sexta-feira, 16 de abril de 2021

Maria Antónia Palla, Sócrates e o monstro na sala

Em Agosto de 1966, num baldio dos arredores do lugar de Chicote, circunscrição de Bundas, província do Moxico, Leste de Angola, foram encontrados os cadáveres seviciados de Manuel Castro e de sua mulher, Eulália Marques, pais da minha ex-mulher Maria Clara, sua única filha, então com 6 anos. Ao lado, escrito no chão «UNITA VENCERÁ!». O Sr. Manuel e a dona Eulália saíram de Portugal no início do decénio de 1960, estabelecendo-se em Angola com uma modesta mercearia. Razão do assassínio, sem nenhuma outra apurável: não bastando serem portugueses, eram brancos. Na altura da referida matança, a UNITA, fundada uns meses antes, era pouco mais do que desconhecida. Aquelas mortes, bárbaras e gratuitas, constituíam as primeiras acções de terrorismo sobre colonos portugueses perpetradas pelo movimento de Jonas Savimbi [1934-2002].
Quanto mais fui podendo saber da vida e da obra do pseudo-"doutor Savimbi", ao longo de 35 anos, mais firmemente se me foi consolidando a ideia que dele guardarei para sempre: sem prejuízo doutras apreciáveis qualidades patrióticas, um facínora, tribalista sanguinário, carniceiro e racista, sem escrúpulo.

- E a que vem isto agora, Plúvio?
Vem que a Sra. D. Maria Antónia Palla, mãe de António Costa, secretário-geral do PS e primeiro-ministro de Portugal, escreveu no Público de ontem, 15.Mar.2021, uma coisa intitulada "Sócrates: porquê tanto ódio?":
«[...] Foi o meu conceito de liberdade e de justiça que, por imperativo de consciência, me levou a manifestar a José Sócrates a minha solidariedade. [...] Nunca, na minha longa vida, assisti em directo a manifestações de ódios tão profundas como as que tenho observado através das televisões. Entrevistas, debates, só com pessoas da mesma opinião. O contraditório não existe. As regras mais primárias do jornalismo foram enterradas.
Há alguns séculos atrás gritariam “Sócrates para a fogueira!”. Agora dizem-no de forma mais sofisticada. Mas queimam à mesma uma pessoa, destruindo o seu passado, infectando o seu presente, roubando-lhe o futuro.
O que está, quem está por detrás desta demência? Até onde se irá parar? Detentores de um poder que julgam eterno, não lhes chega liquidar um homem. [...]
Como os contestatários de Maio de 68, direi que “não sei o que quero, mas sei o que não quero”. De uma coisa estou certa: Justiça sem compaixão não é Justiça.»

- Sim, Plúvio, e...?
Isto, por exemplo,
«[...] Foi na Jamba que, em 1988, conheci Jonas Savimbi. Tornara-se uma personagem mítica, quer para os que o admiravam quer para os que o odiavam. A mim impressionou-me sobretudo a afabilidade e a grandeza com que acolhia os visitantes, fosse num simples "jango" das Terras do Fim do Mundo ou na "villa" que o rei de Marrocos punha à sua disposição quando vinha a Rabat e onde o visitei por duas vezes. Era um homem de uma inteligência fulgurante, com grande sentido de humor e uma soma invulgar de conhecimentos, considerando as condições em que habitualmente vivia. [...]»
MAP, 02.Mar.2002

«[Jonas Savimbi], um homem fascinante e absolutamente carismático.»

«Toda a gente sabe que Maria Antónia Palla é uma confessa admiradora de Jonas Savimbi e da UNITA.»

«[Jonas Savimbi], o único político de quem tenho uma fotografia na sala.»

- Ó Plúvio, ainda não percebi aonde queres chegar...
Quero chegar justamente à sala da Sra. D. Maria Antónia Palla.
Quero que a Sra. D. Maria Antónia Palla se foda mais os seus conceitos de liberdade, de justiça, de imperativo de consciência e sobretudo de compaixão. Quero que a Sra. D. Maria Antónia Palla vá bugiar com os fascinantes heróis da sua afeição.

E fico a pensar, com remorso, se não devo um pedido de desculpa à stôra Maria Salomé, de Cascais, por aqui ter mangado da decoração da sua sala.
Observando a sala onde António Costa toma chá com a mãe, mil vezes o menino da lágrima!!!