segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Francisco Seixas da Costa | Alberto Gonçalves | Educação

«A ideia não será popular, mas não seria esta a ocasião para se introduzir uma transparência total nas redes sociais acabando com o anonimato?»

«[...]
A nova ordem está na fresquíssima secretária de Estado da Igualdade ou da Fraternidade, que em tempos explicou no Facebook: Como sabem eu [sic] não tenho por hábito fazer sensura [sic], mas não tulero [sic] insultos (...). E está no sensor, perdão, censor que saltitou da ERC para a tropa, com escala pedagógica a norte. E está na sugestão do Sr. Seixas da Costa, personalidade conhecida por zelar pela educação parisiense do Eng. Sócrates e por se indignar com a falta de "estrelas" Michelin em Portugal: A ideia não será popular, mas não seria a ocasião para se introduzir uma transparência total nas redes sociais acabando com o anonimato? E está no assombroso Dr. Ferro. E no nobilíssimo Dr. César dos Açores. E em sujeitos que passeiam títulos e pêlos nas orelhas em simultâneo. Quem é essa gente, Deus do céu?
[...]»

«[...]
ao ler na net um jornal lisboeta de hoje, verifico que, finalmente, um certo cromo, dos que me faltavana minha galeria de adversários políticos, finalmente me arremessa uma farpa, num seu artigo semanal. Já tinha quase todos na minha "colecção" particular (se o leitor detecta algum gozo no que ora escrevo, tem alguma razão para isso) mas este nunca mais aparecia. Pronto, quebrou-se hoje o enguiço, ufh!
Por que fui atacado? Aparentemente por eu ter lançado, noutro espaço informático, a ideia (pelos vistos tenebrosa e atentatória das liberdades) de que deveria acabar-se em absoluto com o anonimato na internet. Essa proposta "radical" de propor que quem faz uma afirmação ponha o seu nome real por baixo, sem refúgio em pseudónimos ou iniciais equívocas, é, pelos vistos, altamente sinistra. Cá para mim, quem não deve não teme - embora imagine que seja muito "corajoso" e cómodo insultar e caluniar os outros, sem mostrar a cara.
Vá lá que o cromo assina todos os artigos, o que só lhe fica bem.»

Sucede que...
Pontificando entre os três ou quatro melhores colunistas da comunicação social portuguesa, Alberto Gonçalves, sem que precisemos de aderir ao que defende ou alinhar no que zurze [não raro discordo dele], serve-nos ao domingo e à quinta-feira, no Diário de Notícias e na Sábado, prosa de urdidura gramatical irrepreensível, bênção nos tempos que correm,  impregnada de tal comicidade e ironia que nem Ricardo Araújo Pereira, o melhor dos sardónicos mais novos, nem Vasco Pulido Valente  (mansuetude dos 70?), o melhor dos senadores cáusticos — revejo "de ouvido", sem pensar muito, os ases do género — logram com tão abundante e depurado alcance. A escrita de Alberto Gonçalves é um requinte de gozo.
Já o nosso bem instalado e próspero antigo embaixador, de multímodos mesteres, escreve, ainda que escorreito, apenas sofrivelmente. Discurso atilado demais para o meu gosto, que lhe frequento regularmente os vários estaminés onde oficia. Neste concreto acto de desprezo por Alberto Gonçalves, soa sobranceiro e feio que Seixas da Costa, paladino da lisura e da transparência, não tenha identificado o "cromo" nem o "jornal lisboeta"; além de que * bom português é «dos que me faltavam» e não «dos que me faltava». O que só lhe fica mal.

Mas estou de acordo com o que, por exemplo, diz hoje Francisco Seixas da Costa do exame do quarto ano e da prova de avaliação dos professores.
Acompanhei, através da televisão da AR, o debate de 27 de Novembro sobre a matéria.
Que Partido Socialista é este, cujo secretário-geral, agora Primeiro-Ministro, empanturra a conversa de Ciência e Conhecimento, Ciência e Conhecimento, Ciência e Conhecimento, que sucumbe à chantagem trauliteira do pulmão leninista por que o Governo sobrevive no Parlamento, diabolizando pateticamente uma boa ideia sua consubstanciada na lei em 2007 e 2008 e participando sem um pingo de vergonha e com lastimoso masoquismo na opereta rasca dirigida pelo real e perene ministro da tutela, Mário Nogueira, cuja bigoduda batuta ali se pressentiu do primeiro ao último minuto da argumentação dos que não se incomodam com que os candidatos a ensinar os nossos filhos asneiem na aritmética rudimentar ou não consigam, no Português, distinguir "levastes" de "levaste", "levaste" de "levas-te"?
Algo me diz que a este cambrídgico moço, de quem não se conhece uma ideia sobre instrução pública, faltarão os tomates com que Maria de Lurdes Rodrigues, honra lhe seja, enfrentou o senhor professor Mário Nogueira durante quatro anos. Por isso, para acalmar a FENPROF e não perder tantos votos, Sócrates a rendeu em 2009 por uma alçada libelinha...
Com nem 24 horas de um tempo novo, a sessão parlamentar a que assisti na sexta-feira assemelhou-se a exéquias comiserativas da decência. A questão "técnica" da inconstitucionalidade não passa de poeira para olhos ingénuos.
O sindicato recrudesce, o ensino deliquesce.

