José
Sócrates- Eu sempre apoiei o doutor Durão
Barroso porque considerei ser do interesse nacional que ele permanecesse como
presidente da Comissão Europeia. E fi-lo contra a opinião do meu próprio
partido e fi-lo contra a opinião de muitos partidos socialistas europeus. E fiz
campanha por ele…
João Adelino
Faria- Arrepende-se?
JS- Não, não, ao contrário! Estou muito
convencido… e sabe, um político também já não tem, já não tem tempo para se
arrepender. Como um grande filósofo dizia, arrependermo-nos é errar duas vezes.
Não, não me arrependo. Estou convencido de que foi importante para o nosso país
ter um presidente na Comissão Europeia.
Recapitulemos.
1. Na na altura muito badalada
conferência que proferiu no Collège Universitaire de Poitiers em 03.Nov.2011 [Pagar
a dívida é uma ideia de criança. […] As dívidas gerem-se.-
lembram-se?], interpelado por um estudante sobre o que mudaria na sua
governação de seis anos se pudesse voltar atrás, o ex-primeiro-ministro
explicou-se [01:31:10],
- Nietzsche um dia
disse uma coisa mais ou menos como esta: arrependermo-nos
é errar duas vezes.
2. Na célebre entrevista ao Expresso de 19.Out.2013,
Clara Ferreira Alves inquire José Sócrates sobre a nacionalização do BPN,
- Está arrependido?
Sem remissão
filosófica ou endosso autoral, José Sócrates responde
- Arrependermo-nos é
errarmos duas vezes.
3. José Sócrates no "Alta Definição" com Daniel Oliveira — SIC, 02.Nov.2013, minuto 12:30,
- O Nietzsche observava que arrependermo-nos é errar duas vezes.
Insisto no pedido e volto a prometer alvíssaras a quem me elucidar acerca da putativa afirmação de Nietzsche. Em que obra, página? Em “Humano, demasiado humano”? Não vejo... Tenho e li boa parte da obra de Nietzsche publicada em português; não que Nietzsche tivesse em grande conta o arrependimento ou o remorso, mas não me lembro nem me soa isto do ‘errar duas vezes’.
Talvez Bento de Espinoza [Ética, Parte IV, Proposição LIV]?— «O arrependimento não é virtude nem procede da Razão,
mas aquele que se arrepende do que fez é duas vezes miserável ou impotente.»
Talvez,
se bem que o que o sefardita português diz não seja
exactamente aquilo que o nosso engenheiro repetidamente recita.
De
resto, acho prepotente e tremebunda a
suposição, de que discordo, de que o arrependimento represente sempre um erro
dobrado.