«Não me preocupa minimamente como é que os portugueses vão pensar em mim nem estou preocupado em querer à força trabalhar para uma imagem minha a seguir ao fim do mandato.»
Só distraídos ou estultos podem levar à letra este sujeito inteligente, talentoso, esperto, azougado e pantomineiro que aos portugueses, portuguesas incluídas, adregou terem por presidente a seguir a um bronco algarvio.
Quem disse aquilo em Braga ainda não tinha um ano de presidente, que se completa hoje, e já estava a celebrar-se no que porventura mais o move: a própria imagem.
Álbum catita, "Um ano depois", 149 fotografias de estalo. Quantos álbuns até ao fim do mandato?...
Marcelo tem dois fotógrafos ao serviço, pagos pela nação, a fixar-lhe a imagem a cada minuto em que respira, a cada minuto em que se mexe. E como ele se mexe!
Tenho acompanhado e chega a fazer-me rir, mais bem dito e com respeito-cidadão, comover o corrupio em que o amigo Rui Ochôa se esfalfa a registar a andança frenética do presidente. Corre, Ochôa, corre!
Marcelo vai a tudo, está em todas; este, não tarda, perderá o estatuto. Um presidente, por assim dizer, mimético e total. Presidente tão totalmente voraz que não lhe bastando sê-lo dos 10 milhões de portugueses adoptou a escola oratória do Bloco de Esquerda para sê-lo em acréscimo dos 5 milhões de portuguesas:
«O Presidente da República … aqui está para vos dizer em nome de todas e todos os portugueses da nossa homenagem, do nosso respeito, da nossa gratidão.» - Em Castelo de Paiva, 04.Mar.2017
Um módico de gramática e uma aritmética de ouvido sobram para perceber que «todos e todas» é um disparate ridículo.
Sim, eu sei — não é essa, Plúvio! — que o despotismo do género excitado é mais custoso de contrariar do que a órbita de Plutão.
Também me propunha falar de Deus-pátria-família na terra do presidente-arlequim, mas tenho de ir à famácia antes de que feche. Ademais, seria muito feio rir-me na comemoração da desgraça.
Viver em Portugal continua um privilégio manso. Sorte a minha.