segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Bela homilia de Pedro Mexia,

para crentes e outros, a propósito de Carlo Maria Martini [1927-2012].
«[…]
É preciso pois uma nova linguagem, na qual a renúncia se faça em virtude do amor, e não do interdito.
[…]»

Manuel António Pina por António Guerreiro

«[…]
O estilo das suas crónicas foi sempre marcado por esta atenção quase maníaca e fetichista ao material de que eram feitas; e por uma redobrada atenção à ideologia que elas transportam. Por isso, o seu objecto era tantas vezes as palavras dos outros. Viu-se, nas palavras de homenagem que logo a seguir à sua morte chegaram de tantos lados, que o poeta detinha um capital simbólico que não é apenas o do poeta.
[…]
É, aliás, a faculdade de compaixão, no sentido mais literal da palavra, que faz da sua poesia um lugar de afectos que evitam cuidadosamente a dimensão mais expressiva - algo que seria sempre um modo de afirmação do Eu estranho aos processos e ao ethos da poesia de Manuel António Pina.»

domingo, 28 de outubro de 2012

Prémio Pessoa pelos séculos dos séculos... [2]

O Expresso acha que é e eu acho que o Expresso insiste, por leviano desleixo, numa afoita proclamação ainda prematura, herdada do século passado e não duvido de que pertinente nele.
Etc., etc., mutatis mutandis.
Quando o Miguel Relvas publicar, perdão, irradiar as suas memórias, estou para ver como é que o Expresso descalça a bota do português com maior não sei quê cultural no século XXI.

Acordo Ortográfico [73]

«[…]
a futilidade do esforço (inútil porque não o consegue) de uniformização ortográfica.
[…]
O Acordo Ortográfico, ao criar esta falsa noção de uniformidade, extremamente nefasta para o Português-padrão, tem um resultado terrível para a tradução, porque enche o mercado português de instruções que quanto mais técnicas, mais incompreensíveis são.
[...]»

O doutor João Miguel Tavares diz

à última da hora, diz triologia e diz salchichas.
"Governo Sombra" | TVI 24, 27.Out.2012

E o doutor professor António Granado diz - ou fazem-no dizer, o que não melhora o estado da arte - retrógada.
DN, 28.Out.2012

sábado, 27 de outubro de 2012

"Sentido de Estado" | "Razão de Estado"

«[…]
Foi certamente quando o Estado começou a perder todo o sentido que se começou a falar em sentido de Estado. Em tal expressão, ecoa um sisudo anacronismo e dá-se a ver uma roupagem vetusta, usada em palcos e representações que já não são os nossos. “Razão de Estado” – eis o que se dizia noutro tempo, anterior ao sentido de Estado (que pode ser definido por antífrase: é o estado anestésico), quando a vocação dominadora e guerreira era assumida como uma missão.
[…]»

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Nossas desculpas, os tomates.

«Na edição da semana passada, na coluna ‘Na ponta da língua’, escreveu-se erradamente que na receita de spaghetti deveriam ser usadas quatro cabeças de alho, quando na verdade são quatro dentes de alho. Aos leitores, as nossas desculpas.»

Afinal, estão a desculpar-nos ou a pedir-nos desculpa?
Pedimos desculpa aos nossos leitores. é que seria, mas eu sei que é pedir demais a quem acha desprestigiante pedir.
Estas merdas enervam-me.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pedro Passos Coelho

«[…]
Entre todas as promessas que traiu, todas as coisas que disse que ia fazer e não fez, e todas as outras que jurou jamais fazer e fez, há uma coisa pela qual Passos Coelho não merece perdão: dizer que estava preparado para governar.
[…]»

Enquanto isto e como se não bondasse a desgraça de um ventríloquo pinículo a mandar na Gomes Teixeira, temos no Rato uma espécie de peido impante perfilado na sua sisuda e medíocre cagança, compincha do Relvas, e um bronco videirinho em Belém.
Triste país.

