do Teatro Nacional D. Maria II.»- 23.Set.2021

Pedro Faro, figura proeminente do activismo queer lisboeta:
«Há dias quase quase perfeitos. Hoje pude almoçar, no intervalo do trabalho, com muito Sol, com amigxs lindxs com quem posso conversar e partilhar quase tudo: A Yara Monteiro, o @pedroml e o meu bff @andreeteodosio** 💕 Ainda reencontrei outras pessoas lindas que por ali passavam. 🌈»- 02.Fev.2022
Cabemos cá todos. Bom proveito e bem haja.

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«O Pedro Marques Lopes é asqueroso
Admito. JQ conhece-o bem.
Eu nem o cauteleiro conheço.

Mistério insondável é como insistem a TSF, a SIC e a Visão em pagar o palco opinativo de um mendicante destes, fraude gigantesca no comentariado nacional.
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* Lambe-botas bíblico, o gasolineiro não desperdiça oportunidades de bajular em conjunto a madrinha e a patroa.- 24.Jun.2021

** Refulgente vulto do pensamento contemporâneo que exigiu Panteão Nacional, nada menos, na morte do Manel.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Frinçasco Loucim

ÚLTIMA  HORA

O arcebispo Louçã diz «dignatário».

«a ditadura portuguesa recebe o dignatário da ditadura espanhola»

O colega conselheiro de Estado solidariza-se na indignidade linguística.
«ameaças de decapitação a grandes dignatários» 

«era o primeiro dignatário do reino»

«filhos de dignatários do regime»
Eduardo Paz Ferreira, marido da Francisca, professor catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa. 

E como sou um animal proléptico, antecipo com fortíssima probabilidade de acerto que dentro de quatro dias o ilustre advogado José Miguel Júdice irá dizer na televisão
«chefes de Estado e outros dignatários», sem que o levem preso.

dignitário, foda-se!
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Está bem, sei, há dicionários que não sei quê, não sei que mais. Fodam-se.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Uma pessoa que existe

Apaniguada do Bloco de Esquerda, devota do leninismo-trotskismo da IV Internacional, causídica da religião Lux-Frágil e guardiã de seus ofícios, viúva perene do Manel, iniciou ontem no Público, com fanfarra e êxtase da seita salivante de bajuladores e seguidores, na caixa de comentários do jornal e no Twitter, a sua 'sementeira de alfarroba'.
Loira, consta que bonita. Ela concordará.
Formada em Direito ... na Universidade Católica? Não surpreende. Muitos licenciados ateus de renome, como Ricardo Araújo Pereira ou o próprio Posaconazol, vêm de lá. Mistérios da educação, talvez.

Dera pela sua existência em 2016, mas foi em 2021, com o assento no comentariado da TVI e no 'online' do Expresso, que emergiu com protagonismo regular no palco mediático nacional.
Daí para cá, existe que farta:
- logo a abrir, no Público, em "A esquerda radical", 7 'existências' gárrulas contra 1 tímido 'haver'.
Depois, incapaz de uma beliscadela, uma que seja, na medula responsabilizável do Bloco de Esquerda, que perdeu 74% dos deputados que elegera em 2019, ou na estratégia responsabilizável do PCP, que perdeu 50% do grupo parlamentar eleito em 2019, tem o desplante de se lhes referir como «partidos que aparentemente perderam as eleições». Perderam lá agora!

- na despedida do Expresso, "Sunday Bloody Sunday", 6 'existências' contra 4 'haveres'; e um solecismo sintáctico, «A música costuma ser boa companhia mesmo que seja uma que não se goste muito».
«uma de que não se goste muito», s.f.f.
«é altura de felicitar o novo governo, de desejar e exigir que faça um bom trabalho e que dialogue de facto com os partidos à sua esquerda. A geringonça nasceu da sua vontade, a maioria absoluta do seu sacrifício. O domingo foi sangrento.»
É preciso lata! Suspeito de que até a sensibilidade dos calhaus impediria a comparação de uma contenda eleitoral pacífica e as adivinháveis perdas das candidaturas comunistas com a chacina de 22.Jan.1905 em São Petersburgo e o morticínio de 30.Jan.1972 em Derry, legendada com a canção alusiva dos U2.
Domingo sangrento, senhora doutora? Pelo amor de Deus, haja respeito pelo sangue derramado e asseio nas equivalências!
Mas tenho de admitir que uma esquerdófila e BEata alucinada, existindo em demasia, possa ser acometida de dor em tal excruciante grau por causa de uma tareia galáctica do eleitorado no Bloco da sua afeição...
- n' "O regresso dos Talibãs" só pode ter-se distraído - 6 parcas 'existências' contra 10 honrosos 'haveres'. Mas o pior foi isto:
«Existe um consenso público relativamente à maldade dos Talibãs e é transversal da esquerda à direita, das mulheres aos homens. Esse consenso só conhece dissonâncias quando alguma esquerda se refere aos Talibãs como sendo extrema-direita ou quando surge a questão do acolhimento a refugiados ou a da análise da oportunidade e do mérito da intervenção dos Estados Unidos. Várias razões impedem-me de participar no consenso.»*
//
No serão de 25 para 26.Jul.2021, segunda-feira, esquadrinhei a intervenção na TVI24 desta pessoa que existe no debate acerca de Otelo Saraiva de Carvalho, falecido nesse domingo. **
Defendeu acerrimamente OSC, não lhe reconhecendo a menor mácula. O fascínio vem de longe. Apreciem-se os dois beijos repenicados — Tribunal da Boa Hora, 06.Abr.2001 —  da loirinha estagiária no rosto de um instigador moral de homicídios avulsos...

