sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Dia de anos

Faz hoje 18 anos, morreu o meu pai. Sem ele, não seria nada; sem ele agora, pouco mais sou.
Choro por si, meu pai, choro por mim.
Só os sobreviventes choram.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Da grandeza dos homens | David Mourão-Ferreira

«A última vez que o vi foi na Casa do Alentejo, num jantar de apoio à candidatura de Jorge Sampaio à Presidência da República. Não o reconheci, de imediato: o cancro devorava-o, era uma sombra do que fora. Ao lado, sua mulher, Pilar, e os dois mantinham o porte sereno e digno. Conversou, fumou cachimbo, bebeu uísque, no ritual cortês e delicado que o caracterizava. Um homem a sorrir à morte, e embora dilacerado pelo escândalo de saber do seu próprio fim, mantinha a discrição e o pudor. David Mourão-Ferreira, digo.
Lembrei-me do episódio, agora, que li, na revista dominical do Público, uma entrevista a seu filho. O grande poeta percorreu a vida com a elegância antiga que marca o destino dos que são modernos sem nunca deixar de ser clássicos. Há poucos desta estirpe. O filho, também David, como o pai e o avô, fornece comovente perfil de um homem complexo, solitário mas também povoado pela força de um querer no qual o amor procura o seu particular infinito.
[...]
Revisitei os seus poemas, lidos, tanta vez, em voz alta, e reencontrei-me com um artista invulgar, para quem os valores da diversidade eram a questão central da existência num mundo cada vez mais flutuante e ausente na compostura.»

«O meu pai sempre manteve um tom de assombramento.»

* Pena o triplicado erro ortográfico em “neorealista(s)”, pouco compreensível no B-B.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Não era a primeira vez que o ladrão de pepinos

respondia por delito hortofurtícola;
nem a última em que melhor fora eu ter-me calado.

Uma cacofonia

é uma cacofonia.

Irritar-se solenemente

é quando uma pessoa se amofina com fanfarra, passadeira vermelha, bandeira hasteada, discurso alusivo, hino, palmas e foguetório?

Bandolim, berbequim, flautim

Artes e orifícios.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cristianinho: nojo, obscenidade, pornografia infantil

«Aos 15 meses, Cristiano Ronaldo Júnior … deu nas vistas ao surgir em público vestido da cabeça aos pés com a marca de luxo Gucci.
[…]
Apesar de* vestido com peças de uma das marcas mais caras do mundo, Cristianinho mostrou-se muito confortável e divertido.»
Ao que um jornalista dum jornal de referência tem de se sujeitar. Pobre Márcia…

Depois da jardinodelinquência apalhaçada e desta ostensiva cristianidade plutopútrida, que novos mostrengos nos virão ainda da Madeira?


*Apesar de? Eu se fosse à Gucci movia um processo ao DN por difamação.
** Previno os leitores mais sensíveis para a extrema repelência das imagens e dos números.

Nota

Claro que tenho o máximo respeito pela perda e pela dor do Paulo Sousa Costa.

Pedro Mexia gourmet

«O livro de Caras Altas está mais interessado no “nexo causal” do que no nexo casual e prefere o “ónus” ao ânus.
[…]
Uma coisa é certa: para Caras Altas, o núcleo da comunhão conjugal de vida (carinhosamente designado como “Kernbereich der ehelichen Lebensgemeinschaft”) é o coito.»

domingo, 25 de setembro de 2011

A minha próstata não pensa o mesmo que eu

Dita-me a experiência de relacionamento heterossexual que quanto menos deixo a próstata interferir na minha opinião sobre a mulher mais correcta é a minha opinião sobre a mulher.   
Dita-me a experiência de relacionamento heterossexual que a opinião da mulher acerca de mim é quase sempre mais correcta do que a minha acerca da mulher.
 
Os deuses sabem quanto acabo de vacilar entre honestidade e sinceridade e autenticidade e integridade e rectidão e …

A mimese da narrativa

«Ora, é precisamente neste sentido de narrativa de legitimação que, de repente, por um fenómeno mimético, a palavra "narrativa" passou a fazer parte do jargon do comentário político.»

