sexta-feira, 13 de abril de 2012

Acordo Ortográfico [58] - Fernando Paulo Baptista

«[…]
Por que obscura porta se terá infiltrado a Coisa no meu computador? Poderá entrar igualmente pela minha consciência e pela minha vontade dentro, censurando a vermelho o que penso e o que quero como censura o que escrevo? Já pensei voltar a escrever à mão, mas temo que até esferográficas e lápis tenham já sido programados pelo dr. Casteleiro para não me deixarem escrever consoantes mudas.
[…]»
Manuel António Pina, “A conspiração ortográfica” | JN, 02.Abr.2012

--- x ---
«[…]
Tento retribuir [a crónica de Manuel António Pina], com a seguinte reflexão crítica* direccionada para a Base IV do atabalhoado Acordo «disortográfico», porque, baseado no critério da «pronunciabilidade» nem sequer chega a ser «um «acordo ortofónico», tal o chorrilho de disparates de toda a ordem: quem confunde «grafemas com fonemas», «modo oral» (falar e ouvir) com «modo escrito» (escrever e ler)… está tudo dito!… Também há «catedráticos» verdadeiramente analfabetos!!!…
[…]»
Fernando Paulo Baptista, “Texto para reflexão” | 04.Abr.2012 *
______________________
* Estas 15 páginas de eloquência e de sensatez, incluindo o texto inteiro de Manuel António Pina, que dotei de discretas facilidades de navegação, a malhar no despautério mala-caca-castelério são do melhor que li nos 25 anos, desde 1986, há que acompanho a diatribe ortográfica. Que sova, senhores ouvintes!
Despautério é doçura para falar de um crime estúpido e leviano – nem o argumento da necessidade ou o argumento da paixão sequer lhe servem ou o atenuam - contra a alma e contra a inteligência.
Vá, Nuno Crato, vá, Francisco José Viegas, não sejam conas de sabão; provem que são de tomates. Ainda estão a tempo de resgatar alguma decência da língua, para edificação da nossa miudagem que mal aqueceu os bancos da escola. E não vale a desculpa de que fica caro, que já se gastou muito dinheiro, que o Sócrates deixou o país hipotecado, que o Vítor Gaspar não deixa e o caralho da troika e da crise. Vá lá, sejam dignos. Minha pátria muito lhes agradecerá.  
E viva o senhor professor Fernando Paulo Baptista!