quarta-feira, 28 de abril de 2021

Coisas espantosas

Raquel Varela- Por acaso até fui à Gulbenkian ver o Solokov. Tenho de dizer isto porque foi das coisas mais espantosas da minha vida ...
RV- Hã?
JV- Sokolov.
RV- Sokolov, eu agora tava a dizer, tou com dislexia... É o mais conhecido pintor russo da actualidade...
JV- Pianista.
RV- Pianista, meu Deus! Tou completamente... Obrigada, Joaquim! Vou começar.

Os doutores que quadriplicam têm destas coisas.
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Em tempo [29.Abr.2021]
Soube esta manhã do retrato de Raquel Varela feito ontem, na Rádio Renascença, por Joana Marques:
Nos últimos tempos venho reponderando se não devo promover Joana Marques, por quem tenho admiração crescente, ao 3.º lugar do humor perspicaz, passe a redundância, por troca com Ricardo Araújo Pereira.
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* Já agora e como ninguém ma pediu, aqui vai uma selecção, provisória e volante, ad hoc, de inchaços narcísicos:  
Clara Ferreira Alves .  José Sócrates . Lili Caneças  .  António Lobo Antunes .  Maria João Rodrigues (ex-eurodeputada do PS)  .  José Cid . Cristina Ferreira . Boaventura Sousa Santos . Júlio Isidro . Marco Paulo . José Rodrigues dos Santos . Raquel Varela  .  Cristiano Ronaldo . Manuel José (treinador de futebol)  . Simone de Oliveira  .  Rui Rangel . Eurico Reis (juiz)  . Eduardo Barroso . Bruno de Carvalho . Jorge Jesus .  João Soares .  José Perdigão (cantor) .  José António Pinto Ribeiro (ministro da Cultura num governo de J. Sócrates) . Margarida Rebelo Pinto  .    Alberto João Jardim . Tomás Taveira . José Mourinho . David Fonseca (músico) . Fernando Tordo . Manuel Alegre .  Paulo de Carvalho . Sebastião Bugalho  .  Sandra Felgueiras

domingo, 18 de abril de 2021

"NOVO - Semanário original e livre"

Li o n.º 1, 16.Abr.2021, de fio a pavio.
Não vale um peido furado, quanto mais os 4€ despendidos.
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sábado, 17 de abril de 2021

Maria Antónia Palla e Sócrates-Savimbi, ainda

Nunca tive boa impressão da jornalista Maria Antónia Palla. Acho-a, o Olimpo me perdoe, tonta.

"Sócrates: porquê tanto ódio?" continua a suscitar gáudio nas capelas de socratolaria. O homo sapiens é, sabemo-lo, animal naturalmente religioso. Nada de novo.

No seguimento do postal de ontem, ocorrem-me duas peças de um jornalista enorme, Ferreira Fernandes.

 Maria Antónia Palla deu uma entrevista ao Expresso de 01.Abr.2017, em que lá pelo meio se declarava solidária com José Sócrates, principal arguido do processo da "Operação Marquês", agora pronunciado por seis crimes. Ferreira Fernandes — o último suspeito de odiar Sócrates — comentou o que a mãe do primeiro-ministro, António Costa, disse acerca da sua paixão por Jonas Savimbi e por Angola. Ora, se alguém conhece e sabe de Angola é FF
«[...] quanto me irrita quem escreve sobre o que o sabe. [...]
tudo o que ela poderia saber era de ouvido e longe [...]
Voltando à entrevista de Maria Antónia Palla: Portugal devia cortar relações com Angola, não se admite que um país que teve 50 anos de ditadura, tenha relações com outro que é uma ditadura, disse ela. E é esta frase extraordinária a que o Expresso dá destaque e refere na primeira página. E disse ela, ainda: Portugal devia esquecer, completamente, Angola.
Eis o outro patamar de ignorância confirmado. Já não é a forasteira que fala dos outros. Agora, Maria Antónia Palla fala de Portugal e não o conhece. Não o conhece, não o conhece, não o conhece. Não Portugal completamente, mas de parte que sem ela Portugal seria outro. E eu, afinal, fico a conhecê-lo bem melhor: andava-me a faltar este Portugal tão bem explicitado por Maria Antónia Palla.»
Ferreira Fernandes, "Ok, esqueçam. Completamente? Isso!" | DN, 07.Abr.2017

Que diria, por exemplo, Valupi, que adora Sócrates e venera Ferreira Fernandes? Alguém para descer das muralhas da cidade?...

