Gonçalo M. Tavares à conversa com João Céu e Silva, no Diário de Notícias de ontem:
DN- Como é a sua relação com a tecnologia?
GMT- Não sou um grande entusiasta, nem me fascino pela tecnologia, ou pela tecnologia que vai substituir a anterior, porque isso é uma obsessão muito pouco sensata. Entre o livro e a tecnologia, sinto que o livro nos dá o direito de sermos lentos. Que é um direito que deveríamos exigir ser quase constitucional. Se o livro dá isso, pelo contrário a tecnologia está sempre a exigir velocidade e provoca uma perturbação e interrupção constantes, fazendo as pessoas serem remetidas de um meio para o outro. Deixam de ter um tempo que apenas pertence à pessoa, situação que se vê muito nos jovens que passam muito tempo numa espécie de comunicação tecnológica que se esquece do corpo. O que para mim é estranho.
DN- O facto de eles viverem a vida de um modo virtual?
GMT- Sim, mesmo que não se tenha essa noção. Todas as pessoas deviam ser fotografadas ou filmadas enquanto estão ao computador para verem como são apenas um corpo em frente a um ecrã. E quem está na Internet, por exemplo, não tem noção de que é apenas um corpo em frente a um objecto, antes considera que é um corpo em frente ao mundo todo e que está nele como se estivesse perfeitamente dentro da floresta ou da cidade. Se essas pessoas vissem a sua fotografia, veriam uma realidade diferente! É evidente que a tecnologia é tão atractiva que, a certa altura, as pessoas se esquecem do resto – porque há ali um mundo muito viciante.