Anseio por que o António Guerreiro disserte sobre a praga dos relógios nas 10:10.

sábado, 24 de setembro de 2011

O período é uma cena que

Caríssimo leitor, ora experimente ler devagar até ao primeiro ponto final, concatenando sujeitos, predicados e complementos que, garanto, fazem todo o sentido pese o risco de sufocação:
«Burhanuddin Rabbani, presidente do Alto Conselho da Paz afegão que morreu na terça-feira passada quando suposto emissário de confiança de chefes talibãs interessados em negociar com o Governo de Cabul acordo que permitisse a ambas as partes desenharem e aplicarem compromisso que tirasse o país da beira da guerra civil para a qual está constantemente a resvalar foi admitido em sua casa e levado à sua presença, fazendo explodir engenho mortífero que trazia escondido dentro do turbante no momento em que recebia saudações de boas-vindas, era figura conceituada da teologia sunita muçulmana, respeitado em centros de saber islâmico no Egipto (onde fizera os seus estudos de pós-graduação e se ligara muito à Irmandade Muçulmana), na Arábia Saudita, no Iraque, no Paquistão e no seu próprio país (aluno tão distinto que fora convidado para professor de lei e teologia islâmicas na universidade de Cabul aos 23 anos) mas será mais lembrado como homem de Estado do que como homem de Deus pois, desde antes da invasão soviética do Afeganistão em 1979, participara animadamente na luta pelo poder em Cabul havendo fugido para o Paquistão em 1974, protegido por estudantes que o ajudaram a ludibriar a polícia que o queria prender na faculdade, tivera papel muito importante na resistência à ocupação estrangeira e na vitória sobre os ocupantes e sua expulsão, entre peripécias com muitos altos e baixos chegara por duas vezes à Presidência da República – de 28 de Junho de 1992 a 27 de Setembro de 1996; de 13 de Novembro a 22 de Dezembro de 2001 – e, embora inimigo político do Presidente Hamid Karzai, chefiando o principal partido da oposição, fora por este convidado há quase um ano para presidir oficialmente ao Alto Conselho da Paz, pois era visto como incarnando a melhor esperança de se vir a conseguir um modus vivendi estável e duradouro entre as múltiplas tribos e facções afegãs – as quais nunca estão nem bem em paz nem bem em guerra umas com as outras e têm de ser tratadas com muito jeito por qualquer poder central que haja – aproximando-as do equilíbrio que ao longo de séculos o país muitas vezes conseguira quando entregue a si próprio.
[…]»
Apre!

Comparados com este, os períodos do professor Adriano Moreira soam a levitante minimalismo lacónico.

PS
José Cutileiro, honra lhe seja, escreve de acordo com a antiga ortografia, tudo indiciando, a bem das letras todas, que não tenha entrado ainda na menopausa.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Semiótica aplicada


[Lado da frente]
«13 11 11
PC20 15 228
20:56
8958
Lay’s R

Originais
Cada dose de 25 g contém
Energia 135Kcal 7%
Acúcares 0,2g <1%
Lípidos 8,8g 13%
Lípidos saturados 1,1g 6%
Sódio 0,1g 5%
do valor diário de referência para um adulto*

Lay’s
SÃO ÚNICAS
NÃO AS FABRICAMOS PARA OUTRAS MARCAS»


[Lado de trás]
«Lay’s R
Porque nos bons momentos, há coisas que estão sempre presentes
.

PEPSICO
MATUDIS, LDA.
Lagoas Park, edifício 5C-5.º, 2740-298 Porto Salvo, Portugal.
Uma companhia do Grupo PepsiCo, Inc.