Disse ela:
- «É assim, as pessoas são humanas e ainda bem que o são»
As pessoas são humanas, ena! Finalmente alguém nos abre os olhos. Com a antropomorfização em curso da bicheza a gente já duvida de tudo, incluindo de os humanos serem pessoas... 

- «Ramalho Eanes … pessoa que interviu tão fortemente nos destinos de Portugal»
Repare-se na categoria da dupla chicuelina subtil com que Rogério Alves lhe templou a barbaridade linguística.
interveio, advogada burra!

E como ela existiu, senhores! ...
- «exista uma análise muito mais aprofundada ... as vítimas existiram, existiram em Portugal ... as conversas que existiram hoje nas televisões sobre o Otelo ... não tinha existido prova gravada ... a extrema direita que continua a existir ... talvez exista aqui alguma confusão ... quando existe a condecoração, eu diria que ...» 
//
Chamei-lhe lá atrás «viúva perene do Manel». Juro que não invento:
«Eu faço parte de um grupo que pensa no Manel todos os dias. [...]
Tem existido um silêncioTem existido um silêncio à volta de tudo o que tem a ver com o Manel…»

«Há ali uns acòrdos tácitos»
Convenhamos que não fica bem a uma jurista desconhecer a pronúncia de acordos.

Recheio completo:
“Da advocacia à Serra do Caldeirão, com ..." Uma pessoa que existe.
- Ó doutor Plúvio, garanta-nos cá que toda essa embirração com Uma pessoa que existe não advém da simpatia que começou por devotar ao marido...
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* «É claro que existia um objectivo que tinha a ver com os Estados Unidos assegurarem a segurança do seu território e acho que mais do que isso existia também uma obrigação de os Estados Unidos passarem uma mensagem mundial de força depois do ataque do 11 de Setembro que foi o ataque no coração onde morreram milhares — três mil são milhares sempre — de mártires e foi uma, mais do que  um ataque bélico, foi também uma ofensa e um ataque a que os estadunidenses tiveram que reagir da maneira que reagiram. E depois, vamos lá ver, havia o objectivo, esse que foi anunciado e estabelecido, de acabar com as bases da Al-Kaeda e com o Bin Laden, claro que sim. Agora, esse era o objectivo. Qualquer generosidade que nós queiramos trazer àquela intervenção militar... Aliás, se nos depararmos um bocadinho como é que ela é feita, ela é feita inicialmente com bombardeios aéreos. Isto significa, foi o que aconteceu de facto, foi a morte de milhares de civis. Quando estavam em Janeiro de 2002, já existia uma contagem de cinco mil baixas civis, no mínimo, no primeiro relatório oficial que foi feito. E vamos lá ver, qual é a diferença? Eu não estou a falar de talibãs, não estou a falar de lutadores, estou a falar de quem estava nas suas vidas no Afeganistão, um país totalmente destruído, totalmente massacrado por guerras sucessivas. Qual é a diferença entre aqueles civis, aqueles mártires, e os que estavam no 11 de Setembro? Estas pessoas morreram ao longo de anos e eu não vejo que alguém se tenha preocupado com a sua vida. Em relação a direitos humanos queria dizer-lhe o seguinte... [bebe, mulher, bebe!...]»
Note-se como a comentadora sorri na 'morte dos mártires americanos' e se compunge na 'morte dos mártires afegãos'. Esta gente não engana: odeia os EUA e compara o incomparável. 
Se Uma pessoa que existe tão intensamente acha que não há, perdão, existe diferença entre as mortes do 11 de Setembro e as mortes colaterais na expurga territorial do terrorismo islâmico, perdoe-me que lho diga mas não passará de consumada idiota.

** Pedro Adão e Silva filmou no velório. Comovente.

Arrepio

Autores de "Saudade, saudade": Maro, John Blanda.
Ré bemol maior > Si bemol menor
Db > Bbm

aqui trouxera Maro. Que voz.
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Rita Payés, trombonista e intérprete de jazz, é a que está a cantar com a filha recém-nascida, Juna, no marsúpio.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Bem-vindos ao país cristino [11]

Estrumeira medicamente assistida.

Sábado,12.Fev.2022
CD- Isto é crime. É obrigatório que este indivíduo seja imediatamente expulso.

