«[...] A quem tem sempre presente o risco implícito costumamos chamar paranóico. Mas talvez nós, os citadinos que não hesitam em mergulhar no corpo-a-corpo do metro ou do autocarro, que se sentam no escuro do cinema ao lado de desconhecidos, que atravessam ruas na crença de que os carros vão parar nos vermelhos e levantam dinheiro no multibanco sem guarda armada, sejamos o oposto igualmente extremo disso. Há um acto de fé inconsciente (e olha o pleonasmo) no nosso quotidiano, um heroísmo distraído, doce, em cada passo. Sim, cremos na civilizada convivência, na fundamental beatitude dos nossos semelhantes; sim, acreditamos que é possível viver em paz, e que é isso que todos queremos. [...]»
Fernanda Câncio, “9/11” | NM, 11.Set.2011