«Faz esta semana dez anos que tenho um diário*. Uma espécie de diário. Há uma década, quando havia apenas umas centenas de blogues, eu explicava o que era um blogue dizendo: “É um diário”.
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o diário é a manifestação mais imediata de vontade de expressão, e esta tem de ser vigiada. O diário é um esforço criativo, terapêutico, moral. É um espaço íntimo de observação e contemplação, frágil e desmedido. Creio que tudo começou com as "Confissões" de Agostinho, com a invenção do "eu", da consciência, e da autoconsciência, essa que se examina, se acusa, se interroga. Certos diários querem-se crónicas históricas (de guerras, revoluções, viagens), mas muitos são notas banais (doenças, zangas, amores). Chamemos-lhes "auto-histórias", reconstituições algo fictícias da nossa biografia e da nossa cabeça, tentativas de conhecimento, de questionamento, de melhoramento. Os diários são narcísicos, mesmo quando se desgostam com a imagem que reflectem; são exibicionistas, mas iludem confessando; são pessoais e intransmissíveis, mas servem de sismógrafo da condição humana. Os diários são o nosso mundo e estão contra o mundo, existem como mundo alternativo, como "contramundo". São a prova, talvez equívoca, de termos vivido.»
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* Faz hoje - sim, Agustina Bessa-Luís** faz hoje 90 - 10 anos que o Pedro Mexia começou "A coluna infame". Parabéns e obrigado, Pedro.
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- Manuel Queiroz, “Os primeiros 90 anos de Agustina” | NM, 14.Out.2012
Eu considero-a com Fernando Pessoa um dos dois escritores verdadeiramente geniais que Portugal produziu no século XX e creio que todos os outros estão muito, mas muito, abaixo deles. Mais: para mim a Agustina é a maior escritora em prosa de toda a literatura portuguesa, talvez com excepção do Fernão Lopes. - António José Saraiva a Óscar Lopes