Serviço ao Consumidor
Se, ao abrir o pacote, o produto não se encontrar em perfeitas condições, por favor, ligue para o Serviço ao Consumidor. 808 200 969
Horário: Dias úteis de 2.ª a 6.ª feira das 9h às 20h

5 601363 001885 >

1504

M-6175

Estilo de vida saudável
As tuas Lay’s R podem formar parte de uma dieta variada e equilibrada

Aperitivos
doces salgados
Lacticínios,
peixe e carne
Frutas
e vegetais
Hidratos
de carbono

Actividade física diária  Água

Batatas Fritas
Ingredientes
P Batatas, óleo vegetal e sal

SEM GLÚTEN
SEM CORANTES ARTIFICIAIS
NEM CONSERVANTES


Informação nutricional
VDR*
100 g 25 g** 25g
Valor energético 2252kj 541kcal 563kj 133kcal 7%
Proteínas 6,3 g 1,6 g
Hidratos de carbono
dos quais açúcares 47,7 g 0,6 g 11,9 g 0,2 g <1%
Lípidos
dos quais saturados 35,1 g 4,5 g 8,8 g 1,1 g 13% 6%
Fibras alimentares 4,4 g 1,1 g
Sódio 0,5 g 0,1 g 5%
* VDR = valor diário baseado numa dieta média de 2000 kcal. As directrizes internacionais recomendam uma média de 2000 kcal/dia para mulheres e 2500 kcal/dia para homens. As necessidades individuais de nutrientes variam em função do nível de actividade física e de outros factores.
** 25g = dose média. Este pacote contém 7 doses.

Peso Líquido 180g e

Consumir de preferência antes da data impressa na frente da embalagem
Conservar em lugar fresco e seco
Acondicionado em atmosfera protectora

amcor AFA100611AXL3M»
_________________________________________________________________________________
por favor, ligue para o ServiçoAs tuas Lay’s …  Em que ficamos, você ou tu?
Nisto, tinha o bife regelado e ovo estrelado recalcificado.
Na próxima, só leio o lado de dentro.

A ironia

«Para os apressados obituaristas do termo, no entanto, a ironia é um trôpego sinónimo de narcisismo, cinismo, apatia e indiferença. A ironia que eles queriam enterrar era uma distorção estenográfica do termo, que pretende representar uma pose geralmente associada à "Geração X", vista não como um recurso retórico mas como uma atitude céptica perante as Grandes Abstracções (Deus, Amor, Patriotismo, Decência), e cujas raízes são encontradas numa espécie muito particular de pânico identitário: o medo do ridículo, da desilusão, da traição, da humilhação, mas também o medo de ser visto como sincero, comprometido ou sentimental.
[…]
a ironia verdadeira não recusa a verdade de algumas proposições abstractas. O que faz, quando é bem executada, é desmascarar a utilização dessas abstracções para fins venais. O alvo da ironia não é a sinceridade, mas sim a duplicidade: a duplicidade que manipula os instrumentos da sinceridade para engendrar uma farsa.»

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O riso das vacas e a poda das anonas


«Aquela técnica de La Vache Qui Rit foi chamada de mise en abyme por André Gide (com Cavaco estamos sempre a tropeçar em referências cultas).» 

Ó grande Ferreira Fernandes, que essa verve não lhe mirre nunca! Bem-vindo de férias.

A faceta palúrdia ainda é, apesar de tudo, a mais suportável no inenarrável ser que vem fazendo de Presidente da República Portuguesa. Sempre dá para uns risos de comiseração pedindo nisso, aliás, meças a este idiota do Plioceno.
O pior mesmo é o resto; ou seja, quase tudo.
Alguém consegue explicar em que tem o político Aníbal Cavaco Silva ajudado Portugal a ser uma coisa mais decente?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Gorada a expectativa de umas efemérides do Sri Lanka,

dou por encerrado este frívolo e glorioso dossiê, não sem deixar a questão que se impõe – Quem dirige, afinal, o DN? – e esta iguaria sertaneja de seis dias atrás:

15.Set.1935 – «Aplica-se as leis de Nuremberga, as quais bania os judeus, e tornava a Cruz Suástica a bandeira nacional da Alemanha hitleriana.»

Cruzes!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Bora lá comemorar a Guerra dos Farrapos?

E o Zezinho do Ouro, não é de festejar?
Espero que a RTP 2 não se esqueça de evocar hoje Ferdinand Magellan, esse notabilíssimo lusitano de Sabrosa.

