sexta-feira, 31 de maio de 2013

A hiperconformidade gay

«[…]
Hoje, o kitsch correspondente à nova época aloja-se sobretudo numa forma de proselitismo que invadiu jornais e revistas: as reportagens sobre os casais homossexuais com filhos, todos a transbordarem de felicidade e de normalidade, em conformidade total com o ideal de vida que até há pouco tinha servido para os excluir. Mais do que isso: hiperconformes, como aquele judeu assimilado de que fala Hannah Arendt, Mr. Cohn, que foi sucessivamente alemão a 150%, vienense a 150% e francês também a 150%.
[…]
mal parece sairmos de um "mito" responsável por uma longa história de repressão entramos noutro que parece libertador, mas não deixa de ser uma mentira, com o seu correspondente estético no kitsch das representações fotográficas da felicidade conjugal e da maternidade e paternidade sem mácula.
[…]»

terça-feira, 28 de maio de 2013

Nada dura tanto como o tempo, nem tão pouco.

«[…]
Damos por nós ofegantes, fazendo por fazer, atropelados por agendas e jornadas sucessivas em que nos fazem sentir que já amanhecemos atrasados.
[…]»
- x -
«[...] o direito de sermos lentos. Que é um direito que deveríamos exigir ser quase constitucional. [...]»

Devagar, uma arte e um direito; isso.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Acordo Ortográfico [81]

«[...]
Este acordo não serve, não presta, é preciso denunciá-lo ou, no mínimo, revê-lo em profundidade. É preciso acabar com aberrações como a recessiva ''receção" e o tauromáquico "espetador" e a lasciva "arquiteta". E com a fantasia de que as consoantes que abrem as vogais são "mudas". E com a ideia de que a escrita é uma transcrição da fonética. Introduzam o xis, o ípsilon e o zê; escrevam Janeiro e Inverno com minúscula, mas deixem em paz a língua portuguesa.»

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Cavaco Silva, inaninulo *

Depois não digam que eu não avisei.

«[…] As teses de Weber sobre a vocação política e o carisma são fundamentais para a categorização de duas figuras políticas do nosso tempo, o fantoche carismático e o demagogo, mas são insuficientes para perceber a figura da nulidade, que é aquela a que corresponde Cavaco Silva, na sua profissão política (não falamos aqui do homem civil, que não conhecemos, e sobre a qual não teríamos o direito de falar publicamente).
[…]
Perante esta figura presidencial e a sua ostensiva inanidade, devemos perguntar, como Baudrillard uma vez o fez a propósito de Chirac, se a merecemos. E, à maneira de Baudrillard, talvez possamos responder que, afinal, tal figura da nulidade só serve para demonstrar que somos todos nulos, e que a política já não é o lugar nem a vontade de representação.
[…]
a nulidade metafísica do nosso Presidente da República não tem apenas o poder de dissolver ou não dissolver a Assembleia da República. O seu poder mais secreto, que ele exerce quer queira quer não e que lhe advém da sua condição figural e figurativa, é o de dissolver o próprio povo, na estratégia fatal de uma nulidade recíproca.»

- x -

«Sozinho, completamente sozinho, o dr. Cavaco Silva conseguiu arruinar a Presidência da República. A Presidência da República não tem hoje autoridade, influência ou prestígio. […]»
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* Está bem, devagarinho: inane e nulo.

domingo, 19 de maio de 2013

sábado, 18 de maio de 2013

Inoperosidade || Os umbigos de Eduardo Pitta

«[…] Uns são acusados de destruir empregos e os outros reclamam que se reconstrua a sociedade do trabalho. Neste jogo dialéctico que tem o seu termo de superação numa miragem, alguém que não se deixe levar pelo pensamento mágico, ou demagógico, ou irracional consegue acreditar que podemos regressar novamente a uma sociedade do pleno emprego? Pensar a questão não é pensar contra ou a favor de políticas de emprego, de despedimentos ou de manutenção de postos de trabalho, porque assim nunca sairemos do lugar onde estamos. Tudo tem de começar por aquilo que a nossa cultura e a nossa sociedade parecem incapazes de pensar. É neste sentido que adquire especial importância um conceito como o de inoperosità, […]

