mais optimista do que nunca; levemente sinfónico:
«É que o Governo está a precisar de sociólogos e historiadores, ou se quiser apenas de gente com algum saber do país e da vida, que não tenha vindo nem das jotas, nem do marketing, nem dos gabinetes tecnocráticos. Pode ser um padre da província, um bom sociólogo prático, ou um médico que ainda trata cirroses, ou um bom funcionário das finanças, ou um juiz de idade, ou um velho polícia, que já viu muito do que é o seu país e que lhes explique que o Estado em Portugal não é apenas o que vem nos livros de economia, nem da vulgata que hoje passa por liberal.
[…]
As pessoas regressam a casa com o martelo a cair-lhes em cima da cabeça. Muitas já levaram com ele com toda a força: os desempregados que vêem terminar os seus subsídios. Outros começam a perder os seus bens, levados pelo banco ou pelo fisco. Outros apenas, um gigantesco apenas, estão a perder dinheiro e qualidade de vida. Como é que podem ter esperança, o "dever do sentimento" no dizer de Pessoa, alguma coisa que os tire ou da revolta ou da apatia? Não podem. Aí vem o martelo. Da próxima vez taxem os passarinhos nas gaiolas.»
José Pacheco Pereira, "O artigo de regresso" | Público, 03.Set.2011
«É que o Governo está a precisar de sociólogos e historiadores, ou se quiser apenas de gente com algum saber do país e da vida, que não tenha vindo nem das jotas, nem do marketing, nem dos gabinetes tecnocráticos. Pode ser um padre da província, um bom sociólogo prático, ou um médico que ainda trata cirroses, ou um bom funcionário das finanças, ou um juiz de idade, ou um velho polícia, que já viu muito do que é o seu país e que lhes explique que o Estado em Portugal não é apenas o que vem nos livros de economia, nem da vulgata que hoje passa por liberal.
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As pessoas regressam a casa com o martelo a cair-lhes em cima da cabeça. Muitas já levaram com ele com toda a força: os desempregados que vêem terminar os seus subsídios. Outros começam a perder os seus bens, levados pelo banco ou pelo fisco. Outros apenas, um gigantesco apenas, estão a perder dinheiro e qualidade de vida. Como é que podem ter esperança, o "dever do sentimento" no dizer de Pessoa, alguma coisa que os tire ou da revolta ou da apatia? Não podem. Aí vem o martelo. Da próxima vez taxem os passarinhos nas gaiolas.»
José Pacheco Pereira, "O artigo de regresso" | Público, 03.Set.2011