CD, refira-se, consagrada autora-intérprete de música portuguesa que escreve, canta, grava e publica para a eternidade Que os pais tiveram sempre casados ... "A vida toda".
Não digo que seja crime, muito menos equiparável ao putativo crime de BC. Mas roça a delinquência.

Domingo, 13.Fev.2022
CFEquipa de médicos* ... Volto a dizer que é uma equipa de médicos* ... Quem acompanha todo o meu percurso sabe que desde o início fi-lo sempre em meios próprios, não só na televisão como também nos meios de comunicação que tenho ao meu dispor e que são propriedade de algumas empresas minhas.

BC- Queixa.

BC- Sou um imbecil, sou um atrasado mental.

L- Tesão. Tesão. Tesão.

AGM- Respeitando imenso o teu discurso inicial, eu não podia discordar mais ... Péssimo exemplo ... Parece-me que estou sozinha nesta luta ... Passamos a batata quente para as mãos dos portugueses** ...
CF- Temos uma equipa médica.*
AGM- Os portugueses** que decidam ... Esta conversa a mim parece-me manifestamente insuficiente para a gravidade do problema a que estamos a assistir.
CF- A equipa de médicos* que acompanha este programa.
Com patrocínio da "Betano".

CF- Sendo assim, o público decidiu expulsar com 53%***  ... o BC.

AGM- Agradecer aos portugueses** pela decisão de expulsarem o BC porque isto, sim, para mim foi um gesto de amor e de tesão.

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Quanto ao rapaz da Lapa Furada, aldeola contígua àquela em que nasci há 68 anos, serei radical: a Polícia Judiciária não tinha nada que publicitar o facto. Gabaram-se com estardalhaço e foi o chinfrim mórbido que se viu, em que a comunicação social pastou intensivamente durante três dias, sem proveito particular ou social avaliável. A publicidade da PJ à operação fez bem a quem ou a quê?
A polícia requer-se eficaz e discreta, salvo quando a eficácia precise de visibilidade. Bem nos basta a ufania em operação dos senhores guardas do trânsito... 

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* Saltem daí todos os nomes dessa atenta e diligente equipa de esculápios, especialidades e respectivos n.ºs de cédulas! Há que proteger o bom nome médico...

** Que dizer da mania, megalomania, comum à generalidade das televisões, de chamar «os portugueses» aos tão-somente circunstanciais telespectadores do canal que se dispõem a pagar chamadas de valor acrescentado [no caso, 0,74€ cada chamada]?

*** Porque nunca informam «os portugueses», nestas percentagens concurseiras, do número total de chamadas recebidas? 53% de quantos telefonemas, afinal? Aposto que sei a razão.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Edite Estrela? Oh, não! [2/2]

Na abalada de Eduardo Ferro Rodrigues, pai de uma das mais fraternas amigas da jornalista Fernanda Câncio,  Posaconazol transfigurou-se em vidente heterodoxo: 
«Vai fazer muita falta porque é um grande senhor, é um grande senhor da política. […] Quem me conhece mais intimamente sabe que o meu modelo de político é o Eduardo Ferro Rodrigues* […] Nunca votei nele nem em listas onde ele estivesse e no entanto é o meu modelo político. A minha admiração vem da postura, da maneira como ele vê a política, da sua falta de azedume, da maneira como olha para adversários, não como inimigos mas como adversários. Um tipo tolerante, intransigente com populismos e outra coisa que às vezes está esquecida, é intransigente com popularichices [...] E é um homem, como eu, como nós, que gosta da vida e dos prazeres que a vida dá. […] Um grande muito obrigado ao doutor Ferro Rodrigues, e é uma pena que ele abandone os cargos políticos.»

À anunciada eventual ascensão a Presidente da Assembleia da República de Edite Estrela, por quem a jornalista Fernanda Câncio nutre admiração vistosa e amizade pública exuberante,  Posaconazol veio-se de indignação:
«Subitamente esta semana apareceu, parecia, um ataque concertado a Edite Estrela. [...] Qual era o problema? Porque é que Edite Estrela não podia ser Presidente da Assembleia da República? [...]   Eu acho que isto é de uma vilania, de uma falta de carácter, repito, falta de carácter, este tipo de ataque que está a ser feito a Edite Estrela, uma pessoa que eu não conheço, que enfim…  — respeitável, que não tem problema nenhum**. Verdadeiramente chocante!»

«Esta perseguição à Edite, feita por João Miguel Tavares, é das coisas mais absolutamente repugnantes que já vi.»

Pedro Marques Lopes, «o meu gorducho» da jornalista Fernanda Câncio, uma plenitude patética.
«concertado», o quê?

