terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Aqueles cujos nomes não podem ser pronunciados [2]

Paulo, Alberto.

«[…] Bem sabemos que o povo, de uma forma geral, está farto do folhetim Centeno-Domingues e que, por isso, de pouco valerá à direita uma nova comissão parlamentar de inquérito. [...]
A história, por muito que custe a quem nela se viu envolvida, merecia ser contada e foi contada. Mais trica, menos trica, está contada[...]»

«[…] É por exemplo engraçado ler o director de um diário decretar que "o povo de uma forma geral está farto do folhetim Centeno-Domingues". E que "a história (…) Mais trica, menos trica, está contada". Há quase quatro mil anos que os homens estudam anatomia, mas ainda nenhum conseguiu explicar como certas colunas dobram tanto e não partem. […]»

«E a notícia do “Público” sobre os 10 mil milhões em “offshores”? Uma ignomínia (cito uma pessoa preocupada)? Uma bomba (cito duas pessoas preocupadas)? Ou apenas a reprodução quase exacta da notícia do “Público” em Abril de 2016, agora ressuscitada para desviar as atenções da CGD, que pelos vistos não vale a pena investigar, para as transferências de capitais, que pelos vistos devem ser investigadas até às últimas consequências? […]»

«[…] Aprendizes de Trump apressaram-se a ver uma notícia plantada, não pondo a hipótese de haver jornalistas a trabalhar e à procura da verdade. Não a verdade alternativa que lhes dá jeito, na pergunta de um comentador, sobre "a reprodução quase exacta da notícia do Público de Abril, agora ressuscitada para desviar as atenções da CGD". É o desplante total insinuar que o Público estaria dolosamente a repetir uma notícia própria para servir interesses da esquerda. […]»
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De Abril de 2007 a Dezembro de 2016 Alberto Gonçalves colaborou com o Diário de Notícias [DN] onde, a par de intervenções avulsas, assinava a coluna dominical "Dias contados". Mantém-se na Sábado desde Junho de 2006 e assina ao sábado no Observador desde 04.Fev.2017.
Paulo Baldaia, antigo director da TSF, dirige o DN desde 01.Set.2016. Sem explicação aos leitores nem agradecimento do jornal, em 01.Jan.2017, domingo, o nome de Alberto Gonçalves sumira-se da página do costume e da ficha técnica.
Em 16.Jan.2017 Paulo Baldaia avocava no Facebook o despedimento de Alberto Gonçalves:
«[…] AG deixou o DN porque o Paulo Baldaia, director do DN, não se revê no estilo de crónica do Alberto Gonçalves.
É uma decisão editorial. A liberdade de AG não é superior à liberdade de qualquer outra pessoa. AG tem muitos leitores e isso demonstra, de forma evidente, que a sua escrita tem mérito, mas não me peçam para pactuar com o que não concordo. Ele escreve no estilo que entende, com uma agressividade que lhe dá notoriedade mas que, manifestamente, não é a que a desejo para o jornal que dirijo. Tão simples como isto. […]»

Infere-se dos amarelos — os negritos também são meus — que o apreço de Paulo por Alberto é, sem se entrenomearem, recíproco. E promete.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Aqueles cujos nomes não podem ser pronunciados [1]

Marcelo, Francisco.

Pelas 00h06 de hoje deu-se na SIC Notícias* — "Eixo do mal" — a conversa que se segue na qual Luís Pedro Nunes, sublinhe-se-lhe o tino, ficou mudo.

Daniel Oliveira [DO]- Reles e ordinária? Eu acho mesmo que Passos… — como é que dizia o Presidente…? [virando-se para Pedro Marques Lopes, PML] —  Tu é que és especialista… Está lelé da cuca, Passos está lelé da cuca!
PML- Isso era o que o meu presidente dizia do presidente desta estação. Vamos pôr as coisas nos seus lugares.
DO- Estou é a citar a frase, não...
Aurélio Gomes [AG]- E o teu presidente, para que se perceba, estás a falar de quem?
DO- Do, do, do… É o presidente aqui da casa.
Clara Ferreira Alves [CFA]- Sendo que o presidente não era Presidente e a estação também não era estação.
PML- O meu presidente chama-se Jorge Nuno Pinto da Costa.
DO- É pá, não digas isso!
AG- Pronto, era só isso que eu queria dizer, para ficar claro.
DO- E o meu é o Bruno de Carvalho.
AG- O teu é o Bruno de Carvalho?
DO- É o Bruno de Carvalho.
CFA- Vocês não querem começar a discutir futebol?
DO- Se calhar dava um bom programa...
CFA- ... e permitia-me a mim ausentar-me imediatamente.