Acordo Ortográfico [72]

«[…] Acabe-se duma vez por todas com este lamentável espectáculo. Os períodos de transição servem exactamente para o abandono de projectos falhados. O AO90 desabou em duas propostas de OE. Abandone-se. […]»
Francisco Miguel Valada, Contra o Orçamento do Estado para 2013| Blogue ‘Aventar’, 16.Out.2012

- x -

[…]
Valdemar Cruz- Há algo que lhe desagrade neste Acordo?
Evanildo Bechara- As excepções.  A ortografia é um acto de ciência. Tem um lado cultural, mas tem um lado social. Tenho restrições ao Acordo, mesmo se uma mudança ortográfica nunca é para a geração que a faz mas para a vindoura. Fernando Pessoa não aderiu à Reforma de 1945*.
[…]»
Entrevista no Expresso/Atual de 20.Out.2012 com Evanildo Bechara, tido como o  arquitecto do AO90 no Brasil.
_______________________________ 
* Tem toda a razão, doutor Evanildo. Como poderia Pessoa aderir a uma coisa de 1945, por mais forte que fosse a sua vontade, se morrera dez anos antes? Estou, de resto, profundamente convicto de que também não aderirá à Reforma de 1990. Nestas coisas, o corpo manda muito.

Manuel Loff - Rui Ramos - António Araújo

«[…]
Por último, o Expresso abriu extemporaneamente antena (22.9.2012) a António Araújo (AA) para me chamar "negacionista compulsivo", num revelador raciocínio que faz com que eu tenha "negado até ao fim" o que eu nunca sequer comentei. AA está em bicos de pés há mais de um mês a querer meter-se na polémica com RR (que ele acha que nem existe...), com a qual nada tem a ver, e julga que quanto mais alto falar mais eu lhe deveria prestar atenção. E eu não tenho porque* lha prestar.»
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* Se o doutor Loff escrevesse bem, não teria por que lha prestar.

Quando o Estado nos vem ao cu

«[…]
um cronista e comentador político, que tem um gosto especial pela alarvidade, falou mesmo em sodomização*.
[…]
O paradoxo da “pilhagem legal”, formulado por Tomás de Aquino, passou a fazer parte das conversas: na rua, no táxi, no café, nos jornais e nas televisões. Ora, mesmo quem nunca sentiu necessidade de pensar os processos de um Estado fiscal, tem agora motivos urgentes para o fazer, já que o que resta da democracia sofreu um forte embate: o sistema fiscal recorre a práticas absolutistas ‘naturalizadas’ […] Mas essas práticas, ao serem exasperadas, dão-se a ver na sua arbitrariedade e quebram o vínculo necessário entre os rendimentos do Estado e os benefícios que os cidadãos deles extraem.
[…]»
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* «Há dias, quando me disseram que o governo ia extinguir 30 ou 40 fundações, pensei que estavam a brincar comigo. Era mesmo uma boa piada: num país com o Estado falido e com a sociedade sodomizada pelo fisco assim ao estilo Pulp Fiction, [...]»

domingo, 21 de outubro de 2012

«Um gigantesco salto para um homem,

um salto pequenino para a humanidade. [...]»
 
Vistos e revistos os autos, a melhor legenda para o salto de Felix Baumgartner escreveu-a Alberto Gonçalves de quem gosto tanto quanto discordo; ou muito mais e às vezes muito menos.

Gostava do Manuel António Pina

e acho muito bonito o que o José Bandeira lhe faz no Diário de Notícias de hoje.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Incrível como ainda não há nenhum blogue chamado "Rol dos dias"

