«[…] Uns são acusados de destruir empregos e os outros reclamam que se reconstrua a sociedade do trabalho. Neste jogo dialéctico que tem o seu termo de superação numa miragem, alguém que não se deixe levar pelo pensamento mágico, ou demagógico, ou irracional consegue acreditar que podemos regressar novamente a uma sociedade do pleno emprego? Pensar a questão não é pensar contra ou a favor de políticas de emprego, de despedimentos ou de manutenção de postos de trabalho, porque assim nunca sairemos do lugar onde estamos. Tudo tem de começar por aquilo que a nossa cultura e a nossa sociedade parecem incapazes de pensar. É neste sentido que adquire especial importância um conceito como o de inoperosità, […]
O modelo da inoperosidade é o da obra de arte. O que é um poema senão uma operação linguística que consiste em desactivar as funções comunicativas e informacionais da língua para a abrir a um outro uso? […]»
- António Guerreiro, “Pensar para além do trabalho”
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«[…] pura estilização camp, da primeira à última página […]
A única coisa que quebra a monotonia e a ausência de novidade são os pormenores apimentados à cronista social. Por exemplo: a embirração por Eugénio de Andrade dissimular na sua poesia a homossexualidade. Em comparação, Al Berto, esse sim, é outra coisa. E sairia do livro de Eduardo Pitta em grande triunfo se não tivesse "um umbigo do tamanho do mundo". Fosse o mundo o dobro do que é, não faltariam para ele, segundo as nossas contas, dois umbigos. […]»
- António Guerreiro, “Retrato de um rapaz flamejante”,
a propósito de Um Rapaz a Arder. Memórias 1975-2001, de Eduardo Pitta, … «livro, dito de memórias, (é) feito de uma matéria frívola, apreendida à superfície do tempo, e de uma parada de nomes próprios a que a autor chama o Meio».