Plúvio, e se fosses rimar para outro lado?

sábado, 28 de novembro de 2015

Ostinato rigore

«Há mais de 69 centros comerciais em Portugal»
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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

XXI Governo Conchtucional - Século XXI

Às 16h56 de hoje, o senhor Primeiro-Ministro apresentou-se aos trabalhadores, ao povo e ao País - assim diz o camarada Jerónimo de Sousa (ponto 4.) -, anunciando e garantindo sequencial e literalmente:
.  um governo coerente, estável e duradouro
.  prioridade ao crescimento económico, à criação de emprego, à redução das desigualdades
.  virar de página da austeridade
.  mais crescimento, melhor emprego e maior igualdade
.  maioria estável que assegura, na perspectiva da legislatura, o suporte parlamentar duradouro a um Governo coerente
.  um Governo de garantia
.  persistência e continuidade no investimento, no conhecimento e na inovação
.  promoção da saúde
.  redução das desigualdades
.  um tempo novo para Portugal e para os portugueses
Um tempo novo - é essa, verdadeiramente, a nossa ambição.
Um tempo novo para a vida das famílias, dos trabalhadores e das empresas; um tempo novo para a economia e para o emprego; um tempo novo para o Estado e para os serviços públicos; um tempo novo para o combate à pobreza e às desigualdades; um tempo novo para a aposta nas chaves do futuro - a Ciência, a Educação e a Cultura; um tempo novo, enfim, de oportunidades e de esperança, que assinale, de uma vez por todas, o reencontro das prioridades da governação com os projectos de vida dos portugueses que têm direito a ser felizes aqui. (…) Este é, portanto, o tempo da reunião. Não é de crispação que Portugal carece, mas sim de serenidade. Não é altura de salgar as feridas, mas sim de sará-las.»]

Ou seja, se tudo correr bem na perspectiva da legislatura, o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda apresentar-se-ão nas eleições de 2019 sem nada, ou com coisa pouca, que lhes permita, como alternativa contrastante, disputar votos ao Partido Socialista. E extinguir-se-ão pela ordem natural das coisas.
Bem visto. Sorte, doutor António Costa!

Mais falou ainda, (tres)lendo, o senhor Primeiro-Ministro, mas isso agora interessa pouco:
.  é sobretudo com profundo sentido de serviço ó País e à República que hoje assumo, diante de todos os portugueses, meus concidadãos, a exigente tarefa de liderar o Governo de Portugal.
.  são inaceitáveis, erradas e, além do mais,
inconchtucionais, as pretensões que pretendem pôr* em causa os alicerces em que assenta o nosso contrato social
.  Hoje empossado por Vossa Excelência, senhor Presidente, o XXI Governo
Conchtucional torna-se o Governo de Portugal. É agora tempo de assumirmos todos, por inteiro, as nossas responsabilidades, o que quer dizer, no que respeita ao Governo, a máxima lealdade e cooperação inchtucional com o Presidente da República.
.  enfrentar os bloqueios estruturais à competividade
.  não recuperamos competividade por via do empobrecimento colectivo
.  Para acudir ós verdadeiros problemas, todas as Portuguesas e todos os Portugueses são necessários.
.  a conduta do XXI Governo
Conchtucional pautar-se-á, pois, pela moderação.
.  Uma palavra, também, de sentido agradecimento a todos aqueles, mulheres e homens, que, de forma tão generosa, aceitaram o meu convite para integrarem este XXI Governo ConchtucionalFoi para um projecto entusiasmante que vos convidei. E é com a vossa dedicação e o vosso entusiasmo que conto, para que o XXI Governo Conchtucional ajude Portugal a triunfar nos desafios do século XXI.
.  É para servir Portugal que aqui estamos. Essa é, aliás, mesmo a única razão de ser**: Portugal.
Muito obrigado.»
Eram exactamente 17h15, Portugal acabara de entrar num tempo novo.

«[...]
é questão apenas de a humanidade viver outra vez
tanto como viveu até hoje
ou de mais ainda,
é questão de mais tempo,
ainda mais tempo,
é o tempo que há-de fazer
o que apenas se pode atrasar.

[...]»
José de Almada Negreiros, "Rosa dos Ventos"
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* Que tal «as pretensões de pôr»?...

** Foi o que o doutor António Costa disse [minuto 18:30]. Cá para mim, «mesmo a nossa única razão de ser» é que talvez fizesse sentido.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Acordo Ortográfico [97]

Pelas nove e meia da noite de segunda-feira, 07.Jan.2013, dizia João Soares na SIC Notícias:
«Eu, não sendo um entusiasta do Acordo Ortográfico, sou o mais que é possível a favor de que unamos cada vez mais esta língua, porque é o Brasil que lhe dá também uma grande vitalidade.» 
Pois bem. Estará a partir de amanhã, 26.Nov.2015, em poiso propício como nunca a materializar o seu desentusiasmo pelo AO. Força nisso, senhor ministro. As portuguesas e os portugueses - ups! -, mas sobretudo o Português, agradecem.

- x -

«Partidários e opositores do chamado Acordo Ortográfico de 1990, posto em vigor desde 2011, juntaram-se recentemente na Academia das Ciências de Lisboa para participarem no colóquio "Ortografia e bom-senso". Foi, se a memória não me falha, a primeira vez em que, num clima de tolerância e respeito mútuos, personalidades portuguesas e brasileiras, de grande prestígio na área das ciências filológicas, discutiram com elevação um problema que toca a todos os falantes da língua portuguesa.
[…]
É tempo de se abandonarem utopias estéreis e de se respeitar o direito à ortografia nacional, em Portugal, no Brasil ou em qualquer outro país lusófono onde a marca da autonomia cultural esteja claramente presente no uso da língua.
Deixemos respirar a diferença.»
Escrito com ortografia decente num jornal praticante de português teratográfico. 
* Vice-presidente da Academia das Ciências de Lisboa e presidente da classe de Letras.

