quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Rodrigo Leão

Encontro finalmente alguma coisa do Rodrigo Leão que não me descomove tanto: os desenhos. [Expresso/Atual, 26.Nov.2011]
Com efeito - juro que repassei ao acaso 15 faixas de música do RL antes de vir debitar esta injúria ao consenso nacional culto -, a atmosfera Rodrigo Leão continua a não me convencer. Aquilo, no que toca ao tocável e ao cantável, é mesmo, para mim, muito pobrezinho, redundante e redutor. Raramente se nos depara uma linha melódica de garra, de duende, de inesperado arrebatamento criador. Não se pode é dizer que o circunspecto RL não tem sabido vender a sua entediante plangência: aura mística, aparato em palco, muita corda séria e concertina sentimental; andamentos básicos, sempre os mesmos, sempre quase o mesmo no mesmo tom, capazes de atrair o mais arreigado fã do Tony Carreira até que se dê conta de que a liturgia do Leão é para sensibilidades de outra finura. Enfim, a música do Rodrigo Leão não me soa muito longe da estética menino da lágrima, com a diferença de que tudo à volta do Rodrigo Leão parece sofrer de prisão de ventre e o menino da lágrima, sofrendo igualmente, não tem nada ar de obra por fazer.
Meu rico Piazzolla, meu espevitante John Cage!
E, claro, o amigo Pedro Ayres Magalhães é outra loiça, em muito, muito melhor.

O fado, a crise, a greve


Nota do Plúvio
Neste blogue, os textos de autoria alheia não vinculam desnecessariamente quem deles discorda.
Continuo no entanto certo de que sempre que ponho aqui alguma coisa de autoria alheia cresce exponencialmente a probabilidade de isto não piorar.

Já agora, têm-me pedido que, para facilitar, embuta aqui as imagens e os clips.
Tenham paciência, mas não sou de televisor na retrete nem uso telefonia na despensa.

Obsessão fiscal - Fisco, confisco

Bagão Félix, esta manhã, na Antena 1:
«A pressão fiscal atingiu tais níveis, na minha opinião, que já entrámos no domínio quase fiscalmente totalitário de confisco.
[…]  
Lamento dizer isto, sou apoiante deste governo, mas de facto alguma coisa está mal e esta obsessão fiscal está a transformar-se num raciocínio quase totalizante se não mesmo totalitário.»
Se ele o diz, oiça-se-o.
- se tivesse de escolher um deles para governação do mundo, votaria, Deus me perdoe, no doutor Bagão Félix;
- para administrador do meu condomínio, sem hesitar, Octávio Teixeira;
- a doutora Ana Gomes daria com certeza uma excelente promotora de quermesses;
- ao doutor Luís Filipe Menezes ficaria a matar o alto comissariado permanente para a glorificação perene do doutor Alberto João Jardim;
- o doutor Miguel Portas, não votaria nele para nada que é, de resto, para que serve o seu Bloco de Esquerda.
Opinado o que, está uma bela tarde de Outono enquanto o mundo entristece e o José Cid ainda se aguenta nos agudos altos numa idade daquelas.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tops

«Uma prática muito comum, que consiste em falsificar os tops dos livros mais vendidos, explica-se pelo efeito performativo que tem a publicação dessas listas: aparecer no top potencia o número de vendas, segundo um mecanismo tautológico que nos garante que tudo o que é bom aparece e tudo o que aparece é bom.»

domingo, 27 de novembro de 2011

Cuidado

com o que atinges o orgasmo. Podes magoá-lo.

Salvaguarda do discernimento

E se o risco de tumor cerebral vier mesmo a provar-se?
Não vá o diabo tecê-las, passei a andar com o telemóvel o mais afastado possível dos testículos.

Enerva-me ouvir e ver mal ditos e mal escritos os nomes das pessoas

De uma vez por todas:
- Judite Sousa [sem de]
- Marinho e Pinto [com e]
- José Tolentino Mendonça [sem de]
- Aung San Suu Kyi [com as letras todas]

Foda-se, senhores jornalistas, custa muito?

Não aconselhável a cavalheiros:


Recomendável a todos os géneros:
A pessoa mais bonita do mundo

Parabéns, senhor Ferreira Fernandes.

