Exercício miudinho.
Anteontem na RTP, entre as 21:01 e as 21:35, às 33 perguntas em que Vítor Gonçalves gastou sete minutos, António Costa respondeu, nos 27 minutos em que falou, 'vam-lá-ver' ou 'vam-lá-ver o seguinte' 18 vezes.
Ainda assim, António Costa pareceu esforçado no controlo do seu tique torrencial e foi patente a preocupação em explicar-se num português mais bem soletrado do que a prosódia trágica em que habitualmente se exprime. Cheira-me a assessoria zelosa por ali [por exemplo, já diz bem acôrdos], não bastante, contudo, para ter privado os senhores telespectadores do glorioso final do entrevistado, no derradeiro minuto da conversa:
«num momento oportuno e de um modo inchtucionalmente adequado […] de acordo com o modelo inchtucional adequado», suas últimas palavras.
Aos 13 minutos da conversa, comentando os golpistas e fraudulentos de Pedro Passos Coelho, de 4 dias antes, António Costa: «Essa não é uma linguagem própria de um primeiro-ministro nem uma linguagem saudável na nossa democracia.», aduzindo, aos 32 minutos, «tenho ficado chocado, para lhe ser sincero, com a agressividade verbal que tem sido utilizada.», no que logo me lembrei do paradigma de linguagem polida, asseada, cordata e «saudável na nossa democracia» que qualquer governante ou candidato à governação deverá praticar em todas as circunstâncias.
À margem, anote, leitor amável, quantas vezes, desde as legislativas de 4 de Outubro passado, o doutor António Costa, que excretou Seguro para as Caldas por com ele o PS só ser capaz de poucochinho, disse a frase «perdemos as eleições» ou pronunciou a frase «perdi as eleições».
Não é de campeão?
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E que dizer do português da RTP?
A incompetência do costume.
Dois casos, entre outros, de má gramática no rodapé:
Não é tivémos mas tivemos.
Não é antes do sr. Presidente da República tomar a iniciativa mas antes de o Sr. Presidente da República tomar a iniciativa.