- Ó Plúvio, tu lês a jornalada toda, tens a certeza de que essa merda não é d' O Globo?
- Ia jurar que não mas vou confirmar, não vá ter sido injusto ... ... ... Não, não me baralhei, são mesmo as "Efemérides" do DN.

Parabéns, Zélia [1953, boa colheita…], e viva o Brasil.

Quem sabe amanhã tenhamos as efemérides do Sri Lanka com um feito qualquer do grande visionário Senhor Artur Carlos Clarco. Desde que o João Marcelino se passou para o Passos Coelho, pouco espanta no DN.

«Não há muitas esquinas da música

onde apareça um Tom Jobim e um João Gilberto a cantá-lo.»

Felizmente, há algumas.
Não recomendável ler enquanto se escuta nem escutar enquanto se lê; recomendável ler antes e escutar depois, recomendável escutar a seguir e ler depois. Faz bem à alma, sei lá, ou se calhar ao corpo, ou talvez a tudo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

«Diferencial», «queixume legítimo» e «críticas porventuras verdadeiras»

Sem, nos cinco minutos em que falou esta manhã à Antena 1, jamais ter pronunciado a palavra “Alberto”, com que no mesmo púlpito se ungira alarvemente no panegírico de 01 de Agosto passado, ou sequer a expressão “presidente do governo regional”, o doutor Luís Filipe Menezes, turibulário ciclóstomo do soba da Madeira, começou por uma comparação absurda e repulsiva do massacre de há oito semanas perpetrado pelo celerado Breivik com a mega mescambilha dos mil e cem milhões de défice escondido, fazendo equivaler a superior reacção, na altura, do primeiro-ministro norueguês à reacção rastejante de Pedro Passos Coelho, destes dias, enaltecendo-a.
Perguntara-lhe o jornalista Ricardo Alexandre: «… Luís Filipe Menezes, bom dia. Como é que vê este caso da Madeira?»
Na parte em que o doutor Luís Filipe Menezes foi mais severo e contundente - que coragem!, que desassombro! -, maquilhou assim a vigarice galáctica e imperdoável, por que vamos pagar, do seu adulado bonzo:
«… a realidade político-administrativa das regiões autónomas visou o justo desenvolvimento numa lógica de discriminação positiva dessas regiões. O seu estatuto, a forma como funcionaram, a sua regulamentação foi negociada diariamente com sucessivos governos, governantes responsáveis. A tal discriminação positiva que alguns portugueses consideravam mais injusta redundou muitas vezes em perdões da dívida da região autónoma da Madeira, da Região Autónoma dos Açores; perdões da dívida substantivos, em valores muito máióres do que aqueles que hoje estão em causa com este diferencial* e que foram dados por primeiros-ministros como Cavaco Silva, primeiros-ministros como António Guterres e até no primeiro ciclo do primeiro-ministro José Sócrates.
… Tudo o resto são queixumes, queixumes legítimos, críticas porventura verdadeiras»

* Aposto em como tão cedo Luís Filipe Menezes não vai, por muitas contas que manipule, ser capaz de proferir uma incorrecção máiór; além de que perdão da dívida não é o mesmo que vigarice ou crime.

Até quando vai Deus

deixar-nos ao Deus dará?

PS
E que acha o senhor padre Anselmo dos outros animais?
Os outros animais não têm o sentido da dignidade e da humilhação.
Anselmo Borges, "Direitos dos animais?" | DN, 17.Set.2011

2 p e 5 pr

Não me parecem possíveis ideias próprias sem apropriação prévia das de outros.

Amavam-se

com reconhecimento de causa.

Uvas perfeitas [1]

chama certa frutaria às uvas sem grainha que tem à venda.
É o tal exagero da publicidade. Para perfeitas ainda lhes falta não terem pericarpo nem pedúnculo.

Descalço-me

para entrar na intimidade; peido-me e rezo.
O resto vai por intuição e inércia.

domingo, 18 de setembro de 2011

Coisas idiotas que só sucedem nos filmes

E nem mesmo na aldeia medieval mais miserável se dá pela falta de esquentador: em farrapos e esfomeados graças ao terrível xerife de Nottingham, mas limpinhos.

