domingo, 29 de abril de 2012

Vai morrer o meu amor.

[...]
As coisas acontecem sem acontecer o pensamento nelas.
[...]

Foda-se.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Em louvor da governação de José Sócrates

«[...]
Não temos de recorrer à ficção, nem temos de criar uma imagem ilusória da realidade portuguesa.
No domínio da Ciência, por exemplo, nas últimas duas décadas o número anual de diplomados aumentou quatro vezes e o número dos novos doutorados registou um dos maiores crescimentos da Europa. Cerca de metade dos doutoramentos ocorre em áreas de elevado potencial, das ciências exactas, da engenharia e da tecnologia.
Não se afirme que tal ocorreu porque impera nas nossas universidades uma maior facilidade do ensino. Portugal registou na última década a segunda maior taxa de crescimento da produção científica de todos os países da União Europeia, o que atesta o reconhecimento internacional dos nossos investigadores.
Portugal dispõe hoje de centros científicos e tecnológicos de nível internacional, em áreas de grande potencial de crescimento, como a nanotecnologia, as telecomunicações móveis e as ciências médicas. Em vários domínios, não estamos a colocar investigadores no estrangeiro; estamos, isso sim, a atrair cada vez mais talentos de outros países.
O investimento em Investigação e Desenvolvimento, em proporção do PIB, duplicou na última década, atingindo 1,7 por cento, valor que nos situa próximo da média da União Europeia.
O cartão pré-pago para telemóveis e o sistema automático de portagens, a Via Verde, inovações disseminadas mundialmente, tiveram origem em empresas portuguesas.
[...]
Recentemente, o fado foi designado Património Imaterial da Humanidade. Trata-se de um reconhecimento efectivo do valor da nossa contribuição para o progresso cultural dos povos.
Em muitos domínios, os portugueses são premiados internacionalmente. Dois dos nossos arquitectos foram galardoados com o Prémio Pritzker, considerado o Nobel da Arquitectura. Nas artes plásticas, na moda, nas indústrias criativas, o talento dos portugueses é admirado. A artista Joana Vasconcelos irá mostrar a sua obra no Palácio e nos Jardins de Versalhes, uma distinção rara que apenas é atribuída aos que já possuem um estatuto artístico e criativo de nível internacional. A par disso, vários dos comissários de artes plásticas portugueses ocupam altos cargos em alguns dos melhores museus do mundo, desde o Museu de Arte Moderna, de Nova Iorque, passando pelo Jeu de Paume, em Paris, ou proximamente, o Museu Rainha Sofia, em Madrid.
No cinema, há portugueses que se impõem: só para dar exemplos recentes, João Salaviza e Miguel Gomes foram distinguidos no Festival de Cinema de Berlim.
Este não é o Portugal de um passado imaginado, nem o Portugal de um futuro desejado. Estes exemplos da ciência e da cultura são o Portugal do presente. Mais ainda: estes são exemplos expressivos, mas não casos isolados.
[...]
Num outro plano, é importante que o mundo saiba que conseguimos criar uma relação exemplar com os oito países de expressão oficial portuguesa, actualmente reunidos numa organização própria, a CPLP.
Somos conhecidos, desde há muitos séculos, como construtores de pontes entre países e culturas, como artífices de consensos. Esta característica levou-nos, uma vez mais, a ser eleitos para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, desta feita para o biénio 2011-2012, vencendo a disputa com outros países de maior dimensão.
Vários portugueses desempenham actualmente funções internacionais de grande relevo, como é o caso do Presidente da Comissão Europeia, do Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados e do Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações e Enviado Especial para a Luta Contra a Tuberculose.
[...]
Não por acaso, chama-se "Tratado de Lisboa" o tratado que actualmente rege a União Europeia.
O prestígio de Portugal destaca-se ainda na competência e no profissionalismo demonstrados pelas nossas Forças Armadas e forças de segurança em missões de paz e humanitárias em países como o Afeganistão, o Kosovo, Timor-Leste, o Líbano ou o mar da Somália.
[...]
Actualmente, muitas empresas dos sectores tradicionais – têxteis, calçado, mobiliário, vinho – alcançaram, graças a um trabalho notável de inovação, uma nova projecção nos mercados internacionais.
[...]
A posição de Portugal surge igualmente destacada no domínio energético e ambientalmente sustentado. Somos o terceiro país da União com maior participação das energias renováveis no consumo de electricidade.
[...]
É este Portugal, o país que celebra a revolução de Abril, que temos de mostrar ao exterior.
[...]»

