Encontro finalmente alguma coisa do Rodrigo Leão que não me descomove tanto: os desenhos. [Expresso/Atual, 26.Nov.2011]
Com efeito - juro que repassei ao acaso 15 faixas de música do RL antes de vir debitar esta injúria ao consenso nacional culto -, a atmosfera Rodrigo Leão continua a não me convencer. Aquilo, no que toca ao tocável e ao cantável, é mesmo, para mim, muito pobrezinho, redundante e redutor. Raramente se nos depara uma linha melódica de garra, de duende, de inesperado arrebatamento criador. Não se pode é dizer que o circunspecto RL não tem sabido vender a sua entediante plangência: aura mística, aparato em palco, muita corda séria e concertina sentimental; andamentos básicos, sempre os mesmos, sempre quase o mesmo no mesmo tom, capazes de atrair o mais arreigado fã do Tony Carreira até que se dê conta de que a liturgia do Leão é para sensibilidades de outra finura. Enfim, a música do Rodrigo Leão não me soa muito longe da estética menino da lágrima, com a diferença de que tudo à volta do Rodrigo Leão parece sofrer de prisão de ventre e o menino da lágrima, sofrendo igualmente, não tem nada ar de obra por fazer.
Meu rico Piazzolla, meu espevitante John Cage!
E, claro, o amigo Pedro Ayres Magalhães é outra loiça, em muito, muito melhor.