- x -

«No dia em que o Governo caía, discutia ali bem perto a Academia o bom senso da ortografia.  Pode parecer o início de um péssimo verso, mas é a mais pura das verdades. A Academia das Ciências de Lisboa teve a louvável ideia de abrir as suas portas (dias 9 e 10) à discussão de um problema sério, o da ortografia nacional, que alguém resolveu “simplificar” em transnacional. Em dois dias, profícuos, lá tivemos, em pacífica mas tensa convivência, acordistas (o corrector acaba de me emendar para açorditas, o que me obrigou a pô-lo na ordem) e não-acordistas, com muitos argumentos repetidos, uns frágeis e outros sólidos, e algumas novidades deste nosso mundo.
[…]
Argumentações contra este acordo houve muitas: desde a importância da “expressão grafémica da ortografia” até à “formatação mutiladora do português europeu”, passando pela ridícula imposição à ciência (as propriedades “ópticas” dos minerais passam a “óticas”, o que nos levará a encostá-los aos ouvidos para confirmar), à idiotia de fazer regredir palavras já consagradas (“reescrever” passa a “re-escrever”, segundo o AO, por ter duas vogais iguais seguidas), ao desastre da confusão entre “fonémica” e “fonética” ou ao “atentado contra a significação corrente das palavras”. 
[…]
vamos lendo horrores como “impato” por impacto, “fatos ilícitos” por factos ilícitos, “corrução” por corrupção, “seção” (à brasileira) por secção, “começamos” por começámos (confundindo tempos verbais, numa submissão à norma regular brasileira), “pato” por pacto, tudo isto em documentos oficiais (PR, Governo, autarquias, etc.), escolares, textos empresariais, imprensa, etc. Além, claro, de uma constante mistura de grafias, sem tino nem nexo. Há um exaustivo levantamento online feito por João Roque Dias, especialista em tradução técnica, e é assustador! Está tudo bem? Claro que está! Em 2016, haverá excursão gongórica a Timor! As escolas e o país... que se arranjem com o resto.»

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Paciência e curiosidade

«Entre os poucos consolos do avançar da idade há um prazer que é inacessível à mocidade: a paciência.
[…]
A paciência, longe de ser uma estucha, é a modalidade veterana da curiosidade. "Sempre quero ver a que horas chega hoje o padeiro" corresponde à interrogação juvenil acerca do sentido da existência.
A preparação é a pornografia da paciência.
[…]»

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Jerónimo responde correspondentemente a Cavaco

«[...]
esta nova tentativa de Cavaco Silva para procurar subverter a Constituição da República terá da parte dos trabalhadores e do povo a resposta democrática que lhe corresponda.
[...]»

Que resposta democrática correspondente será?
Vamos que o povo responde e os trabalhadores não?
E se forem só os trabalhadores a responder? Temos a burra nas couves.
Enfim, isto sou eu a delirar porque natural é que os trabalhadores não façam nada sem que, por ordem do PCP, o povo se lhes junte. E vice-versa reciprocamente ao contrário, mutatis mutandis.

domingo, 22 de novembro de 2015

O engenheiro e os filósofos [2]

Às 13h31 foi abraçado por Vital Moreira, constitucionalista ilustre de quatro lustrosos botões no punho; o que ajudou o engenheiro no livro.
Às 13h40 gritou-se «Fascismo, nunca mais!, fascismo, nunca mais!, fascismo, nunca mais!, fascismo, nunca mais!, fascismo, nunca mais!, fascismo, nunca mais!». Isso, por seis vezes sem que o engenheiro, ex-primeiro-ministro de Portugal de 2005 a 2011, mexesse uma pestana para moderar a demência da sala. [minuto 05:48] 
13h34- «Todos os meus amigos que fizeram parte desse movimento cívico que nos últimos meses nunca deixou de me apoiar ... perceberam muito bem aquilo que há mais de dois séculos um grande pensador disse a propósito da justiça e do Estado de direito, do Estado de direito democrático: O abuso por parte do Estado sobre um cidadão é uma ameaça aos demais[minuto 01:00]
13h36- «Venho aqui também para celebrar a amizade. Várias vezes* referi esta observação que uma grande filósofa faz a propósito da amizade. Dizia ela que a amizade é o sentimento mais político de todos. E tinha razão.» [minuto 02:18]
* Confirma-se: na passada segunda-feira, almoço com Pinto da Costa, [minuto 2:40].
Confirma-se.

Será Fernanda a grande filósofa? Nunca se sabe.

Às 13h39, o engenheiro chorou- «Queria que todos soubessem o quanto devo ao Mário Soares, desde a primeira hora.» [minuto 04:33] Faltou dizer quanto deve ao Carlos Santos Silva. Mas não haveria lágrimas que bastassem. Além de que isso, extravagando da noção de «decência cívica» por que, por exemplo, propugna o mui estimável escriba Valupi, só poderia configurar bisbilhotice abjecta.
Nas oito letras de Sócrates todas as seis letras de Soares.

13h50- «Eu vou responder a todas as perguntas, vou dar entrevistas** e vou defender-me, como sempre.
[...]
Se há muitas provas no processo, elas são todas provas de que nunca me pode ser atacada [sic; queria decerto dizer assacada] nenhuma actuação de que me possa envergonhar.***» [minuto 15:52]
**  Pois que dê, esperamos. Até agora não deu nenhuma, de resposta e contra-pergunta. Talvez porque ainda não arranjou entrevistadores adequadamente capados para lhas fazer de feição.
*** Este não é homem de grandes vergonhas; salvo, talvez, a de nomear o dinheiro.

Dificilmente sabemos da sua boca que filósofos cita. Uma coisa no entanto está garantida: serão sempre todos grandes. O engenheiro não é de pequenezas.
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- E tu, Plúvio, que sabes?
Tudo, mas mesmo tudo, sem luvas nem preconceito, o que e onde posso saber, incluindo os fóruns da infâmia, os antros da canalhice e os esgotos a céu aberto.
Leio no Correio da Manhã, na Sábado, no SOL, no i, no Observador; mas também no Expresso, na Visão, no Público; e até, vejam lá, no Diário de Notícias e no Jornal de Notícias do muito amigo Camões aprendo coisas do engenheiro.
Vejo nas televisões: CMtv; mas também na RTP e na SIC; e até, vejam lá, na TVI do fã Figueiredo.
Frequento a Porta da loja e Do Portugal profundo.
E frequento com não menos afinco e proveito as principais capelas de socratolatria [actualização de Abril de 2021]:

Do processo, atribulado e turbulento, pouco conheço e cada vez menos espero: vem aí a justiça&política do indefectível amigo, apesar das aparências do tempo, António Costa. Sabemos como sangra mudo o coração de António Costa; a realpolitik manda. 
Da humanidade, vou sabendo um pouco mais. Que desgosto, senhores!