Faltou falar da nossa Daniela Ruah, do nosso Ronaldo ou das extraordinárias habilidades internacionais do nosso Duarte Lima, mas, caramba, nem tudo pode ser mérito do engenheiro Sócrates.

sábado, 21 de abril de 2012

Cuidados paliativos

Acabo de comer
uma
nêspera desesperada.
Acalmou.

Acordo Ortográfico [61]

«[…]
A situação presente resume-se a isto: Angola não ratificará nem aplicará o AO enquanto não houver alterações; Moçambique anunciou no ano passado que não está preparado para ratificar e aplicar o AO; nenhum dos países africanos que ratificou o AO fez qualquer esforço ou tomou qualquer medida para o aplicar; em Portugal (berço da língua portuguesa) e no Brasil impera o caos ortográfico-linguístico e usa-se uma mixórdia acordesa, enquanto no resto da CPLP se escreve PORTUGUÊS; no Brasil, considerado por gente pouco avisada como o “motor da lusofonia”, fala-se e escreve-se uma língua portuguesa cada vez mais distante do português euro-africano. Não há paralelo nem precedente na história de qualquer grande língua de cultura para esta situação difícil de qualificar.
[…]
Tendo, ademais, o AO sido declarado ortografia deficiente e carente de revisão, logo, provisória e já obsoleta, a sua aplicação no sistema de ensino e nas instituições do Estado português deve cessar imediatamente, como releva do mais elementar bom senso e com o aval e beneplácito unânimes da CPLP.»

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Pessoas banais em situações extraordinárias, pessoas extraordinárias em situações banais

«[…]
Há outro extraordinário romance de Tevis, publicado originalmente em 1983, que apesar de anos de ameaças e falsas partidas nunca foi adaptado ao cinema. (Bertolucci chegou a estar envolvivo, e, segundo consta, a última pessoa a adquirir os direitos terá sido Heath Ledger, que planeava a sua estreia como realizador). Queen"s Gambit - como o Murphy, de Beckett ou The Luzhin Defense, de Nabokov - inscreve-se numa reduzida mas honrosa linhagem de ficções "sobre" xadrez. Ao contrário delas, no entanto, a sua intenção não é usar o tabuleiro como ponto de partida para experiências formais, mas sim instrumentalizar as energias próprias da pulp fiction para tratar o jogo como um desporto. Tanto quanto sei, Queen"s Gambit é o único romance com descaramento suficiente para tentar, e conseguir, extrair tensão dramática da descrição de uma partida de xadrez.
[…]
O efeito de alienação produzido por uma inteligência agressivamente fora da escala não é um tema ficcional fácil, por motivos óbvios: é praticamente impossível um autor representar com plausibilidade, na página ou no ecrã, capacidades intelectuais superiores às suas, e dramatizar as desvantagens da mesma sem resvalar para a condescendência. Os esforços de J. D. Salinger para fazer algo semelhante com a família Glass produziram pouco mais do que uma colecção de fedelhos mimados.
[…]»

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Alberto Gonçalves com mais cabelo *

«[…]
Não sou de saudades, nostalgias ou, como agora se designa o apego pela tralha da infância, "retrofilias". Não mitifico o passado nem o revisito na tentativa de recuperar o que experimentei: regresso, sempre que necessário, para descobrir o que me escapou. Indiferença? Pelo contrário: consciência de que a vida, aquela vida, ficou lá para trás e, para o bem e para o mal, não volta. São luzinhas, instantes, vozes e pessoas que aos poucos respectivamente se apagam, dissipam, calam e partem. É verdade que o tempo não perdoa. Compete-nos sofrê-lo ou aceitá-lo. Eu escolhi a segunda opção. Acho.»
____________________
* ... e, já agora e no mesmo tempo [1975?], o muito bom do Pedro Santos Guerreiro, com menos.
Também acho que o que tem acontecido, e promete piorar, no Tribunal Constitucional é degradante e começa a ser repulsivo. Pedro Passos Coelho, António José Seguro, Paulo Portas, zero de respeito quanto a isso.

terça-feira, 17 de abril de 2012

O Diário de Notícias tem-me dado pena *

… e se há por lá profissionais excelentes.