Importa pôr os não-ditos e a risota em perspectiva:
1- o actual Presidente da República chama-se Marcelo Rebelo de Sousa;
2- o presidente e dono da SIC, fundada em 1992, chama-se Francisco Pinto Balsemão;
3- Francisco Pinto Balsemão é fundador e dono do Expresso; 
4- na secção "Gente" do Expresso de sábado, 05.Ago.1978, Marcelo Rebelo de Sousa, subdirector do semanário, escrevera «O Balsemão é lelé da cuca». Balsemão ficou piurso e Marcelo desculpou-se;
5- na revista do Expresso de sábado, 18.Out.1997, João Carreira Bom [jornalista, co-fundador do Ciberdúvidas, falecido em 2002] assina o texto "O patriota", ilustrado por António, em que, referindo-se a Francisco Pinto Balsemão, escreve, entre outras meiguices, «O presidente da SIC fornece aos telespectadores portugueses os produtos abjectos de que eles necessitam». João Carreira Bom... que não o era de assoar, e o patrão decerto menos, foi corrido do Expresso;
6- Pedro Marques Lopes votou em Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de 2016;
7- Clara Ferreira Alves — «marca/estrela que muito valoriza a constelação jornalística do Grupo Impresa», segundo Balsemão, seu patrão no Expresso/Revista de 04.Jan.2014 —, Daniel de Oliveira e Luís Pedro Nunes escrevem no Expresso e falam na SIC;
8- o dono paga, o dono manda; não se apoquente o dono. Para quê nomeá-lo, ou nomear o Presidente?

Sucedeu ainda neste programa que o doutor Pedro, o comunitário**, voltou a irradiar o esplendor com que articula a língua portuguesa:
00h23 - «Tudo isto parece demasiado descarado para ser vigarice. E por outro lado parece demasiada niglegência para ser distracção.»
00h25 - «Mas então há aqui duas coisas. Foi culpa dele, foi esquecimento. O homem era niglegente. É estranho, é estranho.»
De facto, é estranho na boca de licenciado em Direito pela prestigiante Universidade Católica. Não contando a pós-graduação.

Já antes ficáramos boquiabertos ao saber que a doutora e portanto** Clara tem uma amiga dela:
00h10 - «Às vezes até há equívocos. Eu, por exemplo, tenho uma amiga minha que equivocadamente foi-lhe pedido que pagasse não sei o quê e aquilo deu um embrulho tremendo e era uma quantia ridícula. E portanto** acho estranho…»
Também acho estranho. Desta vez, na boca de licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra

Nota final
Agora que o "Eixo do mal" é patrocinado pela TAP, talvez seja altura de a consagrada especialista em aeronáutica vir actualizar com argumentação refrescada a tese de que Fernando Pinto, a dirigir a companhia vai para 17 anos, é um risco aterrador para a aviação portuguesa. Ela que já achava 14 anos seguidos de administração uma calamidade.
Vá lá, doutora Clara, atreva-se ... e cague no patrocínio.
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* A propósito, merece atenção o erro tosco, antigo e recidivo com que a SIC Notícias anuncia a ementa de «hoje». Às 00h00 é quando a estação fica manifestamente desorientada. Ó Ricardo, ó Paula, ó Aristides, ó Daniel, porra, vejam se põem a programação a acertar no fuso de uma vez por todas! Se precisarem, o Expresso do tio Balsemão ensina.
** Tiques

sábado, 25 de fevereiro de 2017

"Esquerda impune" - Expresso, 25.Fev.2017,

de Henrique Raposo para Fernanda Câncio*, com carinho. Na jugular.
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* A quem me liga uma irredimível sicofilia.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

A síndrome e a ênfase, pelo tesão e pela sms

De uma vez por todas até que o Papa Francisco me desdiga e o Donald Trump me contradiga:
Entendidos? Espero bem que sim, senão deixo de lhes falar.
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* Ó doutora Ana Sá Lopes — "Vanessa e Centeno odeiam SMS" | Sol, 18.Fev.2017 —, decida-se, chiça! Feminino ou masculino?
Quanto ao canivete suíço «erro de percepção mútuo»**Mário Centeno, 13.Fev.2017 —, de que igualmente versa Vanessa, três abordagens valiosas:
** Sei cá porquê, lembro-me de outra diáfana criatura, menos licenciada porém: «Norteio a minha vida pela simplicidade na procura do conhecimento permanente.» [Miguel Relvas, 12.Jul.2012]

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Este é o tempo, este é o mundo

«[…] Este é o tempo para nos levantarmos em defesa do que acreditamos, diz o antigo primeiro-ministro […]»
Caríssima Ana*, olhe que vai certa diferença entre acreditação e fé, credencial e credo. Por via da dúvida, eu escreveria «em defesa daquilo em que acreditamos»; daquilo em que aquerditamos, dito por um intelectual como Jorge Jesus.