Tradoção simultânea

Real Madrid, 0  -  Barcelona, 4

sábado, 21 de novembro de 2015

Riscas rob e alaque. Vexilologia aplicada.

Cinco minutos de digressão pelas redes dão para intuir que a bandeira da Nigéria não tem a mesma saída da francesa, nem pouco mais ou menos, nas caras larocas de determinadas e comoventes solidariedades hiper-reactivas à bondade humana. Exemplo público ao calhas.

A bandeira do Mali também parece não atrair muito as caras-consciências indignadas do zoo social, leia-se feicebuque ou qualquer xávega do tipo.

Por estes mesmos dias:
Citando o doutor Vakil, «amor ao outro». Bem sei, aquele é o mau mé; o verdadeiro era bonzinho.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Calunga Gima

Num impulso, saltou a vedação com a ajuda de uma árvore
Público em linha, 19.Nov.2015
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Obrigado, Ana Henriques, pela odisseia de riso.

Deus, os profetas, os livros

Não me lembro de ter ouvido e lido tanto, em tão poucos dias, a palavra «radicalização» no sentido de 'perigo dos perigos' ou de 'o mal maior'.
Bem me parecia que o problema é capaz de estar mesmo na raiz...

Ainda ontem, na missa de sétimo dia por uma mulher que o cancro levou aos 47 anos, nada de mais optimista e edificante se pôde escutar do que, logo à primeira leitura, esta passagem do primeiro livro dos Macabeus [Mac 2, 15-29]. *
«Palavra do Senhor.»
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* «[...] inflamou-se de zelo, estremeceu-lhe o coração e, num impulso de justa ira, lançou-se sobre ele e degolou-o sobre o altar. Em seguida matou o enviado do rei, que obrigava a oferecer sacrifícios, e demoliu o altar. [...]»

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Homo constructor

«A esquerda tem de se bater por ideias que sejam construidoras de acção social.»

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Vamos lá ver

Exercício miudinho.

Anteontem na RTP, entre as 21:01 e as 21:35, às 33 perguntas em que Vítor Gonçalves gastou sete minutos, António Costa respondeu, nos 27 minutos em que falou, 'vam-lá-ver' ou 'vam-lá-ver o seguinte' 18 vezes.
Ainda assim, António Costa pareceu esforçado no controlo do seu tique torrencial e foi patente a preocupação em explicar-se num português mais bem soletrado do que a prosódia trágica em que habitualmente se exprime. Cheira-me a assessoria zelosa por ali [por exemplo, já diz bem acôrdos], não bastante, contudo, para ter privado os senhores telespectadores do glorioso final do entrevistado, no derradeiro minuto da conversa: 
«num momento oportuno e de um modo inchtucionalmente adequado […] de acordo com o modelo inchtucional adequado», suas últimas palavras.

Aos 13 minutos da conversa, comentando os golpistas e fraudulentos de Pedro Passos Coelho, de 4 dias antes, António Costa: «Essa não é uma linguagem própria de um primeiro-ministro nem uma linguagem saudável na nossa democracia.», aduzindo, aos 32 minutos, «tenho ficado chocado, para lhe ser sincero, com a agressividade verbal que tem sido utilizada.», no que logo me lembrei do paradigma de linguagem polida, asseada, cordata e «saudável na nossa democracia» que qualquer governante ou candidato à governação deverá praticar em todas as circunstâncias.

À margem, anote, leitor amável, quantas vezes, desde as legislativas de 4 de Outubro passado, o doutor António Costa, que excretou Seguro para as Caldas por com ele o PS só ser capaz de poucochinho, disse a frase «perdemos as eleições» ou pronunciou a frase «perdi as eleições».
Não é de campeão?
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E que dizer do português da RTP?
A incompetência do costume.
Dois casos, entre outros, de má gramática no rodapé
Não é tivémos mas tivemos.
Não é antes do sr. Presidente da República tomar a iniciativa mas antes de o Sr. Presidente da República tomar a iniciativa.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

TAP - Última hora

«O que eu acho extraordinário e que os portugueses têm que perceber é que […] este país, que está sobrecarregado de impostos, não consegue manter uma empresa que é vital para o país, mas um senhor muito respeitável que tem uma empresa de camionetes* pode. […] Todos os argumentos que possam invocar são argumentos completamente falaciosos.»

Pois eu acho extraordinário, coisa que os portugueses talvez gostem de saber, é que um letrado senhor respeitável que faz umas fitas fortemente financiadas com impostos dos portugueses**  não consiga contar até oito que são por acaso as letras de Pasolini e de Pascoaes.

Os deuses nos salvem, e sobretudo aos trabalhadores da TAP, destes iluminados salvadores da TAP.

ÚLTIMA  HORA
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* Não faltarão motivos a Humberto Pedrosa [2500 autocarros, 1200 camiões, Fertagus, Metro Transportes do Sul] para chamar a António-Pedro Vasconcelos aristocrata de pacotilha, rico pedinte ou, numa simples palavra mantendo-o ao nÍvel, carroceiro.

** Por exemplo, no medíocre "Call Girl" gastou este país, sobrecarregado de impostos, 650 mil euros. Mas admito: "Call Girl" não é vital para o país.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

De quem é a TAP?

Dos seus donos. E é certamente dos que dela, nela e para ela vivem; dos que nela trabalham.
A TAP não é, a partir de agora, total ou maioritariamente do Estado, como foi de 1945 a 1952, deixou de ser em 1953 e voltou ser em 1975.
A TAP, a melhor e mais bonita companhia aérea do mundo, tem sido um milagre de sobrevivência. Convém não abusar. 
A TAP não pode ser dos que a parasitam.
A TAP não é do senhor hífen Pedro Vasconcelos.
A TAP não é do Bloco de Esquerda.
A TAP não é do PEV.
A TAP não é do PS*.
A TAP — «A TAP É NOSSA», SITAVA, 13.Nov.2015 — não é, sobretudo, do Partido Comunista Português que nela mantém um fervoroso e vicejante braço sindical por conta da redenção marxista-leninista que tanta prosperidade tem feito florescer no Tempo e na História. 