O modelo da inoperosidade é o da obra de arte. O que é um poema senão uma operação linguística que consiste em desactivar as funções comunicativas e informacionais da língua para a abrir a um outro uso? […]»
- António Guerreiro, “Pensar para além do trabalho

- x -
«[…] pura estilização camp, da primeira à última página […]
A única coisa que quebra a monotonia e a ausência de novidade são os pormenores apimentados à cronista social. Por exemplo: a embirração por Eugénio de Andrade dissimular na sua poesia a homossexualidade. Em comparação, Al Berto, esse sim, é outra coisa. E sairia do livro de Eduardo Pitta em grande triunfo se não tivesse "um umbigo do tamanho do mundo". Fosse o mundo o dobro do que é, não faltariam para ele, segundo as nossas contas, dois umbigos. […]»
- António Guerreiro, “Retrato de um rapaz flamejante”,
a propósito de Um Rapaz a Arder. Memórias 1975-2001, de Eduardo Pitta, … «livro, dito de memórias, (é) feito de uma matéria frívola, apreendida à superfície do tempo, e de uma parada de nomes próprios a que a autor chama o Meio».

Fernanda Câncio, numa peça bem feita, como tudo o que faz no jornalismo, e discretamente proselitista, conta no DN de ontem:  
«[…] Jorge, 41 anos, há quase três pai adoptivo de Miguel, de seis, e a viver em união de facto com Pedro, de 50, até tem a perspectiva de que a sociedade está já bastante mais avançada do que a lei. "Tivemos muita sorte com todo o meio que nos rodeia. O Miguel está numa escola pública, mas até ao ano passado esteve num infantário ligado à Igreja Católica e não houve qualquer problema. A educadora explicou-lhes tudo e quando fui buscar o meu filho veio uma menina que me disse: Sei que o Sérgio tem dois pais, eu só tenho um pai e uma mãe." Ri. "E agora na escola é igual. Tem tido mais problemas por causa da cor, porque é mestiço."  […]»


Admito que a menina tenha querido dizer, se não disse, Eu tenho só um pai e uma mãe.
Pouco rigor gramatical da criança, publicidade subliminar involuntária de algum adulto, certo é que este , o lugar e o alcance dele, suscita-me pensamentos de proporção bíblica.
Imagine-se uma réplica do menino Sérgio:
- Eu só tenho dois pais...
- Eu tenho só dois pais...
- Eu só tenho 3 pais e uma mãe...
- Eu não tenho só mãe e tenho dois pais...


E o amor, senhor Plúvio?
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* Foi agora.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Aníbal, o 4.º pastorinho

«[…] Sabe, eu penso que é uma inspiração, como já a minha mulher disse várias vezes, da Nossa Senhora de Fátima, do 13 de Maio! – É o que a minha mulher dizje. [...]»
Em tempo: explicação

Talvez não importe muito o que pensa um grunho; o que pensa um Presidente da República eleito talvez importe.

E porque não desmantelá-las?

«Se aumentarmos para 58 anos a reserva, o resultado é que amanhã não temos Forças Armadas. Teremos homens a prestar serviço militar de bengala. Teremos umas Forças Armadas de anciãos. Isso é mais um elemento de uma acção em que as Forças Armadas têm vindo a ser descaracterizadas e desarticuladas. Eventualmente, quem sabe, até com o objectivo de as desmantelar.»

... amanhã não temos Forças Armadas. - Fossem todos destes os amanhãs que cantam.
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Anciãos de 56 e 57 anos, em fim de carreira…
Ó nosso coronel, e se fosse advertir o caralho?

sábado, 11 de maio de 2013

«[…] gente de um calibre

que apesar de tudo ainda não tivéramos o azar de ver, em tal dose, ao leme. […]»
São os Pinículos*, Fernanda.
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* A lapela do Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional está longe de ser uma prova da coesão deste governo. Por tal insubordinação quase apetece simpatizar com o doutor Manuel Castro Almeida. Mas o mais provável é o governo do aldrabilhas Passos Coelho ter acabado por crescer mais do que os pins disponíveis.

... comer a paisagem ...