Na minha terra usa dizer-se putedo de coisas que tais.
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* Ou seja, nos 15 anos de palco mediático em que enalteceu sucessivamente como seus modelos políticos Diogo Freitas do Amaral, Francisco Sá Carneiro, Pedro Passos Coelho, Mário Soares, José Sócrates, Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio..., Pedro Marques Lopes enganou-nos e escondeu sempre o seu modelo. Ficamos a saber que era, talvez, preciso perceber como Pedro Marques Lopes desabotoa a braguilha — «mais intimamente» não andará longe... — para se descobrir que o seu verdadeiro modelo de político é, afinal, Eduardo Ferro Rodrigues

** Nenhum mesmo, doutor PML? Não prestar para a função não chega?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Edite Estrela? Oh, não! [1/2]

«Esta perseguição à Edite, feita por João Miguel Tavares, é das coisas mais absolutamente repugnantes que já vi. Não quererá pô-la a ela e à família toda na roda?»

Quero entrar na roda.
Mas, antes de mais, um discleima para que se não julgue que venho movido por ímpeto malsão ad feminam: detesto Edite Estrela, desde que, finais do decénio de '80 do século XX, lhe acompanho o protagonismo público. Voz desagradável, dicção horrível, gramática coxa, pese a fama granjeada na matéria. Jamais lhe perdoarei a mancebia oportunista e irresponsável com o nefando Acordo Ortográfico de 1990. 

Nasceu em Carrazeda de Ansiães há 72 anos, vive no Partido Socialista há 40.
De 1973 a 1986- Professora de Português
De 1987 a 1995- Deputada nas V e VI Legislaturas
De 1993 a 2001- Presidente da Câmara Municipal de Sintra
De 2002 a 2005- Deputada na IX Legislatura
De 2004 a 2014- Deputada no Parlamento Europeu
De 2015 a 2022- Deputada nas XIII e XIV Legislaturas
De 2022 [a 2026?]- Deputada na XV Legislatura 

Acho divertido quando na Wikipédia de pessoas com a densidade biográfica de Edite Estrela não consta qualquer apontamento de família. Parecem ectoplasmas. Faz-me lembrar Assunção Esteves, antiga Presidente da Assembleia da República: «[...] colocou um membro do gabinete a alterar constantemente a sua página na Wikipédia de modo a eliminar dados que ela não gosta que sejam públicos [...]»
Lá com elas, estão no seu direito.

10.Dez.2003- «Ministério Público pede apenas multa para Edite Estrela»

12.Fev.2005- «Ministério Público aceita reduzir pena a Edite Estrela»

2007- Edite Estrela, eurodeputada, contrata enteada e genro. 

25.Set.2009- «[...]  No almoço do PS, Sócrates voltou a ter o apoio da família socialista. Ao seu lado, na mesa de honra, estiveram ... Edite Estrela, António Costa e Luís Filipe Vieira, presidente do Sport Lisboa e Benfica, que quis ir dar o seu apoio a “um amigo”. [...]»

14.Nov.2010- Não sabendo que estava a ser escutada, Edite Estrela, em conversa telefónica com o seu dilecto Armando Vara, insulta camaradas socialistas: Ana Gomes, Elisa Ferreira, Vital Moreira... 

03.Jan.2013- Edite Estrela arrepende-se e apaga o 'tuíte' em que anunciava um almoço e convidava pessoas, sob sugestão e aval do afilhado, para mais um ágape socratólatra.

06.Jan.2015- Na companhia de Mário Lino, ex-ministro de José Sócrates, e de Carlos Martins, vice-presidente da Câmara da Covilhã, Edite Estrela cumpre a sua jornada na romaria a Évora. Mário Soares cumpriu por sete vezes... *

05.Mai.2018- «Edite Estrela» ocorre por oito vezes nesta história de dominação contada por duas Ritas.

20.Jul.2021-  Como conseguiu uma abécula destas chegar onde chegou? Edite Estrela não presta.
Parabéns, Ascenso Simões; parabéns, Jorge Lacão; parabéns, Sérgio Sousa Pinto; parabéns, Marcos Perestrello. 

18.Dez.2021 - «[...] Edite Estrela não tem quaisquer condições para ser eleita segunda figura do Estado português. [...]»
- João Miguel Tavares.
Concordo.

16.Jan.2022- Nem por não achar ponta de graça a este saloio deixo de comungar da sua rejeição de Edite Estrela.  

07.Fev.2022- «O problema é Edite Estrela»

08.Fev.2022- «[...] Edite Estrela foi madrinha de Sócrates no PS e na vida real. O seu marido fundou empresas com Sócrates nos anos 80. Passaram férias juntos. Foram unha com carne ao longo de 30 anos. Edite Estrela conhecia a sua vida política e pessoal de trás para a frente. Foi uma das vozes mais activas do PS a defender Sócrates após a sua detenção. E certo dia, quando as suspeitas e os indícios começaram a acumular-se muito para lá do razoável, calou-se sobre o tema Sócrates, como todos se calaram. [...]
Sócrates é hoje tratado como um ET caído das estrelas que assaltou o país de forma solitária e com um plano unipessoal. Espantoso, de facto. Só que esse silenciamento, essa suspensão da capacidade crítica, essa denegação das responsabilidades políticas, foi terrível para o país, e continua a ser terrível – como se vê pela ideia abstrusa de ter Edite Estrela como segunda figura do Estado, ou Pedro Silva Pereira, cuja esposa andou a receber dinheiro do universo de Carlos Santos Silva, como vice-presidente do Parlamento Europeu. [...]»
- João Miguel Tavares

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14.Mar.2021Rui do Nascimento Rabaça Vieira, marido de Edite Estrela.