Ontem de manhã, num tribunal norueguês, um celerado sanguinário branco de presumível direita inequivocamente branca  - ele há celerados  sanguinários de todas as cores, presunções e quadrantes - levou a mão direita espalmada ao lado esquerdo do peito e fechando-a em punho estendeu o braço sobreperpendicularmente ao tronco logo o descendo tudo isto em menos de segundo e meio sem vírgulas.
Todos sabemos que o gesto nazi não é aquele. Mimetizando a torrencial ejaculação precoce, ocorrida um pouco por todo o lado, do jornalismo leviano, incompetente ou ideologicamente inflamado, e alheio à discussão planetária travada na internet nas mais de 15 horas que precederam o fecho da edição em papel, o Diário de Notícias vem legendar a fotografia da manchete de hoje com a informação de que «Anders Behring Breivik entrou a sorrir e fez a saudação nazi».
Por estas e outras, o Público, que às 09:10 a.m. de ontem informava online que «ao entrar, Breivik esboçou um sorriso e saudou a audiência com um punho erguido», vai ficando cada vez melhor jornal do que o DN, online ou em papel. Oh Marcelino, Marcelino, não ponhas nisso tino!...  
_____________________ 
* E não é apenas pena  porque oferecem todas as quintas-feiras uma página à dra. Celeste Cardona, colunista inenarravelmente medíocre e baça.

João Lopes | Madonna

João Lopes - DN/Quociente de Inteligência, 14.Abr.2012

OK, tomem lá também o Galopim.

sábado, 14 de abril de 2012

Hilaridade

Prometemos mais galhofa, mais pilhéria e, até, hilariedade...
Deixe lá, irmão, acontece nas melhores famílias e prometo que não conto a ninguém.

PS
Quase apetece crer que o brevíssimo olhar que, aos 38 segundos, a mui formosa e ladina Inês Lopes Gonçalves dirige de soslaio ao orador acusa a mesma surpresa que senti ao ouvi-lo dizer hilariedade. É que o excelente Pedro Vieira não costuma falhar nestas coisas.   

Marcelo Rebelo de Sousa

«[…]
Não há melhor maneira de se precaver das coisas que disse se as tiver dito na condição de que apenas as diria. O professor, no fundo, não se compromete com nenhuma opinião. Ele nunca “diz” nada. Ele "diria" sempre alguma coisa.
[…]»

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Acordo Ortográfico [58] - Fernando Paulo Baptista

«[…]
Por que obscura porta se terá infiltrado a Coisa no meu computador? Poderá entrar igualmente pela minha consciência e pela minha vontade dentro, censurando a vermelho o que penso e o que quero como censura o que escrevo? Já pensei voltar a escrever à mão, mas temo que até esferográficas e lápis tenham já sido programados pelo dr. Casteleiro para não me deixarem escrever consoantes mudas.
[…]»
Manuel António Pina, “A conspiração ortográfica” | JN, 02.Abr.2012

--- x ---
«[…]
Tento retribuir [a crónica de Manuel António Pina], com a seguinte reflexão crítica* direccionada para a Base IV do atabalhoado Acordo «disortográfico», porque, baseado no critério da «pronunciabilidade» nem sequer chega a ser «um «acordo ortofónico», tal o chorrilho de disparates de toda a ordem: quem confunde «grafemas com fonemas», «modo oral» (falar e ouvir) com «modo escrito» (escrever e ler)… está tudo dito!… Também há «catedráticos» verdadeiramente analfabetos!!!…
[…]»
Fernando Paulo Baptista, “Texto para reflexão” | 04.Abr.2012 *
______________________
* Estas 15 páginas de eloquência e de sensatez, incluindo o texto inteiro de Manuel António Pina, que dotei de discretas facilidades de navegação, a malhar no despautério mala-caca-castelério são do melhor que li nos 25 anos, desde 1986, há que acompanho a diatribe ortográfica. Que sova, senhores ouvintes!
Despautério é doçura para falar de um crime estúpido e leviano – nem o argumento da necessidade ou o argumento da paixão sequer lhe servem ou o atenuam - contra a alma e contra a inteligência.
Vá, Nuno Crato, vá, Francisco José Viegas, não sejam conas de sabão; provem que são de tomates. Ainda estão a tempo de resgatar alguma decência da língua, para edificação da nossa miudagem que mal aqueceu os bancos da escola. E não vale a desculpa de que fica caro, que já se gastou muito dinheiro, que o Sócrates deixou o país hipotecado, que o Vítor Gaspar não deixa e o caralho da troika e da crise. Vá lá, sejam dignos. Minha pátria muito lhes agradecerá.  
E viva o senhor professor Fernando Paulo Baptista!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Os evangelistas dr.Louçã e dr. Zorrinho

