segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Contabilistas e merceeiros *

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Em matéria de economia, este Governo tem a preparação de um contabilista e a sensibilidade de um merceeiro. Rapa, tira, deixa e não põe. Como não pensa o país além do prazo e do programa da troika, acha que tudo o que seja cortar (onde se atreve) é benéfico - mesmo quando cortar hoje cegamente é hipotecar o futuro. Sem se deter a pensar, é assim que o Governo vai liquidando o que de bom recebeu do governo anterior: a aposta na investigação e ciência e nas energias alternativas (onde os ricos, como a Alemanha, apostam largo). Confunde a megalomania dos TGV com todo o transporte ferroviário (em que toda a Europa investe cada vez mais) - e assim, por exemplo, deixa asfixiar o porto de Sines, que é, tal como a TAP, um dos raros clusters de retomo garantido de que dispomos. Troca alimentos por eucaliptos e incêndios garantidos, abrindo a Reserva Agrícola à indústria predadora das celuloses. Troca o território e a paisagem pelo betão turístico, abrindo a Reserva Ecológica à construção e ao mau investimento estrangeiro, numa aposta que já se sabe ser de retomo imediato e de ruína subsequente. Troca o ensino do português no estrangeiro pelo Acordo Ortográfico com o Brasil. Troca os aeroportos, que são uma zona vital de soberania económica, por meia dúzia de feijões.
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* Sem ofensa da dona Isaura e do senhor Elias, claro.