Sucede que...
Pontificando entre os três ou quatro melhores colunistas da comunicação social portuguesa, Alberto Gonçalves, sem que precisemos de aderir ao que defende ou alinhar no que zurze [não raro discordo dele], serve-nos ao domingo e à quinta-feira, no
Diário de Notícias e na
Sábado, prosa de urdidura gramatical irrepreensível, bênção nos tempos que correm, impregnada de tal comicidade e ironia que nem Ricardo Araújo Pereira,
o melhor dos sardónicos mais novos, nem Vasco Pulido Valente (mansuetude dos 70?),
o melhor dos senadores cáusticos — revejo "de ouvido", sem pensar muito, os ases do género — logram com tão abundante e depurado alcance. A escrita de Alberto Gonçalves é um requinte de gozo.
Já o nosso bem instalado e próspero antigo embaixador, de multímodos mesteres, escreve, ainda que escorreito, apenas sofrivelmente. Discurso atilado demais para o meu gosto, que lhe frequento regularmente os vários estaminés onde oficia. Neste concreto acto de desprezo por Alberto Gonçalves, soa sobranceiro e feio que Seixas da Costa, paladino da lisura e da transparência, não tenha identificado o "cromo" nem o "jornal lisboeta"; além de que
* bom português é «dos que me
faltavam» e não «dos que me
faltava».
O que só lhe fica mal.
Mas estou de acordo com o que, por exemplo,
diz hoje Francisco Seixas da Costa do exame do quarto ano e da prova de avaliação dos professores.
Acompanhei, através da
televisão da AR, o debate de 27 de Novembro sobre a matéria.
Que Partido Socialista é este, cujo secretário-geral, agora Primeiro-Ministro, empanturra a conversa de Ciência e Conhecimento, Ciência e Conhecimento, Ciência e Conhecimento, que sucumbe à chantagem trauliteira do pulmão leninista por que o Governo sobrevive no Parlamento, diabolizando pateticamente
uma boa ideia sua consubstanciada na lei em 2007 e 2008 e participando sem um pingo de vergonha e com lastimoso masoquismo na opereta rasca dirigida pelo
real e perene ministro da tutela, Mário Nogueira, cuja bigoduda batuta ali se pressentiu do primeiro ao último minuto da argumentação dos que não se incomodam com que os candidatos a ensinar os nossos filhos
asneiem na aritmética rudimentar ou não consigam, no Português, distinguir "levastes" de "levaste", "levaste" de "levas-te"?
Algo me diz que a
este cambrídgico moço, de quem não se conhece uma ideia sobre instrução pública, faltarão os tomates com que Maria de Lurdes Rodrigues, honra lhe seja, enfrentou o senhor professor Mário Nogueira durante quatro anos. Por isso, para acalmar a FENPROF e não perder tantos votos, Sócrates a rendeu em 2009 por uma
alçada libelinha...
Com nem 24 horas de
um tempo novo, a sessão parlamentar
a que assisti na sexta-feira assemelhou-se a exéquias comiserativas da decência. A questão "técnica" da
inconstitucionalidade não passa de poeira para olhos ingénuos.
O sindicato recrudesce, o ensino deliquesce.
Plúvio, e se fosses rimar para outro lado?