«[…] o dr. Louçã não é o primeiro catedrático de Economia que ganha a vida a passar atestados de inimputabilidade às vítimas de conspirações imaginárias. É apenas o primeiro político português a perceber que, quando as sondagens daqui não inspiram revoluções, há que carregar o evangelho do caos para onde o caos parece plausível. […]»
- “O indomável Francisco contra o novo reich

_____

«[…] Se dificilmente as recomendações do dr. Zorrinho em Gestão da Felicidade* ajudariam a melhorar a nossa situação, o livro propriamente dito possui a capacidade de nos alegrar ou, na pior das hipóteses, de nos poupar a uma depressão maior do que a actual: basta não o ler. Prevenidos, é isso que faremos.»
- “Um livro indispensável

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* ... quando temos uma grande narrativa ... - Carlos Zorrinho, ontem [minuto 3:55]
Fatal como o destino.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Acordo Ortográfico [57]

«[…]
no papel de encarregada de educação, não posso anuir a que a aprendizagem da minha filha seja perturbada pelo autodenominado "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)" (que passarei a referir por "AO90"), o qual não é "acordo", pois conta com a oposição quase unânime dos especialistas em língua portuguesa e da esmagadora maioria dos falantes-escreventes de Português de Portugal, tendo resultado de uma antidemocrática e antipatriótica sucessão de atropelos ao bom senso e à Lei, e o qual não é "ortográfico", pois contradiz em si mesmo a própria noção normativa de "ortografia" ao consagrar facultatividades e excepções como regras numa compilação pejada de incongruências e ambiguidades, e cuja aplicação, caso fosse desejável (não o é), caso fosse legal (não o é), se torna em tantos casos impossível, na ausência de um Vocabulário Ortográfico Comum (pressuposto, no próprio AO90, para sua aplicação, e sem o qual as ferramentas informáticas que visem aplicar o AO90 estarão a violar disposições nele contidas).
[…]
Uma língua "expurgada” de etimologia, de cultura(s) - e o Português é a riqueza da diversidade cultural de tantos países e regiões do Mundo! -, de passado(s) histórico(s), não tem futuro. Mudada por conveniências e circunstâncias, mesmo admitindo a duvidosa e impraticável intenção de torná-la um "Esperanto lusófono", a língua portuguesa passaria a ser artefacto de comunicação sem valor. Existiria sem "ser", tal como o Esperanto: língua sem cultura, sem vitalidade nem substância.
[…]
Assistindo-se já habitualmente a um uso deficiente do Português por parte de políticos e de jornalistas cada vez mais impreparados, registou-se neste processo um "salto qualitativo" para ainda pior, e é possível agora ouvir-se na boca de jornalistas uma pronúncia "modernaça" de certas palavras (como "contato"!), é possível assistir-se ao "primado do vestuário” na pena do legislador, em pleno Diário da República (com expressões do tipo "razões de fato e de direito", "fatos ilícitos" ou "união de fato"!), entre outros fenómenos rocambolescos quotidianos supervenientes a uma "choldra ortográfica" sem precedentes porque exponenciada pela ignorância que adveio da mísera qualidade do ensino em Portugal nas últimas décadas.
[…]»

