quarta-feira, 4 de abril de 2012

Miguel Esteves Cardoso | Pedro Mexia

Entrevista integral no Expresso/Revista de 24.Mar.2012

Miguel Esteves Cardoso:
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Essa ideia de que a cultura é uma coisa de esquerda é uma das ideias mais perniciosas que há. A música dos Joy Divison é conservadora, triste, fúnebre. Se formos ver a política dos escritores, não há nenhum que seja realmente bom da cabeça, são extremistas. O Comarc McCarthy, por exemplo, tem políticas muito conservadoras. O número de escritores conservadores que não dizem que o são é gigante, o William Burroughs, a Patricia Higsmith, quase fascista…
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Há ficção de quem escreve e transpõe para o papel coisas que aconteceram e há ficção totalmente imaginada. Só a imaginada é que é legítima. É uma terrível batota falar-se de coisas que aconteceram, a maior parte dos escritores faz isso, mas é batota.
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Se pudesse voltar atrás e dizer quais são os tempos que preferia nunca ter gasto, para ter de volta, é tudo o que escrevi sobre política actual. […] Tudo o que se escreva sobre política actual é tempo perdido.

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Pedro Mexia- O "Público" não aderiu ao Acordo Ortográfico; se aderisse, pedia para porem lá aquela notinha no fim, de objecção de consciência?
Miguel Esteves Cardoso- Pedia para escrever na ortografia antiga. Se me deixassem, escrevia; se não me deixassem, não me ia embora.
PM- Mas é uma questão importante?
MEC- É importantíssima. Sobretudo quando mais ninguém quer aderir, é uma coisa de meia dúzia de pessoas, e está a tornar-se um embaraço. Podíamos fingir que não aconteceu.
PM- Talvez se o ministro dos Negócios Estrangeiros recuasse…
MEC- Desiludia-me muito se não o fizesse. Ele [Paulo Portas] era completamente contra o Acordo Ortográfico, agora tem de ser coerente.