Na passada sexta-feira, estive no grande refeitório da TAP, lotado, na apresentação aos trabalhadores de Humberto Pedrosa e de David Neeleman, detentores desde 12.Nov.2015 de 61% do capital da empresa. Senti perpassar por ali uma aragem de esperança e durante duas horas quis crer e confio — santa ingenuidade? — em que aqueles senhores não têm de ser, e não serão, mais dois filhos da puta-exploradora-plutocrata do capitalismo sem escrúpulo.
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* «Relativamente à TAP, […] no nosso programa eleitoral consta que não poderão ser alienados mais de 49% da TAP**. É uma solução desejada por todos***. Incluindo os compradores***. 
[…]
Não há nenhuma relação entre a titularidade do capital e o que será necessário fazer na TAP para assegurar a sua viabilidade.****»

** Respire fundo e conte até trinta, doutor António Costa. Lembre-se e conforme-se com Marguerite Yourcenar, sábia e prodigiosa fufa: «... o passado, sobre o qual nada podemos ...» [... le passé, sur lequel nous ne pouvons rien ...]
*** O doutor António Costa está mal informado.
**** Jura que não há?
Tenha juízo, doutor António Costa. E já agora, que esquisitice vem a ser essa do novo ministério? MiPlInfra?!... O que é que tem contra as obras públicas?

domingo, 15 de novembro de 2015

Erros que a ignorância vinca e a televisão veicula

«Ismael Omar Mostefai, um dos envolvidos nos ataques de Paris, o único que foi identificado até ao momento, é filho de uma cidadã portuguesa. Teria pai argelino. São essas as últimas informações adiantadas pela investigação; informações vinculadas aqui pelo The New York Times.» 

Simpatizo com a jornalista Sara Pinto. Não posso simpatizar com os professores que a ensinaram.

Plúvio surpreendido e perplexo

Como se não fosse suficientemente penosa a contagem dos mortos e dos feridos de Paris, vai por aí uma trupe de plumitivos — sabe-se lá se deformados no ISCAL  — que porfia em contabilizá-los.
Surpreende-me que até Carlos Vaz Marques, jornalista, editor e professor universitário que prezo, tenha recorrido ao ábaco. Passavam dois minutos da meia-noite:
«Já estão contabilizados nesta altura cerca de cento e trinta mortos.»

Cerca de uma hora depois, em Carnaxide, a perplexidade:
«Devo dizer que há coisas que me deixam perplexas, me deixam muito perplexas; há duas coisas que me deixam muito perplexas.» [sic, sem que se auto ou alguém a corrigisse.]

Entretanto, sem surpresa,
«Volto a reafirmar com vigor que o caminho da violência e do ódio não resolve os problemas da humanidade, e que utilizar o nome de Deus para justificar este caminho é uma blasfêmia. […] Confiamos à misericórdia de Deus as vítimas indefesas desta tragédia.»*

Tá bem, abelhinha.
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* ... «misericórdia de Deus», o omnipotente — Allahu Aqbar! —, infinitamente bom, amoroso e justo Deus de Abraão, de Abdool Karim Vakil e do Papa Francisco, o tal Deus que não mexeu um dedo pelas «vítimas indefesas» e não impediu o dedo no gatilho dos assassinos.

O quê?, Deus não tem dedos? Ai isso é que tem, que eu bem lhos vejo...  

sábado, 14 de novembro de 2015

Última hora

«O Islão é amor ao outro.»
Abdool Karim Vakil, chefe da Comunidade Islâmica de Lisboa, esta tarde.
Tá bem, abelha.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Exageros do fervor e rigor científico dos números *

A propósito da morte, anteontem, do doutor Paulo Cunha e Silva, Fernanda Câncio — integrando obviamente, decerto no naipe dos sopranos, o mais abrupto, tsunâmico, concentrado e efusivo coro mediático de unanimidade elegíaca a que me lembro de ter assistido —, encheu a página 36 do Diário de Notícias de ontem, composto de 48 páginas: 
«O homem que fez tanta coisa, comissariou tanta coisa, inspirou tanta coisa e tanta gente que talvez todas as páginas deste jornal não chegassem para enumerá-las»
Repito: 48 páginas; como esta.
Lê-se melhor aqui.
Nada de novo no recato hiperbólico da doutora Câncio. O fervor em manobras dá nisto.
A Fernanda esteve obviamente no funeral do Paulo; coisa natural, ainda que de reciprocidade improvável, entre amigos. Aliás, toda a gente esteve no funeral, incluindo o doutor Costa. Difícil é distinguir os que vão pela dor da perda dos que aparecem pela necessidade vital de serem vistos, sem prejuízo de que estes serão sempre incomparavelmente mais. Já com a doutora Barroso fora a mesma coisa. Sobreviver tem os seus truques.
Logo na manhãzinha de 12, mal se soube do falecimento, pus a brigada da ENTIDÓNEA na rua, a medir a popularidade do doutor Paulo Cunha e Silva: apenas um em cada cerca de 103 424 portugueses [vá lá, também portuguesas...] fazia uma ideia mínima de quem Paulo Cunha e Silva fosse. Ao início da manhã de 13, a ENTIDÓNEA voltou à rua: cerca de 4 em cada 3 cidadãos  [vá lá, cidadãs também...] sabia que Paulo Cunha e Silva era amigo de Sindika Dokolo. O que a morte e o lóbi guei não fazem por uma pessoa ... e pelo povo em geral.
O fervor em manobras não relaxa, o putedo amesendado à cultura e à política ajuda no foguetório:
Meus respeitosos respeitos aos viúvos, o viúvo do Paulo e o viúvo do Ricardo.
Sim, admiro o grande talento, o papel importante e a obra inúmera de um e de outro, mas é doutra coisa que aqui cuido. 

