domingo, 23 de agosto de 2020

Yamandu Costa

Tem um canal no Youtube.
Canal, não; um oceano de dádiva e maravilhamento. Em que por horas sem fim pairo, flutuo, imirjo e me reergo.

Vive em Lisboa com a mulher, Elodie Bouny — aprecie-se como ela toca —, e os dois filhos, Benício e Horácio, desde Janeiro de 2020. Honra e privilégio nossos. Os deuses os abençoem por cá.
Por que espera o arlequim para uma nota de regozijo patriótico no sítio da presidência?
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* Aprendi há muitos, muitos anos com Andrés Segovia que a boa madeira para guitarra até na árvore soa...

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Recapitulando

mui brevíssima história do tempo antes e depois de cristo, depois de almoço de arroz carolino, feijão catarino e atum tenório, antes do café*

alguém sabe como foi o princípio e como era no começo? eu também não.
de maneiras que umas pliocenas depois do big bang — advirto que só estou autorizado a contar a partir do ponto em que o stephen hawking não alcançava, excluindo portanto a kic 8462852  —, aquilo onde tocava o duke ellington e esses todos — big band, plúvio! —, vem o homem sapiente e aí distinguia-se fêmea de macho, lá em cima e cá em baixo, forte era mais forte do que fraco e fraco mais fraco do que forte e bonito menos feio do que feio e preto era menos claro do que branco e vice-versa reciprocamente e ao invés, de tal modo que o escravo mandava muito menos do que mandavam nele; vêm o moisés e o Maomé, a mulher estava proibida de ter alma e carta de condução, acaba-se a escravatura, vem o avião — ainda não? — ok, vem a bossa-nova — ainda não? porra — então, vem a pílula, a mulher começa a dar a comunhão na missa, que é uma pouca vergonha, entretanto o adol fodeu judiaria e ciganagem, as pessoas cá se continuaram entredevorando, algumas com fome, pobrezinhas, o padre borga gravou uns discos, o mantorras escreveu um livro, os americanos persistiam em matar e morrer que se fartavam, os japoneses também deram neles, o zé dos bigodes idem aspas — o átila não é dessa altura? — ah ok, era o pol pot, não contando cataclismos naturais tipo sismos, vulcões, tsunamis, mao tsé tunga neles, aluimentos, ciclones, covides e colaterais, o que nos vale é a greta, a thunberg e o buraco propriamente dito**vê lá se arrumas essa linha do tempo e não te esqueças da parte em que saem de cena os dinossauros e entram os camafeus da páscoa mal encarados e mudos como penedos —; quem, os moai? sim, que os das pirâmides eram mais especialidade do arqui medes quanto? o tamanho conta?; mas esses não são para aqui chamados, além de que não se lhes conhecem queixas; agora dizem que aquilo de stonehenge era cemitério, e há monstro no lago ou não?, ah pois claro, e o yeti, o et, o bob proctor*** e o gustavo santos... o profeta até que foi um tipo porreiro, várias gajas para um homem, tareia nelas que o seguro morreu de velho; até que vieram a doutora fernanda câncio, que aditivou o engenheiro sócrates para a legislação fracturante, e a esgrouviada da isabel moreira — disseste esgrouviada? —, sim, esgrouviada, muito antes de o joão telmo ensinar que «nós escolhemos o sexo que queremos ser», ainda não havia joacine e pan não passava de onomatopeia,

porquê «orientação sexual» se todo o sexo é desorientação? 