➭ A outra não é uma peça qualquer. Tenho-a por jóia do jornalismo português, que conservo. Trata-se da reportagem fabulosa, magistral [17 páginas; texto e fotografias de FF], feita há 33 anos nos terrenos da UNITA/Jonas Savimbi.

Enfim,
dona Palla,
sabe pouco
do que
fala.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Maria Antónia Palla, Sócrates e o monstro na sala

Em Agosto de 1966, num baldio dos arredores do lugar de Chicote, circunscrição de Bundas, província do Moxico, Leste de Angola, foram encontrados os cadáveres seviciados de Manuel Castro e de sua mulher, Eulália Marques, pais da minha ex-mulher Maria Clara, sua única filha, então com 6 anos. Ao lado, escrito no chão «UNITA VENCERÁ!». O Sr. Manuel e a dona Eulália saíram de Portugal no início do decénio de 1960, estabelecendo-se em Angola com uma modesta mercearia. Razão do assassínio, sem nenhuma outra apurável: não bastando serem portugueses, eram brancos. Na altura da referida matança, a UNITA, fundada uns meses antes, era pouco mais do que desconhecida. Aquelas mortes, bárbaras e gratuitas, constituíam as primeiras acções de terrorismo sobre colonos portugueses perpetradas pelo movimento de Jonas Savimbi [1934-2002].
Quanto mais fui podendo saber da vida e da obra do pseudo-"doutor Savimbi", ao longo de 35 anos, mais firmemente se me foi consolidando a ideia que dele guardarei para sempre: sem prejuízo doutras apreciáveis qualidades patrióticas, um facínora, tribalista sanguinário, carniceiro e racista, sem escrúpulo.

- E a que vem isto agora, Plúvio?
Vem que a Sra. D. Maria Antónia Palla, mãe de António Costa, secretário-geral do PS e primeiro-ministro de Portugal, escreveu no Público de ontem, 15.Mar.2021, uma coisa intitulada "Sócrates: porquê tanto ódio?":
«[...] Foi o meu conceito de liberdade e de justiça que, por imperativo de consciência, me levou a manifestar a José Sócrates a minha solidariedade. [...] Nunca, na minha longa vida, assisti em directo a manifestações de ódios tão profundas como as que tenho observado através das televisões. Entrevistas, debates, só com pessoas da mesma opinião. O contraditório não existe. As regras mais primárias do jornalismo foram enterradas.
Há alguns séculos atrás gritariam “Sócrates para a fogueira!”. Agora dizem-no de forma mais sofisticada. Mas queimam à mesma uma pessoa, destruindo o seu passado, infectando o seu presente, roubando-lhe o futuro.
O que está, quem está por detrás desta demência? Até onde se irá parar? Detentores de um poder que julgam eterno, não lhes chega liquidar um homem. [...]
Como os contestatários de Maio de 68, direi que “não sei o que quero, mas sei o que não quero”. De uma coisa estou certa: Justiça sem compaixão não é Justiça.»

- Sim, Plúvio, e...?
Isto, por exemplo,
«[...] Foi na Jamba que, em 1988, conheci Jonas Savimbi. Tornara-se uma personagem mítica, quer para os que o admiravam quer para os que o odiavam. A mim impressionou-me sobretudo a afabilidade e a grandeza com que acolhia os visitantes, fosse num simples "jango" das Terras do Fim do Mundo ou na "villa" que o rei de Marrocos punha à sua disposição quando vinha a Rabat e onde o visitei por duas vezes. Era um homem de uma inteligência fulgurante, com grande sentido de humor e uma soma invulgar de conhecimentos, considerando as condições em que habitualmente vivia. [...]»
MAP, 02.Mar.2002

«[Jonas Savimbi], um homem fascinante e absolutamente carismático.»