«Faz esta semana dez anos que tenho um diário*. Uma espécie de diário. Há uma década, quando havia apenas umas centenas de blogues, eu explicava o que era um blogue dizendo: “É um diário”.
[…]
o diário é a manifestação mais imediata de vontade de expressão, e esta tem de ser vigiada. O diário é um esforço criativo, terapêutico, moral. É um espaço íntimo de observação e contemplação, frágil e desmedido. Creio que tudo começou com as "Confissões" de Agostinho, com a invenção do "eu", da consciência, e da autoconsciência, essa que se examina, se acusa, se interroga. Certos diários querem-se crónicas históricas (de guerras, revoluções, viagens), mas muitos são notas banais (doenças, zangas, amores). Chamemos-lhes "auto-histórias", reconstituições algo fictícias da nossa biografia e da nossa cabeça, tentativas de conhecimento, de questionamento, de melhoramento. Os diários são narcísicos, mesmo quando se desgostam com a imagem que reflectem; são exibicionistas, mas iludem confessando; são pessoais e intransmissíveis, mas servem de sismógrafo da condição humana. Os diários são o nosso mundo e estão contra o mundo, existem como mundo alternativo, como "contramundo". São a prova, talvez equívoca, de termos vivido.»
_________________________________
* Faz hoje - sim, Agustina Bessa-Luís** faz hoje 90 - 10 anos que o Pedro Mexia começou "A coluna infame". Parabéns e obrigado, Pedro.

**
- Manuel Queiroz, “Os primeiros 90 anos de Agustina| NM, 14.Out.2012
Eu considero-a com Fernando Pessoa um dos dois escritores verdadeiramente geniais que Portugal produziu no século XX e creio que todos os outros estão muito, mas muito, abaixo deles. Mais: para mim a Agustina é a maior escritora em prosa de toda a literatura portuguesa, talvez com excepção do Fernão Lopes. - António José Saraiva a Óscar Lopes

- Acerca de Agustina Bessa-Luís | Revista LER, Março de 2012

Li 22, vi 23.

Deve ser por isso que sou o intelectual do 6.º frente e me cravam invariavelmente para as actas do condomínio.

domingo, 14 de outubro de 2012

Livros de crítica literária e outros

«Tendo-se tornado raríssima – e quase exclusivamente por conta de editoras universitárias – a edição de livros de crítica literária, surpreende, à primeira vista, que a Quetzal edite um livro de um crítico inglês, James Wood, que vive na América e escreve para publicações como “The New Yorker” e “The New York Review of Books”. Bons motivos de regozijo se ofereceriam em tal iniciativa se ela não fosse um sintoma eloquente do estado miserável – disfarçado de cosmopolitismo – da república das letras.
[…]
Em suma: aquilo que faz com que um João Tordo e um José Luís Peixoto sejam internacionalmente premiáveis, enquanto uma Agustina e uma Maria Velho da Costa nunca conseguiram sair, mesmo quando traduzidas, do seu lugar minoritário.»

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Errar

«preferem alunos que decoram a matéria e colocam no teste aquilo que foi ditado na aula, do que aqueles que chegam às conclusões por tentativa e erro.»
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Se a doutora Isabel escrevesse bem, escreveria «àqueles» e não «do que aqueles», sem vírgula. Mas ai de mim se aqui vim para a ensinar a acertar.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Contabilistas e merceeiros *

«[...]
Em matéria de economia, este Governo tem a preparação de um contabilista e a sensibilidade de um merceeiro. Rapa, tira, deixa e não põe. Como não pensa o país além do prazo e do programa da troika, acha que tudo o que seja cortar (onde se atreve) é benéfico - mesmo quando cortar hoje cegamente é hipotecar o futuro. Sem se deter a pensar, é assim que o Governo vai liquidando o que de bom recebeu do governo anterior: a aposta na investigação e ciência e nas energias alternativas (onde os ricos, como a Alemanha, apostam largo). Confunde a megalomania dos TGV com todo o transporte ferroviário (em que toda a Europa investe cada vez mais) - e assim, por exemplo, deixa asfixiar o porto de Sines, que é, tal como a TAP, um dos raros clusters de retomo garantido de que dispomos. Troca alimentos por eucaliptos e incêndios garantidos, abrindo a Reserva Agrícola à indústria predadora das celuloses. Troca o território e a paisagem pelo betão turístico, abrindo a Reserva Ecológica à construção e ao mau investimento estrangeiro, numa aposta que já se sabe ser de retomo imediato e de ruína subsequente. Troca o ensino do português no estrangeiro pelo Acordo Ortográfico com o Brasil. Troca os aeroportos, que são uma zona vital de soberania económica, por meia dúzia de feijões.
[...]»