Brasil, Dez.2006- Rui Vieira, o primeiro a contar da esquerda. Já agora e a despropósito, o segundo a contar da direita, entre Carlos Santos Silva e José Sócrates, Jaime Silva, sogro de Fernando Medina. Mundo, um penico.

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Manifestações públicas de ternura e cumplicidade derretem-me sempre a obtusidade córnea.
Vamos a elas:

02.Mai.2012
    - Depois da boa análise da Fernanda Câncio, desejo-lhes uma boa noite 😊
    - Beijos, Edite. Obrigada.
27.Mai.2012
    - Bom dia, Edite, está boa?
02.Jun.2012
    - Beijos, Edite. Aqui já se trabalha (eheh)
13.Jun.2012
    - Estou um bocadinho derreada pela noite de Sto. António. E a Edite?
24.Ago.2012
    - Boa noite, vou dormir. A temperatura baixou e a lua cresceu.
    - Boa noite, Edite, beijos.
26.Nov.2012
    - Estou óptima. E a Edite, muito trabalho?
11.Dez.2012
    - Olá, Edite. Gostava de saber a sua opinião sobre uma coisa. Pode ser?
    - Claro que sim. Quer tratar por email?
24.Dez.2012
    - Um feliz Natal para todos.
    - E para si, Edite. Beijos.
02.Jan.2013
    - Já jantaram?
    - Ahahahahahah. Muito bem, Edite.
22.Jan.2013
    - Que bom, Edite. Parabéns.
13.Fev.2013
    - Boa noite, Edite. Beijos e boa viagem.
09.Abr.2013
    - Edite, é ‘lembro-me que’ ou ‘lembro-me de que’? (Acabei de ver o anúncio de uma reportagem, ‘lembro-me que morri’) e fiquei na dúvida.
    - Lembro-me de que... Lembro-me de alguém ou de alguma coisa.
    - Bem me parecia que aquilo não estava bem. Obrigada.
10.Jul.2013
    - Vou dormir. Hoje já não há mais desenvolvimentos. Boa noite.
    - Beijos, Edite. Bons sonhos.
08.Set.2013
    - Muito bom, Fernanda.
    - Obrigada, querida Edite.
30.Set.2013
    - Boa noite, vou dormir e ter bons sonhos. Eheheh.
    - Boa noite, querida Edite. O Rui foi eleito?
    - Olá, Fernanda. Não ganhámos Foz Côa, mas ganhámos a junta de Cedovim, com uma mulher. Pela primeira vez.
    - Ah, que pena.
12.Out.2013
    - Obrigada, Edite, Beijo.
20.Abr.2014
    - Quem és tu e que fizeste com a Edite? Campeões. Campeões. Campeões. Somos campeões. Benfica!!!!!!!
15.Mai.2015
    - Ora, não tem de quê, Edite. Beijos.
    - É a perspectiva de muita gente. Mas muito bem escrito. O inigualável estilo da “Câncio” :)
20.Mar.2020
    - Durma bem, querida Edite.
05.Abr.2021
    - Obrigada, Edite. Beijo.
    - Outro, Fernanda.
19.Jun.2021
    - Muito obrigada, Edite. Mas ainda falta muito para acabar, certo?
06.Ago.2021
    - Que bom, Edite querida. saudades.💗
    - Imensas, Fernanda.

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Dos 14 Presidentes da Assembleia da República, desde 1976, começando por Vasco da Gama Fernandes — ambos assinávamos A Batalha —,  Eduardo Ferro Rodrigues foi o pior.

10.Fev.2022- «Ferro, solidário com Edite Estrela»
Um pesadelo caucionado por outro.
Qualquer coisa me diz, perdão, muitas coisas me dizem que a eventual indigitação de Edite Estrela para PAR comprometerá seriamente a posição de FR na minha tabela.

Agora, que tem Augusto Santos Silva confirmado no parlamento, menos ainda se perdoará a António Costa a afronta ao asseio da República se escolher para segunda figura dela uma videirinha rasca que parafraseia com o maior desplante um Fernando Pessoa inventado na candonga fajuta das citações apócrifas.**
Haja decoro, caralho!
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* A propósito de «Mário Soares cumpriu»,
- Não me digas, Amílcar..., não me diga, dona Teresa, que ainda não cumpriu hoje... Olhem que chamo o doutor Costa!
 
** Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível - Fernando Pessoa, céus?! 
Faça-nos, doutora Edite, a bondade de informar  quando e em que página escreveu Fernando Pessoa tão merdíflua coisa. Se não encontrar no arquivo, peça ajuda à «querida Fernanda», graduada em afectos e em repugnâncias [absolutamente repugnantes, proclama a jornalista isenta...], sumidade em citações fidedignas de Pessoa: Rodeia-te de rosas, ama, bebe, dança e cala...  E de Lenine.
A obtusidade córnea lá atrás aprendi-a aos 17 anos, tenho a certeza, com Eça de Queiroz, aqui.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Alá, em Chefchaouen; em Roma, Deus

Gosto da palavra 'purtroppo'. Não tanto do que significa. De etimologia caprichosa, soa-me lindíssima.

Todos os dias cai gente e morre gente em buracos. Tragédias multiplicadas.
Ao fim da tarde de terça-feira, 01.Fev.2022, um menino de 5 anos caiu num poço estreito e seco, e ficou entalado a 32 metros de fundura.
Este caso marroquino originou horas e horas de transmissão televisiva planetária, numa orgia de angústia interminável. Por cá, a CNN Portugal — mimese sofisticada e cosmopolita da CMTV — foi a que mais se alambazou no horror inane, mantendo-se em quase contínuo "directo ao vivo", com uma legião de analistas a acrescentarem nada ao insuportável nada, do início da tarde de sexta-feira, 05.Fev, às primeiras horas da noite de sábado, 05.Fev.2022. 

Sei disso porque também assisti; sei disso porque não sou menos curioso mórbido do que os demais; sei disso porque não faço uso profiláctico de botões que dizem "off"; sei disso porque sou reformado e tenho tempo. Sei disso, enfim, porque tenho uma "box".     

Quem, pelos vistos, também não resistiu a acompanhar e a aproveitar a obscenidade mediática foi Francisco, o Papa de Catarina Martins, que no domingo, 06, predicou, da janela habitual:
«[...] todo um povo se juntou para salvar o Rayan. O povo inteiro a trabalhar para salvar um menino. Deram tudo por tudo.* Infelizmente - purtroppo -, não conseguiram. [...]»

E Deus-Alá, omnipotente, misericordioso e justo..., quem salva, afinal? Quem ajuda? A quem acode?
Francisco, que lida com Ele de perto, talvez saiba.
Sim, teodiceia.

Com o devido respeito.
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* «Um povo inteiro a trabalhar para salvar um menino»? Tenha Vossa Santidade paciência, mas o que se viu foi uma amostra indisciplinada de povo ululante, talvez melhor, Alá-lante,  a dificultar o trabalho dos bombeiros, profissionais de saúde e agentes de protecção civil...

O orgulho de Luís Miguel Afonso Fernandes

«[...]
tenho muito orgulho em ter sido capitão desta enorme instituição.
[...]»

Que dizer de um sujeito que confunde «instituição» com um circunstancial grupo de rapazes vestidos de calções e chuteiras atrás de uma bola?
Enfim, apenas mais uma de tantíssimas outras: pessoas-instituição.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Francisco David Ferreira

No formigueiro das redes partilha-se o embaraço vivido pelo jornalista Francisco David Ferreira quando, às 14h46 de ontem,  prestando-se a conversar em directo acerca da pobreza energética em Portugal com João Fernandes, jurista da DECO*, se lhe depara no outro lado da mesa um investigador em Ciência Política na Universidade do Minho, atónito.
O momento teve graça. Também eu o trago aqui, no tamanho com que entendi filmá-lo, por não ter visto enfatizar o seguinte:
- Francisco David Ferreira, com inteligência rápida, calma e profissionalismo apreciáveis, dominou a situação, cotejando-a, num rasgo de felina oportunidade, com a antológica rábula protagonizada por Lídia Franco e Herman José, no papel de José Manuel Garcia Marques Severino, pasteleiro — Eu é mais bolos... — , no programa da RTP "Hermanias Especial", de 31.Dez.1991, na passagem de ano para 1992, numa altura em que FDF andaria de bibe;
- acompanhei toda a entrevista e em nenhum momento a realização identificou o verdadeiro entrevistado, fazendo-o constar, por exemplo, em rodapé ou num oráculo. Nem sequer o terá soprado pelo auricular ao pivô desamparado para que ele próprio pudesse interpelar Miguel Ângelo Rodrigues pelo seu nome.
Mal, CNN.

E pronto, era isto: omissão, preguiça e falta de brio, recorrentes nas aceleradas e impiedosas redes sociais salivantes, no que respeita a contextos e a nomes.

