quinta-feira, 17 de abril de 2014

José Alberto Carvalho, jornalismo de trampa

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não posso ocultar a perturbação que me invade quando vejo as imagens dos filhos de Manuel Forjaz a conversar sobre o seu falecido pai num programa da TVI, com José Alberto Carvalho. *
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quatro décadas passadas sobre a herança humanista do 25 de Abril, que aconteceu para que, não apenas estes dois jovens, mas muitos cidadãos, assumam a sua vida privada como um facto necessariamente "social"? E em "rede"? Seja como for, no contexto breve destas linhas, o que tento focar é outra dimensão do problema. A saber: que aconteceu no jornalismo - sobretudo no jornalismo do espaço televisivo - para que até a própria morte seja invadida pela banalidade filosófica que, todos os dias, sustenta e promove o imaginário da imprensa "cor-de-rosa"?
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Que faz que haja jornalistas como José Alberto Carvalho a renegar todos os dias a necessidade de respeitar a complexidade do real? Que faz que já quase não existam seres vivos na informação televisiva, mas apenas "símbolos" drasticamente redutores? No contexto da linguagem do pequeno ecrã, empurrar Manuel Forjaz para a condição de bandeira da "luta contra o cancro" é tão simplista como promover os concorrentes de A Casa dos Segredos a cruzados da "libertação sexual". 
[...]»
João Lopes, "A morte que está na televisão" | DN, 15.Abr.2014


Tirando a bazófia no cancro e a ostentação na morte**, Manuel Forjaz [13.Ago.1963-06.Abr.2014], pessoa de muita Fé, era – como se vê - um anjo. Imagino-o, na etérea hierarquia dos eleitos, de asinhas brancas a tocar harpa à direita do CEO do Céu. Mais dia menos dia, teremos reportagem. Na TVI, obviamente.
Não sei se sabe que o doutor Manuel Forjaz em Portugal, o ciiou da Ideiateca, é o detentor da marca Cliente-Mistério, entre outras coisas;  é um economista graduado pela Universidade Católica*** e o criador do TEDxOporto; é uma pessoa que financiou e construiu vários projectos de solidariedade social, entre eles os Pais Protectores, em Moçambique. - Rita Gonçalves da Rocha, advogada, SIC, 07.Nov.2012  
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O jornalismo contemporâneo atinge o paroxismo da epifania sórdida quando, ao minuto 29:13 e cuidando nós que nada sobrasse já para acrescentar à glorificação patética do defunto nas orelhas de três sofás, o director de informação da TVI revela ao país e ao mundo, de dedo espetado no espanto dos dois órfãos de lencinho: Uma última coisa, António e Zé Maria, algo que só soube ontem [O que vem a seguir é um algo obsceno, não trasladável para aqui.]

** É certo que as pernas de Carolina Deslandes  Don't stop Believing, minuto 01:10 — comovem qualquer pedregulho, mas temos muito que pedalar em Portugal até alcançarmos funerais com, por exemplo, esta estaleca [estastaleca, Plúvio?]. Nem com a igreja da Encarnação a abarrotar de empreendedorismo abonado presencialmente pelo ministro Pires de Lima, pinículo da Católica, aquilo quanto à música e à coreografia deixou de ter um ar aflitivamente pífio.
Deus sabe que, entre as coisas por que tenho maior respeito, só ponho a arte beleza antes da morte por determinação alfabética. Aliás, não fosse a morte, que valor teria o resto?

*** Persisto:

«Bobadela, tantos do tal

Reverendo padre Tolentino, lídimo poeta, prosador fecundo, sensível e decerto justa pessoa,

Venho interpelá-lo na sua qualidade de vice-reitor da excelentíssima Universidade Católica que tantas fornadas de altos-quadros tem posto a gerir,  a governar e a aconselhar Portugal e parte importante das suas instituições e empresas, para que, por favor, nos elucide, nos informe, nos diga que merda de orientação se inculca, se é que alguma, nas cabecinhas dos seus alunos, designada e principalmente dos cursos de Gestão, Economia e Direito, acerca das duas seguintes singelas coisas: escrúpulo e ganância.

Grato e com os cumprimentos da praxe,

Plúvio.»