sexta-feira, 25 de abril de 2014

Votar

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o voto tem actualmente, de maneira maioritária, o significado de uma rejeição, de desaprovação dos que tinham sido eleitos antes, por decepção. No entanto, a pergunta que se impõe com mais urgência, aquela que nos remete para a necessidade de um pensamento que resgate o voto à pura mecânica de uma democracia vazia, não é “votar em quem?”, mas “porquê votar?”.
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Votar já não é escolher, mas consentir: nada poderá sair das urnas que não seja uma política das coisas. Chama-se “política das coisas” (segundo Jean-Claude Milner) à política que já nada decide e apenas admite, implicitamente, que tudo passou a ser inevitável. O que os governantes propõem aos governados está inscrito na ordem das coisas e estas decidem em lugar dos homens. Daí a ideia de que as coisas falam e dão ordens. “Votar em quem?” significa, hoje, prosseguir a política finita da força das coisas e não serve senão um regime que ganhou a forma de uma metástase do comércio, da publicidade e da comunicação instrumental.
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