Essa do "arroz maninho" por rosmaninho é uma delícia.
Mas e não é que há mesmo arroz Maninho?*
____________________________________

Liberdade, coisa não tutelável

O doutor Francisco José Viegas, Secretário de Estado da Cultura, diz assim, não nessa qualidade, sobre “MACEDO – Uma biografia da infâmia”, que o doutor António Mega Ferreira, Presidente do Conselho de Administração do Centro Cultural de Belém*, escreveu, não nessa qualidade:
«O retrato é brilhante, servido pelo talento de um narrador inteligente e felino, generoso, tolerante, compreensivo diante da amoralidade, da ambição e da cólera do frade. Ler ‘Macedo. Uma Biografia da Infâmia’ é participar de uma narrativa monumental: a que nos devolve um talento raro e tão sinuoso quanto inaceitável à luz dos preconceitos dos modernos. António Mega Ferreira tenta compreendê-lo, deixando-nos sem respostas a preto e branco, mas indicando a luz desse talento incontornável e vulcânico. Uma obra-prima da biografia.»
Ainda bem.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Greve, risco ou luxo?

Tenho para mim que o direito e a liberdade de fazer uma greve não são menos importantes e respeitáveis do que o direito e a liberdade de a não fazer.

Miguel Portas, do Bloco de Esquerda - que, juntamente com o Partido Comunista, pôs no poder o ranço desalmado do PSD e do CDS -, esta manhã:
«Nunca ficaremos a saber quantas pessoas é que foram trabalhar querendo fazer greve mas que tiveram que ir trabalhar ou por medo ou porque estão em situação precária e não se podem dar ao risco ou ao luxo de fazer a greve, e ao mesmo tempo também não sabemos quantas pessoas é que não foram trabalhar pura e simplesmente porque os transportes públicos não funcionaram.»
Faltou ao messiânico Miguel Portas – e não são de presumir esquecimento ou falta de tempo – o asseio de mencionar, pelo menos, mais duas não desprezíveis categorias de pessoas:
- as que foram trabalhar porque quiseram;
- as que não foram trabalhar, contando para a estatística da adesão, intimidadas pelo colega com uma braçadeira a dizer «piquete» e com um olhar a dizer «filho da puta!» a quem não se deixa intimidar pelo fascismo sindical.
Sim, camarada doutor Carvalho da Silva, sim, companheiro engenheiro João Proença, fascismo sindical.
Isto de falarmos com emblemas [do Vaticano, do Benfica, da Maçonaria, da Marcha de Alfama, do Fado, do Sócrates, do Senhor do Adeus ou mesmo da Indignação] espetados na laringe resulta sempre um bocadinho limitador. Não tanto do direito, mais da liberdade.

Apetecia-me escrever um texto* em que associasse os sintagmas nominais «livre-pensador» e «ouvinte atento». Foi no que deu.

_____ 
* Como explica o camarada Jerónimo de Sousa no muito bem guiado pelo Daniel Oliveira, e a espaços comovente, “Alta definição” de sábado passado, “texto” é como a tlebs pós-moderna chama àquilo que no nosso tempo, em que tínhamos rádio na telefonia e televisão no televisor, se chamava “redacção”.

Citações do camarada Jerónimo de Sousa:  
O nosso destino era a fábrica.
Ao longo da minha infância, muitas vezes professores que pela primeira vez me viram fazer um texto - na altura chamava-se redacção...
A derrota não me desanima; as vitórias não me descansam.
Eu tinha nascido com cinco quilos e quatrocentas**.
“O homem e a necessidade do estudo” – 11 valores!
Aqueles primeiros anos de Abril em que tudo parecia bonito.
O Jerónimo não é velhaco, é um pouco alto.

E finalmente but not least et pour cause:
Eu sabia o que era fazer greve e como é que se fazia.

** Mas isso perdoa-se ao camarada Jerónimo que, como se via obrigado a esclarecer nos passos perdidos da Constituinte, em 1975, não é doutor nem engenheiro.

Para que conste

A lei fundamental portuguesa regista uma única ocorrência de amor.
Parece-me pouco. Talvez por isso o país esteja como está.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

- Sim, estou, podes falar.

- A Joana matou-se esta manhã.
- Estupidez; pode ser que se arrependa.

"Manoel de Oliveira é um cinematógrafo"

«Responsabilizar as agências de rating sem perceber o que significam é uma proeza difícil e uma rematada confissão de culpa, a culpa de sermos assim. Embora ninguém me convença de que Leonardo DiCaprio, John Qualquer Coisa e Picasso estão inocentes na matéria.»

