«[…]
o voto tem actualmente, de maneira maioritária, o significado de uma rejeição,
de desaprovação dos que tinham sido eleitos antes, por decepção. No entanto, a
pergunta que se impõe com mais urgência, aquela que nos remete para a
necessidade de um pensamento que resgate o voto à pura mecânica de uma
democracia vazia, não é “votar em quem?”, mas “porquê votar?”.
[…]
Votar
já não é escolher, mas consentir: nada poderá sair das urnas que não seja uma
política das coisas. Chama-se “política das coisas” (segundo Jean-Claude Milner) à política que já nada decide e apenas admite, implicitamente, que tudo
passou a ser inevitável. O que os governantes propõem aos governados está
inscrito na ordem das coisas e estas decidem em lugar dos homens. Daí a ideia
de que as coisas falam e dão ordens. “Votar em quem?” significa, hoje,
prosseguir a política finita da força das coisas e não serve senão um regime
que ganhou a forma de uma metástase do comércio, da publicidade e da
comunicação instrumental.
[…]»