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* DECO - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, cujo embrião integrei com empenho e entusiasmo juvenil, em 1974. Desvinculei-me de associado e de subscritor da revista Proteste em 2008 por objecção de consciência
A DECO, lastimo dizê-lo, não tem nada, hoje em dia e desde que se congregou num colosso editorial belga de consumerismo, do espírito e dos valores que lhe nortearam o início. Transformou-se numa lubrificadíssima organização de escopo mercantil. A revista Proteste pede meças à Reader's Digest..., e não digo mais por falta de tempo. Oiça-se Mário Frota:
«[...]
como eternos impostores
perdidos na intelecção
de preceitos clareadores,
os egrégios defensores
dos dinheiros da nação
preterem os consumidores
de negação em negação

e ao denegarem os meios
às associações de valia
adensam-se os receios
de afronta à cidadania

associações de consumidores
autênticas, autónomas e genuínas
contam-se pelos dedos de uma só mão,
escassíssimas as com o símbolo das quinas, 
à cata do milhão

e sem quaisquer omissões
em ano não recuado
facturou 47 milhões
neste rincão do oeste
por grosso e atacado
a famigerada Proteste

e os tempos são de protesto
isso sim,
quando a inefável Proteste
nos invade a privacidade
'inda que por mal conteste
não se exime à indignidade

pelos dados pessoais
que usa a seu belo talante
mas também pelos tribunais,
e de modo acutilante
deixa claro dos propósitos
como empresa mercantil
soma lucros e depósitos
de modo nada subtil

conquanto se arvore em lenda 
com requebros impostores
exime-se à contenda
defrauda os consumidores

e quem se propõe intervir
em nome da dignidade
tem de todo de esgrimir
o gládio da probidade
e assim de modo impante
mas com laivos de orfandade
em pugna tão exaltante
[...]»

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Legislativas de 30.Jan.2022 - Resultado

Aviso
42 links.
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Portugal, domingo, 30.Jan.2022
11h00
Hábitos apalhaçados e cidadãmente pouco recomendáveis do arlequim.
Por falar nele, ou me engano muito ou, na nova conjuntura, Marcelo Rebelo de Sousa tenderá nos próximos quatro anos para uma espécie de corta-fitas, diferenciando-se do Cabeça de Abóbora em pouco mais do que no talento e no frenesim. Não acrescentei na natação por me lembrar de que o outro era almirante. Mas vendo bem, Marcelo é seguramente melhor nadador já que o outro, homem da Marinha, nem precisava de saber nadar. Afinal, para que servem os barcos?

19h54
Fico a saber que o biólogo sportinguista Vasco M. Barreto, por quem nutro antiga admiração e com quem tenho afinidades avulsas, desde logo na música, possui uma presumível cadela Olívia. Confessando certo e inesperado desapontamento, aposto em que nenhuma sua amiga próxima, parente até ao 4.º grau da linha recta ou 3.º da colateral, ou nenhuma pessoa que ele verdadeiramente estime, se chama Olívia. Olívia na minha terra é nome de mulher, por sinal, bem bonito.
Amigo dos animais tem as suas lérias...
Bem sei, sou um humanista radical. Vá, ria.   

20h00

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Resultado
22h10
Jerónimo de Sousa, titubeante, lendo: «O resultado obtido nas eleições de 30 de Janeiro de 2022 traduz uma queda eleitoral com significativa perda de deputados, incluindo a representação institucional do PEV. Um resultado que, ficando aquém do trabalho realizado e do notável contributo ..., representa um elemento negativo no plano da vida nacional.»
Caras trágicas do serão: Jerónimo e José, não eleito, inquilino de S. Bento desde a idade média.

22h30
Catarina Martins, sob jubiloso aplauso: «O resultado do Bloco de Esquerda é um mau resultado, é uma derrota, e neste partido encaramos as dificuldades tal como elas são. ... É por isso um dia difícil e um mau resultado com que saberemos viver ... Este é também um mau resultado por causa do resultado que teve a extrema-direita e o Chega, e devemos abordar isso também com clareza. É verdade que o Chega fica aquém do que teve André Ventura nas eleições presidenciais.*»
Catarina não aprendeu nada com o resultado radiante de Marisa Matias em 24.Jan.2021.
Na configuração anterior no hemiciclo, duas Mortáguas entre 19 BEatos ainda vá que não vá; a sororidade passava diluída. Doravante, com duas gémeas entre cinco BEatos, 40% da bancada, convenhamos que aquilo fica um bocado deprimente, consaguinidade excessiva. 
* Que desplante, que desonestidade, doutora Catarina Martins! Avalie bem as suas e as perdas de AV e, por favor, não compare o incomparável. Ou quer que volte às presidenciais de Marisa? Fixe-se nas legislativas, seja asseada.

23h15
Rui Rio: «Toda a gente que me conhece sabe que é importante isto que eu vou dizer. Nós ficámos com um resultado eleitoral substancialmente abaixo daquilo que pensávamos que íamos ter.»

Rente à meia noite
Rui Tavares, 'esquerda verde europeia no parlamento português', em abaritonado Lá bemol maior: «Bem unidos façamos esta luta final, uma terra sem amos, A Internacional!»
RT, insisto, não engana. Mais bem dito, engana e não é pouco. Vejamos:
Que credibilidade pode inspirar este doutor bem-falante, sabedor e muito articulado — como os devotos urbanos usam referir-se-lhe — se, até no próprio hino em que se lhe subsume a alma, troca o correcto «nesta» pelo disparatado e sem  sentido «esta»?...