Gramártica

Gramo-te é pouco; eu amo-te, pá.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Peregrinatio ad loca infecta*

«O actor faz questão de dizer que admira “as capacidades eróticas do corpo humano”. Sente grande fascínio pelos gestos, movimentos, expressões, sorrisos, pelas minúcias e estratégias do corpo. Mas admite que não aprecia o acto do coito, essa viagem a sítios “escuros”, “húmidos” e “fétidos”.
[…]
Stephen Fry foi celibatário entre 1982 e 1996. Depois, passou-lhe.»

Pepino, alho-porro, dívida e culpa



«A caracterização que Enzensberger faz do “doce monstro de Bruxelas” tem algo de rabelaisiano.
[…]
Eis como ele descreve o caso célebre dos pepinos: “O regulamento 1677/88 prescrevia que estes cucurbitáceos, para serem comercializados na categoria ‘extra’, não deviam apresentar uma curva que excedesse uma altura máxima do arco: 10 mm para 10 cm de comprimento do pepino.”. Ao fim de 20 anos, a Comissão anulou este regulamento, mas manteve-se aquele que prescreve que os “alhos franceses devem apresentar uma coloração entre o branco e o branco esverdeado em pelo menos um terço do comprimento total ou metade da parte envolvida. No entanto, relativamente aos alhos franceses tenros, a parte branca ou branca esverdeada deve ter pelo menos um quarto do comprimento total ou um terço da parte envolvida.
- “O Rapto da Europa (Versão em 3D)”
---
«A linguagem é o primeiro instrumento de todas as trocas, e muitos conflitos e desacordos têm origem em problemas de linguagem.
[…]
é conveniente saber que em Alemão a palavra que traduz a nossa “dívida” é a mesma que diz a nossa “culpa”: “Schuld” tem ambos os significados. As consequências desta determinação linguística para a economia são enormes, como podemos hoje avaliar.»
- “Ao pé da letra”

domingo, 20 de novembro de 2011

O futuro está cada vez mais perto,

precatemo-nos.
«Efemérides de 20 de Novembro
[…]
1970 Um jornalista do Diário de Lisboa escreve, na edição de 20 de Novembro de 1964 * deste vespertino, que aquele leitor que aprecia ligar o gravador de som, ao chegar a casa, depois de um dia de trabalho, deliciando-se com o seu concerto preferido, poderia começar a preparar-se para, dentro de alguns anos, não só ouvir os executantes da peça mas também vê-los no seu televisor e termina afirmando que o futuro está cada vez mais perto.
[…]»
DN, 20.Nov.2011, juro.


* Em tempo.
Fui vasculhar o arquivo do doutor Mário Soares e encontrei: Diário de Lisboa de 20.Nov.1970, página 13 - o futuro estava de facto cada vez mais perto.
Em 20.Nov.1964 tinha 11 anos e lembro-me muito bem de que o futuro estava ainda longe c'mó caraças.

O Duque é um evento psitacídeo

- O grupo de trabalho defende que o canal de serviço público deve ter noticiários curtos, resumidos, cingidos aos factos, sem análise e "dimensão subjectiva". É isso?
Responde o inenarrável Professor Doutor João Duque:
- Sim. Quanto mais se reduzir o facto ao relato do evento, menos subjectivo se torna e menos potencialmente susceptível de ser contaminado.

Repito: reduzir o facto ao relato do evento.

Talento e estilo

«O talento, de qualquer maneira, é sempre, e por definição, exibicionista;
[…]
Na não-ficção de cariz político, em particular, a exibição de um “estilo” é muitas vezes interpretada como uma indesculpável falta de tacto – como arrotar durante a missa.
[…]
nenhum estilo no mundo é uma licença para abdicar do discernimento e besuntar de poesia qualquer conveniente fuga à realidade.
[…]
Quando um estilo pessoal foi sendo consolidado por vigilância fanática contra o lugar-comum, é natural que essa vigilância acabe por infiltrar o processo de raciocínio. *
[…]
Não há melhor “estilo” do que aquele que nos ensina pacientemente a identificar as suas delinquências ocasionais.»

* Contra mim cito.

Só para dizer à doutora Joana, "Docente Universitária", que entorse


«Por cá, o entorse à democracia começou com um compromisso assinado por três partidos, a aplicar no dia seguinte e independentemente dos resultados das urnas.»