«Toda a gente sabe que Maria Antónia Palla é uma confessa admiradora de Jonas Savimbi e da UNITA.»

«[Jonas Savimbi], o único político de quem tenho uma fotografia na sala.»

- Ó Plúvio, ainda não percebi aonde queres chegar...
Quero chegar justamente à sala da Sra. D. Maria Antónia Palla.
Quero que a Sra. D. Maria Antónia Palla se foda mais os seus conceitos de liberdade, de justiça, de imperativo de consciência e sobretudo de compaixão. Quero que a Sra. D. Maria Antónia Palla vá bugiar com os fascinantes heróis da sua afeição.

E fico a pensar, com remorso, se não devo um pedido de desculpa à stôra Maria Salomé, de Cascais, por aqui ter mangado da decoração da sua sala.
Observando a sala onde António Costa toma chá com a mãe, mil vezes o menino da lágrima!!!

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Marketing para papalvos?

Apetece-me parvoíce.

«ULTRA PODER LEMON
FÁCIL FREGAR
ELIMINA LA GRASA RÁPIDAMENTE
FÁCIL ACLARADO
3 x MÁS RÁPIDO LA GRASA DIFÍCIL

ELEITO PRODUTO DO ANO 2021
INOVAÇÃO PREMIADA POR CONSUMIDORES

Comparado com a seguinte marca* de diluídos mais vendida»

Gosto de lavar a loiça à mão. Faço disso, há séculos, catarse diária. O tambor da máquina de lavar loiça uso-o para arrumação das garrafas de vinho que, protegido da luz, dizem, se conserva melhor.
Confesso que também prefiro o diluído da Procter & Gamble, o que não obsta à urticária que me causa o reclamo que por estes dias circula nas televisões. Nem é tanto por, dirigindo-se ao mercado português, ser ilustrado por um frasco que fala espanhol; isso é habitual em quase toda a publicidade televisiva de marcas multinacionais - Portugal será sempre um mercado secundário, dobra-se a coisa e está feito, para quem somos bacalhau, perdão, jaquinzinho basta. O que me irrita mesmo é o «ELEITO PRODUTO DO ANO 2021».
Quem ou que júri elegeu? Quando? Onde podemos consultar o regulamento da eleição?
Não será atrevimento a mais da P&G andar a proclamar-se, em meados do 4.º mês do ano, vencedora de 2021 inteiro?
Apesar de fã da féri, antevejo e reconhecerei desde já como incomparavelmente mais confiável um qualquer putativo processo eleitoral que lá para finais de Dezembro anuncie o diluído Super Pop, lusitano, «o eleito de 2021».

Enfim, a bovinidade papa tudo.
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* Então não houvera de melhor dizer-se «com a marca seguinte»?
Ai, ai.

domingo, 11 de abril de 2021

José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, príncipe impoluto

Lisboa, sexta-feira, 09.Abr.2021
Pelas 18H10, à saída de um veredicto que acabara de caracterizá-lo como o último cidadão em que se pode confiar, o principal arguido do processo da "Operação Marquês", entre 19 compatriotas de probidade cívica e bondade filantrópica blindadas acima de qualquer suspeita, avançou ufano e triunfante para as câmaras de todas as televisões de Portugal.
Trafulha contumaz, mitómano, medularmente impedido de distinguir mentira de verdade, excelsitude da Filosofia, narcisista encadeado no virtuoso esplendor de si mesmo, aldrabão quem sabe se vitimado por prístino complexo de inferioridade do tamanho dos Himalaias*, o príncipe impoluto falou e disse: 

