sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A ironia

«Para os apressados obituaristas do termo, no entanto, a ironia é um trôpego sinónimo de narcisismo, cinismo, apatia e indiferença. A ironia que eles queriam enterrar era uma distorção estenográfica do termo, que pretende representar uma pose geralmente associada à "Geração X", vista não como um recurso retórico mas como uma atitude céptica perante as Grandes Abstracções (Deus, Amor, Patriotismo, Decência), e cujas raízes são encontradas numa espécie muito particular de pânico identitário: o medo do ridículo, da desilusão, da traição, da humilhação, mas também o medo de ser visto como sincero, comprometido ou sentimental.
[…]
a ironia verdadeira não recusa a verdade de algumas proposições abstractas. O que faz, quando é bem executada, é desmascarar a utilização dessas abstracções para fins venais. O alvo da ironia não é a sinceridade, mas sim a duplicidade: a duplicidade que manipula os instrumentos da sinceridade para engendrar uma farsa.»