e encaixaram na lei e na normalidade a igualdade das diferenças e escolhas livres tipo homem com homem no código civil adopção plena sucessão e tudo sem esquecer mulher com mulher no código civil co-adopção plena e irrestrita sucessão e tudo, que o direito à indignação e à diferença entre iguais, perdão, à igualdade na diferença, dizia eu que o direito a isso tudo é uma coisa muito linda, mormente quando estão em causa o interesse do povo em geral e o superior interesse da criança em particular e até se constou que esta problemática já estava claramente enunciada nos princípios mais elementares da patafísica, que estuda a identidade dos contrários, e a nossa sorte por enquanto é as e os lgbtqi+  e o be não terem ainda conseguido usurpar a ordem jurídica inteira incluindo as regras de trânsito na rua da constituição. — e que mal teria?, pergunto. — talvez pouco, respondo, e admito que tudo seria pior se a humanidade não tivesse entretanto inventado o palito, o corta-unhas, a borracha e o papel tissue, mas acho igualmente que não fica bem brincar com certos e determinados assuntos.
enfim, isto é apenas a história da civilização, que é quase-nada. o resto, que é quase-tudo, a começar pela descoberta do dinheiro, do acorde de sétima diminuta e da compreensão inteligível dos factos, sem esquecer o papel da doutora joana mortágua na felicidade da engrenagem porque ela é fufa e o mundo ela vai mudar, o resto, dizia, é a história do absurdo, se não o próprio absurdo. 
- e cafezinho, vai desejar? 
- não, obrigadinho. pode trazer a continha.
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* homenagem a todas e a todos as que e os que — se o ridículo matasse... — arrematam tudo em minúsculas. vi-me porém forçado a abrir uma excepção [as excepções costumam abrir-se] naquele M do profeta e sei que não é necessário um link para fatwa; os meus cerca de oito leitores são cultos, assim fosse eu.

** sai um homem do buraco e passa o resto da vida a tentar de todas as maneiras reentrar nele...

*** nas imediações da proctologia, que trata do olho do cu e logradouros.

prometo, na próxima, não falar tanto de sexo.

se calhar deus existe. quase três minutos de feitiço.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Surto de psitacismo na SIC com mortes a lamentar

Em notícias de mortes costuma-se dizer, sem qualquer declinação sentimental do jornalista, o que me parece bem,
Naufrágio com três mortes... Sete mortos na explosão... Um morto em combate... Nove mortos no tiroteio...  Vinte e cinco mortos no descarrilamento...  Três mil mortos de gripe... Várias mortes com causas desconhecidas... Outras tantas por falência múltipla de órgãos..., etc.,
já que, como informou Jorge de Sena, directamente de Itália em 01.Abr.1961, «de morte natural nunca ninguém morreu».
Era assim até à vinda da pandemia, governava há quatro anos e meio a propaganda mais assanhada de que na democracia há memória, rebocada pelo brâmane do tempo novo.
Sucede que a retórica do ministério determinou que todas as mortes por covid-19 fossem institucional e invariavelmente lamentadas, e a moléstia pegou-se de tal maneira que nem os pivôs da SIC escaparam, desatando todos a lamentá-las também.

Amostra fresca. 
Governo do PS
Jamília Madeira, secretária de Estado Adjunta e da Saúde- Infelizmente, cabe-nos também lamentar a perda de mais uma vida [ela diz pèrda*] para esta doença...**  05.Ago.2020
António Sales, secretário de Estado da Saúde, que começa sempre pelo canónico peçonhento «Boa tarde a todas e a todos»- Temos ainda um total de 1746 óbitos que muito lamentamos.**  07.Ago.2020
António Sales, secretário de Estado da Saúde [mudou de gravata]- Temos ainda um acumulado de 1759 óbitos que muito lamentamos.**  10.Ago.2020
Veremos como amanhã irá falar Marta Temido, ministra [Em tempo]: Adicionalmente, importa referir que se verificaram três óbitos que se lamentam.**  12.Ago.2020

SIC do Balsemão
Ana Patrícia Carvalho- No entanto, há a lamentar mais uma vítima mortal...  05.Ago.2020
Miguel Ribeiro- Há, como disse, a lamentar quatro mortes...  08.Ago.2020
Ana Freitas- A lamentar, mortes há duas, hoje...  11.Ago.2020
Ana Freitas, não fosse termo-nos esquecido- E há, então, mais duas mortes a lamentar.  11.Ago.2020
Rosa Oliveira Pinto- Há também a lamentar duas vítimas mortais.  11.Ago.2020
Rodrigo Guedes de Carvalho- Há a lamentar mais duas mortes...  11.Ago.2020

Por que estranha e selectiva discriminação não se lamentam na SIC as mortes de todas as etiologias?
Ridículos.
Jornalismo servil, mimético, lamentável.
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**  Importa referir adicionalmente que o senhor secretário de Estado é o único que lamenta «muito». A Jamília e a própria Marta apenas lamentam, assim se comprovando — sempre desconfiei disso — que os homens são muito mais sensíveis do que as mulheres.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Com a ajuda de Deus

Rezo para que com a ajuda de Deus...
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Mãe- Só quero ir-me embora para um lugar em que não haja política, armas e religião.