_________________________
* Sem ofensa da dona Isaura e do senhor Elias, claro.

domingo, 7 de outubro de 2012

«a melhor forma de distinguir

                                 
                                   quem nos quer bem

             é muito simples
                                           quem nos ama
                                           quebra
                                           graciosamente
                                           as regras.
                                           como nos sonhos»

O doutor Pedro Marques Lopes diz

rememoriar.
«Ainda hoje rememoriei isso, ainda hoje rememoriei isso [...] mais uma vez lembrei...»
Eixo do Mal | SIC N, 07.Out.2012, 00:39

Mas o doutor Pedro Marques Lopes é mais golfe.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O doutor António Capucho diz

nas antípodas.
Lá com ele.

O passado recente de Aníbal Cavaco Silva

«[…]
Se não soubermos o que queremos para amanhã, de pouco adiantam os sacrifícios que temos de fazer hoje. O nosso sacrifício tem de ter um propósito, um sentido, uma razão de ser. Não atravessamos dificuldades unicamente para corrigir os erros do passado recente*, mas também para encontrar um rumo de futuro.
[…]»
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* Dá para perceber a quem se refere e a que tempo o senhor professor procura manhosamente esquivar-se; mas não nos distraiamos: o bronco de Boliqueime é o mais antigo, extenso e persistente pesadelo no passado recente** da História de Portugal. Comparados, Pedro Passos Coelho e seus atarantados fâmulos não passam de um desgraçado e desgraçante epifenómeno.

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** ... e, para mal dos nossos pecados, por mais três anos e tal do relvíneo futuro recente.

Forma de vida e modo de vida

«[...]
quando os governantes nos dizem que é preciso alterar os modos de vida, isso implica forçosamente separar a vida da sua forma.[...]
O que nos é prescrito com inaudita violência é que "ajustemos" a nossa vida, a "modelizemos" segundo as novas circunstâncias, mas que isso se faça sobretudo sem que mudemos de forma de vida.
[...]»

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Rogério Casanova

na LER de Outubro de 2012:


- "Falsos lacticínios", sobre Herman Melville

- "Consultório literário" – Triste falta de jeito
 
2.Simplicidades terminais”, sobre Mortality, de Christopher Hitchens

Melhor fora que Henrique Cayatte

ficasse quedo.
Confrange assistir agora ao esperneio arrogante* de um criador de tais gabarito e passado.
De resto, tudo indica que quem não leu o livro foi o senhor professor Henrique Cayatte. Alguém decerto o terá levado ao engano.
O que a indústria do bom nome faz às pessoas, santo Deus!
_______________________________
«Li na entrevista publicada no jornal que V. Exª. dirige, no suplemento Atual da última semana – n.º 2082 de 22 setembro de 2012 -, dada por António Araújo ao jornalista José Pedro Castanheira, afirmações em que sou particularmente visado pelo entrevistado na última pergunta (p. 36).
[…]
* A vida ensinou-me que a arrogância e a ignorância, quando aliadas, não produzem o melhor dos resultados.
[…]»

Em tempo: 
-  António Araújo, "Resposta a Henrique Cayatte" | Expresso, 05.Out.2012
-  "Resposta de Henrique Cayatte a António Araújo" | Expresso, 13.Out.2012
-  "Ajuste directo.", António Araújo | Blogue 'Malomil', 13.Out.2012
António Araújo | Expresso, 20.Out.2012: «[…] solicitei-lhe, muito simplesmente, que indicasse a página, o trecho, a passagem ou sequer a frase do  livro "Cinzas de Abril" onde o Maio de 68 estivesse presente. Henrique Cayatte não o fez, ou não o conseguiu fazer. […]»

O prémio

«[…]
Ao recusar que o Prémio D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus, lhe fosse entregue pelo primeiro-ministro, Maria Teresa Horta não fez mais do que usar uma prerrogativa a que tinha pleno direito. Visto como um mero gesto de hostilidade da escritora em relação ao poder político do momento, o episódio fica encerrado num estreito espaço, para onde confluem acriticamente apoiantes e detractores. Ora, o que está em jogo tem um alcance mais vasto […]»