quarta-feira, 1 de março de 2017

A grandeza áscia de Aníbal António Cavaco Silva e os colhões ectópicos de João Pedro Matos Fernandes

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Mas não foi isso o que verdadeiramente me arrepiou nas notícias e imagens do lançamento do livro do Professor. Outra coisa eu não esperava dele nem do seu livro. O que me impressionou e arrepiou foi uma visão que diz tudo sobre quem foi e quem é este homem. Após mais de vinte anos na vida política e nos mais altos postos dela, tendo fatalmente conhecido não só vários grandes do mundo mas também toda uma geração de portugueses da política, da cultura, do empresariado, das universidades, etc., quem é que Cavaco Silva tinha a escutá-lo no seu lançamento? A sua corte de sempre, tirando os que estão a contas com a Justiça. Os mesmos de sempre — Leonor Beleza e o que resta da sua facção fiel no PSD. Mais ninguém. Nem um socialista, nem um comunista, nem um escritor, um actor, um arquitecto, um músico reconhecido. Nada poderia ilustrar melhor o que foi e é o pequeno mundo de Cavaco Silva. Ele que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá.
[…]
Foi assim, por exemplo, que nasceu uma cidade clandestina, com igreja e tudo, no Portinho da Arrábida. Mas, felizmente para nós todos, que somos donos do domínio público, havia então um ministro do Ambiente (Carlos Pimenta)que, ao contrário do actual, os tinha no sítio** e fez a única coisa que um Estado de direito pode fazer quando ocupam a sua propriedade e a propriedade de todos: mandou aquilo abaixo.
[…]»
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Na terceira república portuguesa, não contando com os seis governos provisórios de 1974 a 1976, o ambiente só ganhou dignidade ministerial no XI Governo Constitucional [Ago.1987-Out.1991], de Aníbal Cavaco Silva, na altura ainda com designação, e missão alargada, de Ministério do Ambiente e Recursos Naturais, de que foi primeiro titular Fernando Real que por acaso de berço nascera onde Francisco Sá Carneiro houve de, 58 anos depois, morrer por acidente de avioneta
O primeiro Ministério do Ambiente, sem mais, chefiado por Elisa Ferreira, surgiria no XIII Governo Constitucional [1995-1999], de António Guterres. 
Carlos Pimenta assumiu funções governativas no IX Governo Constitucional [Jun.1983-Nov.1985], dito «do bloco central», de Mário Soares/Mota Pinto/Rui Machete, em que foi Secretário de Estado do Ambiente, de Jun.1983 a Fev.1985, na dependência do Ministro da Qualidade de Vida, António Capucho, e Secretário de Estado das Pescas, de Fev.1985 a Nov.1985, na dependência do Ministro do Mar, José de Almeida Serra.
No X Governo Constitucional [Nov.1985-Ago.1987], de Aníbal Cavaco Silva, Carlos Pimenta foi Secretário de Estado do Ambiente e Recursos Naturais, na dependência do Ministro do Plano e Administração do Território, Luís Valente de Oliveira.
Para que não me tributem a memória, declaro que todos estes pluviosos saberes me chovem daqui.

** Donde, ao contrário do ministro João Pedro Matos Fernandes, Carlos Pimenta foi um governante de tomates. Como diz o povo, um verdadeiro macho ortorquíaco. [Do grego orthós + órkhis]

Ainda Miguel Sousa Tavares [MST]:
«[…] Isso permite que os ocupantes venham agora invocar o “usucapião” *** da ilegalidade e o que o notável António Pina, presidente da Câmara de Olhão e um dos felizes “proprietários” de uma casa de férias no domínio público da Ria Formosa, tenha o supremo desplante de declarar que as ocupações são “uma conquista do 25 de Abril”! Ah, pobre 25 de Abril: de facto, tu serves para tudo! […]»
*** Eu digo e defendo a usucapião não ignorando os dicionariastas mais acomodadiços que caucionam o masculino.

Com a razia de revisores na imprensa e nos media em geral, quem nos protege da asneira e da degenerescência da língua?
Já que estou com a mão na massa, apetecem-me uns quinaus ao Miguel Sousa Tavares, jurista, escritor, entre os bons analistas da política, que tem voz grossa, costas largas e especiais deveres de ofício, mas também ele um desprotegido, por poupança na revisão, no jornal do avaro doutor Pinto Balsemão.
MST usa escrever rentabilizar, um sms ou preferir antes (uma coisa a outra). Lá com ele
Inaceitáveis e enxovalhantes são dislates como os que passo a ilustrar em oito amostras da sua coluna semanal no Expresso na qual, sei, MST se aplica com redobrados cuidados de rigor nos factos e esmero na língua:

11.Abr.2015, "O que vai passando" - «basta atentar no caso que despoletou  este assunto». [espoletou este assunto]

09.Jan.2016, "Marcelo e os outros" - «A grande notícia destas presidenciais é a de que vamos finalmente vermo-nos livres do casal Aníbal/Maria Cavaco Silva.» [vamos ... ver-nos]

19.Mar.2016, "A política contada aos adultos" - «Podemos sempre consolarmo-nos com isto». [Podemos ... consolar-nos]  

04.Jun.2016, "Porque é que as 35 horas são uma provocação" - «Porém e sobre pressão dos seus parceiros de malabarismo e dos sindicatos da Função Pública». [sob pressão]

24.Set.2016, "Várias mentiras e um imposto" - «Trata-se de pura e simples ideologia, fundada na célebre frase de Engels ("toda a propriedade é um roubo"), pela qual passaram mais de cem anos, dezenas de nações arruinadas e milhões de seres humanos condenados à fome e à miséria.»
"O que é a propriedade?", Proudhon - Editorial Estampa, 2.ª edição, 1975, página 11:
A propriedade é um roubo. Original em francês, publicado em 1840, pelo que MST poderia dizer, com acrescida propriedade, «pela qual passaram 176 anos». 
Engels, doutor Sousa Tavares!? Essa é de cabo de esquadra. O Expresso não veio corrigir na semana seguinte e assim se dissemina o disparate pelos séculos fora.

05.Nov.2016, "A loucura dos povos" - «salvo-conduto para os mandatos de captura internacional pendentes sobre a sua lusa pessoa.» [mandados de captura]

07.Jan.2017, "Um novo ano. Apenas isso" - «é difícil, senão impossível, virar os números do avesso». [se não impossível]

04.Fev.2017, "Justiça à portuguesa" -  «lá se abriram dois processos: um, disciplinar, e outro, a pedido do próprio José Sócrates, criminal. O primeiro, a cargo do Conselho Superior do Ministério Público, terminou com a inevitável absolvição do seu par, com o fundamento de que as suas declarações tinham sido proferidas “num contexto de tensão verbal muito excessiva”.» [tensão verbal muito expressiva].