--- x ---

«[…] Portugal assentou oficialmente na necessidade de revisão do AO. E isso deveria levar à suspensão dele, por não fazer sentido que, enquanto tais acções de revisão e correcção estiverem em curso, se aplique entre nós o que, além de não estar em vigor, ainda não se sabe se vai ser aplicado, nem quando, nem onde, nem em que termos; nem se, afinal, é para todos, ou para ninguém.»

terça-feira, 10 de abril de 2012

Os dois desastres de avião no Expresso 2058

Por mais que insista, e ele insiste,
[Expresso, 14.Nov.2009: «19 de Novembro de 1977, O voo 425 - Era uma noite de sexta-feira, invernosa e negra …»
Expresso, edição 2058, 06.Abr.2012: «Tragédia no Funchal -Na noite de 19 de Novembro de 1977, uma sexta-feira de chuva e vento fortes …»],
Rui Ochôa dificilmente impedirá que a edição 264 do Expresso, que comprei vai para 35 anos num quiosque de Campolide, tenha deixado de ser publicada, como só excepcionalmente não é, ao sábado. Foi o caso de 19 de Novembro de 1977, sábado chuvoso no Funchal e em Lisboa, em que a TAP, a melhor companhia aérea do mundo, haveria de sofrer o até agora, nos 67 anos que leva a voar, único acidente com perda de vidas [ia a dizer «com mortes» mas apeteceu-me um eufemismo e agora um circunlóquio].

Já o outro desastre, de 04.Dez.1980, designa-o Rui Ochôa, como é uso e preceito dos beatos e órfãos de Francisco de Sá Carneiro em geral, incluindo os cristãos-novos,  ainda assim, no caso de RO, com alguma contenção deontológica, por O mistério de Camarateque, claro, … continua por resolver. E possivelmente assim ficará para sempre. Fosse, por exemplo, o azougado Ricardo Sá Fernandes – ele que garante que a acusação ao seu mais famoso constituinte, condenado e recondenado por sucessivos, probos e competentes magistrados, assenta numa fantasia – a titular a peça, “O atentado de Camarate” seria mais do que certo.

Misteriosos mistérios da mente que fazem acreditar, a uns, que o despenhamento de um avião confiável só pode ter sido um acidente e, aos mesmos, que o despenhamento desta avioneta podre só pode ter sido um atentado...
Não fosse a prescrição dos factos, nada me espantaria ver por aí o ilustre e facundo causídico, com procuração forense de algum familiar ou herdeiro de vítima no desastre do Funchal, a demandar judicialmente, se não a pista do aeroporto por doloso acanhamento, pelo menos a chuva e o vento por má-fé deliberada e contumaz. Talento e arte a espadeirar contra a fantasia parece não faltarem ao doutor Ricardo Sá Fernandes.
     
Aqui deixo, a propósito, emprestadas pelo Vinícius de Moraes e pelos Azeitonas, duas lembrançazinhas para o Rui Ochôa. Conto que goste.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Cobrição

Todas decerto emp(r)enhando.

domingo, 8 de abril de 2012

8 de Abril de 1929

Jacques Brel

Páscoa - não creio.

Enchente na sé, vazio na minha fé.
Nem por isso mais feliz.
Fica aqui a minha viva simpatia, admiração e agradecimento ao padre Anselmo Borges pela ajuda.

Noticiário dos fogos

«[...]
Eis-nos, portanto, perante o duelo entre a estética do momento e o dever de informar. A imagem que vale por mil palavras, o instantâneo assombro das labaredas, fala, fala, fala - mas não dá a notícia. Esta está no arvoredo destruído, no chão calcinado, na vida carbonizada. A notícia do incêndio não é o fogo - é o carvão.
[...]

"Coriolano"

«[…]
A última tragédia de Shakespeare exibe talvez a melhor colecção de insultos elitistas e anti-populistas em qualquer obra literária, uma proeza que o filme se esforçou por honrar. Além de se queixar constantemente do aspecto, odor e hábitos higiénicos da populaça, Coriolano descreve os seus protestos como um "coçar da miserável comichão da vossa opinião, que assim vos transforma em crostas"; dirige-se-lhes a dada altura com o magnífico "Seus... fragmentos"; e, ao testemunhar mais uma vez a sua vulnerabilidade a manipulações demagógicas, desabafa "vocês... os que têm de sentir antes de conseguirem pensar".
[…]»
Rogério Casanova, “O Super-dragão contra os fragmentos”, sobre o filme “Coriolano”, adaptado da obra homónima de Shakespeare | Público/Ípsilon, 06.Abr.2012