Não sei imaginar que coisas mais horríveis aconteceriam — que seria de nós e do mundo? — sem a permanente ajuda de Deus e a obstinada persistência do Papa a pedir-Lha*.
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* Francisco reza pelo Líbano
Francisco reza pelo fim da pandemia
Francisco reza pelo Sudão do Sul
Francisco reza pelo Congo
Francisco reza pela Nigéria
Francisco reza pela Síria 
Francisco reza pelo Brasil
Francisco reza pela Nicarágua
Francisco reza pelo México
Francisco reza por Michael Schumacher 
Francisco reza pelo fim dos incêndios na Amazónia
Francisco reza pelos que sofrem com os incêndios na Austrália
Francisco reza pelas vítimas do incêndio de Pedrógão Grande
Francisco reza pelas vítimas dos incêndios na Grécia
Francisco reza pela catedral de Notre Dame ardida
Francisco reza pelas vítimas das inundações na Índia
Francisco reza pelas vítimas das inundações na Austrália
Francisco reza pelas vítimas das inundações no Irão
Francisco reza pelas vítimas do desabamento da ponte em Génova
Francisco reza pelas vítimas do terramoto em Zagreb
Francisco reza pelas vítimas do terramoto no México
Francisco reza pelas vítimas do terramoto na Itália
Francisco reza pelas vítimas do avião abatido no Sinai
Francisco reza pelas vítimas da queda do avião da Chapecoense
Francisco reza pelas vítimas da queda do avião no Egipto
Francisco reza pelas vítimas da queda do avião no Cazaquistão
Francisco reza pelas vítimas da queda do avião da Malaysian Airlines
Francisco reza pelas vítimas dos atentados na Nova Zelândia
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Mogadíscio
Francisco reza pelas vítimas do atentado ao Charlie Hebdo
Francisco reza pelas vítimas dos atentados de Paris
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Copenhaga
Francisco reza pelas vítimas do atentado de San Bernardino
Francisco reza pelas vítimas do atentado de Charleston
Francisco reza pelas vítimas dos atentados em Ancara
Francisco reza pelas vítimas do atentado de Berlim
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Nice
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Istambul
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Uagadugu
Francisco reza pelas vítimas dos atentados no Cairo
Francisco reza pelas vítimas dos atentados de Londres 
Francisco reza pelas vítimas dos atentados de Bruxelas
Francisco reza pelas vítimas dos atentados em Jacarta
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Orlando
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Cabul
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Teerão
Francisco reza pelas vítimas do atentado no Quebec
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Manchester
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Nova Iorque
Francisco reza pelas vítimas do atentado em São Petersburgo
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Estrasburgo
Francisco reza pelas vítimas do atentado em Christchurch
Francisco reza pelas vítimas do atentado no Sri Lanka
Francisco reza pelas vítimas dos atentados em Darfur
Etc., que estou sem fôlego.

Isto do papa o tempo todo a rezar pelas vítimas de merdas de que nem o Sócrates, o Salgado, o Berardo e o Rui Pinto juntos conseguiriam ter culpa já cansa e chateia um bocadinho. Porque não vai ele, em vez de rezar tanto, ralhar à séria com o Barbudo Caprichoso, Criador do zingarelho cósmico, Omnipotente, Omnisciente, Ubíquo e infinitamente Bom, e pedir-Lhe satisfações? Ele, Francisco, que é tu cá tu lá com Ele; chamá-Lo à razão, admoestá-Lo, aplicar-Lhe uns calduços, sei lá.

