quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Duas por todos

«[…] O nosso lema — UMA POR TODOS — diz-nos da esperança de levarmos até Belém uma política que não exclua, uma política que não se coloque ao serviço das minorias privilegiadas de sempre. […]»
"Manifesto" da candidatura da doutora Marisa Matias à Presidência da República/2016.

Por conhecer bem a novilíngua do Bloco de Esquerda, quando vi o cartaz desenvolveu-se-me no bestunto a seguinte lucubração que transcrevo, pedindo desde já desculpa por alguma infidelidade ao alinhamento dos lexemas com que lucubrei: Belo tiro de propaganda, sim, senhora! Mas faltam ali três palavras. O genoma destes modernos e perfumados comunistas determinaria "UMA POR TODOS E POR TODAS". Uma vez sem exemplo, o Bloco [como elas e eles se auto-referem, com o mesmo enlevo, simplificado mas sempre respeitoso, com que dizem, por exemplo, «o Zeca» para falar do antigo cantor e notável criador de canções, José Afonso] deixa de ser ridículo na fala para que não se perca o efeito mosqueteiro da mensagem. São BEatos mas não são parvos.

Mais se compromete a pastorinha do venerando Boaventura no supradito "Manifesto":
«[...] Serei uma Presidente de todos e todas as portuguesas [...]»*
Estranho é que diga «Presidente» em vez de «Presidenta». Ó doutora, há que orientar a gramática pela do bispo Francisco Louçã que já estabeleceu o cânone [antepenúltimo parágrafo].

Mudemos de doutora, que três verbetes seguidos — este, este e este — com a marxista Matias são canseira a mais até para um catedrático do pluviotariado. 

«[…]
Inês Maria Meneses- Nunca foste uma 'troca-tintos'?
Maria João de Almeida- Várias vezes! O caso mais flagrante foi no Concours Mondial de Bruxelles, do qual sou júri há vários anos.
[…]»

À Maria João, sim, é que assentaria que nem luva inconsútil o lema da outra, "Uma por todos". Mais jurados para quê? Ela avalia por todos, ela é júri. **

Acho deliciosa — inebriante, para dizer com justeza — a parte em que a doutora Maria João de Almeida informa que «Leccionou na pós-graduação de Marketing do Enoturismo, na Universidade Lusófona.». Uma cadeira do tipo 'Alc. 14,5% Vol. mais uns pozinhos'...
Caro leitor, cara leitora; cara seguidora, caro seguidor; caro fão, cara fã, ainda está a ver os enograus ou já está d'olhos em bica?
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* Sempre que oiço «portugueses e portuguesas» ou «todos os portugueses e todas as portuguesas», gera-se-me a ideia de que a população de Portugal duplicou. Se calhar tenho o periscópio avariado.