Bill Bryson, Miguel Esteves Cardoso, Fátima Campos Ferreira, Maria João Pinheiro, Miguel Esteves Cardoso, Bill Bryson, Léo Ferré. O sino de Colares e não sei quê.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A incapacidade de dizer jurado põe em xeque a capacidade de sabe-se lá o quê

Há profissionais de pacotilha em todo o lado, incluindo no jornal Público.

Eu quero que o público (português) se foda.*

«[…]
As estatísticas da arte (de que os tops dos livros são um indicador, exibido por todo o lado), têm hoje um poder enorme e transformaram os artistas em masoquistas.
[…]»
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*

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Rogério Casanova

na LER de Maio de 2013:

1.  “Pastoral Portuguesa
- O cânone do fim do mundo, sobre afinidades entre Stephen King, The Stand, e Cormac McCarthy, A Estrada
- ‘Consultório literário’ – Pós-modernices
 

John Le Carré, alguma gamártica...*

Cristina Margato foi a Londres conversar com John Le Carré a propósito do seu novo livro, "Uma verdade incómoda". Entrevista suculenta. Escusava, ou alguém por ela, era de ter traduzido “audience” [público, espectadores, plateia] por “audiência”.
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* … e outras aparentes aparências.  
Com o Expresso da Margato ainda fresco nos escaparates, vem o à última da hora Nuno Artur Silva, pelas 00:04 de 28.Abr.2013, dizer de Lisboa «Muito bem, então, aparentemente parece que o Partido Socialista está unido», replicando-lhe de Santa Maria da Feira, dois minutos depois, o a-be-so-lu-ta-men-te** Pedro Marques Lopes «A união do partido que aparentemente parece grande…» [Eixo do Mal, SIC Notícias, 28.Abr.2013]
Uma semana volvida, na Revista do Expresso e sem sair do eixo, é a Clara Ferreira Alves do brinco direito** que não sabe – “O novo e os velhos do PS” - que é «preferir receber a reforma a receber o salário» e não «preferir receber aquela do que este», e o eis que senão** Luís Pedro Nunes a confessar – “Acabou a sida!” - que «sou dos que me safei» em vez de «sou dos que se safaram».
Não bastando, até o excelso Gonçalo M. Tavares escreve na NM de ontem – “Obediência, miocárdio e medicina” -  o contrário do que queria, que era «ir ao encontro da sua ética» e não «de encontro a ela»…
E andamos nisto.
** Tiques. Desta vez, só escapou, basicamente, o Daniel Oliveira.

domingo, 5 de maio de 2013

Às compras na FNAC

Decepcionado com a secção de Saúde e Bem-Estar, eis que se me deparou na secção de Gerontologia A Velhice do Padre Eterno. Aí, fiquei de novo esperançado em encontrar qualquer coisa sobre as propriedades diuréticas da abóbora-menina. Na Puericultura.

sábado, 4 de maio de 2013

Ócio vs lazer

«[…]
A distinção entre ócio e lazer é óbvia e fundamental: o ócio é o tempo da liberdade e da criação; o lazer é o tempo que resta depois do tempo de trabalho, ou seja, aquilo a que se chama geralmente "tempo livre".
[…]»
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* Inclui "A imitação da literatura", recensão ao premiado e decantado Debaixo de algum céu, de Nuno Camarneiro, que António Guerreiro acha uma 'falácia metanarrativa'; romance de caca, por assim dizer.

Acordo Ortográfico [80]

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Benvindos a bordo da Ivity

Benvindo Floriano Marques, Benvindo Neves de Marçal e Costa, Benvindo Pires, Benvindo Abreu, Benvindo Rodrigues da Silva e Benvindo Souto Rocha, entre outros, talvez; Carlos Benvindo Coelho e Paulo Rocha Benvindo, decerto.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

«Recursos humanos»

Também* sempre engalinhei com a expressão.
De «colaborador», então, nem é bom falar.
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* "O dolicocéfalo", blogue de J. L. Cirne de Castro

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Grunho em alta definição

«[...] É a criatura que há, o Presidente que se arranja, irremissível e sombrio. Medíocre, ressentido, mau-carácter [...]»