sábado, 7 de abril de 2012

O político cronista e comentador

«Surgiu e prosperou em Portugal uma categoria que não existe em nenhum outro país: a do político que tem coluna de opinião nos jornais e assento como comentador na televisão. Este prodígio de ubiquidade, naturalizado pelo hábito, está ao serviço da hipertrofia da opinião - essa "magia negra", como dizia Kraus - e da política dos 'protagonistas' (palavra fatal) que prescindiu das ideias. O político cronista e comentador segue um protocolo de denegação da sua incompatibilidade […]»

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Longa vida aos governos e aos governadores civis de Portugal!

Como previsto, o Marcelino veio pedir, perdão, apresentar* desculpas.
E com este singelo tributo à pequena indigência que grassa no DN - contratem revisores informados, caramba! -, cesso aqui o meu direito ao contraditório.
______________________
*

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O João Marcelino é imputável? É.

- Resolução do Conselho de Ministros n.º 13/2011, de 30 de Junho - Exonera os governadores civis, cometendo aos secretários dos governos civis a responsabilidade de assegurar as actuais funções até à sua redistribuição por outras entidades da administração central e da administração local.
- Decreto-Lei n.º 97/2011, de 20 de Setembro - Transfere a competência da concessão do passaporte comum dos governos civis para o director nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
- Lei Orgânica n.º 1/2011, de de 30 de Novembro - Transfere competências dos governos civis e dos governadores civis para outras entidades da Administração Pública em matérias de reserva de competência legislativa da Assembleia da República.
- Decreto-Lei n.º 114/2011, de 30 de Novembro - Transfere competências dos governos civis e dos governadores civis para outras entidades da Administração Pública, liquida o património dos governos civis e define o regime legal aplicável aos respectivos funcionários.

Posto o que, numa "parte integrante do Diário de Notícias" de hoje, "Poder Local - Quem é Quem", e com o verbo 'ser' invariavelmente conjugado no presente do indicativo, o João Marcelino vem dar-nos a saber algumas — as principais, presume-se — defuntas competências dos governos civis bem como os nomes e contactos dos seus, exonerados há nove meses, 18 titulares.

Em 31.Mar.2011, as competências e os senhores governadores eram exactamente os mesmos, salvo num pormenor histórico: o retrato do País era outro e outros os poderes.

Este descomunal disparate de edição, perpetrado pelo cópi-peiste [não confundir com o ciclista] da incompetência, quem sabe se bem remunerada, configura no mínimo uma qualificada traição, no máximo sabotagem, ao irrefragável fascínio que Pedro Passos Coelho exerce no Diário de Notícias, disso, no entanto, como aliás em quase tudo, sendo mais competente para discorrer o José Pacheco Pereira. E não venha o Marcelino com merdas, que por lamentável lapso de que apresentamos desculpas..., não sei quê não sei que mais, para citar Miguel Esteves Cardoso; o culpado é ele e aposto em como logo pela manhã o governo, com diligentes assessorias recrutadas no DN, telefonou para o jornal.

Judiciosos considerandos sobre a blogosfera

«[…]
O que melhor revela o que são os blogues é a sua dependência dos comentários. Um blogue fechado a comentários deixa, automaticamente, de ser considerado um verdadeiro blogue. E é na alquimia do post e dos comentários que ele desencadeia que imediatamente se percebem as principais características da blogosfera, e as razões do seu sucesso: um novo tipo de anonimato, uma nova modalidade de privacidade e uma nova forma de poder.
O anonimato é, como sempre foi na história, estruturalmente ambíguo: tanto pode servir grandes causas como as maiores vilanias. Infelizmente, a dimensão da difamação na blogosfera indica claramente que é nestas últimas que se encontra a tendência dominante, ao ponto de já existirem seguros para todas as eventualidades (veja-se o esclarecedor serviço proposto em SwissLife e-reputation).
[…]»
Manuel Maria Carrilho, “Tudo viral| DN, 05.Abr.2012