➭ «Todas as grandes mentiras da acusação hoje caíram.
A acusação da fortuna escondida é uma mentira,
a acusação da corrupção é mentira,
a acusação de uma ligação com Ricardo Salgado é completamente mentira.
[...] Tudo isso acabou, não ficou sobre isso nada de pé, tudo isso ruiu. Finalmente, o juiz decide levar-me a julgamento por três crimes de branqueamento. [Que modéstia, sr. engenheiro!, nem parece seu. Seis crimes, sr. engenheiro, seis, se não se importa: três crimes de branqueamento de capitais + três crimes de falsificação de documentos.] Ora, eu quero dizer em primeiro lugar que isso não é verdade e que me vou defender desses crimes, não sei se em recurso**, se em tribunal, mas vou defender-me.» - 18h10 

➭ «O juiz Ivo Rosa levanta dúvidas sobre a questão dos empréstimos. Chega à conclusão de que há indícios que podem contrariar aquilo que eu digo, mas aquilo que eu digo é a verdade.» - 18h11  

➭ «No momento em que o processo Marquês chegou ao Tribunal Central de Investigação Criminal, a sua distribuição foi manipulada, a sua distribuição foi viciada. [...] Alguém cometeu um crime, resta saber agora quem. É claro que eu não confio no Ministério Público para investigar esse crime.***» - 18h13  

➭ «Difamaram durante sete anos um inocente. [...] Todas essas mentiras eram falsidades.» - 18h14  

➭ «Todas as grandes mentiras contadas aos portugueses em sete anos [...] são falsas. [...] A questão da fortuna escondida, isso é falso.» - 18h16 

➭ «Relativamente aos empréstimos, o juiz achou que há indícios para me levar a julgamento. Eu vou-me defender disso, não sei se em julgamento se em recurso.**» - 18h18 

Jornalista-  Há aqui uma factualidade nestas transferências de um milhão e setecentos mil euros dos quais acabou por beneficiar...
JS-  Não, eu não, eu não beneficiei. Não, não, não, eu não beneficiei, isso não é verdade.» - 18h35  

A seguir, o príncipe impoluto rumou à esplanada, sentando-se a uma mesa a confraternizar com quatro sujeitos do seu staff em violação flagrante do artigo 25.º, n.º 2, alínea c), do Decreto n.º 6/2021, de 3 de Abril:
Sócrates na esplanada  [1];

«Não perdem pela demora. Eu ontem fui ao Campus da (sic) Justiça justamente para que todos saibam, e principalmente esses que me insultam já há sete anos, saibam que eu vou defender-me, que eu vou responder.»
Jornalista- Consegue-nos dizer quem é que está por trás desta campanha?
JS- Consigo e terei o maior gosto em falar disso, mas quando chegar o momento, não agora.»
Acho este o anúncio mais espantoso de José Sócrates nos últimos sete anos. Estranho não ver ninguém a valorizá-lo como deveria. Embora preveja que quando, ou se, JS revelar o nome do grande patife, logo haveremos de perceber tratar-se de uma qualquer personagem ectoplásmica do universo da verdade alternativa em que parece habitar.

