quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Alberto Gonçalves, não lhe bastando a hipocondria e a ultraliberalalia, é um misantropo cómico que escreve muito bem,

o que, no tempo que escorre,  configura um não-defeito raro para não dizer apreciável e infrequente virtude.

«Para o meu gosto, os transportes públicos sofrem de um grave problema: são públicos.
[…]
Percebo, e aplaudo, a serventia dos abrigos caritativos e dos lares de idosos, mas enquanto os rendimentos e a idade me deixarem pretendo continuar a ver os episódios de The Office sem ter de ceder o lugar no sofá da sala a uma senhora grávida (com a eventual excepção da minha mulher, caso haja um imprevisto). E pretendo continuar a usufruir do quarto de dormir sem o partilhar com dois escriturários, um advogado preocupado com o “aquecimento global”, a velhinha que vende fruta no mercado e sete adolescentes agarrados ao telemóvel (a minha mulher, que me mata se eu não fizer a ressalva, é novamente a excepção).»

Lido, como todas as quintas-feiras a abrir a manhã, a bordo do 329 da Rede Azul da Rodoviária de Lisboa. E escriturário me confesso.