Deixa-me falar

Eu não sou um tagarela, ouviste? Eu não sou um tagarela. Vais ter de me ouvir um bocadinho, que eu não sou um tagarela, ouviste? Não sou um tagarela. Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Ouve-me, porra, deixa-me falar só um bocadinho, escuta as minhas razões. Eu não sou um tagarela, ouves-me? Onde foste buscar isso de eu ser um tagarela? Não sou um tagarela, não sou um tagarela, eu não sou um tagarela, porra. Escuta-me, por favor. Deixa-me falar. Eu não sou um tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Eu não sou um tagarela. Vais ter de me ouvir um bocadinho, que eu não sou um tagarela, ouviste? Não sou um tagarela. Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Ouve-me, porra, deixa-me falar só um bocadinho, escuta as minhas razões. Eu não sou um tagarela, ouves-me? Onde foste buscar isso de eu ser um tagarela? Não sou um tagarela, não sou um tagarela, eu não sou um tagarela, porra. Escuta-me, por favor. Deixa-me falar. Eu não sou um tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Eu não sou um tagarela. Vais ter de me ouvir um bocadinho, que eu não sou um tagarela, ouviste? Não sou um tagarela. Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Ouve-me, porra, deixa-me falar só um bocadinho, escuta as minhas razões. Eu não sou um tagarela, ouves-me? Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Onde foste buscar isso de eu ser um tagarela? Não sou um tagarela, não sou um tagarela, eu não sou um tagarela, porra. Escuta-me, por favor. Deixa-me falar. Eu não sou um tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Eu não sou um tagarela. Vais ter de me ouvir um bocadinho, que eu não sou um tagarela, ouviste? Não sou um tagarela. Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Ouve-me, porra, deixa-me falar só um bocadinho, escuta as minhas razões. Eu não sou um tagarela, ouves-me? Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Onde foste buscar isso de eu ser um tagarela? Não sou um tagarela, não sou um tagarela, eu não sou um tagarela, porra. Escuta-me, por favor. Deixa-me falar. Eu não sou um tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Eu não sou um tagarela. Vais ter de me ouvir um bocadinho, que eu não sou um tagarela, ouviste? Não sou um tagarela. Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Ouve-me, porra, deixa-me falar só um bocadinho, escuta as minhas razões. Eu não sou um tagarela, ouves-me? Onde foste buscar isso de eu ser um tagarela? Não sou um tagarela, não sou um tagarela, eu não sou um tagarela, porra. Escuta-me, por favor. Deixa-me falar. Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Eu não sou um tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Eu não sou um tagarela. Vais ter de me ouvir um bocadinho, que eu não sou um tagarela, ouviste? Não sou um tagarela. Deixa-me falar, porra. 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Deixa-me falar. Eu não sou um tagarela. Eu não sou um tagarela, ouviste? Eu não sou um tagarela. Vais ter de me ouvir um bocadinho, que eu não sou um tagarela, ouviste? Não sou um tagarela. Deixa-me falar, porra. Passas a vida a acusar-me de ser um tagarela, mas eu não sou um tagarela. Ouve-me, por favor, eu não sou um tagarela. Onde foste buscar essa cretinice de eu ser um tagarela? Ouve-me, porra, eu não sou um tagarela. Não sou um tagarela, ouviste? Porra, ouve-me só um bocadinho, importas-te? Estou farto de que me chames tagarela.  Eu não sou um tagarela, ouviste? Ouve-me, porra, deixa-me falar só um bocadinho, escuta as minhas razões. Eu não sou um tagarela, ouves-me? Onde foste buscar isso de eu ser um tagarela? Não sou um tagarela, não sou um tagarela, eu não sou um tagarela, porra. Escuta-me, por favor. Deixa-me falar. Eu não sou um tagarela. Escuta-me, por favor. Empresta-me o corta-unhas.

sábado, 19 de novembro de 2011

Premir a alavanca da válvula

é pura lascívia, alucinação de ser
é frémito de vulva, picha sédula
desejo e amor, ai isso é que é
ai é, ó se é,
fogo-cardo sem se ver!

E não é que

'menos letras' tem mais uma letra do que 'mais letras'?

- És a melhor pessoa que algum dia conheci.

- Dizes-me isso porque nunca andaste nos comboios de Bombaim.

Quem nos demolha?