Obrigado, Fernanda, pelos 4 minutos de riso.

sábado, 17 de setembro de 2011

Vasco Graça Moura e Aníbal Cavaco Silva

Confesso que ainda me confunde um bocadinho ver uma criatura culta como o VGM em contemplações basbaques de um basbaque. Foi o caso ontem, em Murça.
[Imagem recortada do DN de hoje.]

O dia em que o doutor Luís Filipe Menezes desperdiçou uma bela oportunidade de

ser um herói para muita opinião publicada.

Ricardo Alexandre [Antena 1]-
«polémica entre Paulo Portas e Alberto João Jardim por causa das contas da Madeira. O presidente do PSD Madeira chegou mesmo a dizer que não sabia quem era Portas … A eleições regionais estão marcadas para Outubro. Acha que esta situação pode prejudicar as relações na coligação governamental ou as águas Continente/Madeira estão bem separadas?»
Luís Filipe Menezes- «Há sempre um coro nacional, continental, que repete o mesmo todos os anos: Alberto João o populista, Alberto João o infrequentável, Alberto João o líder de uma democracia de fachada. Agora, por razões de conjuntura, Alberto João o despesista, e depois o salto dá-se imediatamente para a ideia de ilegitimidade democrática do exercício do poder do doutor Alberto João Jardim e há quem afirme mesmo: Bom, já que o povo é estúpido e vota nele, então pois ele é que devia ser suficientemente exigente e ir-se embora. Ora eu penso que não devemos ir por este caminho e eu não vou. Embora, sei que até como dirigente do PSD se viesse atacar o doutor Alberto João Jardim passaria a ser um herói para muita opinião publicada. Contudo, eu penso que temos que ser justos e colocar o problema exactamente no ponto em que ele deve ser colocado. Este homem ganhou dezenas de eleições com o voto popular, secreto, universal, nos últimos 33 anos. Este homem trouxe a Madeira da Idade Média para o século XXI.»
RA- «Mas também é verdade que já disse várias vezes que estava pronto para ir-se embora e acabou por não ir.»
LFM- «É verdade que sim, mas tem todo o direito de se sujeitar a eleições. Para além disso, eu penso que há outras questões que é importante relevar neste contexto. Este homem construiu um estado social absolutamente quase exageradamente ligado aos padrões da Escandinávia dos anos 60. Este homem contrariou aqueles lóbis que hoje muitos deles votam CDS na Madeira que mandaram na Madeira duzentos anos. E há uma questão e essa talvez a mais marcante. Quando se fala tanto de seriedade na política, este homem tem o mesmo carro, tem a mesma casa, tem o mesmo comportamento modesto. Passa férias em Porto Santo desde que é político no activo. Ora como sabe não é este o comportamento da maioria dos políticos em Portugal. É evidente que também não posso aceitar a ideia da democracia controlada na Madeira.
[...]»
RA- «Fica então o registo … O elogio de Luís Filipe Menezes a Alberto João Jardim, esta manhã no "Conselho Superior".»

Eu penso que temos que ser justos e colocar o problema exactamente no ponto em que ele deve ser colocado.
E eu penso que temos a pessoa certa para levar charutos ao doutor Alberto João Jardim. À cadeia.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

António José Seguro

«Nunca, em quase 50 anos, conheci um político que se aproximasse tanto de não ser nada como António José Seguro.
[...]
E assim ficámos com um chefe da oposição sem uma ideia na cabeça e com um ar irresistível de seminarista.»
Vasco Pulido Valente, "António José Seguro" | Público, 16.Set.2011

Prefiro morrer a falecer. Enfim, gostos.

Julgando eu que tivessem morrido quase todos, vem o António Lobo Antunes contar na Croniquinha [Visão, 15.Set.2011] que quase toda a gente faleceu. Confesso que não esperava um eufemismo tão limacídeo na prosa lobantunista.