Maria Manuel Mota, cientista, Prémio Pessoa/2013, "Fazer da curiosidade profissão" – JL, 11.Nov.2015:
«Estou no iMM Lisboa desde 2005, liderando e orientando o trabalho de uma equipa com cerca de 16 investigadores.»
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* Verbete concluído cerca das 04:13 de 14.Nov.2015, com Paris a tresandar a morte na véspera da compungida compunção pungente do costume com que o Papa Francisco — que com siderante bondade [eufemismo de miopia comovedora?] não consegue achar violência no Alcorão** — virá à sua varanda de Roma pedir mais umas atençõezinhas a Deus, Nosso Senhor, Todo-Poderoso, Justo, Providencial e Infinitamente Bom, o mesmo Deus abraâmico sob cuja invocação com outras alcunhas, mais propriamente Alá-cunhas, se vai intensificando a matança ante a bovinidade atenciosa de um Ocidente bem-educado, compreensivo, multicultural e inclusor.

** Papa Francisco, 24.Nov.2013: «[…] Frente a episódios de fundamentalismo violento que nos preocupam, o afecto pelos verdadeiros crentes do Islão deve levar-nos a evitar odiosas generalizações, porque o verdadeiro Islão e uma interpretação adequada do Alcorão opõem-se a toda a violência. […]»
Exortação apostólica "Evangelii gaudium" ["A alegria do Evangelho"] 

Barack Obama parece pensar de modo semelhante. Mas há quem, conhecendo o livro, leia doutro modo. Por exemplo, este rapaz que diz de sua razão em apenas oito minutos. Em rigor, 8 minutos e cerca de 48 segundos.

Masturbação colectiva de três beatos

- José Manuel Pureza [JMP], diácono de Coimbra, o mais BEato dos três
- Octávio Teixeira [OT], estalinista-fandango

JMP [diz acòrdos, mal]- Sou daqueles que pensa que o acordo*

OT [diz acôrdos, bem]- Como diz a Helena, se for preciso será.

HR [diz acòrdos, mal]- Estou absolutamente de acordo com o que estão a dizer. Concordo em absoluto.

OT- Uma das questões fundamentais destes acordos, do meu ponto de vista, foi a clareza com que eles foram assinados.
HR- Claro!
OT- … e a clareza daquilo que eles contêm.

JMP- Eu creio que todas e todos** temos a consciência de que estes quatro anos que percorremos foram anos de radicalização.

HR- Oiça!, eu cito aqui o Manuel Alegre. Ele costuma dizer uma frase que eu muitas vezes penso.

Tanta clareza, tanta transparência, tanta certeza absolutamente inequívoca extenuam-me.
___________________________________
* Sou daqueles que pensam, s.f.f.
** Se o ridículo matasse

Nota
Nada contra a masturbação, bem pelo contrário. O resultado é sempre, no mínimo, de 5 a 1.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

MC/MC, brilho contínuo

'A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz os pobres são os primeiros a morrer'.
Capítulo 9, página 125.

Mário Centeno, anunciado messiânico ministro* de António Costa, na sua primeira subida à tribuna do hemiciclo, ontem: 
«Recorrendo a uma brilhante frase de Mia Couto, para o governo de que agora nos despedimos, 'a diferença entre a recessão e a expansão é que na recessão os pobres são os primeiros a perder, na expansão os pobres são os primeiros a não ganhar'
Minuto 01:20 

Se não vier a confirmar-se um brilhante bluff — oxalá não —, o apessoado doutor Centeno, benfiquista inveterado e amigo dos pobres, começa pelo menos a mostrar jeito para demagogo brilhante.
Mia Couto, consagrado canivete suíço de citações brilhantes, talvez merecesse* paráfrase mais desinfeliz.
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* Alitera, Plúvio, alitera.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

António Costa, aritmético e penoso falante

História no Palácio de São Bento.
Assembleia da República, terça-feira, 10 de Novembro de 2015, dia em que o Bloco de Esquerda inaugura final e activamente, depois da redentora tarde de 23.Mar.2011 em que ajudou, com o PCP, a derrubar o governo do PS e a guindar Pedro Passos Coelho ao poder, o seu contributo na restituição a cada um e a cada uma da dignidade perdida. Agora, sim, é que a vida — dos portugueses e das portuguesas, todos e todas, cidadãos e cidadãs, pessoas e pessooslisboetas e lisboetos —, não vai parar de melhorar.  
Tenho de reconhecer: a nitidez prosódica e a dicção do engenheiro técnico Sócrates fazem da prolação do doutor António Costa um embrulho atrapalhado de lixo escorrente. Pobre língua portuguesa*, a com que o próximo primeiro-ministro de Portugal fala connosco.
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* Partido Socialista, Comissão Nacional, 07.Nov.2015
Proposta de Programa de Governo, página 131
«[...]
a língua portuguesa tem que ser alvo de uma estratégia nacional que envolva todo o governo **
[...]»

**
... a começar pelo líder. Reconvoque-se, pois, com urgência, no superior interesse público da Nação, a senhora dona Glória de Matos.

Maria Filomena Mónica


Sócrates, Cavaco, Costa, Marcelo, o da Nóvoa, cancro, morte, vida …

Desencantado e céptico, revejo-me largamente no pensamento de Maria Filomena Mónica.

«[…]
Como vê a providência cautelar interposta ao grupo Cofina?
Como cidadã, acho incrível que o juiz Rangel, que emitiu opiniões favoráveis sobre o homem e político José Sócrates, não tenha pedido escusa do processo. Em segundo lugar, no que decorre da providência cautelar é um atentado à liberdade de imprensa. Poderia ser uma limitação razoável por motivos de segurança ou muito graves, mas não é. É uma forma de proteger a personagem do engenheiro e isso é lamentável. É bizarro que um jornal esteja impedido de dizer o que quer que seja sobre um sujeito e ele ande a falar em defesa própria e a justificar-se, passando a ideia de que é um homem íntegro, o que toda a gente percebe que não é possível pelas histórias passadas. A história do amigo muito rico não cabe na cabeça de ninguém.

