segunda-feira, 22 de agosto de 2022

«A questão dos meios aéreos»

Rita Rodrigues- Miguel Cabral, boa tarde. O fogo está activo...
Miguel Cabral- Boa tarde. O fogo permanece activo há mais de 24 horas.

«Neste momento são perto de 450 operacionais no terreno auxiliados por diversas viaturas e há também a questão dos meios aéreos; são sete meios aéreos no terreno, aliás, andam pelo ar — ahahahah — e está agora a sentir-se a presença, a chegada de um meio aéreo precisamente aqui ao teatro de operações. A vinda para o terreno demora algum tempo.»

Nenhum jornalista terá alguma vez condensado tão certeira e completamente a retórica dos incêndios em tão poucas palavras. Felicite-se, pois, Miguel Cabral, carteira profissional n.º 3893A.  
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domingo, 21 de agosto de 2022

Patrícia Gaspar, uma espécie de dispositivo

Bát€gas de milhõ€s no combate. Negócios multimilionários em meios, os mitificados aéreos e os, menos conspícuos, terrestres. Legiões de operacionais, espectáculo, pornografia no terreno, emoção ao rubro [literalmente], auditórios salivantes do teatro de operações — não saia do seu lugar, anunciam-se novas e fulgurantes projecções. Tudo isto enquanto o bicho lavra.
Na prevenção e na detecção precoce quanto gasta ou investe o doutor Costa?
Pois, não é grande negócio, visibilidade nula, espectáculo nenhum. 

Ao serão de anteontem, 19, com Portugal a arder mais do que nunca, a secretária de Estado Patrícia Gaspar respondeu durante 18 minutos a Rodrigo Pratas, mui codicioso jornalista que aprecio.
Falou muito, sem explicar grande coisa - «esse momento vai chegar». 
Ontem, Augusto Madureira apresentou um resumo da conversa. Respigo:
«[...] Se considerarmos aquilo que é a severidade meteorológica, os dados, os algoritmos e as contas feitas dizem que a área ardida que deveríamos ter devia ser 30% superior, ou seja, ardeu 70% daquilo que era suposto arder face às condições de severidade meteorológica que temos. Isto significa que, apesar da complexidade, o dispositivo tem estado a responder bem e tem estado a conseguir debelar grande parte das ocorrências, mais de 90% das ocorrências nos primeiros 90 minutos. Este reforço o que vai permitir é garantir que temos mais pessoas no dispositivo [...] Estas novas 100 equipas aquilo que nos garantem é uma primeira linha de confiança porque estas vão garantidamente estar 24 horas disponíveis.» 

Oiça-se — e aprendamos — como Patrícia Gaspar informa a população de que a vegetação está muito seca e que não se deve fazer lume perto de arbustos ou de árvores:  
«temos ainda níveis de secura dos combustíveis que poderão em caso de ignição dar origem a ocorrências mais complexas de incêndios florestais e portanto convém e importa manter a adequação dos comportamentos junto aos espaços florestais»

E se um Verão mais frio e húmido do que o costume está menos propício a ignições?
Patrícia Gaspar responde na esteira de Jorge Coelho; a escola é a mesma. Caprichos de São Pedro? Mérito da governação: 
PG- «há aqui uma dimensão de tempo [...] felizmente nós estamos com resultados este ano, eu diria, simpáticos...
Rosa Pinto, jornalista- O tempo também tem ajudado.
PG- O tempo tem ajudado mas o dispositivo também, e não é este ano, estamos a falar ao longo dos últimos 10 anos.»

Pergunto-me amiúde se esta prolixa criatura consegue agir com outro propósito que não o de propaganda.  

- Confessa aqui, Plúvio, um fraquinho pela Patrícia...
- Bom, não diria tanto, até porque a resposta aqui é bicéfala. - 29.Ago.2019

sábado, 20 de agosto de 2022

Pedir desculpa

«Na edição da semana passada [...] o Expresso publicou um artigo de opinião de Rita Carvalho como se defendendo a resposta "não" à pergunta se a hierarquia da Igreja estava a reagir bem às denúncias de abusos entre o clero. Como se lia no texto, Rita Carvalho respondia positivamente à pergunta. Pelo erro, O Expresso penitencia-se... e deixa as devidas desculpas à autora e aos leitores.»

Vamos cá ver, deixa desculpas ou pede desculpas? 
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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Aquilo que é

Ao início da tarde de ontem, naquele que é o dia anterior ao dia de hoje, André Filipe Gomes Ramos Macedo Fernandes, formado em Geografia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,  comandante nacional daquilo que é a Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil, leu o seguinte aranzel que por estar escrito agravou a gravidade daquilo que são as coisas enquanto a serra arde:

«O que está a ser feito e planeado para os próximos dias, a começar também já neste dia de hoje, é priorizar a zona de Seixo Amarelo até Gonçalo, garantindo aquilo que é uma consolidação eficaz e um rescaldo eficaz nesta frente que está virada àquilo que é o concelho da Guarda. Em simultâneo também, já no município da Covilhã, e portanto consolidado tudo aquilo que é a zona desde a Atalaia à Quinta da Mourata, portanto estamos a falar da estrada nacional n.º 18, e aquilo que é a colocação e o garante da manutenção dos meios de vigilância activa na estrada municipal 501 que liga Teixoso a Verdelhos, de forma a impedir que aquilo que é um ponto quente, que é o que está identificado e que causa também mais preocupação, caso durante a tarde o vento vá rodar agora para o quadrante Nordeste, portanto Este, e é possível, há aqui um potencial de poder haver aquilo que é um reavivar, uma reactivação do incêndio e portanto garantir aquilo que é a vigilância activa neste sector e sobretudo garantir que qualquer reactivação que haja seja prontamente combatida pelos meios que estão neste sector.»


Doutor André, aquilo que é.
 
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