A propósito da morte, anteontem, do doutor Paulo Cunha e Silva, Fernanda Câncio — integrando obviamente, decerto no naipe dos sopranos, o mais abrupto, tsunâmico, concentrado e efusivo coro mediático de unanimidade elegíaca a que me lembro de ter assistido —, encheu a página 36 do Diário de Notícias de ontem, composto de 48 páginas:
«O homem que fez tanta coisa, comissariou tanta coisa, inspirou tanta coisa e tanta gente que talvez todas as páginas deste jornal não chegassem para enumerá-las»
Repito: 48 páginas; como esta.
Lê-se melhor aqui.
Nada de novo no recato hiperbólico da doutora Câncio. O fervor em manobras dá nisto.
A Fernanda esteve obviamente no funeral do Paulo; coisa natural, ainda que de reciprocidade improvável, entre amigos. Aliás, toda a gente esteve no funeral, incluindo o doutor Costa. Difícil é distinguir os que vão pela dor da perda dos que aparecem pela necessidade vital de serem vistos, sem prejuízo de que estes serão sempre incomparavelmente mais. Já com a doutora Barroso fora a mesma coisa. Sobreviver tem os seus truques.
Logo na manhãzinha de 12, mal se soube do falecimento, pus a brigada da ENTIDÓNEA na rua, a medir a popularidade do doutor Paulo Cunha e Silva: apenas um em cada cerca de 103 424 portugueses [vá lá, também portuguesas...] fazia uma ideia mínima de quem Paulo Cunha e Silva fosse. Ao início da manhã de 13, a ENTIDÓNEA voltou à rua: cerca de 4 em cada 3 cidadãos [vá lá, cidadãs também...] sabia que Paulo Cunha e Silva era amigo de Sindika Dokolo. O que a morte e o lóbi guei não fazem por uma pessoa ... e pelo povo em geral.
O fervor em manobras não relaxa, o putedo amesendado à cultura e à política ajuda no foguetório:
O fervor em manobras não relaxa, o putedo amesendado à cultura e à política ajuda no foguetório:
Meus respeitosos respeitos aos viúvos, o viúvo do Paulo e o viúvo do Ricardo.
Sim, admiro o grande talento, o papel importante e a obra inúmera de um e de outro, mas é doutra coisa que aqui cuido.
Sim, admiro o grande talento, o papel importante e a obra inúmera de um e de outro, mas é doutra coisa que aqui cuido.
Maria Manuel Mota, cientista, Prémio Pessoa/2013, "Fazer da curiosidade profissão" – JL, 11.Nov.2015:
«Estou no iMM Lisboa desde 2005, liderando e orientando o trabalho de uma equipa com cerca de 16 investigadores.»
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* Verbete concluído cerca das 04:13 de 14.Nov.2015, com Paris a tresandar a morte na véspera da compungida compunção pungente do costume com que o Papa Francisco — que com siderante bondade [eufemismo de miopia comovedora?] não consegue achar violência no Alcorão** — virá à sua varanda de Roma pedir mais umas atençõezinhas a Deus, Nosso Senhor, Todo-Poderoso, Justo, Providencial e Infinitamente Bom, o mesmo Deus abraâmico sob cuja invocação com outras alcunhas, mais propriamente Alá-cunhas, se vai intensificando a matança ante a bovinidade atenciosa de um Ocidente bem-educado, compreensivo, multicultural e inclusor.
** Papa Francisco, 24.Nov.2013: «[…] Frente a episódios de fundamentalismo violento que nos preocupam, o afecto pelos verdadeiros crentes do Islão deve levar-nos a evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro Islão e uma interpretação adequada do Alcorão opõem-se a toda a violência. […]»
Exortação apostólica "Evangelii gaudium" ["A alegria do Evangelho"]
Barack Obama parece pensar de modo semelhante. Mas há quem, conhecendo o livro, leia doutro modo. Por exemplo, este rapaz que diz de sua razão em apenas oito minutos. Em rigor, 8 minutos e cerca de 48 segundos.