Por fim, donde brota o júbilo celebrativo desta gente,  desta gente,  desta gente?
Como são possíveis o contentamento e o alívio perante o medonho retrato judicial, provisório****, do antigo primeiro-ministro, pronunciado por seis crimes, que emerge deste despacho? Como é possível continuar-se a admirar e a louvar tão persistente e devotadamente a pessoa de José Sócrates? Que críptica e bizarra concepção tem esta gente — e, referindo-me a Valupi e sequazes, do Aspirina Ba Manuel Gomes, e apaniguados, do Estátua de Sal, ou à senhora e sua corte de bajuladores, do Um Jeito Manso,  não estou a falar propriamente de desprovidos e desabrigados da inteligência e da cultura — do escrúpulo? Intriga-me deveras a noção que esta gente tem de asseio, a ideia que esta gente tem de integridade ou de honestidade [Valupi diz sempre "honestidade intelectual", como se houvesse várias], o valor que esta gente dá à palavra. Pela relativa consideração em que as tenho e pela atenção assídua que lhes presto, quero pensar que o mal destas pessoas seja o de lerem pouco e ouvirem mal. A menos que sejam da família ou José Sócrates, perdão, Carlos Santos Silva, lhes pague: a família desculpa tudo, o dinheiro manda em quase tudo.  
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* Este príncipe impoluto, militante juvenil do PSD, admirador de Berlusconi, iniciou aos 23 anos, na V legislatura, a sua vida parlamentar avençada pelo PS. Pouco demorou [1987>1992] até à mescambilha das habilitações que foi declarando e emendando. Já então a compulsiva necessidade de aldrabar e insuflar o pedigree denunciava, a meu ver, um problema idiossincrático muito sério... Nos 30 anos subsequentes, foi o que temos visto.
Por mim, repetindo-me com alguma vergonha, levei demasiado tempo a perceber o bicho. Votei em José Sócrates em 2005, em 2009 e em 2011, várias vezes enalteci aqui o governante que ele foi; também eu me deixei encantar, desde 2001, pela determinação e pelo ímpeto reformador de que Maria João Avillez, com quem não simpatizo, falava anteontem na televisão. Era o tempo em que, ingénuo e mal informado, eu achava, por exemplo, Fernanda Câncio jornalista íntegra e honesta. 

** Espera-se que Pedro Delille tenha entretanto explicado ao seu constituinte que a decisão instrutória não é recorrível por parte do arguido que a requereu.

*** Tem bom remédio: apele à procuradoria de Marte.

**** Sim, retrato provisório. O Ministério Público interporá recurso e, pela reversão frequente nas instâncias superiores de decisões do juiz Ivo Rosa, palpita-me que o entusiasmo destes adoradores de Sócrates pertencerá ao domínio nosológico da ejaculação precoce...
Mulher do brinco- «Isto agora vai para a Relação. Está toda a gente à espera de que a Relação seja o Cristo Redentor. A Relação só vai ver a matéria de direito. E portanto, a matéria de facto acabou!»
Posaconazol- «Aleluia!»
Mulher do brinco- «O que não ficou provado não ficou provado! E portanto, essa esperança no Tribunal da Relação não faz assim tanto sentido. A Relação não vai apreciar a matéria de facto.»

A jornalista veteraníssima Clara Ferreira Alves é paga para dizer coisas na SIC Notícias. No meu caso, pago à EDP e à MEO para a escutar.
Assim, a quem podemos pedir ressarcimento pelo condensado de disparates e informação gravemente enganosa que esta licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra, secundada por um licenciado em Direito pela Universidade Católica, proferiu pelas 23h17 de ontem?***** 
Vide artigos 307.º e 308.º, e sobretudo 410.º, n.º 1, do Código de Processo Penal

***** Implacáveis na argumentação e impiedosos na ironia, venha quem vier, doa a quem doer.
Vendo melhor, talvez seja imprudente metermo-nos com esta tropa.

sábado, 10 de abril de 2021

Há coisas que Ana Catarina Mendes não consegue

Ana Catarina Mendes, deputada, líder do grupo parlamentar do Partido Socialista, comentou ontem na televisão a decisão instrutória de Ivo Rosa no processo da "Operação Marquês".

«Eu não consigo mesmo, não consigo entrar num julgamento moral, público, de chacina na praça pública. Não consigo. E não consigo porque eu quero acreditar que a justiça funciona, com todas as fragilidades a que temos assistido, e já lá irei. Mas quero acreditar que a justiça funciona. E portanto eu não consigo entrar numa coisa de percepção, de suspeição, julgar os actos. Não faço isso, não contribuo para esse espectáculo, não quero contribuir.»

«uma coisa que me deixa absolutamente inquieta, que é pensar com base naquilo a que nós assistimos nos últimos anos, nos jornais, nas redes sociais, nos ataques, nos comentários, em tudo... Foi feito um julgamento popular, e está feito um julgamento popular. [...] Nenhum de nós conhece o processo na sua essência. [...] Nenhum de nós seguramente leu a acusação. Eu não a li, estou à vontade para o dizer. Mas há uma coisa que me inquieta muito.»  