Portanto não acha natural levar uma vida de luxo com dinheiro de um amigo?
Do ponto de vista moral, um amigo que me sustentasse faria de mim uma mulher tida e mantida. O que até era corrente na sociedade portuguesa, haver amantes financeiramente sustentadas por homens. No caso de um homem é raríssimo, não conheço nenhum caso. Atenção que não me interessa nada levantar o véu sobre a sexualidade do engenheiro Sócrates. Agora, acho moralmente condenável viver à custa de um amigo.

Pelo que se tem sabido, não só o engenheiro Sócrates como a ex-mulher, amigos e amigas.
Na cabeça dele se calhar isso é normal, para nós não. Esse é o grande mistério e pecado de Sócrates: vive num mundo de alucinados. É um mitómano, tudo é exagerado.* Aquela entourage toda parece um circo grotesco.
Do ponto vista jurídico, espero que haja um julgamento em breve e que se prove a sua inocência ou culpa. Sei que os crimes de corrupção são muito difíceis de provar e até pensava que ele era mais estúpido. Aquela rede de transferências ilegais deve estar bem montada porque está a demorar a provar. Mas não me interessa só o que é legal. Em última análise, a moral é o substrato que justifica as leis.** E há todo um comportamento imoral dele ao longo dos anos. Alguém que acaba a sua carreira como primeiro-ministro e que vai para Paris viver num apartamento de luxo quando deixou o país na bancarrota…

E a suposta compra em grande quantidade dos seus próprios livros?
É uma ideia típica do engenheiro Sócrates vender gato por lebre. Ele não abre a boca para dizer uma coisa que seja verdadeira, não age nunca de maneira inatacável. Em tudo o que mexe parece que há lixo; escava-se um bocadinho e só se vê corrupção. Todas as histórias dele são muito estranhas, desde o não ter nascido no sítio que aparece na certidão de nascimento, ao apelido, passando pelas dúvidas suscitadas sobre a tese de mestrado e finalizando na nota de licenciatura atribuída a um domingo. É sempre um carrossel de ilusões, mentiras.

Acha que ele ainda tem algum futuro político?
Penso que não. Estive a ler Os Maias ontem e há lá uma parte muito engraçada em que o Carlos da Maia fala com um mestre-de-obras que lhe diz: "Isto da política resolvia-se bem: comprava-se um navio à custa do País, metia-se lá a cambada — os políticos — e o País ficava desatravancado." Dos eleitores diz que são umas cavalgaduras. Não acho que o povo português seja cavalgadura, portanto não vão votar num homem com este currículo, independentemente do que vier a ser provado em tribunal.
[…]»

«[…] a situação é muito grave e o país precisa de estabilidade. Eu em princípio sou socialista, embora nestas eleições tenha votado nulo.*** Mas acho que ninguém estava à espera que o PS se aliasse a dois partidos bolcheviques. Esta aliança, sendo a possível do ponto de vista legal, é uma aliança antinatura. […]»

«[…]
Agora tenho de ver se vivo ou se morro.
[…]»
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* Lisboa, tarde de domingo, 01.Fev.2009 – José Sócrates, primeiro-ministro, foi com Fernanda Câncio, sua namorada de então, ver "Milk". Nada de extraordinário; veio na comunicação social. O título do filme — repito, "Milk" — é daqueles que até um papagaio disléxico e amnésico fixa à primeira e retém para o resto da vida.
É por isso que não me lembro de alguma vez ter ouvido nem creio tornar a ouvir um presumo tão falso e tão encenado como o que, decorridos seis dias, haveria de escutar na conversa de José Sócrates:
Coimbra, tarde de sábado, 07.Fev.2009 – «[…] o líder socialista recomendou aos participantes na sessão de esclarecimento sobre a moção «PS: A força da mudança» - que apresentará ao XVI congresso nacional do partido entre 27 de Fevereiro e 1 de Março, em Espinho - o filme "Milk", a biografia de um dos primeiros políticos assumidamente homossexuais na América dos anos 70.[…]» 
Está um filme em exibição no nosso país que recomendo a todos. Esse filme chama-se ... ... ... — longa, longa pausa, fingindo puxar pela memória — "Milk", presumo, e fala da biografia de um dos primeiros políticos assumidamente homossexuais.

Se Sócrates não fingia, então tínhamos o país entregue ao primeiro-ministro mais desmiolado de que haverá ... ... ... memória.

É este José Sócrates, narciso público, o José daquele presumo, o José dos filósofos, o José do arrependimento, o José, enfim, que Maria Filomena Mónica caracteriza, que hoje em dia me interessa e nauseia visceralmente. O Sócrates arguido ou o Sócrates político que admirava desde os combates ambientais que travou tenazmente, por exemplo pela co-incineração, afrontando tudo e todos incluindo o próprio vate de Águeda, e em quem votei em 2005, em 2009 e em 2011 para a governação do país, quero que se dane. Defraudou-me quanto basta e sobra.
A minha catarse do socialista José Sócrates está feita. Preciso agora é de energia para purgar o 'derrotado Costa primeiro-ministro a todo o custo', pressentindo que não haverá nenhum regular votante no PS — em 26 eleições desde 1975 — tão esquizofrénico como eu. 

** Concordo.

*** Também votei nulo.
E o que é que o meu leitor tem a ver com isso?

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Acordo Ortográfico [96]

«O Colóquio Ortografia e Bom Senso, hoje e amanhã, na Academia das Ciências de Lisboa, será um evento histórico e uma oportunidade rara de as posições científicas prevalecerem sobre a Retórica.»
[...]»

