Em Agosto de 1966, num baldio dos arredores do lugar de Chicote, circunscrição de Bundas, província do Moxico, Leste de Angola, foram encontrados os cadáveres seviciados de Manuel Castro e de sua mulher, Eulália Marques, pais da minha ex-mulher Maria Clara, sua única filha, então com 6 anos. Ao lado, escrito no chão «UNITA VENCERÁ!». O Sr. Manuel e a dona Eulália saíram de Portugal no início do decénio de 1960, estabelecendo-se em Angola com uma modesta mercearia. Razão do assassínio, sem nenhuma outra apurável: não bastando serem portugueses, eram brancos. Na altura da referida matança, a UNITA, fundada uns meses antes, era pouco mais do que desconhecida. Aquelas mortes, bárbaras e gratuitas, constituíam as primeiras acções de terrorismo sobre colonos portugueses perpetradas pelo movimento de Jonas Savimbi [1934-2002].
Quanto mais fui podendo saber da vida e da obra do pseudo-"doutor Savimbi", ao longo de 35 anos, mais firmemente se me foi consolidando a ideia que dele guardarei para sempre: sem prejuízo doutras apreciáveis qualidades patrióticas, um facínora, tribalista sanguinário, carniceiro e racista, sem escrúpulo.
- E a que vem isto agora, Plúvio?
Vem que a Sra. D. Maria Antónia Palla, mãe de António Costa, secretário-geral do PS e primeiro-ministro de Portugal, escreveu no Público de ontem, 15.Mar.2021, uma coisa intitulada "Sócrates: porquê tanto ódio?":
«[...] Foi o meu conceito de liberdade e de justiça que, por imperativo de consciência, me levou a manifestar a José Sócrates a minha solidariedade. [...] Nunca, na minha longa vida, assisti em directo a manifestações de ódios tão profundas como as que tenho observado através das televisões. Entrevistas, debates, só com pessoas da mesma opinião. O contraditório não existe. As regras mais primárias do jornalismo foram enterradas.
Há alguns séculos atrás gritariam “Sócrates para a fogueira!”. Agora dizem-no de forma mais sofisticada. Mas queimam à mesma uma pessoa, destruindo o seu passado, infectando o seu presente, roubando-lhe o futuro.
O que está, quem está por detrás desta demência? Até onde se irá parar? Detentores de um poder que julgam eterno, não lhes chega liquidar um homem. [...]
Como os contestatários de Maio de 68, direi que “não sei o que quero, mas sei o que não quero”. De uma coisa estou certa: Justiça sem compaixão não é Justiça.»
- Sim, Plúvio, e...?
Isto, por exemplo,
«[...] Foi na Jamba que, em 1988, conheci Jonas Savimbi. Tornara-se uma personagem mítica, quer para os que o admiravam quer para os que o odiavam. A mim impressionou-me sobretudo a afabilidade e a grandeza com que acolhia os visitantes, fosse num simples "jango" das Terras do Fim do Mundo ou na "villa" que o rei de Marrocos punha à sua disposição quando vinha a Rabat e onde o visitei por duas vezes. Era um homem de uma inteligência fulgurante, com grande sentido de humor e uma soma invulgar de conhecimentos, considerando as condições em que habitualmente vivia. [...]»
MAP, 02.Mar.2002
MAP, 02.Mar.2002
«[Jonas Savimbi], um homem fascinante e absolutamente carismático.»
«Toda a gente sabe que Maria Antónia Palla é uma confessa admiradora de Jonas Savimbi e da UNITA.»
«[Jonas Savimbi], o único político de quem tenho uma fotografia na sala.»
- Ó Plúvio, ainda não percebi aonde queres chegar...
Quero chegar justamente à sala da Sra. D. Maria Antónia Palla.
Quero que a Sra. D. Maria Antónia Palla se foda mais os seus conceitos de liberdade, de justiça, de imperativo de consciência e sobretudo de compaixão. Quero que a Sra. D. Maria Antónia Palla vá bugiar com os fascinantes heróis da sua afeição.
E fico a pensar, com remorso, se não devo um pedido de desculpa à stôra Maria Salomé, de Cascais, por aqui ter mangado da decoração da sua sala.
Observando a sala onde António Costa toma chá com a mãe, mil vezes o menino da lágrima!!!