Perdoe-me ainda, leitor paciente, por repristinar o Plúvio de 2015:
«[...] compungida compunção pungente do costume com que o papa Francisco — que com siderante bondade [eufemismo de miopia comovedora?] não consegue achar violência no Alcorão* — virá à sua varanda de Roma pedir mais umas atençõezinhas a Deus, Nosso Senhor, Todo-Poderoso, Justo, Providencial e Infinitamente Bom, o mesmo Deus abraâmico sob cuja invocação com outras alcunhas, mais propriamente Alá-cunhas, se vai intensificando a matança ante a bovinidade atenciosa de um Ocidente bem-educado, compreensivo, multicultural e inclusor. [...]»

* Papa Francisco, 24.Nov.2013: «[…] Frente a episódios de fundamentalismo violento que nos preocupam, o afecto pelos verdadeiros crentes do Islão deve levar-nos a evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro Islão e uma interpretação adequada do Alcorão opõem-se a toda a violência. […]»
Exortação apostólica "Evangelii gaudium" ["A alegria do Evangelho"] 

domingo, 9 de agosto de 2020

José Jorge* / Júlio José**

José Jorge Letria, acerca de Luís Filipe Costa [18.Mar.1936-21.Jul.2020]: «[...] Era sereno, exigente e sem vaidade. Nunca ninguém o ouviu dizer que descobriu pessoas e as lançou, porque não quis fazer da qualidade dos outros a sua coroa de glória. [...]»
 
Céu Neves, jornalista, conversa com Júlio Isidro, comunicador.
CN- Há alguém a quem não dirija a palavra?
JI- Para ser muito sincero, há só uma pessoa a quem não falo e jamais falarei, e falei muito. Foi um dos meus melhores amigos.
CN- Claro que não vai dizer o nome.
JI- Não.
...
CN- Gostaria que me explicasse algumas expressões suas. «Ouver».***
JI- Porque os meus programas são para ser vistos e ouvidos.

- Afinal, Plúvio, que insinuais?
- Nada. Ocorreu-me tão-só que Júlio Isidro, que não sei se continua amigo de JJL, é quem mais costuma gabar-se, como nesta entrevista ao DN, de ter descoberto e lançado gente para a ribalta. 
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*** «Ouver», de Júlio Isidro?
Não afianço que tenha sido José Duarte, do jazz, a cunhar a pertinente e engraçada aglutinação, mas que lha ouvi — ouvi e vi — séculos antes de ao Júlio Isidro, ai isso ouvi.
Com o abono, à mão de um guglanço sumário, de Nuno PachecoFrancisco Sena Santos ou Ricardo António Alves, atrevo-me a dizer que a expressão pertence a José Duarte.

Bernard-Henri Lévy

«[...] Este príncipe da moralina, nem de esquerda nem de direita, é sobretudo conhecido pelas suas camisas — sempre de cor branca, sempre de botões abertos na parte superior, e com colarinhos cheios de requinte. [...]»

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«[...] Quando a fauna autóctone de oráculos freelance dispostos a ser periodicamente consultados sobre os Assuntos não chega para responder às necessidades, e é necessário recorrer à importação, Bernard-Henri Lévy continua a ser a melhor escolha possível. Um intermediário atarefado entre o mundo das ideias e o mundo da acção, Lévy percorre incessantemente o planeta à procura de coisas que possam simbolizar outras coisas, de preferência após a sua intervenção directa.
[...]
Se há algum Assunto a exigir comentário, Lévy aparece de rompante, em menos tempo do que aquele que é preciso para abotoar correctamente uma camisa. Nada neste mundo consegue intrometer-se no espaço precioso entre os Assuntos e a opinião de BHL - excepto alguns microfones e câmaras de televisão.
[...]»

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Necessidades básicas em Beirute

Hélder Silva- Deixe-me perguntar-lhe. Produtos para necessidades básicas, neste momento, há em Beirute? Falo de alimentos, água potável, medicamentos*... Ou faltam?
Rita Dieb- Para ser sincera, Hélder, [...] penso que não há nenhuma família libanesa que não tenha tentado fazer um mini-aprovisionamento de alimentos e medicamentos*...
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