sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Greve, risco ou luxo?

Tenho para mim que o direito e a liberdade de fazer uma greve não são menos importantes e respeitáveis do que o direito e a liberdade de a não fazer.

Miguel Portas, do Bloco de Esquerda - que, juntamente com o Partido Comunista, pôs no poder o ranço desalmado do PSD e do CDS -, esta manhã:
«Nunca ficaremos a saber quantas pessoas é que foram trabalhar querendo fazer greve mas que tiveram que ir trabalhar ou por medo ou porque estão em situação precária e não se podem dar ao risco ou ao luxo de fazer a greve, e ao mesmo tempo também não sabemos quantas pessoas é que não foram trabalhar pura e simplesmente porque os transportes públicos não funcionaram.»
Faltou ao messiânico Miguel Portas – e não são de presumir esquecimento ou falta de tempo – o asseio de mencionar, pelo menos, mais duas não desprezíveis categorias de pessoas:
- as que foram trabalhar porque quiseram;
- as que não foram trabalhar, contando para a estatística da adesão, intimidadas pelo colega com uma braçadeira a dizer «piquete» e com um olhar a dizer «filho da puta!» a quem não se deixa intimidar pelo fascismo sindical.
Sim, camarada doutor Carvalho da Silva, sim, companheiro engenheiro João Proença, fascismo sindical.
Isto de falarmos com emblemas [do Vaticano, do Benfica, da Maçonaria, da Marcha de Alfama, do Fado, do Sócrates, do Senhor do Adeus ou mesmo da Indignação] espetados na laringe resulta sempre um bocadinho limitador. Não tanto do direito, mais da liberdade.

Apetecia-me escrever um texto* em que associasse os sintagmas nominais «livre-pensador» e «ouvinte atento». Foi no que deu.

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* Como explica o camarada Jerónimo de Sousa no muito bem guiado pelo Daniel Oliveira, e a espaços comovente, “Alta definição” de sábado passado, “texto” é como a tlebs pós-moderna chama àquilo que no nosso tempo, em que tínhamos rádio na telefonia e televisão no televisor, se chamava “redacção”.

Citações do camarada Jerónimo de Sousa:  
O nosso destino era a fábrica.
Ao longo da minha infância, muitas vezes professores que pela primeira vez me viram fazer um texto - na altura chamava-se redacção...
A derrota não me desanima; as vitórias não me descansam.
Eu tinha nascido com cinco quilos e quatrocentas**.
“O homem e a necessidade do estudo” – 11 valores!
Aqueles primeiros anos de Abril em que tudo parecia bonito.
O Jerónimo não é velhaco, é um pouco alto.

E finalmente but not least et pour cause:
Eu sabia o que era fazer greve e como é que se fazia.

** Mas isso perdoa-se ao camarada Jerónimo que, como se via obrigado a esclarecer nos passos perdidos da Constituinte, em 1975, não é doutor nem engenheiro.