«Este conflito teórico dura há trinta e cinco anos, sem um resultado visível. Chegou por isso a altura de aproveitar a crise para o resolver. O PS, o CDS e o PSD, em vez de perderem tempo com eleições, podiam perfeitamente organizar um referendo sobre a independência da Madeira. Com certeza que o eleitorado do continente, em troca de não lhe pagar as contas, não negaria ao sr. Jardim a liberdade de se arruinar como ele quisesse e de fazer uma constituição que ele aprovasse (como não aprova a nossa). E com certeza que o eleitorado da Madeira (com a presumível excepção de Vicente Jorge Silva) não negaria ao simpático Jardim o privilégio de gastar tudo o que lhe apetecesse e de combater a Maçonaria e a internacional socialista com o seu espírito borbulhante, até agora contrariado e contido pelos conspiradores de Lisboa.
O que não faz sentido é a situação presente, em que o contribuinte da Ericeira ou da Régua suporta a extravagância, admito que divertida, do sr. Jardim; o governo da República é regularmente injuriado; e a Madeira, quando calha, não cumpre por princípio ou conveniência as leis que lhe chegam de Lisboa. Compreendo que a tribo dos comentadores goste de ter esta ópera cómica ao seu dispor para os momentos de apatia ou depressão aguda. Mas, como a terapêutica custa 500 milhões de euros, convém arranjar um divertimento mais barato.»