Sem sair do Público de hoje, deste mundo e deste tempo, pior está José Pacheco Pereira:
«[…] Este é o mundo de Trump, irrascível e agressivo […]»
Mas JPP não anda a falar sozinho. Ouve-se malfadamente muita irrascibilidade por aí. Dois casos, ao acaso, de falantes encartados: Luís Pedro Nunes, por exemplo nesta conversa; Júlio Isidro, por exemplo nesta.
Nada como a voz de quem sabe

Enfim, somos tempo, somos mundo...
Voltando e acabando no facundo Pacheco,
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* Quantos avôs paternos tem a simpática Ana Pereira é que não deixa de me intrigar.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Mau sinal

«sinal de que chegaste», se não se importam, ó vocês do Mini na rua e do Mini no jornal.
É que, pró caso * de não saberem, também há sinais que chegam. E ainda assim não me livro da puta da ambiguidade já que há sinais que vêm e sinais que bastam e assim sucessivamente, uf!

PS
Chuva équa
Agradeço e encaixo com deferência o raspanete do Eremita.
Espero que não me repreenda por me meter com a Porto Editora
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* prò caso prò caso prò caso prò caso prò caso prò caso prò caso prò caso prò caso prò caso
Muito obrigado, amigo Helder.
18.Fev.2017

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Luzes e sombras

"Governo Sombra" de anteontem, TVI 24.

Pedro Mexia inesperadamente tosco: «Estes dados são positivos e vão de encontro ao argumentário do sim.»
«Vão ao encontro do argumentário» é que deveria ter dito.

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* «[…]
3. Aponta a figura de estilo presente na expressão: Tua ausência em mim, verso 33. Destaca a sua expressividade.
[…]»
Já agora e continuando em letras de José Niza, o meu otoverme mais recorrente — se calhar tenho de dizer «otoverme no bom sentido» — de Paulo de Carvalho é "Maria, vida fria", isto é,  "Antes que seja tarde".
Nosso querido e saudoso Pedro Osório, que músico magnífico ele era. E que voz grande, a de Paulo de Carvalho.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Uísque nos remos

«A vida de Gavan Hennigan começou cedo a ser um desafio extremo. O irlandês, filho de um pai alcoólatra, tornou-se também ele um adicto ao álcool e a drogas ainda na adolescência, caiu mesmo na indulgência*, vagabundeou por Amesterdão e Londres e foi internado com uma overdose de ecstasy aos 20 anos.
[…]
Para trás na vida de Hennigan ficaram já esses tempos de uma dura adolescência, na qual as drogas e o álcool foram refúgio para depressões, problemas de auto-estima e dificuldades em lidar com a sua própria homossexualidade... […]»
[Negritos do Plúvio]


Depois de se ter caído na indulgência* nada espantará na vida de um homem.   
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* No que dá a troca de revisores humanos por robotizados corretores. Indigência — ei-la! — nos jornais.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A educação de Laura*

Em "O último apaga a luz", RTP3, sábado, 04.Fev.2017, conta a mãe:
«Tenho uma filha que agora já saiu do secundário mas que esteve no secundário há pouco tempo … Há os livros obrigatórios e estes livros recomendados pelo "Plano" nunca são impostos. São sugeridos. Há uma lista grande, os miúdos escolhem, os professores ajudam a escolher; ou não. A minha filha*, por exemplo, com 14 anos sugeriu o "Naked lunch" ["Festim nu", na edição portuguesa], do William Burroughs, que é muito mais escabroso do que este ["O nosso reino", de Valter Hugo Mãe]. A professora primeiro disse-lhe que sim mas depois disse Veja lá que excertos é que escolhe para falar na aula. Mas achou que se ela tinha lido aquele homem da "beat generation" muito prá frente é porque ela gostava, era importante. E este paternalismo excessivo com as crianças pode ser que tenha uma vantagem, que é fazê-las ler o livro.» - minuto 06:50
Adiante minuto 17:00, reiterando a concordância com a inclusão de "O nosso reino" no ensino básico, «Eu acho que estava bem classificado. Eu acho que estava bem classificado.»

No Expresso de 04.Fev.2017, assumindo com autoridade institucional a má classificação do livro para o ensino básico, admite o pai:
«Se a minha filha* tivesse 13 ou 14 anos e lesse aquilo, provavelmente também ficaria chocada. A linguagem choca, sobretudo tendo em conta a idade.»

Mutatis mutandis, perdão, tomates dos Andes, faz-me lembrar o cigarro electrónico:
- a Priberam inala;
- a Porto Editora exala. **
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A mãe de Laura descasou do Fernando e casou entretanto com um Gilson, mas não há-de ter sido por causa do Burroughs.

** Em tempo
Não sei em que dia posterior à presente publicação, a Porto Editora, lampeira e ladina, corrigiu a definição de "vapear", que em 07.Fev.2017 ainda era "exalar", passando-a para "inalar", o que me aniquilou a piada da comparação com a mãe Pedrosa que aceita e o pai Amaral que não recomenda. A PE reza agora o mesmo que a Priberam, ainda que eu vá mais por que no vapear tanto se inala como se exala.
Mas apesar da apreciável prontidão com que reagiu ao Plúvio, a PE ainda vai exalando nos esconderijos: vós vapeais  ...  tu vapeaste ...
17.Fev.2017