Livre-arbítrio dos matrecos

«[...]
Por definição, um parlamentar comunista possui tanta independência quanto os centro-campistas dos matraquilhos.
[...]»

Não conheço nenhum colunista de esquerda [seja de esquerda o que for] — conheço e leio-os a todos até ao fim, incluindo Ferreira Fernandes, o melhor — que escreva tão bem e com tanta graça como Alberto Gonçalves.
Mesmo entre os de direita [seja de direita o que for] — conheço e leio-os a todos até ao fim, incluindo Vasco Pulido Valente, dos melhores — não me está neste momento a ocorrer nenhum tão bom como AG, e há-os excelentes, Miguel Tamen por exemplo.
_______________________________
Então, Plúvio, e Pedro Mexia, hã?

domingo, 8 de novembro de 2015

Bora lá escutar com atenção «aquilo que move» o doutor António Costa,


o PS está dispoível para assumir as suas responsabilidades

vmo lá ver … posso dizer que neste momento ...

fechado na parte mais difícil e importante

iurtanto esta era a parte mais difícil

há outra dimensão que importa tratar e que tamos ainda a trabalhar

garantia que temos de dar ó país, que temos de dar ós portugueses

há acordo onde há acordo e não há acordo onde não há acordo e essa matéria fechada [e não se fala mais nisso]

como sabe, as conversões [conversações] têm sido distintas, o que aliás é normal

cada um dos partidos tem as suas própias prioridades programáticas

outros colocaram um ênfase particular noutro domínio

mas tamém a coerência relativamente ao próprio programa do PS

espero assinar os três acòrdos distintos

vmo lá ver, eu não gostaria de diferenciar muito o ponto em que, enfim, estamos com cada um dos partidos

o que é fundamental é que quando iniciemos [?] o debate do programa do governo as questões tejam clarificadas. E o que é que é pra nós tar clarificado?

todas as portuguesas e todos os portugueses* saberem o que é que o governo…

podemos garantir que o défice [de 2016] será sempre inferior aos três por cento [ah valente!]

as suas linhas programáticas própias

esse é que é o exerciç que é preciso fazer

ó que diminuindo a receita

temos tado a actualizar

prtant essa é uma garantia que nós damos

trabalho que temos tado aqui a fazer entre nós

nossas própias propostas

o que esses parceiros dizem ó país

e tão disponíveis para assegurar … a estabilidade

responder ós compromissos que temos com os cidadãos

com a vontade inequívoca que os cidadãos manifestaram [inequívoca em quê?]

e que isso seja feita com uma mudança de governo

vmo lá ver, o Francisco Assis representa-se a si próprio e é muito

eu pessoalmente

governo que não esteja condenado a cair ó fim de um ano ó ó fim de dois anos

legislação comprincipalpatorçamental [minuto 25:35]

a última palavra cabe ó parlamento

tem sido muito esplícito

pá poiar a formação dum governo

cabia ó PSD o ónus

tendo um apoio maioritário na Assembleia, porporciona ó país algo que o país precisa, que é estabilidade

vmo lá ver, eu fui muito claro ao longo deste tempo todo

aquilo que o PS porpunha era ser alternativa

iurtanto não fazia sentido

não quero tar aqui a rvlar pormenores**

dar expressão inchtucional ao acordado

vmo lá ver, eu acho que muitas vezes não devemos forçar os caminhos

tou convencido

não é seguro que as medidas legisltivas possam passar

o que previsto

medida que trabalhada

previsto que será conchtuído um grupo de trabalho

quer a imiação dos cortch

repor em vigor o diploma que suspenso

atuização das pensões

as dcisões do tribunal conchtucional serão cumpridas

vmo lá ver, esses diplomas …

trajectória que tínhamos definido e que tamos em condições de suportar [ah valente!]

se fosse um problema de irmos governo a qualquer custo, ó tínhamos aceite os lugares no governo que o PSD e o CDS nos ofereceram ó já tínhamos encerrado esta negociação

aquilo que me move é dar resposta àquilo que são os problemas do país [força, doutor Costa!]

... e, últimas palavras, eram 21:12, 

tou com a minha consciência totalmente tranquila***

O sábio bonecreiro de que o doutor António Costa faz hoje de títere estonteado chama-se Partido Comunista Português.
Mas o doutor António Costa é um político pragmático: os princípios e a natureza das coisas que se fodam; o que importa são as medidas programáticas. Por exemplo, a reversão do negócio da TAP****. O Partido Comunista já saliva e, oxalá me engane, aí vem o primeiro desastre. Também eu era pela manutenção da TAP [já agora — apetece-me saber do que falo —, a "Manutenção" da TAP, melhor companhia aérea do mundo, é a melhor do mundo] no tecido empresarial público, mas isso foi no tempo em que a Volkswagen ainda era um arquétipo de ética luterana e em que a Bárbara Guimarães coabitava feliz com o Carrilho...
___________________________

** Eram 21 horas e 03 minutos. Avaro e esquivo, António Costa não queria tar ali a revelar pormenores. Ana Lourenço, generosa, insinuava-os como nunca... O Olimpo a recubra de graças. 

*** «Quando um político português diz que está muito tranquilo...» Mas não só.

**** Partido Socialista, Comissão Nacional, 07.Nov.2015
«[...]
Neste quadro, uma ferramenta de primeira ordem para a projecção internacional de Portugal é a sua companhia aérea de bandeira, a TAP, que é um veículo fulcral de ligação à África lusófona, ao Brasil, aos principais destinos da emigração portuguesa e à promoção da internacionalização da economia portuguesa. Por este motivo, o governo não permitirá que o Estado perca a titularidade sobre a maioria do capital social da TAP, encontrando formas – designadamente através de uma efectiva acção junto das instituições europeias e do mercado de capitais – de capitalizar, modernizar e assegurar o desenvolvimento da empresa, ao serviço dos portugueses e de uma estratégia de afirmação lusófona.
[...]»
Mal sonham os trabalhadores da TAP com o que os espera. Mirem-se na Estónia...