Se também prefiro o Lobo Antunes ao Saramago? Sim, prefiro; do mesmo modo que prefiro o Saramago ao Lobo Antunes. São ambos bons, se bem que o Saramago sempre me tenha parecido menos boa pessoa, ao invés do Lobo Antunes que tem um feitio, dizem, nada fácil de assoar.
Mas o António Lobo Antunes comove-me mais; e nenhum escritor português metaforiza tão bem.

Enfim, gostos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Voz às minorias

Um dia hei-de escrever sobre o acentuado arrefecimento diurno. Lá mais para o Inverno.

Peru

Nas ementas e nas vitrinas de 95% da  restauração e dos talhos portugueses escreve-se perú. Mudo quase sempre para porco. Como diz o outro, é o país que temos. Bom proveito, gluglu.

Antropologia aplicada

Perguntei a cinco amigos, pedindo que respondessem espontânea e instantaneamente:
- Gostas de sexo oral?
Todos responderam que sim; todos pensaram apenas em broche.
Perguntei a cinco amigas, pedindo que respondessem espontânea e instantaneamente:
- Gostas de sexo oral?
Uma respondeu que não; todas tinham pensado também em minete.

Machismo se calhar é aquilo.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Oaristo

- Amor, desculpa nunca te ter dito mas costumas ter um bocadinho de mau hálito.
- Como sabes, amor? Tu também ressonas um bocadinho.
- Como sabes, amor?

Beijaram-se muito, foderam e adormeceram; enfim, ela só depois dos tampões nos ouvidos.

Eulectrónica e euritmética

Nunca hei-de entender o que é, exactamente, meu perfil completo e acharia de extremo mau gosto adicionar-me ou que me adicionassem seja ao que for.
Se isto é preservar-me? Pode ser.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sonotone

- Diz que o mel com geleia real faz muito bem.
- Congelaste o quê?

domingo, 11 de setembro de 2011

"The Star-Spangled Banner" entre as brumas da memória

Gosto do hino americano.
Viva a liberdade!

Orgia da morte, religião e a importância do til

O 11 de Setembro entretém, vende e rende pra caralho.
O pior é que ninguém, nem o bom do padre Anselmo que se esforça tanto, nos explica convenientemente a morte; ou seja, a vida.
As migas doces e o leite creme queimado da sobremesa servida ontem à noite n' A Leitaria Gourmet estavam simplesmente divinais.
De maneiras que a América é grande, e é, mas Deus é capaz de ser maior. O que complica um bocado é Alá e isto é muito, muito sério e preocupante, foda-se.
Descubro agora que a orgia se esconde na religião; sobra eli. Noutras palavras com as mesmas letras, orgia + lei = religião? Se calhar. O til não interessa.

Alguém sabe de alguma coisa ao certo? Eu não, nada.
A quem podemos pedir perdão?

«É difícil não dizer nada.

 [...]
não digamos nada.»

Viver em paz

«[...] A quem tem sempre presente o risco implícito costumamos chamar paranóico. Mas talvez nós, os citadinos que não hesitam em mergulhar no corpo-a-corpo do metro ou do autocarro, que se sentam no escuro do cinema ao lado de desconhecidos, que atravessam ruas na crença de que os carros vão parar nos vermelhos e levantam dinheiro no multibanco sem guarda armada, sejamos o oposto igualmente extremo disso. Há um acto de fé inconsciente (e olha o pleonasmo) no nosso quotidiano, um heroísmo distraído, doce, em cada passo. Sim, cremos na civilizada convivência, na fundamental beatitude dos nossos semelhantes; sim, acreditamos que é possível viver em paz, e que é isso que todos queremos. [...]»
Fernanda Câncio, “9/11| NM, 11.Set.2011

Portugueses

A minha admiração por qualquer político está longe de aumentar quando ele exorta as portuguesas e os portugueses, sobretudo sendo a mensagem a mesma.
António José Seguro é um desses. Desnecessário, ridículo.