Ante a reiterada e confessada incapacidade de percepção dos actos de José Sócrates, mais espanta como consegue ACM percepcionar tão lestamente e fazer juízos de tão vasto alcance histórico como, por exemplo, o que com ousadia galáctica exarou há 10 meses acerca do nada menos do que prodigioso — pois então! — ministro Centeno.

Mas absolutamente inquietante é que uma pessoa com as responsabilidades políticas de Ana Catarina Mendes, porta-voz e opinadora investida em representação do partido que governa, empenhe tanta atenção à malvadez justiceira nos jornais e nas redes sociais,  desprezando e desconhecendo, com o à-vontade alarve admitido ontem, a acusação judicial no processo da "Operação Marquês" divulgada em 10.Out.2017.
O Plúvio leu-a e não tem a responsabilidade remunerada que ACM tem de defender o PS na TVI.

Pergunto-me se Ana Catarina Mendes servirá para mais do que andar de turíbulo na mão a incensar os santos, e pecadores, da confraria e a absterger o fedor das acomodações...

Ainda há não muito, ACM me deixara à beira do vómito.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Por entre os escolhos inevitáveis dos apoios e contraditas

No n.º 32 da Rua da Liberdade — oh ironia!, para quem chegou ao PS pelo atalho da UDP —, na Figueira da Foz, morreu ontem*, de ataque cardíaco**, um cidadão esperto e bem sucedido, ladino, porreiro e amigalhaço, que nunca primou pela profundidade pública do pensamento e cujo ideário político deixou condensado em Braga ao início da noite de sexta-feira, 30.Mar.2001, quando ameaçou:

Adivinhavelmente, a pena do arlequim engalanou-se de hipérboles estapafúrdias, catalisando a unanimidade louvaminheira nauseante:

«Com o dramático falecimento de Jorge Coelho desaparece uma das mais destacadas personalidades da vida pública portuguesa nas décadas de 80 e 90 e no início deste século, em que foi governante, parlamentar, Conselheiro de Estado, dirigente partidário, analista político e gestor empresarial.
Reunindo grande intuição, espírito combativo, perspicácia política, afabilidade pessoal e sentido de humor, por entre os escolhos inevitáveis dos apoios e das contraditas, deixou na memória dos Portugueses o gesto singular de assumir, em plenitude, a responsabilidade pela Tragédia de Entre-os-Rios *** e a capacidade rara de antecipar o sentir do cidadão comum.
O Presidente da República recorda, com saudade, o amigo e apresenta à sua Família as mais sinceras condolências. ****»

"MORREU JORGE COELHO, O POLÍTICO DE CAUSAS"
Ao passar pelas primeiras páginas dos jornais de hoje, acometeu-me a momentânea ilusão de uma gralha no cabeçalho do Jornal de Negócios. Assim de repente, admiti se não teriam querido dizer «político de queijos»...

Moderem-se, porra! Haja proporção [quantos milhões de «mais destacadas personalidades da vida pública» terá Marcelo no tinteiro?] e, sobretudo, recato na morte.
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** O coração tem as suas razões ..., bem escreveu um francês que pensava profundo [Blaise Pascal, "Pensées", 1670]. 

*** Num teatro bacoco, casou com a culpa e demitiu-se. No código japonês de ética política, se calhar suicidava-se deixando a culpa viúva...

Marcelo escolheu para a família de Jorge Coelho um grau prestigiante de condolências: "as mais sinceras".
Não é para todos. Por exemplo, e atendendo apenas a mortos da última semana, a família de Conceição Moita, católica antifascista, não mereceu senão condolências singelamente "sentidas"; já os parentes e amigos de Almeida Henriques, autarca de Viseu, tiveram de se contentar com simples "sinceras". 
Os critérios de Marcelo são um frenesim de inescrutabilidade. Se alguma vez o arlequim disser não mais do que «as minhas condolências», que haveremos de pensar de tamanha secura? Muito possivelmente que o falecido se portou mal...

quarta-feira, 7 de abril de 2021

«Felicidade, melancolia, força, subtileza»

Como agradecer tamanha generosidade?
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Yamandu Costa, nosso vizinho em Lisboa/Arroios, é um génio extraordinário e contagiante; despojado, sem cagança.