Nas últimas horas, muitos dos meus amáveis e etéreos leitores fizeram escoar para o algeroz desta locanda uma inúmera quantidade de e-mails – cerca de dois, para ser mais preciso – a reclamar e a imprecar-me por causa da exagerada, nunca vista desde que há registos, ou seja, desde Génesis, 6-12, pluviosidade que tudo anda a alagar por aí.
Como se, lá porque me chamo Plúvio e isto Chove, tivesse culpa dos caprichos e do mau feitio do
Manda-Chuva. Vamos que o tipo adormeceu com as barbas - consta que longuíssimas, caprichosíssimas e inescrutabilíssimas - de molho?
Mandem-lhe sms; pode ser que acorde, se não tiver posto a traquitana no silêncio. Sim, que traquinas e travesso como é, Ele é capaz de tudo. Isto, admitindo que exista. Se não existir, a culpa é igualmente dEle.

No continuado, intenso e abrasivo sobernal

em que, cada vez mais, se vai transformando esta breve passagem pelo planeta, há que aproveitar bem, para espairecer e um pouco de ar fresco, o precioso e irrepetível bocadinho que vai da câmara ardente ao forno crematório.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A ferocidade amena de Jacques Tati e o néon

«A mim, o néon lembra-me sempre Jacques Tati, que tem alguns gags formidáveis com sinais luminosos; é como se não resistíssemos à força magnética dos sinais, que se tornam signos, que nos dizem o que fazer, e como fazer, é a publicidade a falar directamente com o nosso cérebro, mas não apenas a publicidade, também a indústria, a burocracia, a hierarquia, a domesticidade. Tati brincou com tudo isso, com ferocidade amena.»

Em tempo
«o Pedro Mexia escreve no Expresso uma página inteirinha de palavras wiki? Aqui há tempos, a propósito do néon, lembrou-se de Jacques Tati e eu? Ri. Tem muita vida, o Mexia. Aquilo é um mundo que nunca mais acaba, coitado do novo serôdio, embiocado no sobretudo lá vai ele, pobre figura com algum charme, contudo, algum charme?»

domingo, 13 de novembro de 2011

Duarte Lima

O pedido de liminar no âmbito do habeas corpus foi, e muito bem, liminarmente indeferido pelo Vasco da Justina, e este fraquinho pela arqueologia do fraseado, sem desconsideração da acústica, há-de ser sempre mais forte do que eu.
«Não se verifica, initio litis, a ocorrência de manifesta ilegalidade apta a ensejar o deferimento da tutela de urgência. É cediço que o pedido de liminar formulado no âmbito do habeas corpus somente pode ser concedido em hipóteses excepcionais, quando for evidente o constrangimento ilegal ou o abuso de poder a prejudicar a liberdade de ir e vir do paciente.
[…]
Ressalte-se, ademais, que os autos não retratam a excepcional hipótese de juízo provisório antecipado acerca do pedido, uma vez que não suficientemente instruídos. Dessa maneira, a quaestio trazida à baila na exordial do writ não vislumbra o pretenso quadro claro e adequado à concessão da liminar, não sendo constatado, de plano, o fumus boni iuris do pedido, pois não há, sequer, cópia do ato coator atacado. Por tais fundamentos, INDEFIRO o pedido de liminar. Solicitem-se informações ao Tribunal impetrado e ao Juiz de primeiro grau. Após, abra-se vista ao Douto Ministério Público Federal. Intime-se. Cumpra-se.»

Relações

«não é preciso tirar um curso, decorar aquelas frases feitas sobre as relações ou uma canção pop alusiva ao tema para se saber que se no encontro entre duas pessoas uma delas está em situação de ouvir que a outra “gosta dela à sua maneira”, a relação está boa para deitar fora, e quanto mais depressa melhor.»

sábado, 12 de novembro de 2011

Alvário alavancado

Que apreço pode merecer um ministro da República Portuguesa - Álvaro Santos Pereira - que diz competividade, precaridade, empreendorismo?
Nenhum.

Eu confio na Fernanda Câncio.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Isto está uma merda.

De resto, tudo bem.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Alberto Gonçalves, não lhe bastando a hipocondria e a ultraliberalalia, é um misantropo cómico que escreve muito bem,

o que, no tempo que escorre,  configura um não-defeito raro para não dizer apreciável e infrequente virtude.