00h35, 31.Jan.2022
Francisco Rodrigues dos Santos: «Sobre o resultado eleitoral desta noite, ele é mau em dois sentidos, é mau porque confirma o caminho do socialismo para Portugal»

01h00, 31.Jan.2022
Inês Sousa Real, metralhadora daquilo que é, sob aplauso estentóreo de 20 segundos: «Este resultado, que é um mau resultado não só para o PAN mas para a democracia ... a direcção terá que fazer a sua reflexão interna em relação àquilo que é a estratégia ... É um mau resultado que assumimos ... mas também é um resultado mau para a democracia.»

Conclusão do resultado
Pelo que se ouviu, ninguém teve pior do que um mau resultado.
Só posso admitir que os dicionários de Catarina Martins, Francisco Rodrigues dos Santos, Inês Sousa Real, Rui Rio e Jerónimo de Sousa foram adquiridos na mesma livraria. Em todos falta este superlativo absoluto sintético que, em o havendo e se o empregassem, com maior verdade teriam falado aos portugueses daquilo que todos os portugueses viram. E se calhar falta este substantivo e também falta este
Dêem-se ao respeito, bolas! As palavras contam.

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Não gosto da Iniciativa Liberal.
- ... do Iniciativa Liberal,  Plúvio.
Ai é? Não gosto na mesma. E decidam-se, foda-se: o ou a?

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Subvenção
Vá lá saber-se porquê, fala-se pouco dela. Por exemplo, e é só um exemplo que não traduz qualquer obsessão pessoal pelo sujeito — ai de mim! :) —, alguém acredita que o fervor de Rui Tavares em campanha fosse o mesmo sem o apetecível comburente da subvenção?
Sem prejuízo da comparticipação específica legal nas despesas de campanha, e de outros financiamentos, o partido que no conjunto dos círculos eleitorais tiver obtido um mínimo de 50.000 votos receberá anualmente uma subvenção de 2,95€ por cada voto, independentemente de eleger deputados, neste caso desde que a requeira ao Presidente da Assembleia da República. Assim, no total dos 4 anos da XV legislatura [2022-2026] a organização partidária contemplada sacará do Orçamento do Estado 11,80€ por cada voto
Ante os resultados nesta altura sabidos [magnífico 'site', diga-se, que o Plúvio não chove só vitupérios...], os mealheiros ficarão arredondada e aproximadamente assim:

PS- 26.550.000€
PPD-PSD- 17.700.000€
CHEGA- 4.555.000€
IL- 3.174.000€
BE- 2.832.000€
PCP- 2.797.000€
CDS-PP- 1.030.000€ 
PAN- 968.000€
LIVRE- 814.000€
É cacau e viva o pluralismo democrático! Muito mais caro nos ficaria se não vivêssemos nele.

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Meus pequenos desgostos
- não eleição de João Oliveira. Faz falta. Excelente operário parlamentar;
- eleição de Inês Sousa Real. Medíocre e medonha.

Meus pequenos contentamentos
- lição do país ao BE, seita de 'meninos de família', arrogantes, trotskistas disfarçados, perigosos. Discípulos de Boaventura Sousa Santos, o bonzo de Coimbra. Sempre prestaram para pouco. Nem uma aldeia de Portugal se lhes confia para a governar. O povo às vezes tem intuições acertadas;
- derrota de Rui Rio, um tiranete vingativo, pouco culto e mal educado, que estava a deixar os habituais inimigos do Ministério Público, com Pedro Marques Lopes a timoneiro, salivantes de esperança em que RR, uma vez primeiro-ministro, haveria de frenar de vez a sanha justiceira dos senhores procuradores da República; derrota deste PSD, uma confraria de lambe-botas de RR, toscos em geral;
- PCP ter ficado com um grupo parlamentar maior do que o do BE. Por mim, contribuí para que na minha freguesia ficasse em 3.º lugar, à frente do CHEGA, da IL e do BE;
- maioria absoluta do PS, por tornar dispensável o PAN e por reduzir o LIVRE a uma inutilidade redundante e balofa. Faço de Rui Tavares — e eu chame-me Deniz Costa se me anima alguma embirração particular por RT :) —, outro trotskista encoberto, em registo suave cosmopolita, que defende a independência da Catalunha e o Acordo Ortográfico de 1990, a ideia de um narcisista pesporrente eleito no Twitter e pelo eixo Lux Frágil-Bairro Alto-Campo de Ourique-Telheiras.

Espanto do dia
Nem pequeno desgosto nem pequeno contentamento; talvez Uma coisa em forma de assim, valendo-me de Alexandre O'Neill:
- 12 deputados do CHEGA.
Pelo menos garantem uma coisa à melancolia lusitana: circo em S. Bento. Sem a Joacine, o João Oliveira, a Cecília Meireles e o Ascenso Simões, aquilo vai precisar de animação.

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Cá vamos de pesadelo em pesadelo.

Foi assim.