O que se lê e o que não se lê

«Quando um dia, numa entrevista, perguntaram a Borges quem era ele, respondeu que era todos os livros que lera. Eu quero crer que somos não só os livros que lemos mas igualmente os que não lemos. Cavaco Silva, por exemplo, é certamente não só os livros de economia que leu mas também o provável facto, dedutível de umas célebres declarações suas, de nunca ter lido Os Lusíadas. Já o caso de Passos Coelho é mais complexo, pois, além de ser os livros que terá lido e os que não leu, é igualmente os livros, como A Fenomenologia do Ser, de Sartre, que leu mas que o seu autor nunca escreveu.»
Manuel António Pina, “Os livros que nunca lemos| NM, 11.Set.2011

Acordo Ortográfico [23]

«Concorde-se ou não com as alterações, goste-se ou não do que foi acordado, o Acordo Ortográfico é a grafia das gerações que se seguem. Negarmo-nos a aplicá-lo é negarmo-nos a entrar no futuro que ainda podemos partilhar com os nossos filhos. E fará de nós uns avós que dão erros ortográficos a escrever…».
Sofia Barrocas, “Acordo| Notícias Magazine,11.Set.2011

Será, Sofia, mas que pena, que decepção, que raiva.

sábado, 10 de setembro de 2011

Eu-tu, eu-isso

«Somos porque fomos amados.»

Anselmo Borges, quase sempre na veia.

A maior merda

«De 2001 a 2011, não passou um dia sem que, em nome da Al-Qaeda ou de qualquer outro grupo semelhante*, alguém numa casa de Brooklyn, num restaurante paquistanês de Londres, numa escola corânica de Peshawar, numa barbearia de Marselha, estude explosivos, improvise um colete armadilhado, tente fazer sarin ou rícino, ou pense em atirar um avião contra um prédio governamental ou uma sinagoga judaica.»

* Sejamos claros: em nome de Alá e sob instrução do seu profeta.

Funcionário público

«Este governo já contratou à volta de 5 mil pessoas (parte, fatalmente, "com vínculo"). Quantas despediu? Mais mal pago, o "monstro" continua, imperturbável, a devorar o país.»

Mãe

«A minha mãe - uma mãe que tem quatro filhos é sempre só "minha" para cada um - é uma mulher.
[...]
Ensinou-me que os homens eram um pouco simplórios»

Rei Lear a outros olhos

«Os mais raros, surpreendentes e entusiasmantes exemplos de crítica literária são aqueles em que alguém regressa intrepidamente a algum hectare canónico esgotado e consegue colher algo de novo. Segundo este critério – e segundo muitos outros, na verdade –, um dos melhores ensaios críticos que conheço é “The Avoidance of Love”, do filósofo americano Stanley Cavell. Publicado em 1967, o ensaio não faz a coisa por menos: declara que, durante mais de três séculos, uma cena crucial na maior tragédia de Shakespeare andou a ser lida com os pés; e depois explica pacientemente porquê.
[…]
A proeza de Cavell foi esta: isolou e identificou um problema cuja existência muitos contornavam ou desconheciam; definiu-o em termos tão claros que o aceitamos sem hesitações; e propôs uma solução à qual nunca chegaríamos sozinhos, mas que se afigura imediata e imensamente satisfatória, e nos faz sentir melhores connosco e com o mundo. Um tríptico de milagres normalmente só ao alcance de cirurgiões plásticos, mecânicos de automóveis - ou críticos de elite.»
Rogério Casanova, “Lear recauchutado| Público/Ípsilon, 09.Set.2011

O magnífico Casanova diz "despoletando" por "espoletando". Lá com ele.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Maria João Pinheiro - Miguel Esteves Cardoso

«aconselho os amantes e os apaixonados: a primeira coisa a reter, sejam quais forem as primeiras e segundas reacções das pessoas amadas, é que se está a espalhar e visitar uma sorte amorosa sobre elas. Não é uma questão de amor. É uma questão de tempo. Esperar e não reparar é fundamental. Para quem ama, amanhã, por muito improvável que seja, é melhor do que ontem. Mas hoje pode ser, quando se tem sorte, o dia perfeito.»