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Miguel Esteves Cardoso | Pedro Mexia

Entrevista integral no Expresso/Revista de 24.Mar.2012

Miguel Esteves Cardoso:
[…]
Essa ideia de que a cultura é uma coisa de esquerda é uma das ideias mais perniciosas que há. A música dos Joy Divison é conservadora, triste, fúnebre. Se formos ver a política dos escritores, não há nenhum que seja realmente bom da cabeça, são extremistas. O Comarc McCarthy, por exemplo, tem políticas muito conservadoras. O número de escritores conservadores que não dizem que o são é gigante, o William Burroughs, a Patricia Higsmith, quase fascista…
[…]
Há ficção de quem escreve e transpõe para o papel coisas que aconteceram e há ficção totalmente imaginada. Só a imaginada é que é legítima. É uma terrível batota falar-se de coisas que aconteceram, a maior parte dos escritores faz isso, mas é batota.
[…]
Se pudesse voltar atrás e dizer quais são os tempos que preferia nunca ter gasto, para ter de volta, é tudo o que escrevi sobre política actual. […] Tudo o que se escreva sobre política actual é tempo perdido.

[…]

Pedro Mexia- O "Público" não aderiu ao Acordo Ortográfico; se aderisse, pedia para porem lá aquela notinha no fim, de objecção de consciência?
Miguel Esteves Cardoso- Pedia para escrever na ortografia antiga. Se me deixassem, escrevia; se não me deixassem, não me ia embora.
PM- Mas é uma questão importante?
MEC- É importantíssima. Sobretudo quando mais ninguém quer aderir, é uma coisa de meia dúzia de pessoas, e está a tornar-se um embaraço. Podíamos fingir que não aconteceu.
PM- Talvez se o ministro dos Negócios Estrangeiros recuasse…
MEC- Desiludia-me muito se não o fizesse. Ele [Paulo Portas] era completamente contra o Acordo Ortográfico, agora tem de ser coerente.

Facebook

«[…]
Se entendo a utilidade daquilo, e se calhar não entendo, o Facebook serve para:
1) coleccionar "amigos" que não conhecemos ou de que nos esquecemos há muito por óptimas razões;
2) mostrar aos "amigos" interessantíssimos projectos próprios, retratos dos filhos/cônjuges/cães ou, em desespero de causa, coisas giras encontradas no YouTube;
3) esperar que os "amigos" aplaudam os nossos desabafos;
4) demonstrar entusiasmo idêntico pelos desabafos dos "amigos";
5) nos casos irrecuperáveis, convocar manifestações, vigílias, protestos e acções colectivas em geral em volta dos mais alucinados assuntos.
A única acção colectiva a que me submeto é jantar fora, por acaso com amigos de carne e osso.
[…]»

Alberto Gonçalves acha que

Alberto Gonçalves acha que Portugal precisa de um PS.
Continuo, apesar disso, a achar Alberto Gonçalves uma das pessoas mais ajuizadas deste país, entre as que acham coisas em público.

O PS vai *

«[…] Estamos, sobretudo, a subverter o próprio conceito de identidade, e obrigados a desfazer-nos da narrativa** que nos diferenciou.
O PS, por seu turno, ainda não encontrou o enquadramento ideológico que forneça ao debate público um interesse sobrelevante de questões insignificantes. Seguro entrou na questiúncula provocada pelo Marcelo, que teceu, na TVI, uma teia reticular de intriga, tão ao seu gosto e estilo. E o secretário-geral socialista, em vez de resolver o berbicacho com um displicente: "Não comento o que dizem os comentadores", embrenhou-se em explicações desnecessárias. Logo o Marcelo ameaçou responder, no próximo domingo.
Que interesse tem isto para as pessoas?»

--- x ---  
«[…]
o dr. Seguro precisa de um milagre, os saudosistas do eng. Sócrates precisam de uma esperança, nós precisamos de paciência e o País precisa de um PS com juízo [não esquecerei tão cedo o que o Alberto Gonçalves acaba de dizer que o País precisa], por oposição a um bando de histéricos cuja abstinência aguda de poder os convenceu de que as causas da crise são o remédio da crise. Caso contrário, espera-nos o destino dos alienígenas de que descendemos.»