«Para o meu gosto, os transportes públicos sofrem de um grave problema: são públicos.
[…]
Percebo, e aplaudo, a serventia dos abrigos caritativos e dos lares de idosos, mas enquanto os rendimentos e a idade me deixarem pretendo continuar a ver os episódios de The Office sem ter de ceder o lugar no sofá da sala a uma senhora grávida (com a eventual excepção da minha mulher, caso haja um imprevisto). E pretendo continuar a usufruir do quarto de dormir sem o partilhar com dois escriturários, um advogado preocupado com o “aquecimento global”, a velhinha que vende fruta no mercado e sete adolescentes agarrados ao telemóvel (a minha mulher, que me mata se eu não fizer a ressalva, é novamente a excepção).»

Lido, como todas as quintas-feiras a abrir a manhã, a bordo do 329 da Rede Azul da Rodoviária de Lisboa. E escriturário me confesso.

'Pulp fiction'

«É uma consequência previsível da aquisição precoce de apetites literários que o lixo que consumimos na pré-adolescência nos assombre para sempre; é também uma consequência feliz. Parte do processo é explicada pela sede de autenticidade que ergue altares automáticos a tudo o que nos maravilhou numa idade em que os centros de prazer ainda não tinham sido contaminados pelo discernimento – um sentimento que pode facilmente degenerar num ridículo fetichismo nostálgico, que glorifica tudo aquilo que se leu quando ainda não se sabia ler. O medo do ridículo, no entanto, não deve induzir a fuga para a posição oposta. Renegar os cowboys, corsários, detectives e extraterrestres só porque descobrimos os Modernistas é o equivalente moral a renegar amigos de infância só porque ganhámos o totoloto. Consolidar uma hierarquia de valores não implica necessariamente que se execute um genocídio; nesta, como em tantas outras situações, basta um simples campo de concentração.»
Rogério Casanova, “Literatura de polpa” [sobre a 'pulp fiction' em geral e a 'pulp fiction' portuguesa em particular] | Público/Ípsilon, 04.Nov.2011

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Uvas perfeitas [2]

«Herdade Vale da Rosa. Em Ferreira do Alentejo nascem uvas capazes de conquistar apreciadores por todo o mundo. O segredo? Não têm grainhas.»
O doutor António Silvestre Ferreira explica: «Temos boa genética, bom nome e óptimas condições para produzir. Não é caso para andarmos tão cabisbaixos, apesar da crise.»

Ou seja, a perfeição não é uma impossibilidade.

Toradelfos cabalinos

no Diário de Notícias de hoje:
«Dante pensou ainda a unidade política de Itália (deplorando a falta dela em termos vibrantes e indignados) e também concebeu a própria unidade política da Europa, ao defender a ideia imperial no seu trânsito subtil de guelfo a gibelino.»

«Séculos de luta pelo poder, de guelfos contra gibelinos, reis decapitados, barricadas em Paris e anarquistas russos desaguaram no gabinete dos analistas cujas curtas letras levam tudo à frente.»

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Narrativa é o que faz falta; o resto resolve-se.

«Portugal não tem sido capaz de ter uma narrativa que não só no plano europeu construa uma alternativa e nos una àqueles que têm problemas idênticos a nós - e portanto não nos admiremos que a Espanha também diga que não é Portugal - mas também no plano internacional que projecte uma narrativa distinta.»

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

«"Colossal",

essa palavra que entrou recentemente no discurso político e fez o seu curso tornando-se objecto de glosas irónicas ou mesmo paródicas, é uma palavra de fino recorte filosófico, consagrada como conceito por Kant na sua analítica do sublime.
[...]
Kant chama colossal ao que, por ser demasiado grande para a nossa apreensão, exerce uma violência sobre a nossa imaginação.»
António Guerreiro | Expresso/Atual, 05.Nov.2011

Rogério Casanova

- "Pastoral Portuguesa"
Em português antigo.

- "Síndrome de Stencil" [Acerca de V., de Thomas Pynchon]
Em português atual.

Na LER de Nov.2011

George Steiner e António Lobo Antunes

na palheta, em Cambridge, 09.Out.2011.
Revista LER | Nov.2011

domingo, 6 de novembro de 2011

Errar melhor

Samuel Beckett, Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better., pelo magnífico José Bandeira.