O grande prazer é a viagem, não é a chegada ...»

Conversa com o pai de YC, Algacir Costa [1944-1997], em 1996.

Yamandu Costa: «Meu pai morreu com a carreira limpa. Sempre fez o que quis, nunca se vendeu pra ninguém, nunca ficou pensando na coisa mais comercial, mandou tudo à merda e investiu só no que ele acreditou. Isso eu carrego o tempo inteiro. A dignidade de um artista é o que mais importa.»

terça-feira, 6 de abril de 2021

«Cidade andaluz», burrice

«A viagem do Futebol Clube do Porto para Sevilha está marcada para as cinco da tarde. A cidade andaluz traz boas recordações aos portistas»

Admito que Rita Rodrigues não tenha culpa, que será de algum burro à solta na redacção da TVI. 
 
«[...]
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro!...»

Sevilha, cidade andaluza, seus burrinhos.

Rita Rato, caso recorrente de ignorância concreta

Rita Rato, licenciada pela Universidade Nova de Lisboa, comunista, ex-deputada, directora do Museu do Aljube - Resistência e Liberdade, lá posta pela filha de Ana Gomes:
O que perspassa muito é a importância do amor incondicional.
"Os filhos da madrugada" | RTP, 05.Abr.2021

– Como encara os campos de trabalhos forçados, denominados gulags, nos quais morreram milhares de pessoas?
Não sou capaz de lhe responder porque, em concreto, nunca estudei nem li nada sobre isso.
Rita Rato | Visão, 18.Jan.2020
Vitória final de quem? Contra quem?
Acudam-nos!

perpassa, menina, perpassa! Não seja burrinha.
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"Historiadores contra escolha de Rita Rato para dirigir Museu do Aljube: É uma vergonha"
Observador, 09.Jul.2020

domingo, 4 de abril de 2021

Aleluia



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* Quem não assistiu ontem à noite a isto não sabe o que perdeu. Estive lá.
Ou anteontem, a isto. Aquele "Insouciance", céus!, seguido do alvoroço da "Herança russa"...
Se calhar Deus existe.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Constituição, sexo, amor

Sem subestimar as quatro menções de sexo explícito — artigo 13.º, n.º 2; artigo 58.º, n.º 2, alínea b); artigo 59.º, n.º 1; artigo 109.º —, o meu momento preferido é, no entanto, o da alínea b) do n.º 1 do artigo 293.º, única passagem da Constituição da República Portuguesa em que se alude ao amorDe modo subtil e insinuante como mandam as melhores práticas da sensualidade romântica.

É o que me apraz nos 45 anos da CRP.
Para não dizerem que o Plúvio é destituído de consciência cívica.

A pé, em albustros, mangális e riachos - Gente incontável

«[...]
- ... As mães não conseguiam upar naqueles riachos ...
- Era um grupo de quantas pessoas?
- Umas quinhentas, umas seiscentas, umas setecentas pessoas

Moçambique comove-me.
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Venham dizer-me que o Alcorão não mata...

«O governo garante que está a apoiar os portugueses que estão em risco em Moçambique devido ao terrorismo islâmico.»
Pergunto pela enésima vez: mas o islamismo não é um terrorismo em si? «Terrorismo islâmico» não é uma redundância?
Não alcanço que erro factual pudesse cometer o jornalista Miguel Ribeiro se dissesse simplesmente «devido ao Alcorão», «devido a Maomé», «devido ao islamismo» ou «devido ao Islão».

Cruz contra o vírus corona

ÚLTIMA  HORA

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