--- x ---

«António José Seguro está reduzido a uma espécie de Mário Castrim: como não consegue lutar contra o programa da troika, dedica-se a lutar contra um programa de televisão.»
No editorial da Sábado de hoje.
--- x ---

Votar como tenho, em quase todos os sufrágios desde 1975, votado no Partido Socialista [os outros, mas sobretudo o PPD/PSD, o BE, o CDS/PP e o PCP são muito piores] não me inibe de ver que, por exemplo, o Tozé Seguro é uma coisa tão má que nem pesadelo chega a ser; que o Carlos Zorrinho não presta ou que a diáfana tagarela, perdão, tagarêla, Maria de Belém Roseira não presta, perdão, prêsta. E assim sucessivamente.

Quanto ao Marcelo Rebelo de Sousa, diria que continua o rico e jorrante palhaço talentoso de sempre, em moto perpétuo, invariavelmente próximo da invertebrabilidade e do seu quase contrário.
Mas, lá está, nada nos próximos séculos podendo vir a ser pior do que o Cavaco, não hesitaria na cruzinha se tivesse de votar no pândego professor Marcelo para evitar o funesto dr. da Silva.
_______________________
* Ia para pôr “O PS vai seguro e não formoso” quando me ocorreu a alta eventualidade de que outros tivessem já glosado, por hipérbato, o clássico e célebre mote. De modos que googlei – o Google é um motor de prudência –, encontrando 6 ocorrências de vai seguro e não formoso, ainda assim bem menos do que seria de esperar. Três delas aludem ao soturno Tozé:
- em 05.Out.2009, uma tal bulimunda em comentário no blogue “A Educação do meu Umbigo”;
- em 17.Jul.2011, Alberto Gonçalves, voilà!, intitulando "Vai Seguro e não formoso" um naco da sua sumarenta prosa dominical no DN;
- em 09.Nov.2011, José António Abreu comentando comentários no “Delito de opinião”.

** Não que Baptista-Bastos não escreva bem, amiúde muito bem, e até que não diga, como na presente lauda, coisas assisadas; mas, por amor da santa, narrativa?
Ainda hoje o Nuno Azinheira, Vitórias e esperanças”, ibidem, «[…] Ao fim de duas semanas de exibição, Ídolos mantém as características que fizeram dele um grande programa de televisão. Do ponto devista técnico, é irrepreensível: muitíssimo bem montado, segue uma narrativa bem construída […]»

Atrelam o pensamento ao psitacismo gárrulo da preguiça e depois querem que os levemos a sério. Porra que é demais! Não se importam de mudar um bocadinho a narrativa do discurso? Só para desenjoar.

Suicídio, modo de usar *

Ontologia a abrir a manhã, na praça Syntagma?
Nada a que os atenienses não devessem estar mais habituados do que os estudantes doutras praças.
«Um septuagenário disparou sobre si próprio em pleno centro de Atenas, à hora de ponta, provocando um vaga de emoção nos transeuntes, indicou a polícia.
O homem que se alvejou na cabeça na praça Syntagma, próxima do Parlamento, teria 77 anos e a sua morte foi imediata.
O macabro acto sucedeu pouco antes das 09.00 da manhã, quando os atenienses convergem para os seus empregos e se prepara a abertura das lojas.
Segundo algumas testemunhas oculares**, o idoso terá gritado que agia assim para não deixar dívidas aos filhos, uma tese*** que a polícia não confirmou oficialmente.[…]»

Também gosto muito da do velhote que, há uns 35 anos, mais minuto menos minuto, no átrio do instituto de medicina legal de Paris, respondeu ao que ia:
- Venho entregar o meu corpo à ciência.
Acto contínuo, abafando e sobrepondo-se ao «Hã?!» do porteiro atónito, tudo isto em francês, desfechou um tiro sabedor e eficaz na têmpora direita.
É altamente remota a probabilidade de que fosse canhoto.
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* Li, faz mais de 20 anos. Garanto que se sobrevive; no mínimo, 20 anos.
** Fico a congeminar sobre testemunhas não oculares.
*** A hipótese, quiçá frenológica, de que os polícias gregos têm mais queda para a filosofia do que os outros não se afigura nada negligenciável.