O sesquicentenário Diário de Notícias [29.Dez.1864], referência nacional, terminou de modo inquietante o ano de 2016. Pôs a subdirectora Joana Petiz a pagar o almoço a
uma tal de Eunice, Maya por antonomásia:
«[…] Diz que não faz astrologia porque a considera "uma coisa muito mais vaga, enquanto o tarô dá respostas objectivas, pragmáticas, ou é ou não é; ou dá ou não dá". Mas sublinha que "não é uma ciência, é uma arte esotérica". E implica que haja alguma disposição para fazer "uma concessão àquilo que é material e imaterial", a reconhecer-lhe validade "ainda que não haja aqui um nexo causal". […]»
Sobre objectividade e pragmatismo estamos conversados.
O tricinquentenário Diário de Notícias começou estúpida, ofensiva e desgraçadamente o ano de 2017: enxotou Alberto Gonçalves que é, de quantos prosam no colunismo genérico dos media convencionais deste país, o melhor.
[E António Guerreiro, Plúvio?, e João Lopes?, e Ferreira Fernandes?, e António Lobo Antunes?, e Pedro Mexia?, e Paulo Tunhas?, e Pedro Santos Guerreiro?, e Viriato Soromenho Marques?, e Diogo Vaz Pinto?, e Henrique Monteiro?, e Vasco Pulido Valente?, e Ana Cristina Leonardo, Plúvio?, e Miguel Tamen?, e Ricardo Araújo Pereira?, e Miguel Sousa Tavares?, e Henrique Raposo?, e Miguel Esteves Cardoso?, e João Miguel Tavares?, e…?, e…? Pois sim, cada um deles o melhor.]
Ninguém escreve com tão esmerada gramática, ninguém escreve com tanto talento e graça, ninguém dispara ironia tão estupenda, ninguém retrata com tanto apuro e sarcasmo tão salutar a fauna sociopolítica. Aprecie-se, por exemplo, este primoroso
"Ensaio sobre a mudez", na Sábado de 05.Jan.2017.
No primeiro domingo, 01.Jan.2017, em que nos faltou
a ambrosia irreverente de Alberto Gonçalves [só por isso, o jornal deveria ter baixado dos 1,70 € mas não baixou], veja-se como Pedro Marques Lopes, pomposo e bacoco como é seu timbre, dava o mote mais parecendo voz do dono do que cronista avençado:
«[...] O fim do jornalismo como guardião da verdade, da busca dos factos, liberto das amarras do poder político ou económico** será o fim da democracia. Somos nós que temos de decidir que informação e que mediação.
[...]
Hoje, é o primeiro dia do resto da vida do Diário de Notícias. Mais do que os profissionais deste jornal que falharão e acertarão, mas que são gente com um compromisso com o verdadeiro jornalismo. É você, caro leitor, que decidirá o nosso futuro. Mas não se esqueça, estamos juntos neste caminho.»
Este apaniguado do PPD de Sá Carneiro, do Futebol Clube do Porto, do golfe e do Bica do Sapato,
pândego de ideologia compósita, propagandista
à outrance do «Estado de direito democrático liberal», tinha obrigação, com
o perfil escolar que ostenta***, de não tratar tão mal a língua portuguesa, que redige com deficiência aflitiva e fala em constante iminência de desgraça. Além de que se lhe exigiria, a avaliar pelos múltiplos poleiros donde perora, cultura minimamente convincente.
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Como escreve Pedro Marques Lopes
Atrapalha-se na concordância. Baralha-se na conjugação. Troca afirmativas por negativas. Escreve 'com' em vez de 'sem'. Não distingue 'porque' de 'por que'. Escapa-lhe a diferença entre 'senão' e 'se não'. Não percebe quando 'melhor' está mal no lugar de 'mais bem'.
Como fala Pedro Marques Lopes
«Eu acho que era necessário ter dado um ênfase muito maior a esse momento fundador.» — uma
O Eixo do Mal, 26.Abr.2015
«É como se houvessem bons só de um lado» — houvesse
O Eixo do Mal, 19.Jul.2015
«Em todos os discursos, tanto do Bloco de Esquerda como do PS, perspassa uma espécie de ameaça constante.» — perpassa
«Há seis meses não havia quem não prevesse um triste fim a esta solução» — previsse
«eu suspeito que … se houvessem mais referendos em muitos países provavelmente aconteceria a mesma coisa.» — houvesse
«o que eu digo é que a niglegência, a niglegência e a incompetência — eu não posso pôr o problema doutra maneira — nós temos de chamar às pessoas que estiveram no Banco de Portugal incompetentes» — negligência
Falou e disse o ultracompetente, licenciado pela Católica e mestre pela Nova, senhor doutor Pedro Marques Lopes.
«haviam indícios arrasadores …» — havia
«O que vem ao caso … alguém que está sobre investigação há 4 anos, teve preso quase um ano» - sob … esteve
Relembro:
Pedro Marques Lopes é licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa e tem o grau de "Master of Business Administration" da Universidade Nova de Lisboa.
Enfim, o comentador Pedro Marques Lopes não presta. O colunista Pedro Marques Lopes é uma fraude trauliteira.
Mas a direcção do DN não é burra por manter PML; nisso será tão-só pimba e relaxada. A direcção do DN foi olimpicamente asinina em ter prescindido de Alberto Gonçalves.
Há-de ter sido enorme a quantidade de tarecos e tralha que a empresa de logística teve de levar para a Tomás da Fonseca na
recente reinstalação do jornal.
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** É preciso não saber o que PML, pregoeiro de Carlos Cruz, paladino e testemunha de José Sócrates, acha da justiça — sempre a desacreditá-la e à generalidade dos seus agentes, sempre acagaçado com ela, «Eu tenho medo, eu tenho medo, fiquei com medo. Já tinha.», … “Da vergonha e do medo”, DN, 15.Fev.2015 — para levar a sério o seu apelo de agora ao jornalismo da verdade e da busca dos factos. Por favor, Pedro Marques Lopes, não nos faça rir.
«Eu não me lembro em nenhuma altura da minha vida e provavelmente na vida deste país [ena!] em que fosse tão importante desconfiar do que está a acontecer, de todos estes megaprocessos. … Eu tenho neste momento, neste tipo de processos, nas condições, na condução destes processos, eu fico completamente de pé atrás. … Eu tenho muitas dúvidas como tenho em relação a todos os processos, em relação a estes gigantescos processos, que metem guerras muitas vezes políticas internas e portanto eu vou esperar calmamente para saber se de facto estes senhores foram corruptos, se existe essa possibilidade de corrupção ou não. Pelo menos, por mim neste momento essas pessoas estão absolutamente inocentes.»
Para não falar da sanha com que arremete contra qualquer esboço legiferante do enriquecimento ilícito. A gente sabe: "inversão do ónus da prova", era o que faltava!
Como dizia quem? Dizia o quê? Quando? Onde?