- O Bandeira não é magnífico? Ai é, é

A Igreja Católica

até «há não muito tempo cobrava umas massas valentes para “apagar” pecados (podem procurar no Google por “indulgências”) […] andou séculos, até há bocadinho *, a aterrorizar legiões de pais com a ideia de que os seus bebés, se morressem não baptizados, iriam para um sítio desolado, intitulado “limbo”, onde permaneceriam, sós e assustados, toda a eternidade; […] fez alianças com tudo o que era déspota e barbaridade (googlar “escravatura”) e teve mesmo a sua própria linhagem de imperadores espaventosos e canalhas (não sendo certo que não perdure), que proibiam aos outros sacerdotes casar (coisa que, é sabido, nunca impediu os bons dos clérigos de ter sexo) mas tinham filhos que colocavam, como herdeiros, no trono. É preciso continuar? É que não acaba, e nem é necessário chegar aos actuais escândalos de abuso sexual de menores.»

Pressinto que à Fernanda Câncio já só reste uma maneira de, dando a volta por cima, se livrar do inferno: é pôr-se quanto antes a escrever e a falar, muito mais do que tem feito **, em todos os sítios em que possa, contra as pormenorizadas ignomínias do Islão, até que um qualquer velho barbudo irado iraniano lhe lance uma fatwa ordenando a sua execução. Aí, e com um bocadinho de sorte – se a execução for executada com a Fernanda ainda executável -, pode ser que vá a tempo de acabar canonizada pelo papa de serviço em Roma como santa mártir do combate ao nefando Mafoma, nisso alcançando gloriosamente o céu.
Gosto cada vez mais da Fernanda Câncio.

** Verdade que nesta crónica a Fernanda fala das «lapidações por adultério», mas isso não é nada. Vamos aos bois pelos nomes, que eu fico escondidinho na - como é que agora se diz? - minha zona de conforto ... pluvioso.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A minha querida mãe

nasceu num 3 de Novembro, chamava-se Rosalina e, juro, não foi o Domingos Duarte Lima, formado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa, que* a matou aos 74 anos.
Gosto de Novembro, sempre gostei.
E agora se não se importa, vou ali chorar um bocadinho. 

Foi mesmo que que escrevi; por força de algum equívoco.

Reality shows

«os reality shows funcionam ao contrário do desejável. A votação para excluir concorrentes é errada na medida em que os devolve precocemente à sociedade, para sofrimento dos concorrentes e, sobretudo, da sociedade. Proponho um sistema em que o povo vote em inúteis avulsos que estejam cá fora de modo a pô-los com urgência lá dentro. Todos acabariam vencedores: eles, que não querem sair da “casa”, e você, que seguramente não os quer a entrar na sua. Salvo, eventualmente e nos dois sentidos, pelo televisor.»

Aníbal Cavaco Silva

Ter por compincha, correligionário e alto quadro de confiança o Dias Loureiro é uma coisa;
ter por compincha, correligionário e alto quadro de confiança o Oliveira e Costa é outra;
ter por compincha, correligionário e alto quadro de confiança o Duarte Lima é outra;
ter por compincha, correligionário e alto quadro de confiança o Isaltino Morais, outra ainda.
Ter os quatro em simultâneo por compinchas, correligionários e altos quadros de confiança é arte, é gosto refinado, é exigência; uma selecção gourmet, jamais um acaso.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Retorno,

«livro da mais extraordinária descoberta deste ano e dos que se foram e de todos que estão para vir: Dulce Maria Cardoso. [...]»

«O passado tem a grande vantagem de não existir.
[…]
Na verdade, o importante é sempre o que não há.
[…]
o bem é o antipensamento. […] É interessante pensar que se retirássemos o mal do mundo não tínhamos nada. Não tínhamos arte, romances, não tínhamos civilização sequer, como a concebemos.
[…]
Deus é a maior invenção da humanidade. Eu espero até que à força de ter sido inventado exista mesmo.»

«Só um desprezo grande pelas mulheres pode levar a que, em vez da fotografia da Dulce Maria Cardoso, entrevistada pelo Carlos Vaz Marques, apresentada como tendo escrito o primeiro grande romance sobre os retornados, ponham na capa a mala de cartão da Linda de Suza.»

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Plúvio, 22.Abr.1953 - .. ... ....

Cá nos vamos aguentando agarrados a um hífen.

A crise

«Há muitos séculos a pedir porta à porta.»
DN, 01.Nov.2011

Dantes eram muito menos.

Era uma vez

um João Simão da Silva que andava montado num M de cinco pernas.