Sábado, 07.Jan.2017
De manhãzinha, na ficha técnica do DN lá continua, como sempre, o nome de Mário Soares na "Opinião", cuja peça mais recente no jornal, em 29.Set.2015, consistia de um breve "Apelo" ao voto em António Costa nas eleições legislativas daí a uma semana, e que publicara a última crónica regular em 23.Jun.2015.
15h28, o coração pifa.
15h30, o hospital da Cruz Vermelha comunica ao mundo.
Das televisões, a RTP foi a primeira a informar, eram 15h40, com Cristiano Ronaldo; a TVI, a última, 15h48, por Ana Sofia Cardoso.
Entretanto, na CMtv, 15h46, «Deus é grande! Obrigada, Senhor, obrigada por essa prova de justiça!»
15h56, sms da minha namorada: «Mário Soares morreu.»
Domingo, 08.Jan.2017
Pelas 00h10, no "Eixo do Mal", o pândego Pedro Marques Lopes:
[...]
não há político que eu mais admire … nunca houve, pelo menos no último século, um português a que tantos devessem tanto … É a maior figura, o maior político, provavelmente dos últimos cem anos, e a sensação que eu tenho é que daqui a uns mil anos, quando se fizer outra vez a história de Portugal … ele é das poucas pessoas que ficará desta altura … Morreu o melhor de nós todos [...]»
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Na ficha técnica do DN desaparece o nome de Mário Soares, o que não era bom sinal para ele, [o nome de Alberto Gonçalves fora apagado logo no dia 1, novidade triste e derrota da inteligência], mas continua Pedro Marques Lopes, mediocridade acarinhada.
«[Mário Soares] é um dos nossos grandes, um homem que marca os séculos XX e XXI portugueses e que nenhum compêndio sobre a nossa história nos próximos mil anos pode deixar de ter em lugar cimeiro.» *
Terça-feira, 10.Jan.2017
15h19, Lisboa, Rua de São Bento.
O deputado e dirigente do PAN, André Silva, a também ter estado ali, aposto em como, mais do que o armão, aplaudia com veemente e magoada solidariedade os garbosos e sacrificados cavalos, cansadíssimos, 'inda a subida ia a meio…
«Em resultado da sua actividade política contra a ditadura foi 12 vezes preso ...»
16h30, Lisboa, cemitério dos Prazeres.
Engavetado pela 13.ª e decerto penúltima vez.
A 14.ª, e tudo indica que última, está prevista para 2037.
Com que direito o meu cérebro se intitula dono de mim?
Palavras com que mais embirrei: "legado", "homenagem".
Palavras com que mais embirrei: "legado", "homenagem".
Miguel Tamen, DOC:
«a ninguém ocorreria mostrar menor respeito pelos descendentes de um algarvio ou de um autarca; já não é preciso explicar aos gálatas que a diferença entre um escravo e um homem livre não é clara; e só a certas antepassadas ocorre ainda perguntar de quem alguém será filho. Os nossos modos menos esclarecidos de tratar pessoas sobrevivem muitas vezes nas nossas relações com as coisas: e o que não diríamos de uma pessoa dizemos convictamente de uma égua, de um herói, ou de um presunto.»
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* Não tendo simpatizado nunca com a pessoa de Mário Soares, confesso que votei nele ou no partido por que se candidatou [PS] 9 das 10 vezes em que, de 1975 a 2006, ele foi a votos.
Mas isso sou eu, eleitor esquizofrénico, nascido em 1953.
Será de crer que PML — nascido em 1966 e que há-de ter sempre votado nos melhores a seu ver — nunca votou em Mário Soares, em 1986 [2 vezes], em 1991, em 1999 e em 2006, decerto porque aos 20 anos, aos 25, aos 33 e aos 40, para Pedro Marques Lopes os melhores políticos do século e do próximo milénio estavam no CDS ou no PPD/PSD. Mário Soares, nascido em 1924, só depois dos 82 anos terá começado a ficar melhor político do que todos os outros.
Quem não conheça este opinante oportunista, patareco ideológico, que lhe compre a lábia, a lata e o vezo.